Nem Todo Mundo Odeia O Chris - 1ª Temporada escrita por LivyBennet


Capítulo 11
Todo Mundo Odeia o Natal


Notas iniciais do capítulo

Fiz de madrugada. Acho que ficou legal!
Enjoy.



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POV. CHRIS (Brooklin – 1982)

                Minha vida sempre foi difícil e o Natal era uma das poucas folgas que eu tinha. Ganhar presentes era sensacional, principalmente quando se ganha o que quer. Naquele Natal eu queria um toca-fitas, vulgo Walkman. Eu vinha dando indiretas pros meus pais desde Novembro, então o presente era quase certo.  Eu tinha colocado panfletos no congelador, junto com os ovos, na roupa suja, e até nos bobes de cabelo da minha mãe. A felicidade já tava quase saindo, eu só precisava segurar o presente. O Greg e a Lizzy acharam maneiro.

                “Um toca-fitas? Muito maneiro.” Greg.

                “Como sabe que vai ganhar?” Lizzy.

                “Eu venho pedindo há um mês. É impossível que eles me neguem.” A gente entrou na sala. Nós tínhamos uma professora nova, a Srta. Morello.

                “Bem, turma. Não se esqueçam de trazer comida enlatada para doarmos para os mais necessitados.”

                “Professora, pode ser comida em caixa também?”

                “Ah, Chris. É muito nobre a sua intenção, mas não precisa trazer nada.” Eu fiquei meio sem entender, mas deixei pra lá. Aparentemente a Lizzy tinha entendido alguma coisa que eu não tinha, e pelo visto não tinha gostado. Ela tava com uma cara...

POV. LIZZY

                Aquela professora racista de uma figa! Ele nem notou que ela tava falando dele. Ele é tão inocente que não percebe o deboche dos outros. Mas ela me paga. Ela vai ver.

                Mas pelo menos ele vai ganhar o presente que quer. Eu nunca ganhei um presente, a não ser os da Cibele. Meus pais nunca se deram o trabalho de me dar presentes. Achavam que era inútil. No começo eu não ligava, mas agora que eu tenho amigos de verdade e vejo eles ganhando os presentes deles, eu sinto um pouco de falta. Não pelo presente em si, meus pais me deixam usar o dinheiro da família (não sei como). Mas pelo ato que significa que alguém se importou com você. Por isso eu ia dar um presente pro Chris, por que eu me importava com ele.

POV. CHRIS

Lá em casa o aquecedor de água resolveu acabar com o meu Natal.

                “Rochelle, você não disse que a água tava quente?”

                “Chris disse que estava quente quando usou.”

                “Não acredito. O aquecedor deve ter quebrado de novo.”

                “Tem como você consertar?”

                “Não. Temos que comprar outro.”

                “Mas temos que comprar o presente do Chris. Ele me dá indiretas desde Novembro.”

                “Essas crianças ganham presentes demais.”

                Enquanto isso o Drew jogava na cara da Tonya que Papai Noel não existe, mas ganhou um tapa da minha mãe. Pra ela acreditar no que ele dizia, ele levou ela no quarto de cima pra ela ver que os presentes já estavam comprados. Ela ficou revoltada e se trancou no quarto.

                Eu tava até escolhendo os alimentos pra levar pro colégio quando meus pais vieram e disseram que tínhamos que conversar. Eu não gostei daquilo. Me sentei e esperei. Notei que não podia ser nada de bom, minha mãe tava sem graça.

                “Chris, eu sei que você está ansioso pra ganhar seu presente, mas quanto mais velho se fica, mais você entende como fazer sacrifícios.” Eu não tava entendendo, mas meu pai tomou a frente e me explicou.

                “Os sacrifícios, Chris, são as coisas das quais desistimos para o bem de alguém que gostamos. Eu abri mão de muitas coisas por você, por seus irmãos e por sua mãe também. Você está crescendo e vai ter que aprender sobre sacrifícios também.” Ainda não tava entendendo.

                “Como assim?” Ele foi curto e grosso.

                “Você não vai ganhar presente de Natal.” Respirei fundo e analisei a situação. O Drew e a Tonya iam pirar sem presentes.

                “Ok. Como vamos dizer isso pro Drew e pra Tonya?”

                “Isso o quê?” eles perguntaram juntos.

                “Que eles não vão ganhar presentes.” Tive um mal pressentimento.

                “Quem disse que eles não vão ganhar?”

                “Mãe, quer dizer que eles vão ganhar presentes e eu não?” Era injustiça! “Por que?”

                “É que nós já tínhamos comprado os presentes deles e agora o aquecedor quebrou e não vamos poder comprar o seu.” Como sempre eu era deixado por último. Esquece, eu já tava acostumado, mas eu não queria escutar mais nada.

                “Tá bom. Eu entendi. Só que... Esquece. Eu vou ficar lá fora.” E saí. Eu sei que eles ficaram com cara de tacho, mas eu não queria nem saber.

                Cheguei lá fora e assobiei três vezes. Eu precisava dela e ela não demorou.

                “Oi, Chris.” Ela tinha um sorriso que eu não consegui retribuir. “O que você tem? Parece até que não vai ganhar presente.”

                “E não vou mesmo. Meus pais vão comprar o aquecedor ao invés disso.”

                “Ah, que pena. Como seus irmãos reagiram?” Eu olhei pra ela. Pelo tempo que a conhecia, sabia que a reação dela não ia ser boa, então decidi contar logo.

                “Eles vão ganhar, só eu que não.”

                “O QUÊ? ELES TÃO MALUCOS?” Exatamente como eu previ.

                “Calma, eu não me importo.”

                “É, dá pra ver pela sua cara que você não tá nem aí.” A ironia dela me acertou mesmo no estômago.

                “Ok, é claro que eu ligo, mas temos que fazer sacrifícios por quem nós gostamos.”

                “Eu sei, mas você já pensou que ELES poderiam fazer um sacrifício e te comprar nem que seja uma coisa mais barata?”

                “Não, eu não pensei.” Ela tava muito nervosa, mas respirou fundo.

                “Olha, Chris. Eu admiro você por que você é altruísta e se importa mais com os outros do que com você mesmo. Mas eu te digo uma coisa: isso só vale a pena se você tiver alguém que se importe com você. Por essas pessoas sim, vale a pena um sacrifício. Eu nunca ganhei presentes, Chris. Eu sei como você se sente.” Ela acariciou meu rosto e entrou.

                Fiquei pensando no que ela tinha dito. Pessoas pelas quais vale a pena fazer sacrifícios. Aí eu descobri quem era essa pessoa pra mim. Era ELA!  Ela que sempre tinha me defendido, que sempre me ajudou sem pedir nada em troca, que sempre quis minha amizade por mim e não pelo que eu tenho a oferecer. Ela era a pessoa pela qual eu faria qualquer sacrifício. Entrei bem mais aliviado.

                No outro dia, eu levei os alimentos pra escola e não mencionei nada do que eu tinha decidido fazer pra Lizzy. Ela ia ter uma surpresa, mas eu não sabia o que dar de presente pra ela. Eu sabia que não seria de muita ajuda, mas perguntei pro Greg quando ela foi ao banheiro.

                “Greg, você sabe o que a Lizzy gostaria de ganhar?”

                “Ela não falou diretamente, mas mencionou que tinha uma fita que ela queria muito assistir.”

                “E qual é?”

                “Star Trek 2. Acho que ela falou pra mim por que eu gosto e achou que eu tinha a fita.” To chocado! Pois num é que ele foi útil!

                “Valeu.” Ela voltou e entramos na sala.

                Lá em casa, a Tonya tava fula com a minha mãe por causa do ‘falso’ Papai Noel. Ela acabou dedurando que foi o Drew que tinha dito a ela. Então minha mãe foi ter uma ‘conversa’ com o Drew e a ‘conversa’ foi bem longa e com muitos gritos.

                Depois da aula fui atrás de comprar o presente da Lizzy. Tive sorte e nem demorei muito, consegui comprar uma novinha. Ela ia adorar. Fiquei até imaginando a cara dela.

                Quando cheguei em casa, minha mãe me agradeceu por reagir bem à noticia do ‘sem presente’. A partir dali ela fez a coisa que nunca achei que ela fosse fazer na vida: ela me mimou. Ela mandou a Tonya lavar a louça, mandou o Drew sair do sofá pra eu sentar e até ganhei o maior pedaço da galinha. Ser altruísta nunca foi tão bom.

                No jantar a Tonya tava desconfiada com tudo e meu pai ainda teve a besteira de falar que Coelhinho da Páscoa e Fada dos Dentes não existiam. Aí ferrou! Ela subiu e se trancou no quarto de novo.

                Na escola o otimismo do Greg me deu um presente: uma fita pro meu toca-fitas inexistente. Ele sabia que eu não ia ganhar, mas ele tinha mais esperança que eu. Foi a troca de presentes no corredor: eu, ele e a Lizzy. Ele me deu a fita e eu dei a ele um par de luvas. Não sei como, mas ele adorou. Ele deu pra Lizzy um cachecol e ela deu pra ele um suéter com a letra G bordada. Eu e ela nos olhamos e eu descobri que nossa troca de presentes seria mais tarde.

                Como todo mundo sabe, ninguém dorme em véspera de Natal, mas como eu não ia ganhar nada, dormi que nem uma pedra. Quando eu desci na manhã seguinte eu tava feliz por que eu ia DAR um presente. Eu ia saindo pra chamar a Lizzy quando minha mãe me chamou. Tava todo mundo reunido na sala.

                “Olha, filho. Temos um presente pra você.” Ela me entregou um embrulho chato e comprido. Parecia um disco. Eu abri e era um calendário. Respirei fundo e tentei relevar.

                “Um calendário?” Tonya.

                “É. Um calendário. Foi isso o que eu pedi. Ele é todo informativo, sabia? Maio é o mês do sol.”

                “Eu não sabia.”

                “Saberia se tivesse um calendário.” Meu estômago roncou e eu resolvi comer antes de ir na Lizzy. Fui lá na cozinha e meus pais foram atrás.

                “Obrigada, Chris.”

                “Por quê?”

                “Por reagir tão bem ao ganhar o que não queria.” Pai. “Estou muito orgulhoso de você.”

                “Eu também, meu filho.” Eles me abraçaram e eu me senti mais feliz do que se tivesse ganhado um presente.

                “O que é isso na sua mão?” Mãe.

                “Ah. É o presente da Lizzy.”

                “Quanto você gastou com isso?” Meu pai não dava uma folga nem no Natal.

                “Jullius! Espero que ela goste, meu filho. Vai lá.”

Saí e assobiei. Ela desceu parecendo um foguete e se jogou em cima de mim me abraçando. Foi o melhor abraço da minha vida. Como era Natal e tava frio, não tinha ninguém na rua, então a gente podia ficar à vontade. Ficamos assim por uns minutos, tava tão bom.

                “Feliz Natal, Chris!”

                “Feliz Natal, Lizzy!” Nos separamos e entreguei o presente dela.

                “O que é?”

                “Abre.” Ela abriu e quase gritou.

                “Como você sabia que eu queria esse?”

                “Greg.”

                “Agora abre o seu. Tenho certeza que você vai adorar!” Ela me entregou e eu abri.

                Quase grito também. ERA O MEU TOCA-FITAS! ELA TINHA COMPRADO PRA ME DAR! Fiquei tão feliz que gaguejei.

                “Vo-vo-vo-cê co-com-prou pra mim?” Ela riu.

                “Foi, seu bobo. Depois que você disse que não ia ganhar eu resolvi comprar e te dar.”

                “Valeu mesmo. Eu já tinha perdido a esperança de ganhar.” Olhei pra ela. Eu não sabia como agradecer. “Eu não sei o que dizer e não sei como agradecer.”

                “Não precisa. Te ver feliz já é bom.” Nós dois ficamos vermelhos. Eu tinha que fazer alguma coisa. Antes que eu perdesse a coragem, dei um passo a frente e beijei o rosto dela. Senti que ela prendeu a respiração, mas depois relaxou.

                “Valeu mesmo.”

                “Que nada. Eu sei que você tá louco pra mostrar seu presente pros seus pais. Pode ir.”

                “Não quero ir agora. Pode ficar aqui fora?”

                “Posso.” Nos sentamos e ficamos conversando.

                Só percebi que o tempo tinha passado quando minha mãe me chamou pra almoçar.

“CHRIIIIIIIIIIIIIIIIIISSSSSSSS!!!!!!!” Eu tenho a impressão que minha mãe não sabe falar normal, ela só sabe gritar.

                “Tenho que entrar. Vai sair mais tarde?”

                “Vou, mas também vou entrar. To congelando. Tchau, Chris. Manda Feliz Natal pra sua mãe.”

                “Eu mando.” Entramos.

                “Por que demorou?” Minha mãe... affy. Demorei meio minuto pra subir a escada.

                “Tava conversado com a Lizzy.” Eu não sabia qual seria a reação da minha mãe com o toca-fitas, mas resolvi contar logo. “Mãe, olha o que eu ganhei.” Mostrei pra ela.

                “O toca-fitas? Ela te deu? Esse presente é muito caro, não devia ter aceitado.” Eu sabia, mas eu tinha uma desculpa pra isso.

                “Eu dei um presente pra ela também. Uma fita betamax do Star Trek 2. É o mesmo preço.” Minha mãe me olhou estranho.

                “Quer dizer que você poderia ter comprado o toca-fitas, mas comprou um presente pra ela?”

                “Foi. Por que?”

                “Eu te criei muito bem, meu filho. E você aprendeu o que eu e seu pai lhe ensinamos sobre sacrifício. Era isso o que nós queríamos dizer.”

                “Isso o quê? Que fazemos sacrifícios por quem gostamos?”

                “Exatamente. Agora tira esse casaco e chama seus irmãos pra almoçar.”

                “Mãe, ela mandou Feliz Natal pra senhora.” Ela sorriu.

                “Feliz Natal pra ela também, filho.”

                Subi pro meu quarto e percebi que o Natal que eu pensei que não ia ganhar presente nenhum, foi o meu melhor Natal. Por que eu não me importei com o presente em si, mas com as pessoas que eu gostava.

                O resto do dia correu bem e sem inconvenientes, mas eu não pude sair pra conversar com a Lizzy por que começou a nevar. Quando fui dormir, escutei a fita que o Greg me deu e dormi pensando no abraço que ela tinha me dado.

POV. LIZZY

                Eu não vou conseguir dormir, eu to eufórica. Ele me beijou! Não é a primeira vez que isso acontece, mas da outra vez fui eu. Agora foi ele! A atitude foi dele!

                Sabendo que não ia pregar mesmo o olho resolvi assistir a fita que ele me deu. O filme era irado, mas eu dormi na metade. Dormi pensando num certo garoto e em um certo beijo.

...

Por: LivyBennet


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Notas finais do capítulo

Comentem!
Para os interessados, o próximo cap é o do jantar!



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