-Tem certeza de que vai funcionar, Tia?

         -Um pouco perigoso para você, mas... Sim. É infalível.

         -Muito obrigada então!

         Saí alegremente daquele lugar e fui direto para casa. Não me importei com mais nada. Ville e eu estaríamos juntos novamente! Nada poderia me deixar mais feliz! NADA!

         Se a Tia estivesse errada, eu iria quebrar a cara. Mas esse era um risco que eu estava disposta a correr. Ficar sem o Ville por uma semana era a pior coisa do mundo... Se eu o quisesse de volta, teria que tentar um pouco de tudo...

         Ao chegar, peguei o saquinho que comprei com a Tia. Ele continha um pó roxo muito fino e cheiroso. Ela disse-me que o certo seria jogar todo o pó roxo numa taça. Depois, adicionar vinho branco e uma gota do meu sangue. Enquanto isso, eu deveria pensar claramente nele.

         Simples, não?

         Vinho branco eu sabia que tinha em casa. Guardado há bastante tempo.

         Fiz a mistura indicada e, incrivelmente, aquilo assumiu uma cor horripilante de sangue. E aquele cheirinho bom do pó havia sido substituído por outro cheiro, um pouco mais úmido que o anterior. Senti-me como se estivesse no meio de uma neblina.

         Coloquei a poção em cima da mesinha da sala; não parei de pensar nele por um segundo se quer.

         Passaram-se quinze minutos e nada.

         Vinte minutos.

         Quarenta e cinco.

         Uma hora e meia.

         Três horas.

         O tédio e a tensão estavam me matando.

         Por que a demora? Ela disse que teria de vir! A poção era infalível! Agarrei-me na jaqueta dele e deitei no sofá. Reparei em poucos segundos que eu estava realmente cansada. Cochilei.

****

         Ao acordar, olhei ao meu redor e... Aquela não era minha sala! Era o quarto. Mas eu não cochilara ali... Levantei-me ainda zonza e fui até a sala.

         Aquela figura... Aquele homem lindo... Lá estava ele. Com toda sua classe, estilo... Seus pés apoiavam-se na mesinha e com uma de suas mãos, segurava a taça. Não estava sorrindo como de costume, mas para o meu completo e total deleite... Estava lá.

         Eu gritei seu nome e corri irracionalmente para abraçá-lo. Ele colocou a taça no chão, levantou-se e se preparou para o impacto. Foi algo bastante forte.

         -Oh, Ville... Como eu te amo! Eu te amo muuuuuuuuuuuuito! Eu preciso de você! Você sumiu! Eu quase morri! Que bom que voltou! Ah... Eu te amo muito! Eu te amo! Eu te amo!

         Lágrimas de emoção caíam dos meus olhos com facilidade. Ele me abraçou e sorriu pela primeira vez. Senti um alívio maravilhoso: eu estava derretendo com o sorriso dele!

         -Você é tão cruel comigo, amor. – Ele disse.

         -EU sou cruel? EU? Eu estava morrendo por sua causa! Achando que estraguei tudo! Eu senti tanto a sua falta... Eu...

         -Não precisa dizer mais nada.

         Ele me beijou de forma cinematográfica e eu o abracei... Quer dizer... Eu o apertei como se não houvesse amanhã. Só que...

         Nos separamos do beijo. Eu dei, repentinamente, um tapa na cara dele.

         -Ta bem... Acho que mereci isso. – Ele disse.

         -Mereceu! – Repliquei – Você simplesmente me abandonou e agora vem me beijar desse jeito! Aliás... Você nem teria voltado se eu não tivesse feito a poção! SEU CACHORRO!

         -Hey, amor... Não sou tudo isso!

         -Ah, é sim! Você não sabe pelo que eu passei! Não sabe o quanto foi doloroso!

         -É claro que sei. Eu estive aqui. Todos os dias.

         -Então por que não veio falar comigo?

         -Porque estive com medo. Ainda estou.

         -Medo de mim?

         -É claro! Como adivinhar sua reação? Você é tão sensível... Eu pensei que... Fosse me odiar, ou até coisa pior.

         -Que coisa pior? – Perguntei.

         -Temer a minha presença. Isso seria horrível para mim. – E fez cara de nojo ao responder.

         -Como é que eu poderia temer você, Ville? Eu te amo!

         -Isso não quer dizer nada levando-se em conta o que eu sou.

         -Não quer dizer nada, é?

         -Levando-se em conta o que eu sou!

         -E você não vai me contar o que você é?

         -Você já sabe.

         -Mas eu quero ouvir você dizendo.

         -Ah, fala sério!

         -Eu quero ouvir! E eu quero ver.

         Ele riu de maneira divertida e disse:

         -Nem pensar! Mas de jeito nenhum você vai ver! Nem mesmo em sonho.

         -Eu tenho esse direito!

         -Você não tem direito algum. Não vai ver e ponto.

         Separei-me do abraço e sentei-me no sofá, fazendo bico.

         -Você conseguiu se superar em níveis de crueldade, Ville.

         -Não faça isso. Não vai funcionar.

         -Imagina só: a namorada idiota do Ville Valo, andando por aí... Pelos cantos... Chorando porque não o viu transformado. Logo ela, que sempre quis ver um vampiro de verdade...

         -Como eu disse... Não está funcionando. Não mesmo.

         Seu sorriso era largo.

         -Ah... Por favor, Ville! Eu quero tanto ver! Deve ser tão... Tão sexy!

         -HUAHUAHAUHAUHUA!!! Sexy?

         Corei na hora.

         -Não ria de mim! É só uma fantasia...

         -Vou tentar me controlar. Mas... Para sua informação, não é nada sexy. É horrível.

         -Não deve ser...

         Ficamos em silêncio. Eu, completamente grudada nele.

         -Amor... – Ele sussurrou – Eu te amo. Senti demais a sua falta. Foi torturante para mim... Ter de ficar longe de você por uma semana. Sinto muito.

         Eu não disse nada, apenas o abracei com mais força.

         -E... Tem algo importante que quero dizer.

         -O que é? – Perguntei.

         -Eu... Sou um vampiro.

         -Oh! Jura! Que legal você estar me contando isso!

         Ele sorriu e me beijou.

         -Pronto, falei. – Ele disse-me, animado - Agora diga mais uma vez o quanto sentiu minha falta.

         -Você é tão engraçado, Ville... Mas é claro e obvio que senti sua falta durante todos os segundos de toda a semana. E não parei pra ouvir o Franz Ferdinand.

         -Ah... Eu te amo também.

         E me beijou mais uma vez.