Seven Reasons escrita por SumLee


Capítulo 4
Encoraja-me


Notas iniciais do capítulo

EAE! Não era bem aqui que eu queria postar um capitulo, mas percebi que estava demorando demais com AG e com RN então como já tinha esse capitulo pronto, eu o revisei e vim aqui postar para vocês. Me desculpem a demora e espero que gostem.



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I spilled the ink across the page trying to spell your name

(Derramei a tinta em toda a página tentando soletrar seu nome)

So i fold it up and i flick it out

(Então o dobrei e a lancei)

Paper aeroplane

(Avião de papel)

It wont fly the seven seas to you

(Ele não vai voar os sete mares por você)

Cause it didnt leave my room

(Porque ele não foi embora do meu quarto)

But it awaits the hands of someone else

(Mas ele aguarda as mãos de outra pessoa)

Paper Aeroplane - Angus e Julia Stone

 3. Encoraja-me

 Eu olhei para o caminho de pedra a minha frente, imaginando quantos passos me levariam até o meu ponto especifico. Talvez cinquenta? Desde o meu carro poderia ser, mas eu já estava na praça, a poucos metros de onde havia encontrado Edward, ontem. Essa palavra sempre incomodava meu dia, porque eu lembrava do dia anterior, que era mal, e isso me doía. E não era só hoje que ela me incomodava, era todos os dias, porque meus maus momentos iam ficando para trás, e dando espaço para outros, que depois também iam ficando, e assim seguia uma regra dolorosa e opressora. 

 Ainda tremia desde ontem a noite, e meu corpo inteiro doía. Eram novos hematomas em cima dos antigos, fazendo minha situação se tornar pior. Não importa quantos comprimidos para dor eu tomasse, não passava. Eu podia jurar que estava meio grogue por ter estado tão desesperada que tomei três de uma única vez. Eu não havia pensado na hora, foi como ontem a noite, quando eu levantei do chão, tomei um banho, fiz uns curativos que aplacassem um pouco a dor - mas nada que fosse realmente a solução - e depois tomei remédios para dormir. Não eram meus, eram de Lauren que eu tinha roubado do seu banheiro. E o motivo não era apenas dormir... Era dormir para sempre. Só que isso foi antes de eu ter a ideia de pular do penhasco.

  E eu só estava ali naquele parque, a poucos metros de Edward, para lhe dizer que eu fui uma estupida por acreditar nele, que foi idiota ele ter me levado para conhecer aquelas crianças, e que ele era um imbecil por querer ser tão protetor com uma pessoa que não tinha mais como ser salva. Eu queria jogar na cara dele que não adiantava se fazer de Super-Homem para uma Lois Lane tão complicada e perdida como eu, pois não haveria nada que apaziguaria aquela dor cortante no meu peito, e a vontade de sumir desse mundo.

 Assim que acordei - obrigada por Lauren que me chamou de morta - tive que ir para aquele lixo de escola, evitando mostrar para todos minhas dores corporais. Eu não precisava sorrir, então não precisava fazer esforço algum. Até certo ponto evitei pensar em Edward, mas como sempre depois daquele dia no penhasco, ele veio fazer uma visitinha aos meus pensamentos, e eu senti vontade de chorar na frente de todos, só que me controlei. Eu não sabia o que falar ou fazer, como agir perto dele hoje assim que o visse. Não sabia se chorava, se o abraçava, ou se nem aparecia, apenas o via de longe. Eu não sabia o que fazer. Minha cabeça estava latejante, meu corpo dolorido, e minha alma ferida implorando por paz, querendo colocar na minha cabeça imagens de meu corpo caindo rápido do penhasco ou dele imóvel dentro da água da banheira. Eu tentava a todo custo evitar tais pensamentos ruins, mas era difícil quando se estava sensível e precisando de um abraço. E deixando que aquelas imagens ruins dominassem tudo, eu decidi o que faria quando visse Edward.

 E bem... Ali estava eu, querendo ter coragem para dar mais alguns passos e fazer e falar tudo. Mas não aparecia nenhuma, e meu corpo parecia querer se guiar sozinho para longe dali, de qualquer lugar, do mundo. Eu puxei o ar mais uma vez e decidi mover meus músculos das pernas, sentindo o protesto pelo movimento. Na minha cabeça repetia um mantra único, que eu queria e torcia para que adiantasse de alguma coisa. Só que eu não era convincente o suficiente. Eu tinha que tentar, por mim...

 Assim que virei uma parte do caminho de concreto, eu o avistei no mesmo lugar, na mesma forma, fazendo a mesma coisa. A única coisa que mudara ali era a sua roupa, mas ele estava do mesmo jeito. A sua imagem fez meu coração, já acelerado, dar um pulo e querer sair pela minha garganta. Senti um enjoo repentino, que me fez parar para recuperar o ar que havia sumido do nada. Forcei meus pulmões a puxar e soltar o ar calmamente, e a tontura sumir. Eu estava tendo um começo de ataque de pânico no meio do caminho, e a única coisa que eu queria agora era sumir como fumaça, ou que um buraco me engolisse. Passei a mão na testa e a senti levemente úmida, assim como minha nuca. Continuei forçando a respiração antes que eu fizesse a menção de desmaiar, como uma vez havia acontecido. Me abaixei ali mesmo e enterrei minhas mãos nos meus cabelos, sentindo meu corpo inteiro tremer.

 Agora não... Agora não... Por favor, Isabella, agora não!

 - Bella?! - a voz dele soou desesperada e preocupada ao mesmo tempo.

 Eu continuei abaixada, sentindo toda a angustia aumentar ainda mais. Apertei meus dedos nos fios, puxando-os levemente, enquanto era levada por soluços compulsivos que fazia eu tremer como uma britadeira. Meu peito apertava fortemente, querendo de alguma forma libertar tudo aquilo, e eu não conseguia pensar em me acalmar. Eu só conseguia me concentrar em que os passos de Edward ficaram mais altos e sua presença chegou perto de mim. Também quando ele tocou minhas mãos, fazendo aqueles choques passarem por elas e correrem pelos meus braços. Me sentia uma bomba em ebulição, pronta para explodir a qualquer momento. Estava carregada de tantos sentimentos negativos que eu queria de alguma forma liberar todos eles. Tirar aquela escuridão dentro de mim e coloca-la para fora.

 - Bella, fala comigo, por favor. - pelo jeito que ele falava, não parecia ser a primeira vez que pedia.

 Eu neguei rápido com a cabeça, me segurando para não explodir com ele. Sempre fui calma, e isso que me dava medo, porque eu não sabia como iria reagir quando não aguentasse mais. Ele alisou meus cabelos e eu me encolhi, não querendo ter aquele contato com ele. Eu não queria ter mais contato com ninguém, porque eu estava com medo de ser influenciada novamente, e acabar no que acabou. Charlie nunca tinha ido tão longe...

 - Bella, o que aconteceu? Me conta, querida... - ele suplicou.

 Mordi meu lábio inferior com força para não sair nenhum som, mas foi impossível. Depois que comecei a chorar, não parei mais... E não consegui controlar a minha língua.

 - Eu quero morrer, Edward. Eu quero morrer. - murmurei.

 - Não fale uma coisa dessas, Bella. - seu tom era carinhoso, assim como seu toque na minha cabeça. - Não faça isso comigo... Eu vou te ajudar.

 Ajudar... Ajudar... Ajudar?! Droga, eu tinha Charlie Swan como pai, um cara sem sentimento alguns, que odiava a própria filha e a espancava até entrar na inconsciência. Ninguém podia me ajudar com isso, e muito menos ele.

 Levantei minha cabeça para encara-lo, e assim que ele viu minha expressão, me deu um sorriso triste.

 - Você não pode me ajudar, Edward. Ontem o que aconteceu comigo foi só a prova disso. Eu estou fadada a ter essa vida, e ninguém pode mudar isso.

 Edward arregalou os olhos e me puxou pelo braço para ficar em pé. Ele sem nem pedir desceu o zíper da minha jaqueta e começou a desabotoar minha blusa de flanela, revelando alguns hematomas na base da clavícula. Eu não conseguia pedir para ele parar, eu só queria morrer. Era só isso que eu queria. Ele fechou os botões e colocou as mãos na minha cintura, adentrando pela blusa para tocar nas minhas costas e constatar o óbvio: estava inchada.

 - Ele fez de novo. - não foi uma pergunta que Edward fez, e eu assenti mesmo assim.

 - Eu não quero mais isso. - encostei minha cabeça em seu peito, sentindo a ponta fria dos seus dedos ainda na minha pele. - Eu tentei, Edward, juro que tentei. Mas não dá. Eu não aguento mais...

 - Você vai desistir assim, fácil? - seu tom era amargurado, decepcionado.

 - Edward, eu desisti desde que fui parar naquele penhasco, e só estou aqui agora porque você está me carregando. Eu não consigo mais seguir com as minhas próprias pernas, e não posso depender de você. Isso... Não vai ser bom no final.

 Ele fez eu me aproximar um pouco mais, e tirou as mãos de dentro da minha blusa. Eu logo percebi que ele entendia o que eu falava, e eu via o que previra, acontecer. Agarrei sua blusa com as unhas, sentindo o tecido machucar minha pele. Eu tinha ido ali decidida de que acabaria com tudo, falar que ia me matar e que nem ele com suas palavras doces ou seu sorriso encantador iria me impedir, mas eu não contava que o discurso que eu tinha na mente, falando que eu não precisava dele, chegasse atrasado. Minha reação ao segurar ele foi automática, como se eu estivesse caindo e procurasse loucamente algo em que me segurar. Eu tinha arranjado um grande problema para minha cabeça. Como tinha.

 - Você é muito pessimista, Bella. - Edward falou, segurando meus braços e me afastando dele, para que pudesse me olhar nos olhos. - Não pode ser assim. Não pode ficar pensando no futuro incerto. Você não é vidente, e não sabe o que vai acontecer.

 - Eu não brinco de vidente, Edward. Sou apenas realista, eu sei como foi minha vida e sei que ela vai continuar a mesma merda que é. Não venha me chamar de pessimista, porque você não sabe nem metade das coisas. - apertei meus dedos na roupa.

 - Ai que está o problema. - ele deu um sorriso debochado para mim. - Porque estamos aqui agora? Temos um trato de sete motivos, Bella, e você até agora só me contou um. Do mesmo jeito que você não é vidente, eu não leio mentes, não sei o que aconteceu com você. Como vou poder lhe ajudar se nem sei o que te aflige? Bella, você está desistindo muito fácil, rápido, como estava no penhasco. Está deixando a garota decidida se perder dentro de si novamente porque as coisas não mudaram da noite para o dia. E mesmo sabendo que isso vai poder lhe fazer cometer uma besteira, eu vou ser sincero: elas não vão. Não adianta imaginar que o arco-íris vai aparecer do nada, porque ele não vai. Eu só preciso que você tenha paciência com tudo... Conosco. Eu vou te ajudar, e não são apenas palavras como eu sei que passou isso na sua cabeça. - ele aproximou seu rosto do meu, e eu ofeguei tendo seus olhos me encarando tão de perto. - Eu não posso deixar você fazer isso... Não posso deixar as coisas acabarem assim. Bella... Eu não posso perder você. Não agora.

 Eu fechei os olhos com força e me agarrei a ele, chorando. Ninguém nunca tinha lutado por mim como Edward parecia lutar, indo contra minha própria mente abalada. Nem mesmo Milla, que parecia ter um carinho por que eu era filha de Renée, tentou me contatar depois que Charlie fez um show de loucuras. E a convicção, a certeza, a força descomunal que ele pareceu colocar naquelas frases finais fez as coisas dentro de mim darem um giro de 160º, caindo dessa vez de forma certa. Eu estava novamente no eixo, pronta para dar continuidade. Mesmo que isso significasse me segurar em Edward como me segurava, sem poder fazer as coisas por mim e sim por ele, eu não me importava. Se ele não queria me perder, eu não lhe faria isso.

 Depois que me acalmei, Edward pediu que eu mostrasse aonde estava o carro e ele dirigiu - a meu pedido - até Port Angeles. Achei que iriamos novamente ao orfanato - e estava até ansiosa para isso, como também envergonhada. Eu tinha pensando mal das crianças que me fizeram bem... Eu era horrível. Sempre que chegava a pensamentos assim, Edward parecia sentir, porque ele apertava a minha mão, me tirando da linha. Só que me surpreendi quando ele passou reto pela estrada que leva para lá, e seguiu mais para o centro. Não perguntei, porque eu confiava aonde quer que ele fosse me levar. Nós entramos para onde ficava o porto, e então apareceu na minha vista uma enorme roda gigante. Olhei maravilhada para aquilo, e logo fui percebendo que tinha uma montanha-russa, e outros brinquedos que eu não conhecia o nome. Apenas esses porque já tinha ouvido falar.

Nós estávamos em um parque de diversões.

 Ele entrou no estacionamento do local, e parou em uma vaga, vindo logo abrir a porta para mim. Agradeci com um sorriso, e de mãos dadas nós seguimos para dentro do parque. Tinham pessoas alegres e felizes ali, alguns casais, crianças correndo, adolescentes em grupos. Era um ambiente animado, que passava uma sensação boa. Edward me guiou pelos trailers que tinham por ali, que serviam como as barracas. Entrou em um todo colorido, e eu logo avistei a baixinha do orfanato: Alice. Ela estava olhando para a frente, com o rosto apoiado nas mãos, e tinha um olhar perdido. Edward soltou uma risadinha antes de bater no balcão, assustando ela.

 - Seu idiota! - levou a mão ao coração, fazendo careta para nós, que riamos.

 - E então, como está, baixinha? - ele encostou no balcão e sorriu de canto.

 - Entediada. - ela torceu a boca. - Oi, Bella.

 - Hey, Alice. - dei um pequeno aceno.

 Edward e eu conversamos um pouco com ela, para matar seu tédio, mas logo chegaram fregueses e tivemos que deixa-la trabalhar. Sentamos em umas das mesas de madeira que haviam por ali, com Edward segurando minha mão todo o tempo. Ele me explicou que Alice trabalhava ali todos os dias da semana, já que o parque ficava aberto sempre. Explicou que ela trabalhava para ter um dinheiro para si e também para ajudar no orfanato, dando presentes para as crianças. Ela fazia um papel igual ao das freiras no orfanato, podendo sempre ajudar como pudesse. E deixando as crianças felizes ao ganhar um presente, era o mais gratificante.

 Ele me explicava o carinho e a gratidão dela com aquele lugar quando seu olhar se perdeu para algo atrás de mim. Me virei para ver o que era e não achei nada, então me voltei para Edward, que continuava olhando. Virei novamente, e então consegui avistar algo fora de toda a felicidade que cercava o lugar. Era uma mulher e um garoto - da minha idade. Ela o encarava com um olhar triste, e ele a olhava com tanto ódio e esnobismo. O garoto lhe deu as costas e ela abaixou a cabeça, levando as mãos ao rosto. Dava para ver seus ombros tremerem, o que indicava que ela chorava. Ele se aproximou do trailer que estávamos e sentou em um dos bancos do balcão, e Alice foi atende-lo. Me virei para a mulher que havia ficado chorando, e vi um homem se aproximar dela, tendo um semblante desesperado. Ele jogou os sacos de pipoca no lixo e abraçou ela, que ainda chorava.

 Desviei minha atenção dali, com medo daquela tristeza passar para mim.

 - Eu não entendo como as pessoas podem fazer isso com as outras. - Edward murmurou, fazendo eu olha-lo.

 - Eu também não. - balancei a cabeça. - Principalmente quando maltratam pessoas que te amam.

 Edward apertou minha mão com força, entendendo o que eu queria dizer. Eu não podia controlar meus sentimentos, e querendo ou não, por Renée amar tanto Charlie, eu o via como pai. Mesmo ele sendo o que é. Tudo não passava de um desentendimento na sua cabeça. Eu esperava que ele se reencontrasse novamente, e deixasse que a morte de Renée não fosse uma lembrança dolorosa, mas que dava para conviver.

 - Bella, não sabe como isso me deixa feliz. - falou, sorrindo, e eu retribui. - Você não é... Rancorosa.

 - Claro que sou. - murmurei, ainda sorrindo. - Só não posso ser com ele.

 - Era com ele que você tinha ainda mais motivos de ser, e mesmo assim não é. Isso me impressiona.

 - Não deveria.

 Senti uma sensação ruim se apossar de mim, como se estivesse sendo vigiada. Olhei para onde eu sentia isso, e dei com olhos azuis frios, que me encaravam. Era o garoto que tinha feito a mulher chorar. Sua expressão era fechada, como se ele não visse nada no mundo como uma coisa boa, como se estar aqui fosse apenas uma passagem irritante. Ele me encarava, e mesmo eu também fazendo isso, ele continuou. Um sentimento ruim seapossou de mim, como se ele passasse a raiva e a tristeza que tinha dentro de si, apenas pelos olhos azuis.

 - O que foi? - Edward perguntou.

 - Aquele garoto... - murmurei baixo, me virando para Edward. - Ele é tão... Frio. Parece que não tem sentimentos.

 Edward se virou para olhar para o garoto que ainda continuava olhando para nós, ficou assim por alguns segundos, e depois se virou para mim novamente.

 - Bella, ninguém apareceu para salvar ele. - murmurou.

Um dia atrás - Port Angeles

Emmett's POV

 - Morre! Morre! Morre, porra! - eu berrei para a grande TV LCD, vendo a imagem perfeita aumentada. Meus dedos comprimiam os botões do controle do meu videogame de ultima geração de uma forma que eu atirasse e me esquivasse ao mesmo tempo do meu inimigo. Ele era duro na queda, mas eu já tinha virado expert ali, então... Foi mais fácil ver meu oponente no chão, "o chefão", fechando os olhos. Sorri para aquilo. - Vá para o inferno, seu desgraçado!

- Porra, Emmett, também não precisava esquartejar meu carinha. - Mark reclamou do outro lado da "linha".

 - Qual é, agora vai pedir misericórdia depois de morto? - gargalhei. - Antes tivesse pensado em me enfrentar. Sabe que ninguém é pareô para mim.

 Mark bufou e resmungou algumas coisas. Estava acostumado com aqueles maricas reclamando toda vez que eu fazia aparecer Gamer Over na tela da TV deles. Era hilário tudo aquilo!

  - Você se acha demais. Quero ver quando achar alguém melhor que vocês.

 - Ótimo, agora vai começar a resmungar como uma garotinha. - zombei. - Mark... Mark... Mark, meu caro amigo, primeiro vai treinar muito e depois vem tentar mais uma revanche, ok? Só não vale perder a quarta vez para mim, por favor.

 - Vai se fuder! - ele rosnou e eu gargalhei mais ainda. Ouvi uma segunda voz do outro lado. - Cara, minha mãe está precisando da minha ajuda agora, então depois nós se fala. Fui!

 Ele se desconectou e eu fiquei sozinho, vendo a tela mostrar meu total de pontos que havia adquirido. Mark não foi o primeiro que matei hoje, e também não foi o único a reclamar. Mas o que eu podia fazer se eu era realmente bom? Eles que não treinavam e já queriam encarar o Paizão do videogame aqui. Além de não saberem jogar, também não sabiam perder. Já tinha recebido umas duas mensagens de ameaça, falando que iam me "pegar" amanhã na escola.

 Isso só me fazia rir!

 Me desconectei do jogo também e fui tomar um banho, pois precisava sair com os caras do time hoje. Assim como acontecia todos os dias. Eles conseguiam arranjar festas, baladas para irmos em plena semana.

 Minha vida não era melhor do que eu tinha pedido quando vim ao mundo. Eu a amava do jeitinho que estava. Era o cara mais cobiçado do colégio, o mais idolatrado por todos. Poderia me chamar de Rei ali, porque era realmente isso que eu parecia. Capitão do time de futebol-americano, um titulo realmente digno porque se não fosse por mim aquele time não seria nada. Boas notas... Garantidas com meus amigos nerds. Eu realmente tinha tudo que pedi a Deus, e não me importava nem um pouco em abusar dessa sorte.

 Sair de casa não era uma coisa difícil de fazer, pois eu não deixava nem minha mãe ou meu pai mandar em mim. Eles não tinham o direito de fazer isso agora. Aquela noite foi longa e prazerosa - em todos os sentidos. Tinha descolado uma garota em uma boate que fomos, e ela fez tudo que eu pedi, como se submetesse a mim. Ela agia como se me conhece, mas eu nunca a tinha visto na minha vida. Ou se vi, ela com certeza não estava de vestido.

 Na outro dia, sexta-feira, eu fui para escola. Parei meu Jipe no estacionamento - na minha vaga reservada - e segui para dentro dos prédios da escola de Port Angeles. Eu cumprimentava todos, e foi quando eu senti um punho atingir meu rosto, fazendo eu perder o equilibro e cair para trás. Olhei pra cima dando com Mark, que me olhava furioso. Passei a mão no meu maxilar, o encarando sem entender.

 - Qual é o seu problema? - perguntei, tentando manter a calma, mas já sentia a raiva borbulhar dentro de mim.

 - O meu problema?! - ele jogou as mãos para cima. - Porra, Emmett! Você é um filho de uma puta de um falso.

 Eu sorri de canto e passei a língua nos lábios, agora entendendo o motivo da reação dele. Bem naquela hora a garota que tinha passado a noite comigo, fazendo as minhas vontades, agarrou o braço de Mark, e eu soube de onde ela me conhecia. Era a namorada dele. Se é que aquilo podia se chamar de namorada.

 - Ah, cara, o que é isso. - eu levantei e olhei ao redor do estacionamento, vendo que todos nos encaravam. Me voltei para ele, que me encarava ainda furioso. - O que custa dividir o seu pedaço de carne? - pisquei um olho para a garota, que prendeu um sorrisinho malicioso.

 - Vai se fuder, seu desgraçado!

 Mark avançou para cima de mim, tentando me acertar novamente, só que dessa vez eu não estava distraído, e me esquivei com facilidade. A raiva que eu tentava controlar, levando seus xingamentos na brincadeira, explodiu, e eu só me vi pegando o braço de Mark, torcendo. Ele implorava para que eu parasse, mas eu só conseguia enxergar vermelho na minha frente, e apertar cada vez mais. Quando ouvi um crack conhecido das minhas aulas de boxe foi que percebi que havia feito e o soltei. O corpo de Mark caiu como um peso morto no chão, e seu braço flácido, enquanto ele se remexia gemendo de dor.

 - Sr. McCarty! - a voz do diretor soou alta no estacionamento, e todos se viraram para o mesmo lado que eu, que era de onde o velho vinha. - Eu deveria imaginar que você estaria metido nessa confusão.

 - Claro, claro. - revirei os olhos.

 Sr. Shane olhou para Mark no chão, que ainda se contorcia, e depois para mim. Eu pensava que diretores quando viam essa situação ligava para ambulância ou qualquer coisa que pudesse resolver, mas Shane não era assim, ele só indicou que eu levantasse Mark - que murmurava em meios aos resmungos de dor, que me odiava - e nos mandou para a diretoria. Levei uma suspensão e tive ainda a obrigação de levar Mark ao hospital. Lá eu consegui ganhar o loiro na lábia e ele deixou por esquecido o fato de que eu tinha fudido a namorada dele, apenas concordando comigo que mulher nenhuma não presta e que tem é que pegar geral. Era tudo tão simples...

 Quando cheguei em casa, minha mãe e meu pai me esperavam na sala, os dois com uma cara nada boa. Levei primeiro um bom sermão sobre eu não ter me controlado e ter agredido mais um aluno em menos de uma semana. Eu não tinha culpa se todos eram babacas que queriam se meter comigo. Apenas dava a eles o que pediam. Minha mãe chorou - como uma idiota sentimental que era, e meu pai ficou ainda mais nervoso comigo. Lhe dei as respostas que mereciam e subi para meu quarto, ignorando os gritos do meu pai.

 Me tranquei no meu quarto, tomei um banho e apenas com uma cueca boxer eu me joguei na minha cama já com o controle do videogame na mão. Liguei e conectei no jogo online, vendo que Mark, Josh e Corey estavam jogando. Acessei minha conta e peguei meu carinha, equipando ele com tudo que tinha direito, afinal, não sou eu que pago a conta quando ela vem.

 - E ai, Fodão. - Josh me cumprimentou rindo. - Como anda o maxilar?

 - É melhor perguntar para o Mark como anda o braço dele, porque eu quero saber qual é o milagre que ele está fazendo para jogar. É com a língua?

 Os cara riu, e o Mark fingiu uma risada irônica.

 - Eu consigo mexer meus dedos, imbecil. Agora vamos jogar logo essa porra porque hoje você vai perder, Emmett.

 - Essa eu duvido.

 Enquanto jogávamos, nós nos comunicávamos. Eram xingamentos, gritos, combinações. Eu entrei em um labirinto de plantas seguindo alguns dos caras, que tinham de repente ficado em silêncio. Eu via cada vez que ele virava, e ia pelo mesmo caminho, até parar no meio, que era uma roda de pedra, como uma construção destruída. Tinha três saídas além da que eu tinha passado, e eu fiquei confuso em qual seguir. Ouvi barulho de passos vindo de algum lugar, mas não sabia qual era. Rodei quando vi a arma principal que eu precisava em um daqueles corredores. Sorrindo comigo mesma que iria pegar a mais poderosa de todas, ouvi cliques e então tudo explodiu na minha frente, assim como os caras que caíram na gargalhada. Eu estava despedaçado no chão, e o lugar coberto de fumaça. Granadas...

  - Caralho! - esbravejei, atacando meu controle no chão e vendo-o estraçalhar.  - Mas que porra! Como eles fazem isso comigo? Eu estava tão perto daquela merda e aqueles filhos de uma puta atirara aquelas granadas em mim.

 Do outro da linha Mark ria de mim, assim como Josh e Corey. Eu queria poder socar a cara dos três, só que eles estavam protegidos pela distância. Ah, como eu queria!

- É, parece que o Paizão Bom de Videogame não é tão bom assim. - Josh ironizou e eu rosnei.

 A tela passava repetidas vezes a cena em que o meu jogador era acertado por três granadas que me acertavam de direções diferentes. Como eu não percebi que eles estavam em um complô? Que burrice! Que falta de estratégia a minha. Qual é, tinha voltado ao nível intermediário novamente?

 - Vocês são uns covardes! - falei, pegando o controle do chão e apertando os botões que ainda restavam para que saísse daquela cena do meu fracasso. - Três contra um é errado tanto na vida real como no videogame.

- O que foi, Emmett, vi pedir misericórdia depois de morto? - Mark repetiu minhas palavras soltando a ironia.

 - Não, eu não sou você, Grinn. Não peço misericórdia nem se estivesse sob a mira da porra do revolver de vocês. - falei fazendo os três babacas rirem. - Quero revanche!

 - Ah, cara, não vai dar agora. - Corey falou, ainda rindo. - Eu vou ter que sair com a Anna. Fica para a próxima. Tchau para vocês... Aprecia seu dia de defunto, McCarty. - e falando essa asneira ele se desconectou.

 - Filho de uma puta. - xinguei. - E vocês dois?

 - Também estou de saída, Emmett. - Mark disse. - Tenho coisas mais importantes para fazer do que ter uma revanche com vocês.

 - Claro, só se for bater uma agora que perdeu a namorada. - revirei os olhos.

 - Não preciso desse prazer, só de ouvir e ver sua derrota eu tive um orgasmo. - ele gargalhou junto de Josh. - Estou vazando também. - e mais um desconectado. 

 - Agora vai me dizer que vai dar papinha para a sua avó que já morreu só para fugir? - perguntei, já sabendo a resposta.

- Com toda certeza. - Josh gargalhou e eu bufei. - Fique ai treinando, quem sabe na próxima você tenha mais sorte.

 E lá estava eu sozinho sem ninguém que quisesse sentir minha ira. Me desconectei também e desliguei o videogame, atacando o controle do outro lado do quarto. Eu estava tremendo de raiva, e precisava extravasar. Então, peguei minhas luvas de boxe e fui até o saco de areia, começando a soca-lo como se fosse os três imbecis covardes.

 - Emmett, abre essa porta. - meu pai mandou, batendo.

 - Agora não! - rosnei. - Caí fora!

 - Emmett McCarty, abre essa porta ou eu vou cortar a sua internet e nada de jogar online.

 Fechei os olhos e soquei o saco, agora vendo a cara daquele velho carrancudo. Tirei uma luva e fui até a porta, abrindo-a. Meu pai estava parado ali, com os braços cruzados e o olhar duro. Ele faz como se eu tivesse medo dele, ou das suas ameaças. Dei as costas a ele e voltei a socar o saco de areia.

 - Sua mãe está preocupada com você. - falou, entrando e fechando a porta.

 - Porque? - perguntei.

 Eu já começava a ficar ofegante com os socos repetitivos que dava.

 - Essa sua violência a assusta, Emmett. Nós não o criamos assim. - se aproximou de mim e tocou meu ombro.

 - Não faço nada demais. - empurrei a mão dele com violência. - Ela se preocupa com muito pouco.

 - Não, Emmett. - ele me fez virar para ele. - Está saindo fora de controle, e ela não aguenta mais. Então, para acalma-la eu falei que iriamos ter uma noite em família.

 - O que?

 - É isso mesmo que ouviu. E se tiver algo, pode desmarcar.

 Aquilo só podia ser brincadeira. Eu tinha uma super festa para ir hoje, não podia sair para ter uma merda de uma noite em família. Já não bastava ter que morar sob o mesmo teto que eles, e olhar para a cara deles todo santo dia, agora tinha que deixar de sair com os meus amigos? Só podia ser brincadeira mesmo.

 - Vamos ao parque que tem aqui perto. Vá tomar um banho e se arrumar. - rumou para a porta, mas parou antes de sair. - E não me faça vir aqui em cima buscar você, pois estou sem um pingo de paciência hoje. Acho bom estar pronto e lá em baixo daqui uma hora.

 - E se eu não quiser? - rosnei.

 - Esquece essa porcaria de videogame, esquece time de futebol, e esquece sair de casa e voltar a hora que quiser. Eu estou mandando, Emmett McCarty, e dessa vez você vai me obedecer.

 Ele saiu batendo a porta.

 - Filho da puta. - soquei mais uma vez. - Eu odeio vocês!

 Depois de extravasar e amenizar aquela raiva, fui para o banheiro e tomei outro banho. Eu ainda me perguntava aonde aquele imbecil tinha aprendido a usar sua voz de autoridade, porque por todos os anos ele nunca ameaçou de tal forma. Eu não tinha a certeza se ele faria tudo aquilo mesmo, mas era bom não arriscar pois ele deve ter usado alguma droga. Os dois devem ter usado.

 - Vamos? - minha mãe perguntou quando eu desci as escadas.

 - Quanto anos irmos e voltarmos, melhor. - resmunguei indo para a garagem.

 Ouvi quando ela suspirou e ele falou alguma coisa para reconforta-la. Era tão idiota e sem sal a forma como se tratavam. Entrei no carro e coloquei os fones de ouvido, para evitar qualquer brecha que ela quisesse usar para uma conversa. Os dois entraram e ele dirigiu para a porra do parque idiota. Estava me sentindo um panaca ali. Até parece que não tinham percebido que eu não tinha dez anos, e sim dezoito.

 Não demorou muito para chegarmos no maldito parque. Era como aqueles de filmes, com uma grande roda gigante brilhante, uma montanha-russa sem graça, carrinhos de bate-bate, e outros brinquedos para crianças como carrossel. Me senti mais idiota ainda quando vi o lugar repleto de casais de namorados, pais e filhos, e grupinhos de crianças. Ver cada pessoa ali fazia eu odiar aqueles dois ainda mais, se é que era possível.

 Rodamos por ali uma hora seguida, com eles querendo ir nos brinquedos. Eu negava todos, esperando eles irem. Não escondia meu desgosto de estar ali, o que fazia ele me lançar olhares raivosos e ela tristes. Eu também não me importava com isso, nem com nada que eles faziam. Só queria voltar para casa e jogar videogame, já que era a única legal que me restava fazer aquela noite. Como eu queria estar naquela festa...

 - Nossa, filho, você não sabe como é bom! - minha mãe se aproximou, rindo.

 Os dois tinham acabado de sair da montanha-russa, e ele se dirigiu para um carrinho de pipoca.

 - Nossa! - ironizei e revirei os olhos.

 Aos poucos, o sorriso dela foi desaparecendo e sua expressão tomou um semblante triste.

 - Eu só queria ter um momento em família. - falou baixo.

 Olhei na direção dele, vendo-o conversando com o cara da barraquinha.

 - É, você está certa. Você que queria ter um momento em família, não eu. Sabe o quanto eu estou odiando estar aqui com vocês dois, então nem preciso dizer. Agora... Eu vou ali comprar algo para beber porque ficar mais tempo com vocês dois vai me causar ânsia de vomito.

 Sem lhe dirigir mais nenhuma palavra ou olhar, eu segui em direção a uma pequena barraca de lanche. Eu não tinha pegado pesado com ela, pois só fui sincero e ela deveria já ter se acostumado. E quando disse que estavam me dando ânsia de vomito... Não foi uma mentira. Eu começava a ficar enjoado olhando todo aquele carinho que tinham um sob o outro.

 Caminhei por entre aquelas pessoas, seguindo para uma pequena barraca de lanche que havia ali. Ela era diferente, era um trailer com algumas mesas na frente, e dentro dele tinha uma garota que servia e um homem. Do lado de fora tinha outra garota. Eu passei pelas mesas aonde estavam algumas pessoas e me dirigir ao que se podia chamar de balcão, sentando em um banco que havia ali. A pequena garota de cabelos castanhos se aproximou, já com um bloquinho na mão.

 - O que vai querer? - perguntou direta.

 - Tem cerveja? - franzi o cenho.

 Eu não tinha certeza da minha pergunta, porque eu estava em algo que mais parecia uma lanchonete. Poderia ter ido a uma barraca de chopp, mas essas estavam do outro lado do parque, e eu precisava de algo para beber agora.

 - Tem sim. - ela assentiu. - Vai querer?

 - Traz.

 Ela me deu as costas e foi até o freezer que havia ali, voltando minutos depois com a minha garrafa de cerveja. Era uma Heineken. Soltei um muxoxo por ser algo com tão pouco álcool e depois tomei, olhando para as pessoas que passavam. Eu não fazia ideia - e nem queria - de aonde ela e ele tinham ido. Para mim que fossem embora, depois eu me resolvia como iria. Caminhar até em casa era mais agradável do que passar mais meia hora com eles dentro daquele carro.

 Fala sério, como aqueles velhos ainda podiam se tratar daquele jeito?!

Eu revirei os olhos e tomei um gole da cerveja. Eu estava entediado e queria mais que tudo sumir. Olhei para as pessoas nas mesas, e meu olhar caiu sob uma garota de cabelos escuros, que estava conversando com um garoto. Ela tinha um olhar perdido, e negava com a cabeça, sorrindo ao mesmo tempo. Mas era um sorriso tão triste que eu me impressionava por ela se dar ao trabalho de fazer esse ato. Era isso que me irritava nas pessoas, quando elas fingiam algo que não sentiam. Se ela soubesse que isso pode trazer algumas consequências, não faria isso e sim mostraria realmente o que sentia: que não estava nem um pouco feliz.

 Como se ela sentisse que eu a encarava, a garota levantou seu olhar para mim. Eu não desviei - era cara de pau o suficiente para não fazer isso -, o que fez ela franzir as sobrancelhas. Sua boca se moveu rápida e logo o garoto com os cabelos modelados para cima se virou para mim, com a mesma expressão que ela. Sustentei seu olhar, até o garoto desviar e falar algo para a garota, que assentiu.

 - Não é legal encarar as pessoas. - a garçonete baixinha falou e eu me virei para ela.

 - Não foi de proposito. - dei de ombros e ela ergueu uma sobrancelha. - Até certo ponto não foi mesmo. - me defendi.

 - Eu lhe entendo. - falou e eu a olhei sem entender. - Bella sempre atrai olhares assim para ela. O seu... Jeito chama a atenção.

 Eu bem sabia do que ela falava. A garota não tinha a expressão de que estava triste apenas naquele momento. Seus olhos eram escuros e pareciam gritar a tristeza que ela levava. Por isso que chamava a atenção. Muitos sabiam esconder, e ela não conseguia.

 Olhei novamente para o casal, só que antes que pudesse realmente olha-los, meus olhos pararam em uma pessoa mais distante. Ela não estava na mesa, ou perto da lanchonete de trailer, estava afastada, perto do carrinho de bate-bate. A distancia não era muita, e eu podia ver com clareza todos os detalhes possíveis. A garota não era pequena como a garçonete, mas tinha a mesma delicadeza. Seu corpo era curvilíneo com os ajustes da roupa: um vestido cor-de-rosa que apertava no busto e cintura, se abrindo para os lados a partir do quadril. O decote dele era em formato de coração, lhe dando uma graça. As pernas finas e longas me fazia perguntar quantos metros ela tinha, pois estava de sapatilha. Era alta o suficiente para ser uma modelo. Seu rosto tinha um formato delicado, assim como o pequeno nariz arrebitado. A boca era cheia, mas fina, e quando ela sorria, ficava ainda mais perfeita. As maçãs do rosto dela levantando com o sorriso fazia seus olhos sorrirem junto, a fazendo parecer realmente feliz. Caralho, eu juro que podia ver o verde dos olhos dela! Os cabelos eram loiros e longos, e estavam presos em uma trança que ela colocou de lado. E nas pequenas mãos - que pareciam tão delicadas de longe - seguravam um guarda-chuva grande. E ela... Nossa, ela era perfeita! Me lembrava bonecas. Iguais aquelas que minha mãe tinha em seu quarto, as artesanais e antigas. Também os filmes que ela era fanática. Anos 40 ou 60, não lembro. Mas ela parecia uma boneca ou uma daquelas mulheres tiradas de lá. Só que ela não era em preto e branco.

 - Está fazendo de novo. - a garçonete cantarolou perto de mim.

 - Você não tem o que fazer não? - perguntei rude, odiando que ela tenha me tirado da análise que fazia. A garota bufou e eu a imitei, mas parei ao ter um pensamento. Ela trabalhava aqui, e sabia o nome da garota que estava algumas mesas longe de mim. Poderia saber o nome da menina anos 60? - Er... 

 - Alice.

 - Alice... - repeti. - Então, Alice, você conhece aquela garota?

 Alice olhou na direção que eu estava olhando minutos atrás, e assentiu.

 - É Rosalie.

 Rosalie... O nome combinava com o que eu pensava. Ela parecia muito com esse tipo de garota: doce, ingênua e delicada.

 - Ela está sempre aqui? - perguntei.

 - Sim, todas as sextas e sábados. - apoiou o rosto nas mãos, e inclinou a cabeça de lado, como se estivesse encantada. - Ela anda por aqui algumas vezes, mas a maioria eu só a vejo de longe. Está sempre sorrindo e brincando com as crianças do parque. É difícil vê-la em algum brinquedo. Eu não sei realmente o que Rosalie vem fazer aqui, mas eu adoro ver seu sorriso. É tão esperançoso e feliz, como se sua vida fosse perfeita e nada a fizesse triste. Além de parecer aquelas mocinhas de filme de terror.

 - Como a do King Kong? - sugeri, me segurando para não rir da idiotice que ela falava.

 Tudo bem que ela parecia mesmo essa garota, mas não existia ninguém com a vida perfeita. E aquela garota só era perfeita exteriormente, porque eu podia apostar que interior ela deveria ser como qualquer outra.

 - Yeah, igual a Ann. - ela concordou com a cabeça. - Eu não sei como ela consegue isso, mas me encanta. É uma das poucas coisas que gosto de ver aqui no parque. Quando Rosalie aparece, eu me animo. Ela tem um sorriso contagiante, mesmo de longe. - soltou um suspiro. - As vezes eu acho que ela vem aqui para ficar de olho em alguém, mas eu nunca a vi com ninguém. Também já estive pensando que talvez ela esteja é procurando alguém.

 - Procurando alguém? - me interessei, olhando mais uma vez para a garota, que agora estava parada debaixo de um poste de luz. - Como assim?

 - Sabe, Rosalie parece uma princesa tirada de um conto de fadas, e se uma anda aqui, acho que ela procura um príncipe que também ande aqui. É como se procurasse o amor da vida dela, sua alma gêmea. Olhe para ela, como seus olhos correm por todo o lugar. Ela pode estar mesmo procurando ele. E eu torço que o ache.

Então, baixinha, não precisa mais torcer...

 Eu sorri para ela, vendo a próxima cena que aconteceria rodar na minha mente. Se aquela garota estiver mesmo procurando alguém, tinha achado. Eu era o tipo de cara perfeito, e ela não me recusaria. A Alice tinha fantasiado demais, e eu acho que ela estava apenas procurando um garoto, não um príncipe. E mesmo se fosse, não existiria ninguém para esse cargo além de mim.

 - Eu vou falar com ela. - tomei mais um gole da minha cerveja, coloquei uma nota de dez dólares em cima do balcão e me preparei para levantar, mas a pequena mão de Alice me parou. - O que você quer, garota?

 - Não faça isso com Rosalie. - seu tom era duro agora, sumindo aquela fachada de garotinha apaixonada. - Ela não merece alguém como você.

 - O que você está falando? - me ofendi com suas palavras. - Claro que ela merece alguém como eu.

 - Não mesmo. Eu vi como você falou com aquela mulher. E conheço o seu tipo de garoto, daqueles que só olham para o próprio umbigo, pensando apenas na sua vidinha medíocre que é ser popular e ter uma garota na cama no final de semana. Você não pode fazer isso com Rosalie. - apertou suas unhas na minha pele com uma força exagerada. - Não vá tentar jogar uma lábia nela.

 Olhei dos seus olhos raivosos para sua mão pálida no meu braço, e sem nem pensar duas vezes, afastei ela com brutalidade.

 - Nunca mais toque em mim, ouviu? - perguntei. - E também nunca mais ouse falar assim como falou comigo. Você não é nada para falar isso para mim. E se eu for ou não falar com a Rosalie, o problema é meu e dela. E se ela for para a minha cama - e eu sei que ela vai -, você também não tem nada haver. Agora, vá fazer seu trabalho e cale a porra da sua boca.

 Sem lhe dar a chance de responder, eu me afastei dali, seguindo na direção da garota do guarda-chuva. Eu estava com raiva, sentia meu sangue queimando pelas minhas veias, mas eu não podia fazer nada ali, então tive que me acalmar no pequeno trajeto até ela. Claro que percebi os olhares das pessoas que estavam sentadas as mesas ali - como também o da garota do sorriso triste, Bella -, mas não me importei com nenhum. Eu tinha um objetivo, que ficou ainda mais concreto depois do que a baixinha falou, e eu iria até o fim com ele. Eu teria aquela loira na minha cama, comendo na minha mão assim como todas as garotas do meu colégio.

 Quando comecei a me aproximar, eu mudei minha postura e pensei em uma boa tática. Apesar de não concordar com a garçonete de que ela era uma garotinha procurando um príncipe, eu sabia que ela não era uma vadia qualquer também. Precisava saber como falar com ela, ou então minha investida seria por água a baixo.

 Rosalie estava ainda parada perto do poste, suas mãos cruzadas na frente do corpo e segurando o guarda-chuva. Ela, que antes olhava para umas crianças que estavam sentadas em um banco, agora tinha os olhos mirados no céu, e sorria para ele. Eu me aproximei devagar, parando ao seu lado e olhando para cima também. Não tinha nada de diferente ali, apenas umas poucas estrelas brilhando fraco e as escuras nuvens de chuva. Mas ela parecia ver algo a mais, então decidi ver também.

 - Linda a noite. - falei, a assustando.

 - É-é. - gaguejou com os olhos arregalados.

 Eu paralisei encantando com o timbre da sua voz. Era mais doce do que eu podia imaginar, até parecia com a de uma criança. E seus olhos... Mais verdes também do que quando eu tinha visto de longe. Eles mais pareciam bolinhas de gude brilhantes, daquelas que as crianças brigam para ficar por ser tão bonita.

 Tive que sair do meu transe, pois a garota começava a me olhar ainda mais assustada. Sorri um pouco, e ela retribui.

 - Sou Emmett McCarty... - estendi minha mão para ela, que olhou em duvida, mas depois apertou.

 - Rosalie Hale.

 Eu dei meu melhor sorriso galanteador e beijei as costas da sua mão com delicadeza, como um cavalheiro faria. Senti de leve a textura de sua pele, e parecia que ela usava luvas de seda, por ser tão lisinha. E porra, era cheirosa a pele dela. Olhei por baixos dos cílios e a ouvi ofegar baixinho.

 - É um prazer conhece-la, Rosalie. - falei, soltando sua mão. Ela apenas assentiu. - Eu sei que é estranho que eu tenha aparecido do nada, e não me leve a mal, mas é que lhe vi de longe e senti que precisava falar com você.

 Ela arregalou os olhos novamente e abaixou a cabeça. Vi, mesmo sendo a noite e tendo uma luz fraca, suas bochechas ganharem um tom rosado. Ela parecia mesmo uma garotinha ingênua como Alice falara! Mas eu ia conseguir. Podia ser apenas fachada. As garotas sabiam interpretar serem tímidas, certo?

 - Eu não sei o que possa ter lhe chamado a atenção, McCarty. - murmurou, olhando para mim.

 Quase que falei: seu corpo, garota!, mas controlei minha língua e apenas sorri. Eu tinha que ser delicado com ela se quisesse conseguir alguma resposta positiva a minha investida.

 - Me chame apenas de Emmett. - dei de ombros. - E tem sim algo em você que possa ter me chamado a atenção, Rosalie. Foi ver você sozinha em um parque de diversões aonde as pessoas andam acompanhadas.

 - Você está acompanhado? - soltou erguendo uma sobrancelha.

 Merda!

 - Claro... - olhei para os lados e encontrei alguns metros dali meus pais, conversando entre caricias românticas. Segurei uma careta, mantendo o sorriso. - Eu vim com os meus pais. Aquele casal ali. - apontei na direção.

 Rosalie olhou, e seus olhos já tão brilhantes ganharam um brilho a mais, assim como também marejaram. Estranhei, mas antes que sequer pudesse perguntar, ela piscou e aqueles pequenos vestígios de lágrima se acumulando sumiram, e eu ganhei um sorriso, fazendo me esquecer do que acabara de ver.

 - Eles são um belo casal. - falou e eu apenas assenti, escondendo minha discordância para mim mesmo. - E eu gosto de vir ao parque sozinha.

 - Você vem com muita frequência aqui? - perguntei, mesmo já sabendo a resposta que Alice me dera. Rosalie assentiu. - Porque?

 - Ah... - ela fez, olhando para os lados. - Eu... Gosto de ver as famílias... E gosto... Do clima que o lugar passa. - deu de ombros. - Me deixa feliz.

 Nós dois engatamos em uma conversa sobre o parque. Eu nem sabia porque estava fazendo aquilo, mas também não me importava. Deveria estar entediado, só que não estava. Eu gostava de ouvir a voz doce e infantil de Rosalie, e também gostava de ouvir sua risada quando eu falava alguma coisa idiota ou quando fazia alguma pergunta e ela achava graça, mesmo sem eu entender o porque.

 Um bom tempo depois as crianças do banco saíram e nós nos sentamos ali, continuando a conversa. E era assim que aos poucos eu via Rosalie se soltar e se sentir mais a vontade comigo. E também sentia que eu estava chegando perto de conseguir o que queria. Eu só precisava de uma brecha para dar o próximo passo. E eu não tive que esperar muito, pois ela veio. Nenhum dos dois falou mais nada, e eu via no olhar de Rosalie que ela esperava um próximo passo da minha parte. Então, assim o fiz. Lentamente, eu comecei a me aproximar dela, tocando com as pontas dos dedos seus cabelos. Os fios loiros eram sedosos, e eu tive vontade de passar a mão neles o dia inteiro.

 Paper Aeroplane - Angus and Julia Stone (http://www.youtube.com/watch?v=VB1DgWUdYys)

Deixei de lado essa vontade boba e continuei a me aproximar, até meus lábios estar alguns centímetros de distancia dos dela. Tão perto, eu podia ver como eles eram convidativos. Vi pela minha visão periférica Rosalie apertar a alça do guarda-chuva, em expectativa, o que me fez sorrir. E foi então que percebi a súbita mudança de humor nela, e seu olhar passar de doce para raivoso em questão de segundos.

 - Eu sabia que você era igual a todos. - ela falou com a voz dura, mas ainda contendo o tom doce. Isso não a abandonava. - Todos são assim.

 - Do que você está falando? - me afastei, sem entender. - Você queria isso!

 - Não! - arregalou os olhos. - Eu por acaso pedi para você?

 - Hm... Não. - dei de ombros. - Mas eu vi em seus olhos que queria isso!

 - É tão convencido que se ilude. - ela ficou em pé. - Emmett, por um segundo eu realmente pensei que você era diferente de todos, mas como sempre eu me enganei. Você é igual a qualquer outro garoto. E é por isso que o quero bem longe de mim.

 Ela saiu caminhando - desfilando - pelas pessoas, sem olhar para trás uma única vez. Encostei no banco, bufando. Garota louca! Ela queria, eu podia jurar que ela queria. Todas querem.

 Passei as mãos no cabelo e sem querer olhei na direção do trailer, e meus olhos se encontraram de Alice, que ao mesmo tempo eram raivosos, eles eram zombadores. Ela estava zombando de mim! Fechei as mãos em punho, sentindo a raiva voltar. Bella e o garoto também me olhavam, e eu podia ver também a zombaria no olhar deles, o que aumentou ainda mais minha raiva, e feriu muito mais meu ego.

 Aquela loira não iria me dar o fora assim. Não mesmo!

 Levantei e segui na mesma direção que ela havia ido, já vendo o plano concreto na minha cabeça. Eu teria ela na minha cama e ainda tiraria uma foto para mostrar para Alice que eu conseguia o que queria, não importa o preço que custasse.

 - Rosalie! - eu falei quando a avistei quase saindo do parque. - Rose!

 Ela se virou na mesma hora, e quando viu que era eu, revirou os olhos.

 - Por acaso eu não fui direta o suficiente?

- Foi, mas eu não quis entender. - diminui meus passos, parando na frente dela. - Quero dizer... Eu não quero deixar essa má aparência sendo que... Eu não sou assim. - Rosalie me olhou sem acreditar e depois em deu as costas. Eu fui atrás dela, a pegando pelo braço. - Espera! Me escuta. - pedi.

- Vamos, então, fala logo! - cruzou os braços, tentando soar brava. Mas era impossível para uma garota tão delicada como ela.

 - O que eu preciso fazer para que você não ache que eu sou... Aquele tipo de garoto? Só me dizer que eu faço!

 Rosalie me avaliou por alguns segundos, e então balançou a cabeça em negação.

 - Quer mesmo me provar tanto assim que não é um cafajeste?

 Cafajeste?! Eu tinha que me acostumar com ela falando como se fosse de outra época...

 - Quero. - respondi, dando uma boa convicção em minha palavra.

 - Ok... - ela assentiu com a cabeça. - Então ache você mesmo uma forma de me mostrar que pode ser meu amigo, que é cavalheiro e então eu penso no seu caso. - eu sorri. - Sabe aonde me encontrar todos os dias.

 Dizendo isso, ela me deu as costas e continuo a sair do parque, mais uma vez sem nem olhar para trás.

 Eu iria mostrar um Emmett diferente para Rosalie, faze-la acreditar nisso e tê-la em minha cama. Depois disso, eu nem me preocuparia mais com ela. Só precisava mostrar para aquela garçonete petulante que eu era melhor do que qualquer garoto popular de escola, e que eu sempre conseguia o que queria.

 - Emmett, querido, vamos para casa? - minha mãe apareceu do meu lado, me tirando dos meus pensamentos.

 Olhei para ela, vendo em seus olhos azuis o mesmo brilho de inocência que Rosalie tinha. E vi ali a minha carta na manga para se tornar um cavalheiro que Rosalie queria tanto.

 - Claro, mãe. - eu respondi e comecei a andar, ignorando ela e meu pai que ficaram estáticos pela forma e tom que a chamei. 

 Bobinha, mal sabia que era apenas um uso para outros objetivos.

(...)

So he opens it up and reads it out to all his friends

(Então ele o abre e lê para todos os seus amigos)

Amongst the crowd a heart will break and a heart will mend

(Entre a multidão um coração vai quebrar e um coração vai se consertar)

He walks on home tired from work

(Ele caminha em casa cansado do trabalho)

The letter falls from his hand

(A carta cai de suas mãos)

He reaches out only to catch the sky

(Ele sobe somente pra pegar o céu)

Its gone with the wind

(E o avião foi embora com o vento)

I spilled the ink across the land

(Derramei a tinta pela terra)

Trying to spell your name

(Tentando dizer seu nome)

Up and down there it goes

(Cima e baixo, lá vai)

Paper aeroplane

(Avião de papel)

It hasnt flown the seven seas to you

(Ele não voou os sete mares por você)

But its on its way

(Mas ele está a caminho)

It goes through the hands

(Ele vai pelas mãos)

Then to someone else

(Então para outro alguém)

To find you girl

(Pra encontrar você, garota)


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Notas finais do capítulo

E então, o que vocês acharam? Emmett é um babaca, nao é? Esse garoto vai dar trabalho, já aviso. Muita coisa vai rolar com ele e Rosalie, e também com a pobrezinha da mãe dele. kkkkk

Eu queria me desculpar com vocês pela demora, eu estou cheia de trabalhos (alguns de trinta pag. de port e eu tenho que me focar nele pq quero fazer letras na faculdade) e também muitas provas como ENEM, ETEC e escolares. Se antes eu não tinha tempo, agora então... Mas eu estou me esforçando e estou na metade do capitulo de AG, o que é um progresso kkkk Nao tanto, mas é.

Queria pedir a vocês que tenham paciencia comigo e QUE NÃO VOU ABANDONAR MINHAS FICS, isso nunca passou na minha cabeça. Eu não sei se ainda tenho leitoras, mas se tiver digam um Oi pra eu ver se tenho inspiração porque ultimamente estou dificil :/

Queria agradecer as lindas das Meels e Thais Mendes pelas recomendações, vocês são muito fofas. Obrigada por sem nem começar a história direito vocês me dão um voto de confiança. E também obrigada as leitoras que ainda vão acompanhar Seven Reasons, ela traz muitas emoções.

Bem, é isso só. Espero que vocês não estejam muito bravas comigo e que ainda queiram comentar. Beijos, minhas meninas, até o proximo capitulo.



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