Nem Todo Mundo Odeia O Chris - 1ª Temporada escrita por LivyBennet


Capítulo 13
Todo Mundo Odeia Emprego Temporário


Notas iniciais do capítulo

Mais um! Viciei a tarde toda e nem almocei! Pra yous.



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POV. CHRIS (Brooklin – 1983)

                Quando virei adolescente eu já achava que isso era maneiro, mas descobri que não me destacaria em nada se não me vestisse direito. E uma das coisas que estava ganhando as ruas e as vitrines quando eu tinha treze anos eram as jaquetas de couro. Eu queria tanto uma, mas não podia comprar. Meu pai não ia me dar por que pra ele aparentemente não tinha utilidade e minha mãe não ia comprar por que meu pai ia dizer não. Todo mundo no meu bairro tinha uma, até quem não tinha pai, mas eu não. A Lizzy já tinha a dela desde que eu tinha visto ela pela primeira vez. Ela vestia sempre e ficava muito irado.

                Descobri um dia que a Keisha também tinha uma. Será possível que todo mundo vai ter uma e eu não? Eu sabia onde encontrar a jaqueta, eu só queria saber como ia arrumar o dinheiro. A Keisha disse que eu poderia até ficar legal com uma, então decidi na hora: eu ia ter uma.

                Lá na escola o Greg não entendia pra que eu queria uma jaqueta.

                “Acho que ficaria maneiro e a Keisha também acha. O problema é que eu não tenho 50 dólares.” Olhei pra Lizzy pra ver se ela me ajudava a explicar pro Greg.

                “Nem vem. Também não entendo pra que você quer uma jaqueta.”

                “Você tem a sua. Por que você usa, então?”

                “Eu uso por que eu gosto, por que é meu estilo, e não por que meu vizinho disse que eu ficaria bem com uma.” Entendi a indireta, mas me fiz de surdo.

                “Compra com a sua mesada?” A ideia brilhante (ironia) veio do Greg.

                “Mesada?” Existe mesmo?

                “É um dinheiro que seus pais te dão todo mês.” Os dois com certeza recebiam, mas eu pensei que isso só existia em filmes.

                Eu queria tanto a jaqueta que resolvi tomar coragem e pedir ao meu pai. Eu já sabia a resposta, mas quem não tem esperança não vive feliz.

                “Pai, posso ter uma jaqueta de couro?”

                “Qual é o problema com o agasalho do Drew?” Na boa, eu usava as roupas velhas do meu irmão mais novo. Nisso eu era único.

                “É pequeno e não é legal.”

                “Não é pra ser legal, é pra ser quente. E onde vai arrumar dinheiro pra comprar uma jaqueta?” Aquela era a hora da facada.

                “Será que pode me dar uma mesada?” Pode até parecer uma pergunta simples, mas pro meu pai era a mesma coisa de estar insultando ele. Mas ele resolveu aliviar pro meu lado e disse só uma coisa.

                “Eu já te dou tudo o que você precisa, por que tenho que te dar mesada?” Descobri que era a melhor resposta que eu ganharia. Ia ter que me virar.

                Na escola fiquei irado de ódio por que depois do Greg me dizer que não era maneiro ter jaqueta de couro, ele me apareceu com uma.

                “Como conseguiu?”

                “Nossa. É mais legal que a minha.” Lizzy.

                “Meu pai comprou em uma loja de itens antigos do exército.”

                “Depois do que você disse, aparece aqui com uma jaqueta. Não entendi?”

                “Eu tava enganado! Fala aí. Eu to irado, não to?” Queria saber se ele ia achar irado o tabefe que eu quis dar nele. Nisso a Jennifer passou, olhou enviesado pra Lizzy e falou com o Greg.

                “Oi, Greg. Jaqueta legal.”

                “Peraí, ela falou com você?”

                “Eca! Não acredito que acham essa sem-sal bonita?”

                “Cara, eu preciso de uma jaqueta de couro.”

                “Não sei por que esse desespero, Chris. Você é legal do jeito que é. Problema de quem não vê.” Gostei do elogio e até fiquei com vergonha, mas eu não ia desistir da jaqueta.

                Tentei arrumar emprego de todo jeito e em todo lugar. Onde eu podia e onde não devia. Como nada deu certo resolvi pedir ajuda de quem mais trabalhava lá em casa: meu pai.

                “Pai, me arranja um emprego?”

                “O quê?”A cara dele me falou que ele tava chocado.

                “Eu quero comprar aquela jaqueta de couro.”

                “Quer a jaqueta tanto assim?”

                “Quero.”

                “Então tá. Pode entregar jornal comigo. Te espero lá embaixo às 3:30 am.”

                “Tá bom.” Eu queria tanto aquela jaqueta que às 2:40h eu já tava em pé me arrumando.

                O trabalho do meu pai era enorme e barulhento. Lá os caras chamavam ele de ‘Hercur’, como Hércules pela força. Lá ele falava palavrões que eu nunca soube que ele falava. Lá eu me senti numa sociedade secreta.

                Fora isso, descobri que trabalhar não é tão bom assim. Lá fora tava frio, mas eu tava cansado e os jornais eram pesados. Comecei a pensar se eu queria a jaqueta tanto assim. Mas ficou mais divertido quando a gente saiu no caminhão pra entregar os jornais. Trabalhar com o meu pai foi uma das coisas mais maneiras que já fiz na vida. Fizemos muitas coisas que não devíamos, mas foi muito irado. Entregamos jornais na cidade inteira e quando terminamos eu não via nem sinal do sol. Que droga é essa? Mas eu tava cansadão.

                No outro dia, na verdade era o mesmo dia só que mais tarde, acordei com cada osso do meu corpo doendo. Era domingo e eu não precisava ir pra escola e mentalmente agradeci por isso. Meu pai veio me dar o dinheiro que eu consegui com o trabalho da noite e eu percebi que eu compreendia bem ele agora. Quando você trabalha tão duro daquele jeito, você não quer desperdiçar nem um centavo. Mas o dinheiro não foi o tanto que eu esperava.

                “25 dólares? Mas eu preciso de 50 pra jaqueta.” Aí meu pai me ensinou uma grande diferença.

                “Você não precisa, você quer 50.”

                Eu queria que o emprego tivesse dado o dinheiro que eu queria pra jaqueta, mas como não tinha dado, resolvi fazer uma coisa que eu ainda não tinha feito naquele dia: falar com a Lizzy. Desci as escadas correndo, eu tinha tanta coisa pra contar pra ela. Assobiei e esperei. Não demorou muito e ela desceu.

                “Oi.” Deu um sorriso que não tinha como não sorrir de volta, apesar da decepção da jaqueta.

                “Oi.”

                “E a história da jaqueta?” Contei tudo pra ela e ela ficou pasma com a minha coragem. “Sério que você foi trabalhar com seu pai, deu aquele duro todo só por causa da jaqueta?”

                “Foi. Eu disse que queria muito a jaqueta, mas o dinheiro não deu.” Fiquei triste mesmo. Ela me olhou de um jeito estranho, parecia pensar em algo.

                “Espera um pouco que eu já volto.” Ela subiu e em cinco minutos desceu com uma coisa escondida nas costas.

                “O que é?” Ela mostrou.

                “Um jaqueta de couro.” Sério que ela ia me dar uma?

                “Onde conseguiu?”

                “Eu tinha comprado há uns tempos pra mim, mas minha irmã não me deixou usar por que disse que era de homem.” Ela estendeu a jaqueta pra mim.

“Pra mim?” Ela fez que sim, mas eu não podia aceitar. “Não. Eu não posso.”

                “Por que não?”

                “Por que é caro.”

                “O toca-fitas que eu te dei era mais caro.”

                “É, mas eu te dei a fita betamax do Star Trek 2. Eu te dei alguma coisa.”

                “Eu não quero saber. É pra você.”

                “Eu não posso aceitar.” Que é isso, cara. Eu tinha o meu orgulho também.

                “Chris, deixa de besteira. Pega logo.”

                “Não.” Escondi as mãos atrás das costas. Ela respirou fundo, tentado se acalmar.

                “Ok. Faz o seguinte: eu te empresto, você usa, depois você me devolve. Ok?” Como ela consegue arranjar soluções pra tudo? Agora não tinha como eu recusar.

                “Tudo bem, mas é emprestado.” Ela olhou pra mim e riu um pouco.

                “Ok, Chris, é emprestado.” Peguei a jaqueta e vesti. Ficou muito irado. Tinha até uns detalhes em cima dos ombros, eram tipo umas pontinhas de metal.

                “Valeu, Lizzy.”

                “Mas isso foi só por que eu vi que você queria muito e até foi trabalhar por isso.”

                “Ta bem. Mesmo assim, obrigado mesmo.” Fui lá e dei um abraço nela. A gente já tinha se acostumado com essas demonstrações livres de amizade. Eu nem ficava mais com vergonha e ela também não.

                “Agora você vai poder se exibir pro Greg e pras meninas.”

                “Eu sei.” Eu tinha conseguido a jaqueta e ainda tinha 25 dólares no bolso, mas pra mim aquele dinheiro já tava comprometido. “Lizzy, quer ir na sorveteria comigo?” Ela me olhou surpresa.

                “Agora?”

                “É. Quero me exibir.” Falei brincando, e ela entendeu. Nós rimos.

                “Tudo bem. Só vou pegar meu...” Eu sabia o que era e nem deixei ela terminar de falar.

                “Não. Eu pago.”

                “Mas...”

                “Sem ‘mas’. É um agradecimento. Vamos?” Ela riu.

                “Vamos.”

                Descemos a rua conversando e rindo. Eu tava feliz pra caramba.

POV. LIZZY

                Ele ficou realmente irado com a jaqueta, mas eu não queria falar sobre isso. Eu ter achado a jaqueta foi um acaso que aconteceu por que eu tava afastando o meu baú pra longe da parede. Motivo? Ok, eu conto.

                Quando eu jantei na casa do Chris, ele me mostrou o quarto dele e eu descobri que a parede que a cama dele ficava encostada fazia parede com o meu quarto. Aquilo me deu uma ideia monstro de legal. Não falei nada pra ele e quando cheguei em casa fui conferir. Era exatamente o que eu pensei. As casas eram iguais e então eu tive a exata certeza. Agora eu só tinha que colocar meu plano em ação e isso ia começar hoje.

Quando voltei da sorveteria com o Chris, a gente conversou um pouco na calçada e depois entramos. Vi na geladeira um bilhete curto e grosso dos meus pais dizendo que tinham saído pra jantar. Eu tinha me entupido de sorvete e não tava com a mínima fome, então subi pro meu quarto. Antes passei no quarto dos meus pais e peguei umas ferramentas que ficavam numa caixa de madeira embaixo da cama.

Agora eu tenho tudo o que preciso pra começar o meu serviço antes que eles cheguem. Talvez eu não termine antes disso, mas pelo menos vou começar. Mas pra isso eu tenho que parar de pensar no que eu já fiz e começar a trabalhar. Fui!

...

Por: LivyBennet


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Notas finais do capítulo

Comentem! Pleasy..........



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