Um Desconhecido escrita por Daijo


Capítulo 9
Capítulo 9




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Eu soltei um muxoxo baixo ao fechar a porta. Aquele motorista era bem insolente.

Esquecendo de Thomas, decidi conhecer minha nova casa. Entrei no escritório de Henrique. Fiquei maravilhada com a quantidade de livros que tinha em uma estante. Eram muitos. Aproximei-me dela para avaliar as obras contidas ali.

Todas eram interessantes, mas peguei apenas uma. Era um romance policial. Sentei na escrivaninha e comecei a ler.

O livro era bem interessante. Fiquei presa nele por horas, tantas que quando dei por mim já era quase a hora do almoço. Daqui a pouco Henrique voltaria.

Sai do escritório e dirigi-me para a cozinha. Entrei no cômodo, curiosa.

A cozinheira mexia em uma panela, o cheiro estava maravilhoso. Em uma mesa estava sentada Inês, e encostado na pia Thomas.

- Deseja algo senhora? – perguntou Inês, indiferente. Assim como eu não tinha ido com a cara dela, ela também não fora com a minha.

- Não obrigada. – respondi no mesmo tom. – Só queria conhecer os cômodos de minha casa. – Frisei bem as palavras que a incomodavam.

Thomas saiu do seu ‘encosto’ e sentou-se ao lado de Inês. Com um sorriso canalha, mais charmoso, diga-se de passagem, ele pegou uma maçã em cima da fruteira. Uma linda e suculenta maçã vermelha. Ele mordeu-a.

Fiquei surpresa com minha reação. Aquele ato de Thomas me pareceu tão sugestivo. Eu mordi meu lábio inferior, quando ele terminou de mastigar o primeiro pedaço e passou lentamente a língua na fruta.

“Que indecente!” – pensei escandalizada. Olhei para a Inês para ver qual era a reação dela perante aquilo. Ela nem estava olhando para Thomas, estava mais ocupada descascando algumas cebolas. Fiquei vermelha em saber que só eu estava prestando atenção no motorista.

“Pare de ficar olhando para esse idiota, Ana! Ele é apenas seu empregado!” – repreendi-me mentalmente.

Meu empregado. Isso queria dizer que tudo o que eu desejasse, ele faria.

Despertei de meus devaneios ao escutar uma voz soar atrás de mim.

- Finalmente te encontrei. – Henrique me abraçou pelas costas. – Te procurei pela casa toda, ou quase.

Eu me senti um pouco culpada. Foi então que algo me surgiu.

- Estava apenas conhecendo a cozinha. – respondi. Eu apertei então seus braços, que estavam em volta da minha cintura.

Lancei um olhar de satisfação para Thomas; ele retribui com um olhar frio. Nem me importei em saber qual era a reação de Inês. Para mim existia apenas eu e Thomas naquele cômodo. Não me pergunte o porquê, mas eu queria que ele soubesse que apenas Henrique mexia com meus sentimentos e sensações.

- Vamos almoçar querida? – indagou Henrique, puxando-me para fora da cozinha.

- Sim, amor. – respondi e ele estacou.

- O que você disse? – Ele ficou de frente para mim, me olhando como seu eu fosse algo raro.

Eu não respondi. Apenas, pela primeira vez, dei-lhe um beijo. Um beijo cheio de ternura. Com esse ato, pude confirmar que a sensação, que sentia agora, apenas Henrique podia me dar.

 

Depois do almoço, fiquei novamente sem a companhia de meu marido. Para distrair-me de sua ausência, fui conhecer o jardim. Era muito bonito, cheio de flores. No fundo da casa havia uma espécie de quiosque, com um banquinho no centro. Fui até lá e sentei-me. Aproveitei o momento para por as idéias no lugar.

Eu queria entender o sentimento estranho que aquele motorista tinha despertado em mim.

- Pensando em que? – indagou uma voz atrás de mim. Infelizmente reconheci a voz.

- Nada que te interesse senhor Thomas. – respondi, enquanto ele sentava ao meu lado.

- Desculpe. Sei que não é de bom tom um empregado se meter na vida do patrão. – Ele olhava para meu rosto; eu mantinha meu olhar para frente. – E, por favor, não me chame de ‘senhor’. Chame-me apenas de...

- Motorista. – eu cortei maldosamente.

- Eu não pensava nisso. – Ele começou a rir da minha grosseria. – Mas pode ser também. Se você se satisfaz assim.

Eu fiquei vermelha com o comentário daquele homem. Ele riu mais ainda.

- Quem te vê, pode até achar que você tem a inocência de uma garota de doze anos.

Eu não respondi. Na verdade, ao que ele se referia, eu ainda era inocente. Henrique não me dera aquele gosto.

- Algum problema? – indagou Thomas num tom preocupado. Acho que ele percebeu a expressão vazia que tinha.

Eu apenas neguei com um movimento de cabeça.

Repentinamente, meu rosto ruborizou. Eu olhei para minha mão. Thomas a segurava carinhosamente.

Senti como se uma corrente elétrica percorresse meu corpo. Imediatamente puxei minha mão da dele. Ainda aturdida, sai correndo do jardim, só parando quando cheguei dentro da casa.

- Algum problema senhora? – Era Inês, sua voz levemente divertida.

Eu respirei fundo, ciente que meu rosto estava corado, tanto pelo constrangimento, quanto pela corrida.

- Não ocorreu nada, Inês. – respondi formalmente, passando a mão de leve pela minha testa suada. – Obrigada pela preocupação.

A empregada assentiu com a cabeça e saiu. Quando ela desapareceu de vista, eu desabei no chão, as costas roçando na parede. Agora relembrando a cena, meu coração quase saltou pela boca.

Porque eu estava me sentindo daquele jeito?


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