O Primeiro Massacre Quaternário escrita por AnaCarol


Capítulo 33
Epílogo - Jason


Notas iniciais do capítulo

Narração - Jason Clin



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  As crianças ao meu redor tampam as bocas com suspiros abafados. Uma ou duas choram. Três estão abraçadas a seus joelhos e balançam para frente e para trás. Uma olha para a televisão com um olhar viajante e lágrimas caindo em todo o seu corpo.

  Essa uma sou eu.

  Quando a voz do narrador ecoa na sala, anunciando a vitória de John Turnit, eu percebo o que realmente aconteceu. Sua boca docemente fechada é o foco das câmeras. Logo o foco muda para a cabeça caída de Marina Fittles, descolada de seu corpo e jogada na areia. Mas meu foco nunca mais vai mudar.

  Quando dou por mim estou me movendo rapidamente pela areia da praia. Estou gritando e praguejando. Grito palavrões antes usados apenas para descrever a Capital. Segundos depois meu rosto está enterrado na areia. Tenho medo de abrir os olhos e vê-la morta ao meu lado.

  Eles não só tiraram toda minha família de mim, como também minha namorada e meu lugar de paz. O que mais eles podem tirar? Querem minhas roupas também? Vão me matar e usar minha pele como casaco?

  Minha cabeça afunda na areia molhada e eu só a levanto para respirar a cada três minutos. Nem ao menos sei por que faço isso.

  Anna está morta. Anna Madison está morta.

  -Jason! – É ela! – Jason!

  Eu me levanto e limpo a areia do rosto, mas quando me viro ela não está ali.

  -Anna? – Eu a chamo.

  Como se respondesse a meu chamado, ela aparece, tremeluzindo na luz do Sol se pondo. Ela sorri quando me vê: seu sorriso iluminado reservado apenas para os mais íntimos. O mais reconfortante de todos. Eu deveria me lembrar de que isso é uma miragem?

  Não.

  Ela coloca a mão na cintura e obtêm uma face pensativa. Eu me aproximo dela e ela volta a sorrir, deixando de lado a pergunta que analisava. Estou quase a abraçando, mas quando tento tocá-la ela desaparece e meus braços tocam nada mais que o ar. Frustrante.

  Eu deixo-me cair. Meu corpo parece muito mais pesado agora.

  O sangue jorrando de seu machucado parece tocar meu rosto quando me inclino para entrar no mar gelado. Eu quase posso sentir sua boca sussurrando em meus ouvidos. Eu ouço seus gritos produzidos pelos Jogos. Posso sentir meus cabelos queimando como os dela, chamuscados pelo incêndio o qual não sei a causa. O frio em meu estômago é incessante, e sei que ele nunca vai acabar mesmo.

  Ainda não tomei conta do que realmente aconteceu. Não ainda. Quando eu acordar na manhã seguinte, e a entrevista de John Turnit for ao ar na televisão, aí sim. Eu vou apanhar como nunca apanhei. Nem de Úrsula, nem de ninguém.

  Nunca mais vou ouvir cinco batidas na minha parede. Nunca mais.

  As cinco batidas ritmadas retumbam em minha cabeça loucamente quando uma mão toca meu ombro. Eu dou um pulo, cegamente empurrando a pessoa para o mar.

  Encontro uma Rosemary caída de costas na areia molhada. Ela se levanta calmamente e vejo que também possui a face vermelha.

  Corro a seu encontro e a abraço. Ficamos assim por um bom tempo, mesmo sabendo que minha única relação com ela era estabelecida por meio de Anna. Nunca fomos tão próximos. Eu fungo em sua roupa e ela acaricia meu couro cabeludo, mas nenhum de nós é consolado verdadeiramente. Seria impossível.

  -Ela se foi, Rose. – Eu murmuro repetidamente. Ela apenas mexe em meus cabelos com mais força. – Acredita nisso?

  Ela nega e sinto suas lágrimas molharem minha testa.

  -Eles a mataram. – Eu continuo.

  -Eu estou aqui. – Ela responde, mas nós dois sabemos que eu não preciso dela. Eu preciso de Anna. E só ela pode me consolar agora.

  -Eu daria tudo para tê-la de volta, Rose. – Eu volto a falar. – Tudo.

  Ela assente.

  -E ela vivia me dizendo que um de nós ia acabar daquela forma – Eu não consigo me deter a resmungar e reclamar. – Mas como eu ia imaginar que era ela? Por que não eu?

  Eu gemo seguidamente.

  -Ela está bem, Jason. – Rosemary finalmente fala, soluçando. – Melhor do que nós, Jason.

   Melhor do que nós.


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