" Cumpriu sua sentença e encontrou-se com o único mal irremediado. Aquilo que é a marca de nosso estranho destino sbre a Terra. Aquele fato sem explicação que iguala tudo que é vivo num só rebanho de condenados. Porque tudo que é vivo morre. "

Ariano Suassuna - ' Auto da Compadecida '

Lá estava eu, em frente àquele caixão de tampa aberta, observando aquele rosto lindo, mais pálido que o normal. Ainda não conseguia acreditar que era ele ali, tão pálido, tão... calmo. Como ele podia estar calmo daquele jeito no momento em que eu mais me desesperava? Como ele podia aceitar a morte assim, enquanto eu faria de tudo para tê-lo novamente ao meu lado?

Minhas lembranças de três dias atrás continuam frescas em minha mente.

Lembro-me de nós, eu e Harry, juntamente com a Armada de Dumbledore, nos preparando para o que poderia ser o duelo de nossas vidas. Mas ele falava ao meu ouvido, com uma calma que eu não sabia como ele conseguia ter num momento como aquele. “Vai dar tudo certo, Ginny, não se preocupe.” E como eu queria que aquelas palavras fossem verdadeiras. Como eu queria que realmente tivesse dado tudo certo. Mas, infelizmente, não fora assim que aconteceu.

Montada na vassoura, eu via ele à frente de todos nossos amigos. E, ao chegarmos no local do confronto, todos os Comensais ali, e Voldemort junto a eles, eu estremeci, e percebi que ele também havia ficado com medo, assim como todos os outros.

A batalha não estava indo mal, apesar dos Comensais da Morte serem mais experientes, alguns já haviam caído. George, meu irmão, havia derrubado quatro Comensais. Eu mesma já tinha matado um. A batalha já estava praticamente ganha, quando aconteceu.

Eu cheguei a ouvir Harry e Voldemort falando ao mesmo tempo “Avada Kedavra”, e pelo visto muitos também ouviram, pois tanto os comensais quanto os membros da Armada de Dumbledore, se viraram nessa hora para olhar, e eu também me virei, exatamente no momento de ver o corpo de Harry cair no chão. E, nessa hora, tudo parou para mim. Talvez em algum lugar do meu cérebro eu ainda tivesse consciência de que Voldemort morrera, e de que todos os comensais estavam fugindo, e todos os meus amigos gritavam “vivas” de alegria.

Mas, para mim, nada disso importava. Só o que me importava era que aquele que eu mais amava estava caído ao meu lado, inerte. Eu chorava e minhas lágrimas caíam quentes em seu rosto frio. E então, acho que finalmente os outros perceberam que Harry morrera, pois meu irmão Rony havia ajoelhado do meu lado e estava chorando também. Pouco a pouco, várias pessoas começaram a chorar e alguns até se desesperavam, gritando “E agora, o que vamos fazer sem Harry Potter para nos ajudar?”. Alguns minutos depois, meus pais e mais alguns outros membros do Ministério da Magia estavam chegando para levar o corpo de Harry.

Agora eu estou aqui, o caixão está sendo fechado, eu sei que nunca mais o verei novamente, e minhas lágrimas não param de cair. Jogo uma flor no buraco de terra que foi feito embaixo do Salgueiro Lutador, que agora está imóvel, com algumas folhas caindo, como se estivesse chorando também. O buraco foi tapado, e agora eu sei que tudo que nós vivemos é apenas uma lembrança. Mas eu fico pensando como, com apenas um feitiço, palavras pronunciadas pela boca de alguém, a vida de meu amor foi tirada. Ele que tinha apenas 17 anos, morrera como se fosse um velho frágil.

Ontem eu sonhei com ele, mais para frente eu descobriria que essa seria a única vez, e ele me disse que estava bem, e que era para eu continuar firme e feliz, como ele sabia que eu era. E, assim, eu ainda vivo, esperando o dia em que, finalmente, me reencontrarei com ele.