Capítulo XXV 

S.

Eu vi Q. e Santana conversando civilizadamente no pátio, e não tenho palavras para expressar o tamanho da minha surpresa. Elas deveriam se odiar, certo? Então porque estavam conversando como as melhores amigas do mundo? Estranho, no mínimo. Soltei um pequeno suspiro. Aquela história de "me aproximar de Quinn Fabray" não era algo que me agradasse, porque a verdade é que eu preferia ficar isolada do que me aproximar das pessoas.

"Oi" disse alguém, tirando-me de meus devaneios.

Virei-me e percebi Rachel Berry parada logo atrás de mim. Ela tinha um sorriso maroto no rosto, o que me fez franzir o cenho.

"Oi" respondi.

"Ela é linda, não é?" perguntou Rachel, lançando um olhar apaixonado na direção de Quinn.

"Ela é bonitinha" confirmei, dando de ombros.

"Precisamos conversar, você não acha?"

"Sobre a Quinn? Desculpe-me, Rachel, mas isso não é algo que eu queira conversar com você"

"Não" disse Rachel, balançando a cabeça. "Sobre o que você fez. Nós realmente precisamos conversar sobre isso"

"Não há nada para falar" disse, negando com a cabeça e dando de ombros.

"Claro que há. Eu não sou idiota, ok? Eu sei que algo está acontecendo. Eu sei que Quinn está me escondendo algo, eu sei que você está me escondendo algo, e eu ainda não engoli o fato de você ter salvado a minha vida. Quero dizer, eu pensei que você me odiasse. Não que eu esteja reclamando, nem nada, porque eu me sinto profundamente agradecida pelo que você fez, mas eu ainda fico até tarde da noite acordada imaginando o que diabos está por trás disso"

"Você é irritante, Berry"

"E você é uma mentirosa" retrucou Rachel.

Touché. Ela nos pegou.

Nós não estamos mentindo.

É isso o que você se diz antes de dormir?

Cale essa boca.

"Eu não sou mentirosa" retruquei.

"Todos acham que você é invisível. Ninguém realmente te olha duas vezes. Só que, bem lá no fundo, você não é o que parece. Você apenas mente para todos!"

"Você não me conhece, hobbit!" exclamei irritada.

"Porque você não deixa ninguém entrar. E não me chame de hobbit!"

"Eu a chamo como eu quiser"

"Ah, vá se foder" resmungou Rachel.

"Que bela maneira de me agradecer por ter salvado sua pele, Berry"

"Eu desisto de você. Não vou correr atrás. Se você quiser, então me procure"

E sem dizer mais nada, a Rainha do Drama ergueu a cabeça e caminhou na direção de Quinn a passos largos. Bufei. Aquela baixinha era, provavelmente, a pessoa mais irritante da face da Terra. Eu podia entender muito bem porque Santana Lopez vivia enchendo seu saco. Afinal de contas, ela só estava retribuindo a dose de irritância que Rachel Berry trazia para nossas vidas. Contudo, eu precisa admitir que aquilo já estava passando dos limites. Eu realmente precisava conversar com a Rachel, e talvez até contar o meu segredo. A Fabray não podia lê-la, de qualquer maneira. Então desde que a Berry ficasse de boca fechada, eu poderia ter uma chance de explicar absolutamente tudo.

Você não a deve nada. Você não precisa contar a verdade.

Mas eu quero. Rachel é irritante, mas de alguma forma ela faz parte de tudo isso. Eu preciso alertá-la. Ela precisa ser mais cuidadosa daqui para frente.

Soltei um pequeno suspiro. Estava decidido: Rachel Berry saberia o meu segredo.

Rachel Berry

"Olá" disse, interrompendo uma conversa estranhamente amigável entre minha namorada e a garota mais detestável da face desse planeta.

"A hobbit chegou" resmungou Santana Imbecil Lopez. "Então é 'Hora de dar tchau!'. Até mais tarde, Pô"

Estreitei os olhos na direção de Santana, que começou a rir da sua própria piada sem graça. Encarei Quinn, mas ela apenas deu de ombros e lançou um olhar de pena na direção de Santana. Bufei. Aquilo era ridículo.

"O que você estava conversando com ela?" perguntei assim que Santana saiu do nosso campo de visão.

"Nada importante" disse Quinn, dando de ombros. "Como você está, minha linda?"

"Como eu estou?" perguntei irritada. "Você desaparece o dia todo, não deixa uma mensagem sequer, não atende minhas ligações, tinha saído com Sam Eavans e, como se tudo isso não bastasse, eu ainda pego a minha namorada num papinho amigável com Santana Lopez!" exclamei, sentindo minha voz subir umas oitavas.

"Com ciúmes, amor?" perguntou Quinn, arqueando uma de suas sobrancelhas perfeitas.

"De você, Fabray? Não mesmo" disse, cruzando os braços sobre o peito.

Quinn levantou do capô do carro e descruzou meus braços, puxando-me para um abraço forte. Fiquei ainda mais irritada. Então era isso? Nem uma explicação? Nenhum pedido de desculpas? Se ela achava que aquele abraço ia me acalmar, ela estava tremendamente equivocada. Acho que Quinn percebeu a minha tensão, porque se afastou rapidamente de mim.

"Olha, Rach, o Sam tinha uns assuntos para resolver, certo? Eu não queria que ele fosse sozinho, então eu o acompanhei. Santana veio aqui pedir desculpas por ser uma tremenda idiota, e eu não respondi suas mensagens e não retornei suas ligações porque esqueci meu celular em casa. Agora, será que a minha namorada pode tirar esse bico enorme no rosto e me dar um beijo?"

Suspirei. O que diabos Quinn Fabray estava fazendo comigo? Não era possível que meu coração batesse tão rápido só porque ela estava ali, ou que as minhas pernas tremessem quando ela me tocava, ou que eu sentisse borboletas no meu estômago quando seu olhar cruzava o meu. Não era normal, era? Talvez fosse. Como eu ia saber se nunca tinha me apaixonado verdadeiramente por ninguém antes?

"Sinto muito" disse, embora não estivesse cem por cento convencida de que ela estava falando a verdade. "Eu te amo demais, só isso"

"Eu também te amo" disse Quinn, puxando-me novamente para um abraço, o qual eu retribuí. "Eu te amo mais que tudo, Rachel Berry"

Tomei seu rosto em minhas mãos e a beijei. Deus, eu nunca ia me cansar daquela sensação! O seus lábios tinham gosto de baunilha e seu cabelo, que estava tão próximo do meu rosto, tinha um delicioso cheiro de morangos. Nossas línguas se entrelaçaram, assim como nossos corpos. Quinn apertou seus braços ao redor de minha cintura, trazendo-me para o mais perto dela possível. Eu tinha certeza que aquela era a primeira vez que nossos corpos estavam tão próximos, tão colados, e a sensação era maravilhosa demais. Separamo-nos em busca de ar, e Quinn tinha um sorriso lindo no rosto. O sorriso que eu tanto amava.

"O mundo pode se explodir quando eu estou com você, e eu juro que eu nem iria me importar" disse Quinn, acariciando meu rosto.

"E depois eu que sou a Rainha do Drama" brinquei, arrancando-lhe uma gargalhada. "Eu já disse o quanto você é linda?"

"Acho que não" disse Quinn, fazendo um biquinho adorável.

"Ah, é uma pena" suspirei e virei o rosto. Quinn me beliscou e eu ri. "Você é linda, minha princesa"

"Você também é, minha baixinha" disse Quinn.

E então, nossos lábios se tocaram novamente. Aquilo definitivamente era muito melhor que uma maldita aula de História. Coloquei uma de minhas mãos na nuca de Quinn e trouxe seu rosto para mais próximo do meu, e não pude deixar de sorrir. Por que diabos ela precisava ser tão perfeita? Por que eu me apaixonara perdidamente por ela? Será que era porque Quinn era misteriosa? E se ela não fosse, será que eu teria sequer olhado duas vezes para ela?

Teria. Você notaria Quinn Fabray de qualquer maneira, porque ela é simplesmente a pessoa mais maravilhosa que você já conheceu.

Eu nunca quero perdê-la.

Você não vai.

Você não deveria ser a parte do meu cérebro que me diz que isso é apenas um romance de colegial e que provavelmente vai acabar mal?

Sim, eu deveria. Mas sempre que eu penso em dizer isso, os olhos dela se encontram com o nosso e eu perco completamente a linha de raciocínio. Honestamente, nada disso me importa. Não desde que Quinn Fabray seja sempre nossa.Ela é nossa.E vai continuar sendo pelo resto de nossas vidas.

"Eu te amo, Rachel Berry" sussurrou Quinn, assim que nos separamos novamente em busca de ar.

"Eu te amo, Quinn Fabray"

E era a verdade. Eu a amava, e era tudo o que me importava.

Santana Lopez

"Presta atenção por onde anda, Adoçante" resmunguei irritada encarando a garota que estava parada no meio do corredor.

"Meu nome é Sugar" retrucou a garota, cruzando os braços sobre o peito.

"É mesmo, Zero Cal?" perguntei debochada. "E porque exatamente isso me importa? Só mantenha essa sua cabeça enorme longe de mim, docinho, porque se você esbarrar em mim novamente, eu não vou pensar duas vezes antes de meter um chute nesse seu traseiro. Isto é, se eu sequer conseguir encontrá-lo"

Adoçante desfez sua pose de bitch rapidinho. Quem aquela vadia pensava que era para me enfrentar daquela maneira? Se aquela riquinha me estressasse, eu não ia pensar duas vezes antes de baixar o Lima Heights em cima dela. A garota descruzou os braços, baixou a cabeça, resmungou algo muito baixo e saiu com o rabinho entre as pernas. Abri um grande sorriso malicioso. Eu ainda era a maior vadia daquele colégio, afinal. Ninguém em plena consciência de seus atos iria querer puxar uma briga comigo.

Caminhei lentamente até meu armário e peguei alguns livros. Eu estava perdendo muitas aulas, e eu precisava estudar caso não quisesse ficar atrasada em alguma matéria. Além do que, se eu tirasse nota baixa, não poderia fazer parte das líderes de torcida. Pensei no plano que Quinn e eu armamos para tirar Puckermann e Hudson do armário e abri um grande sorriso. Não era tão difícil, afinal. Nós só precisávamos fazer com que o Puckermann tomasse a iniciativa, e ele teria o orca do Finn em seus braços antes mesmo do aquecimento global matar todas as baleias do oceano.

"Santy"

Olhei para o lado e vi Brittany parada, com um enorme sorriso do rosto, encarando-me. Soltei um pequeno suspiro. Quinn estava certa, é claro. Eu precisava me declarar para a Brittany, porque eu simplesmente não aguentaria vê-la nos braços de outra pessoa. Terminei de colocar os livros dentro da minha bolsa, fechei meu armário e segurei a mão de Britt.

"Você não deveria estar na aula?"

"Eu não estava conseguindo acompanhar. Você sabe que sou péssima em Matemática"

"Sim, eu sei" disse, apertando de leve a sua mão. "Vamos resolver isso. Eu posso te fazer uma pergunta, Britt?"

"Claro, Santy, o que é?"

"Você me ama?" perguntei.

Senti meu coração bater mais rápido contra meu peito, mas se eu ia seguir com o meu plano, então eu precisava saber de Brittany correspondia meus sentimentos.

"Mais que tudo, Santana" disse Brittany, lançando-me o olhar mais intenso que eu já vira dar em toda a minha vida. "Mais do que tudo"

Abri um grande sorriso. Estava decidido, então. Naquele final de semana eu falaria com meus pais e sairia do armário, e segunda-feira eu teria uma música perfeita preparada para cantar para a garota que eu amava, e eu a pediria em namoro. Sim, Santana Lopez seria outra gay assumida naquele colégio, mas aquilo de nada me importava desde que eu tivesse Brittany comigo.

"Você deveria voltar para sua aula" comentei. "Sabe, fazer umas anotações. Depois eu te explico tudo"

"Você promete?" perguntou Britt, fazendo um biquinho.

"Eu prometo, mi angel"

Brittany sorriu, deu um beijo na minha bochecha e saiu andando para a sua sala. E meu coração ainda batia mais rápido contra o meu peito.

"Quer uma coleira?"

Senti um pânico apoderar-se de mim, mas suspirei aliviada ao ver que era apenas o Puckermann.

"Vai me emprestar a sua?" perguntei divertida.

"Do que você está falando?" perguntou Puck, arqueando a sobrancelha.

"De nada, Puck, meu querido" disse, apertando suas bochechas. "De absolutamente nada. Nós nos vemos por aí"

Puckermann me encarou surpreso, provavelmente por eu não ter sido agressiva. Mas, ei!, eu não era uma bruxa o tempo todo, e não é isso que o amor faz com as pessoas? Involuntariamente, eu sorri. Noah Puckermann estava de coleira. Quinn Fabray estava de coleira. E agora eu, a grande Santana Lopez, a maior vadia que Lima já viu, também estava de quatro por uma certa loirinha de olhos azuis. E, para ser bem sincera, estar apaixonada é a melhor coisa que já me aconteceu. Caminhei lentamente até a saída lateral, porque eu não queria atrapalhar (ou presenciar) a cena Faberry no estacionamento. Afinal de contas, eu ainda tinha uma declaração para planejar.

Rachel Berry

Quinn recebera uma ligação de sua mãe e precisara ir embora mais cedo. Faltavam apenas alguns minutos para o último tempo acabar, e eu ainda precisava ir para o clube do coral. Eu estava caminhando pelos corredores sem sequer prestar atenção, porque não conseguia parar de pensar em como Quinn Fabray era perfeita, mas acabei esbarrando em alguém.

"Desculpe" pedi envergonhada.

"Não tem problema, Rachel"

Espere aí, eu conhecia aquela voz! Levantei os olhos e meu coração saltou no peito.

"O que você está fazendo aqui?" perguntei irritada.

E lançando um olhar culpado em minha direção, estava Shelby Corcoran, a minha mãe biológica. Oh meu Deus! Será que os problemas nunca iam terminar de aparecer? Aparentemente, a resposta era não.