Os Clichês de Rosemary escrita por Gabriel Campos


Capítulo 13
O pedaço de mau caminho da Folk Basfond


Notas iniciais do capítulo

Como todo mundo, Rubem também tem seus segredinhos.
Agradecendo ao Yuri Ferrer ("Ferrer" aqui no site) pela belíssima recomendação. Valeu :3
Obrigado também Isa Lovelly, Monique Cristina e Annie Zoldyck (esqueci de dedicar um capítulo pra vocês).
E claro, agradecendo a todos por estarem acompanhando. A fic está começando a tomar um rumo? O que cês acham?
Ah, gente, uma das minhas fics virou um livro. Tô tão feliz! :3 Espero um dia transformar estes clichês num livro também hehehe
Vamos lá.



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(por Rubem Maldonado)

Trabalhar como gerente da grande loja de grife Folk Basfond era relativamente fácil: bastava controlar todo o dinheiro que entrava e saía da loja, bem como as mercadorias novas, para não haver nenhum prejuízo, além de impedir os funcionários de fazerem qualquer tipo de merda.

Porém, era uma responsabilidade e tanto.

Mas nada que eu, Rubem Maldonado, a pessoa mais poderosa do universo, não pudesse fazer.

A loja contava com vários funcionários; dentre eles tínhamos: serventes, caixas, seguranças e vendedoras chatas, as quais eram treinadas para mentir para os clientes caso eles perguntassem se tal roupa estava boa quando a experimentavam.

Eu comecei assim.

— Hum... não sei. Acho que vou precisar de um número maior. — disse uma mulher, certa vez. Ela olhava-se no espelho, um tanto quanto insatisfeita com aquela calça jeans. — O que você acha... — ela olhou para o meu crachá — Rubem?

Dei um sorriso falso. Não havia uma calça com um tamanho maior àquele. No entanto, um dos lemas secretos dos vendedores da Folk Basfond é: “faça tudo, mas não perca o cliente”.

— Querida, o que é isso?! Não precisa de um número maior! — afirmei — Essa calça justa vai avantajar o seu bumbum. Acho até que ela te deixa um pouco mais esbelta.

A cliente se olhou novamente no espelho. Só que, naquele momento, com a cabeça feita por mim.

— Você acha?

— Claro! — exclamei, passando sinceridade no que eu estava falando.

As clientes insatisfeitas com o próprio corpo, quando eram atendidas por mim, ficavam com a sua alto-estima elevada. Eu não sabia nada de moda, nem tudo o que eu dizia a elas eram verdades, porém, toda a minha competência logo se transformou em uma promoção e eu virei gerente de toda aquela loja.

Eu tinha alguns colegas lá dentro. Alguns, continuavam sendo os mesmos vendedores de sempre. As recalcadas, por exemplo, se remoíam de inveja quando eu lhes dava alguma ordem e tinham de cumpri-la. Outros, porém, eu confiava de olhos fechados.

Ou achava que poderia confiar.

Martin era um dos vendedores mais, digamos, bem apessoados da loja. Ele sempre andava todo no estilo, solteirão, pouco mais de vinte anos de idade. O rapaz usava seu salário como bem entendia, pois sempre ostentava bons relógios e perfumes.

Eu era muito amigo dele quando era vendedor, e mantive minha amizade com Martin quando fui promovido a gerente. Ele, por isso, tinha toda a liberdade do mundo para entrar na minha sala pois, venhamos e convenhamos, eu tinha uma quedinha por ele.

Ou melhor, um tombo.

Aliás, uma vídeo cacetada, daquelas bem escrotas.

Mesmo sabendo que ele nunca daria bola pra mim.

— Rubem, tá ocupado? — perguntou ele, certo dia. Ele entrou na sala da gerência, como sempre, sem bater na porta.

Martin ajeitou sua franja loira meio Justin Bieber enquanto caminhava até a cadeira que ficava frente à minha. Sentou-se e pôs os pés em cima da mesa, cruzados, me fitando com aquelas esferas verdes que ele tinha.

— Bom, você nem esperou que eu respondesse... mas sim, eu estou ocupado. — respondi — mas não pra você. — sorri. — O que houve?

Martin estava um pouco receoso, talvez medindo as palavras antes de as colocar para fora. E eu estava sim, muito ocupado. Era fim de mês, o período mais estressante dentre todos, pois eu tinha de fazer um balanço geral, contar os lucros e os gastos para, no final de tudo, ter certeza de que a loja não teve nenhum prejuízo.

— Então... Rubem, amigo, eu não sei nem como dizer isso. — Martin retirou os pés da mesa, levantou-se da cadeira e ficou de costas para mim. Fiquei preocupado, pois nunca havia visto o meu amigo tão tenso daquela forma.

— O que aconteceu, rapaz? Fala, você sabe que pode contar comigo pra tudo.

Martin virou-se novamente para a minha direção e colocou os punhos cerrados em cima da mesa, curvando-se.

— Eu tô com um problemão, cara. Eu nunca te pediria isso, se não fosse tão sério, mas... eu preciso de grana. — disse ele, engasgando-se com as palavras.

Eu quase ri com aquilo tudo. Grana? Eu? Onde eu iria conseguir grana? Eu era um pobre miserável até então! Tinha um carro, ainda morava com a minha mãe, beleza, mas só porque eu tinha um (senhor) carro não significava que eu tivesse dinheiro para emprestar. Todas as minhas conquistas foram frutos do meu trabalho.

E, vendo a cara de Martin, parecia que ele precisava de muito, muito dinheiro.

— Eu... eu acho que não posso te ajudar, amigo. De quanto estamos falando?

— Duzentos mil reais.

Quase tive um ataque quanto imaginei todos aqueles zeros passando pela minha cabeça.

— Martin! Pelo amor de Deus, criatura! Como você gastou tanto dinheiro? — indaguei, chocado.

— Empréstimos. Agiotas. Eu precisava pagar minhas contas. Os juros foram aumentando e... — ele estava com as pernas bambas, mal conseguia falar — Rubem, cara, você sabe como são esses agiotas, né? Se eu não pagar tudo o que eu pedi emprestado com dinheiro, com certeza vou pagar com a minha vida! Eu fui ameaçado, cara!

Martin começou a chorar; eu me desesperei.

— Criatura do céu! Calma, eu vou te ajudar. Só deixa eu processar isso tudo o que você me disse.

Eu não tinha duzentos mil reais, mas eu poderia conseguir para ele. Pensei em pedir emprestado ao meu pai, mas Zeferino nunca aceitaria, pois sabia que eu jamais poderia pagar e eu nem iria mesmo.

Só tinha uma solução: eu tiraria dos lucros da loja e daria uma leve disfarçada nos relatórios. Aquela quantia não era nada perto do que a Folk Basfond faturava. O proprietário, com quem eu prestava contas, nunca iria perceber.

— Eu prometo que vou te pagar, cada centavo, Rubem. — Martin me agradeceu, ao receber o cheque que eu lhe entregara — Você salvou minha vida.

Ele me abraçou.

E aquela foi a última vez que eu vi Martin. Dias depois, ele pediu demissão e foi embora para muito longe. E eu percebi a burrada que eu havia feito. Aquele vagabundo, se aproveitando da minha generosidade, arquitetara aquele plano tosco cujo eu caí como um patinho.

No entanto, até então, nunca perceberam aquele grande desfalque nos lucros da loja.

👯♡ 👯♡ 👯

Marjorie continuava querendo fazer o papel de boa moça. Sendo assim, convidou-me para jantar na casa de papai naquela noite. Para que Dona Solange não desconfiasse, eu iria para a casa de Zeferino assim que acabasse o meu expediente.

Rosemary estava na maior intime com o Sebastian, irmão da Dóris que, por ventura, também estava lá na casa de papai, sentados no grande sofá da sala de estar.

— Êpa! Vai todo mundo tirar a barriga da miséria hoje! — exclamei, ao chegar. Eu sempre costumo causar quando chego nos lugares, aliás.

Rosemary interrompeu por alguns segundos a conversa com Sebastian e acenou para mim. Eu ainda não conseguia acreditar no quanto ela estava bonita e também não conseguia compreender o que Sebastian estava achando de tão interessante na minha irmã para ficar conversando com ela.

Cumprimentei Dóris e ficamos conversando, em outro sofá, para que as antas (o casalzinho Rosebastian) não escutassem a nossa conversa.

— Tem notícias sobre aquele vagabundo? — perguntei discretamente à Dóris. Há alguns dias, eu havia pedido a ela que procurasse por Martin pelas redes sociais, já que ela não fazia nada na vida a não ser desenhar aqueles croquis e modelos bregas o tempo todo.

— Nada. — respondeu ela — Eu tô começando a achar que esse não é o nome verdadeiro dele.

— Quer dizer que... Martin poderia estar usando uma identidade falsa? — fiquei nervoso — Será que o Martin já vinha com esse plano arquitetado o tempo todo?

— Provavelmente. — Dóris arrumou os óculos, empurrando a armação com o indicador. — Rubem, você acha que o dono da loja poderá descobrir o desfalque?

— Deus queira que não, amiga. Já são seis meses desde o dia em que eu fui enganado por aquele traste. E o chefe ainda não me falou nada durante as prestações de conta. Está tudo sob controle.

Era o que eu achava.

— Rubem, queridoooooooo! Que bom que você veio! — Marjorie exclamou, daquele jeitinho falso dela. Vinha descendo as escadas.

Ao se aproximar, cumprimentou-me com um beijo em cada bochecha. Fez o mesmo com Dóris.

— Pois é, eu vim. — respondi. — Pelo meu pai.

— Ótimo. — ela me encarou ardilosamente — É tão bom ver você aqui! Não quero que a Rosemary se sinta sozinha, como se sentia na antiga casa dela, presa com aquela mulher lá dentro.

Marjorie estava falando da minha mãe.

— Não se preocupe, querida. Existem cobras em todos os lugares. — mandei a indireta — No entanto, Marjorie, minha adorada madrasta, a Rosemary já sabe disso.

Meu pai chegou. Abraçou Marjorie por trás, deu um selinho nela e acenou para mim e para Dóris.

— Amor, estava falando agora com o Rubem, sobre o quanto ele é um irmão exemplar para a Rosemary. — comentou ela. Zeferino me fitou de maneira irônica, arqueando a sobrancelha direita.

— Sério?

— Sério, minha vida! É bom ver ele aqui, vendo como a Rose está.

— Bom... — papai mudou de assunto — Vamos jantar?

— É bom mesmo, pois eu tô varado de fome. — cutuquei Dóris — E a Dóris também.

— Rubem! — repreendeu-me ela.

— Vai dizer que não tá, santinha?


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Notas finais do capítulo

Será que o Rubem vai se ferrar por isso?
No próximo capítulo, vou falar mais um pouco sobre o que aconteceu no parque... é meio que uma continuação do capítulo passado. Cês vão entender.
Até ! :*