Os Clichês de Rosemary escrita por Gabriel Campos


Capítulo 4
Ilusões de uma sad girl


Notas iniciais do capítulo

Genteeeeee, para tudo! Minha internet voltou!
Vocês acreditam que, logo quando eu tô empolgado com a nova fic, eu passo o fim de semana todo sem internet e com vários capítulos pra postar? Momento queria estar morta.
Mas vamos lá.
Ah, antes de tudo, queria agradecer e dar um beijo e um abraço em todo mundo que tá comentando, lendo, que favoritou e até já pensou em fazer recomendações (eu sei que sim ~PERSUEICHÔN~)
Tô brincando, gente. Vamos lá.



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Meu pai atendeu minha ligação ao terceiro toque do telefone, como sempre fazia.

Alô? — eu pude ouvir sua voz do outro lado da linha. Fazia alguns meses que eu não falava com ele. Papai só entrava em contato com a minha mãe, às vezes, para avisar que depositara o dinheiro da minha pensão.

— Sou eu, pai. Rosemary. — olhei para os dois lados da casa. Mamãe não poderia sonhar que eu estava ligando para o meu pai às escondidas.

Minha filha, parabéns! Papai ia ligar para você e lhe desejar um feliz aniversário. Quem sabe até passar aí mais tarde? Você sabe que eu sou capaz de enfrentar até a sua mãe por você. Não sabe?

— Não precisa se incomodar em vir aqui, papai. — cochichei — Na verdade, eu queria saber se eu poderia morar com o senhor por uns tempos. Até eu arrumar um emprego, talvez.

Meu pai se chamava Zeferino. Zeferino Maldonado, dono de uma rede de supermercados famosíssima da minha cidade. Ele mesmo compunha os jingles das propagandas que passavam na TV e nas rádios. Todos o idolatravam e, por isso, ninguém tinha sangue no olho o suficiente para dizer que seus jingles eram lixosos. Medonhos, na verdade.

Segunda, terça e quarta tem promoção.
Para encher o seu carrinho de verduras por um preço ‘bão’.
Quinta e sexta-feira adivinhe o que é que tem?
Carnes bem fresquinhas pros fregueses, veja bem.
Sábado e domingo, aproveite com a família
Tem descontos pro mamãe, pra vovó e pra titia!”

Acredite, isso saiu da cabeça do meu pai. Agora imagine uma mulher com os seios turbinados de silicone, cabelos oxigenados, meio palmo de saia e uma camiseta branca e apertada cantando isso com uma batida de funk e uma voz de pilha fraca? Pois acredite, essa é a esposa do meu pai: Marjorie. Era ela quem coordenava todo o marketing e a divulgação dos Supermercados Maldonado. Desde os folhetos e propagandas na TV até os outdoors, tudo tinha a foto dela, que se sentia a “garota propaganda”. Segundo ela, era tudo pela divulgação dos supermercados. Quanto amor próprio!

Marjorie achava que mostrando seus melões e seu popozão em pleno horário nobre na TV atrairia clientes aos supermercados. Marjorie Maldonado fazia questão de marcar presença em eventos beneficentes organizados por ela mesma em algumas filiais dos supermercados apenas para atrair a clientela. A macharada, para eu ser mais precisa.

Mas, sobre isso, entraremos em detalhes depois. Eu juro que sim.

Papai, ainda ao telefone, ficou em silêncio com a minha revelação. Finalmente eu tomei a decisão de sair de casa e aquilo o espantou, de certa maneira. Ele achava que eu era a única que poderia aturar a Dona Solange, mas estava completamente enganado.

Filha... que... que notícia maravilhosa! — exclamou ele — É claro, Marjorie e eu receberemos você aqui de braços abertos, minha princesa!

Ok, a parte chata de ter de morar com o meu pai era aturar a esposa dele. Das poucas vezes em que nos vimos, não nos demos bem. Eu não gostava dela e vice-versa, só não falamos isso uma para a outra. Enquanto meu pai morava conosco, na nossa casa, com Rubem e mamãe, eu era a princesinha dele. No entanto, com a chegada de Marjorie na vida do Sr. Zeferino, eu perdi o trono.

— Obrigada, pai! Eu vou falar com o Rubem e ele vai me deixar no carro dele. Ok? Nós apareceremos por aí à noite.

Tudo bem, Rose. Vou ficar aguardando. Beijo!

Ouvi minha mãe chamando lá da cozinha e eu rapidamente pus o telefone de volta no gancho e saí correndo para o sofá. Abri meu livro de biologia numa página aleatória e fingi estar lendo.

— Rosemary! Rosemary!

— Oi, mãe, estou aqui! — exclamei. Dona Solange foi em direção à sala e, ao chegar, enxugou suas mãos no avental colorido. Ela estava preparando o almoço.

— Eu esqueci de lhe dizer uma coisa. Na verdade, isso faz parte do seu presente de aniversário. — Solange foi até a estante da sala e puxou um envelope debaixo de uma das caixas do som, entregando-me logo depois. — Toma.

Eu peguei o envelope de papel madeira e retirei lá de dentro uma folha branca. O cabeçalho dizia: “FACULDADE INTEGRADA. CURSO: Letras - Língua portuguesa. ALUNA: Rosemary Campos Maldonado. ENSINO A DISTÂNCIA.”

Li e reli várias vezes aquilo. Mamãe estava esperando uma reação minha, mas eu me mantive forte, eu sairia daquele inferno logo, logo. Na verdade, depois daquilo, se eu soubesse como chegar à casa do meu pai, eu daria um jeito de roubar as chaves da minha mãe e ir sozinha para lá.

Aquelas palavras apareciam na minha mente, como se absorvessem todos os meus outros pensamentos: “ENSINO A DISTÂNCIA”. Eu faria faculdade pelo computador! Ou seja: não sairia mais de casa nem para estudar.

— Isso não é ótimo filha?! — ela exibia um sorriso de orelha a orelha — Você não precisa fazer vestibular porque eu vou pagar tudo, tudo mesmo. Quer dizer, a mensalidade vai sair da pensão que o seu pai paga pra você. Ele sabe que, mesmo você já sendo maior de idade, se continuar estudando, ele vai precisar continuar pagando pensão e... — ela fez uma pausa, olhando para mim, que mantinha meus olhos fixos na imensidão do nada — Rose?!

— Ensino a distância? — perguntei, um pouco entristecida.

— Sim! Não é uma maravilha? Assim cortaremos gastos com gasolina. Não vou precisar ir te deixar e buscar na porta da faculdade... e evita que você se contamine com esses universitários horrendos. — ela fez uma cara de nojo.

Segundo a minha mãe, eu iria fazer letras. Nada contra, mas, mesmo sendo à distância, mamãe poderia pelo menos deixar que eu escolhesse o curso! A verdade era que eu sempre quis fazer arquitetura. A Universidade Federal só ofertava vinte vagas de arquitetura por ano e, devido à pouca oferta de vagas, o curso era muito concorrido. Nada que muito estudo e muito esforço não resolvesse.

Eu tinha vários cadernos com desenhos – bem feitos, por sinal – em que eu representava como queria que fosse a casa dos meus sonhos, ou como seriam alguns prédios caso o meu ídolo Oscar Niemeyer fosse vivo e continuasse com suas verdadeiras obras de arte. Talvez eu pudesse ser tão boa quanto ele era.

Fingi que adorei o presente e agradeci mamãe. Ela voltou à cozinha. Eu, corri até o quarto de Rubem (o único que tinha fechadura) e me tranquei. Comecei a escutar umas músicas de deprê com os fones de ouvido dele e no ipod dele. A minha preferida dizia: “I’m a sad girl, I’m a sad girl...”. Eu adorava escutar as deprês da Lana del Rey e do Radiohead enquanto meu irmão não estava em casa.

Eu me libertaria daquela prisão dentro de poucas horas.

“...I’m a bad girl” ?!


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Notas finais do capítulo

Socorr, essa música da Lana é td. Comentem, bjs