Nem Todo Mundo Odeia O Chris - 1ª Temporada escrita por LivyBennet


Capítulo 6
Todo Mundo Odeia Halloween


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora! Viver sem net é um saco!
Mas tá aí mais um cap saindo do forno pra vcs!



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POV. CHRIS (Brooklin – 1982)

Quando eu fiz treze anos, eu descobri que tinha coisas que eu fazia quando eu era menor que eu não queria mais fazer, como: pedir doces de porta em porta no Halloween. Até porque quem fazia minhas fantasias de Halloween era a minha mãe e ela não deixava eu escolher. As fantasias ficavam bem feitas, mas o mico era o mesmo. Um ano ela me fez a fantasia de Kunta Kintê; foi ridículo. Então esse ano eu não queria pedir doces, eu queria ir a uma festa como os outros adolescentes, o problema é que eu nunca tinha ido a uma. Pra piorar minha situação desesperada, minha mãe deu a sentença final:

“Chris, não chegue muito tarde da escola. Vai pedir doces com o Drew e a Tonya.” Droga!

Tentei tirar o corpo fora da melhor maneira que pude.

“Tenho mesmo que levar eles pra pedir doces?”

“Alguém tem que levar e eu e seu pai vamos ficar aqui e dar os doces.”

“EU posso ficar e dar os doces.”

“Chris, você não vai morrer por isso. Leva eles até o fim da rua e dá uma volta no quarteirão. Não vai levar mais que uma hora.” Desisti.

“Tenho que ir fantasiado?”

                “Só se quiser.” Pelo menos isso!

                Quando passei pela porta a Keisha tava dando um papel pro Drew. Eu perguntei o que era e ele disse que tinha sido convidado pra uma festa. Maluco, fui passado pra trás pelo meu irmão mais novo!

                “É na casa da Lisa Peterson, mas eu não vou. Prefiro pedir doces.” Ele só tinha onze anos, então acabou me dando o papel com o endereço. É, eu ia a uma festa.

                “Demorou.” Disse pra Lizzy quando ela apareceu. Eu tava esperando ela sentado nos degraus da escada em frente à casa dela. A gente ia junto pra escola todo dia fazia duas semanas.

                “Desculpa. Acordei tarde.” Ela sorriu e eu ainda não tinha me acostumado com o que aquilo fazia comigo.

                “Deixa pra lá.”

                “O que você tem?”

                “Vou à festa da Lisa Peterson.”

                “Sério? A Keisha me convidou tem uns três dias. Sem ofensas, mas eu pensei que ela ia convidar o Drew, ela é caidinha por ele.” Será que ela precisava me lembrar disso?

                “Ela convidou ele, mas ele não quer ir, então eu vou.” Queria pedir pra ela ir comigo, mas deixei pra lá.

                “Ok. Então, quer ir comigo?” Caramba! Que atitude! Isso! Joga na minha cara que eu sou um frouxo!

                “Eu ia perguntar, mas pensei que já ia com alguém.” Mentira descarada.

                “Que nada. Não conheço ninguém a não ser você. E eu não queria ir sozinha. Tipo, ser a única branca da festa e ainda por cima desacompanhada.”

                “Seria meio estranho mesmo.”

                Na escola, o Greg levantou a grande questão.

                “Acha que sua mãe vai te deixar ir?”

                “Espero que sim.”

                “Acho que ela deixa, Greg. O Chris vai comigo.”

                “E a fantasia de vocês?”

                “A minha eu já tenho.”

                “E a sua, Chris?”

                “Droga! Não tinha pensado nisso. E por que você já tá fantasiado, Greg?”

                “É. Tá muito estranho. Parece o Spock do Star Trek.” Ela tava rindo litros por causa das orelhas pontudas dele. Ele fingiu que não viu.

                “Mas, quantos anos ela tem?”

                “A Lisa? 15.”

                “Cara, ela ta tão na sua.”

                “Como assim? Ela tá na dele por que ela tem 15 anos?”

                “Não liga, é mania dele. Então, vamos?”

                “Sim. Vamos à guerra.”

                Pode até ser exagero, mas Halloween em escola de brancos parecia guerra mesmo. Ovos, goma, papel higiênico, spray e tudo mais que você possa imaginar. Quando a gente saiu da sala, o corredor tava uma bagunça generalizada. Conseguimos sair correndo e ilesos, mas só eu e o Greg; a Lizzy tinha ficado.

                “Greg, cadê a Lizzy?”

                “Eu não sei. Deve ter ficado lá dentro.” Droga! Entrei procurando por ela.

                Um garoto veio na minha direção com um ovo, mas quando ele atirou, alguma coisa me puxou pra baixo; a Lizzy.

                “Maluco! O que tá fazendo aqui? Pensei que você tinha saído.”

                “Eu saí, mas não te vi com a gente e voltei pra te procurar.”

                “Agradeço a preocupação, mas vamos embora.” Quando saímos o Greg já tinha ido.

                “Por que você ficou lá dentro? Queria sujar alguém?” Ela me deu um olhar de ‘me poupe’.

                “Nada disso. Eu queria ver onde o Caruzo estava e não vi ele em lugar nenhum. To sentindo que ele vai aprontar.”

                “Eu também não vi ele o dia todo. Mas onde ele pode aprontar agora? A gente já vai pegar o ônibus.”

                “O ônibus! É isso! Por isso eles sumiram!” O nosso ônibus dobrou a esquina. “Eles estão nesse ônibus.”

                “Tem certeza?”

                “Absoluta.” Ela parecia certa mesmo.

                “Então, o que a gente faz?” O ônibus parou e ela sorriu daquele jeito que me dava medo.

                “Observe.”

                Ela entrou, mostrou o passe livre dela e falou algo no ouvido do motorista. Ele se levantou, pegou um taco de beisebol e andou pelo ônibus.

                “Você quatro! Fora do meu ônibus com esse monte de ovos! Estão pensando o quê? Que vão fazer sujeira no meu ônibus? Nada disso! Podem sair! Rua!”

                O Caruzo e os outros três se levantaram e olharam pra Lizzy com caras de ódio, mas ela deu um beijinho fingido. O motorista agradeceu a ela e a gente sentou. Fomos rindo o caminho de volta inteiro. Quando chegamos, ficamos conversando um pouco na escada.

                “Sabe que vai ter revanche, né?”

                “Sei, mas eu conheço o Caruzo. Essa é minha vantagem.”

                “Ah, lembrei. Minha mãe quer te conhecer. Ela perguntou se você não pode jantar lá em casa qualquer dia desses.”

                “Sua mãe quer me conhecer? O que você falou de mim pra ela?”

                “Disse que você é branca.” Ela riu.

                “Entendi a curiosidade. Nunca teve uma amiga branca, né?”

                “Nunca tive uma amigA.”

                “Então diz pra ela que eu ficaria feliz em jantar lá um dia desses. Também to louca pra conhecer sua família.”

                “Por quê? Você já conhece todos.”

                “Conheço de vista, Chris. Não é a mesma coisa.” Lembrei da festa da Lisa.

                “Então, eu... eu...” Eu não conseguia falar.

                “Você...? Fala, Chris.” Falei de uma vez.

                “Que horas eu passo na sua casa?”

                “Ah. Chris, eu... eu acho melhor eu passar na sua. Meus pais... eles... Eu não quero que você fique constrangido.”

                “Não. Tudo bem. Eu entendo.”

“Tchau. Até mais tarde.”

“Até.” Eu ia entrando quando me lembrei de outra coisa.

“Lizzy!”

“Oi!”

“Me dá uma ideia de fantasia.”

“Ainda não tem uma?” Ela riu com gosto.

“Não. Tem alguma ideia?” Ela pensou um pouco.

“Você pode ir de Prince. Parece muito com ele.” E entrou.

Em casa eu tava tentando encontrar um jeito suave de perguntar pra minha mãe sobre a festa quando a Tonya estragou tudo. Ela falou da festa e fez minha mãe sentir como se fosse a última a saber. Ela odiava isso.

“Eu ia te contar. A festa é na casa da Lisa, amiga da Keisha. Eu posso ir?”

“Pode. Eu gosto da Keisha. Pode ir depois que trouxer Drew e Tonya. Eu só quero o endereço e o telefone.” Procurei no caderno, mas não encontrei o papel. Eu tinha perdido, quando fugia da bagunça lá na escola. E agora, o que é que eu faço? Resolvi que ia pedir pra mãe da Keisha. Então pedi pra minha mãe pra ela me fazer uma fantasia de Prince, e pela primeira vez ela concordou com o personagem que eu escolhi.

Pedi o endereço pra mãe da Keisha e ela disse que depois me dava, então saí pra minha hora de martírio com o Drew e a Tonya. Uma das casas que visitamos foi a do Jerome e ele afanou quase todos os doces. Perguntei se ele sabia onde era a festa da Lisa e ele disse que se eu encontrasse ele na esquina, nós íamos juntos. Só então lembrei que não ia precisar, pois eu ia com a Lizzy e ela sabia onde era.

Quando voltamos minha mãe já tinha terminado minha fantasia, e foi aí que eu me lembrei de que não sabia qual a fantasia da Lizzy. Qual será?

Já vestido com a fantasia percebi o quanto eu me parecia com o Prince. Minha mãe me achou tão parecido que quase me pediu um autógrafo, mas aí ela se lembrou do telefone e pediu pra eu anotar. Eu não sabia o telefone, mas eu só ia a uma festa a três quarteirões dali, o que poderia acontecer de ruim? Inventei um telefone qualquer e fui pra escada esperar a Lizzy.

POV. LIZZY

                Droga! Droga! Eu to parecendo uma patricinha com esse vestido. Eu nunca visto vestido, mas eu tinha que agradecer minha mãe por ela ter me deixado ir então vesti a porcaria do vestido. Me arrependi. Mas eu já tava atrasada e não queria fazer o Chris esperar. Minha mãe gostava muito de Shakespeare, então minha fantasia era de... Julieta.

                Quando saí, ele tava me esperando na escada.

                “Oi.” Ele virou.

POV. CHRIS

                Ela tava muito linda de vestido. Eu até tentei articular um ‘oi’, mas não saiu. Tinha certeza que tava quase babando e com cara de idiota, mas não pude evitar. Foi a primeira vez que eu vi a Lizzy arrumada. Naquela hora eu não sabia mais nem quem era Keisha. Tentei falar de novo.

                “Ahn... ah... o-oi.”

POV. LIZZY

                Nossa! Ele parecia mesmo o Prince e tava tão bonito. Ele tava me olhando com cara de idiota e eu teria rido se não tivesse ficado quase babando por ele também. Foi a primeira vez que eu vi o Chris arrumado. Naquela hora eu esqueci até de me repreender por pensar aquelas coisas, por que ele era só meu amigo e tal. Eu não conseguia pensar outra coisa, mas eu tinha que reagir. Ele tentou falar alguma coisa.

                “Ahn... ah... o-oi.”

                “Vamos?”

                “Claro. Você demorou, mas deu pra notar por que.”

                Eu ri. Mesmo envergonhado ele era engraçado.

                “Foi só um pouco.”

                “Você tem o endereço?”

                “Tenho, sim.”

POV. CHRIS

Quando chegamos, a festa já tinha começado e tinha muita gente. Logo deu pra notar que éramos os menores dali, tanto em tamanho como em idade. A Lizzy não parecia mais à vontade do que eu, mas eu notei que tinha muita gatinha ali.

                Mas na minha casa o meu pesadelo só aparecia. A mãe da Keisha foi lá em casa pra pedir o telefone da festa pra minha mãe. Quando elas ligaram, descobriram que o número era de um bar. Eu tinha me ferrado bonito e nem sabia, e eu nem tava pensando naquilo.

                Quando vi a Keisha naquela festa, pensei em dançar com ela, mas eu nunca tinha tirado uma garota pra dançar na vida. Eu olhei tanto pra ela que a Lizzy percebeu.

                “Tira ela pra dançar.”

                “Nem pensar. Eu nunca fiz isso.”

                “A pior resposta que pode receber é um ‘não’.” Tomei coragem e fui.

                Chamei a Keisha e ela disse exatamente o que eu esperava: um NÃO com letras garrafais e neon. Comecei a achar que não era pra eu ter ido à festa no lugar do Drew. Ele teria se dado bemzaço na festa.

                “Vem, Chris.” A Lizzy me puxou pra dançar com ela.

                “Tem certeza? Essa música é lenta.”

                “E desde quando eu tenho medo de você?” Ela riu e eu ri junto.

                A música era bem lenta mesmo e a gente dançou colado. Daí eu percebi uma coisa que nunca tinha me chamado atenção. Por mais durona que a Lizzy fosse, ela parecia precisar sempre de um amigo, ou alguém que a protegesse. E ela era do meu tamanho. Não sei por que notei isso, mas eu notei. Era a primeira garota que eu conhecia que era do meu tamanho, por que até meu irmão caçula era maior que eu. Também não pude deixar de notar o perfume dela outra vez. A música acabou e fiquei triste por que a gente se separou. Emoções demais pra uma noite e fomos embora.

                Deixei ela na porta da casa dela.

                “Que bom que a gente foi junto e sinto muito pela Keisha.”

                “Não foi nada. Eu tenho que esquecer ela.”

                “Se precisar de um ombro amigo, eu to presente.” Nós rimos.

                “Pronto, você tá entregue.”

                “Pois é, sua casa é tão distante da minha.” Rimos de novo.

                Reuni toda a minha força de vontade pra falar. Eu sabia que se eu não falasse agora, não ia ter outra chance.

                “Você tá linda.” Ação e reação: ela ficou vermelha.

                “Obrigada. Você tá muito bonito também.” Pois é, garotos também ficam sem graça.

                “Valeu.”

                “É melhor eu entrar. Meus pais... você sabe.” Ela se virou pra entrar, mas virou pra mim de novo. “Obrigada por hoje.” E... ela me BEIJOU... no rosto e entrou. Eu fiquei lá tentando entender o que tinha acontecido, mas eu tinha um sorriso enorme que dava pra ver até de costas.

                Minha mãe tinha um grande presente pra mim quando eu subi: uma bela surra. Tentei explicar que tinha escrito o número errado, mas não deu tempo.

                Apesar da surra, eu fui dormir feliz naquela noite. Eu tinha ido a uma festa e tinha dançado com a Lizzy. Ela dançava bem, mas eu não prestei atenção nisso. Na dança, obrigatoriamente a gente tem que abraçar o outro e eu não esquecia os braços dela em mim. O perfume que eu não sabia qual era. E o beijo. Foi no rosto, mas me deu uma sensação tão boa. Dormi pensando nisso e nem lembrei o fora da Keisha.

POV. LIZZY

                A noite foi boa. Eu já tinha ido a outras festas, então não foi surpresa. OK! A quem eu to tentando enganar? Foi ótima! A gente dançou colado! Ele dança bem, mas eu não pensei nisso. Ele é só um garoto, mas tá mexendo comigo e eu não sei porque. Na Corleone tem muitos outros caras mais bonitos, mas eu me aproximei do Chris. Talvez por que ele seja negro e injustiçado. É, pode ser. Mas isso não muda o fato que EU BEIJEI ELE! No rosto, mas eu beijei. O que deu em mim? Ele é só meu amigo. E eu não vou me apaixonar por ninguém. NUNCA! Eu preciso contar pra alguém. Alguém que me entenda. Cibele!

                Peguei umas folhas e escrevi tudo entes de ir dormir.

...

Por: LivyBennet


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Notas finais do capítulo

Leiam e comente! Leiam e comentem! Leiam e comentem!
Please!