Olhos de Ressaca

Havia se retirado do salão comunal da grifinória com ímpeto de fumar. Já passava das 23 horas e o toque de recolher já havia soado a tempos.

Todos estavam felizes. A guerra havia acabado e ele havia retornado a Hogwarts. Então, porque ainda se sentia tão incompleto, tão vazio? Durante a guerra adquirira o detestável hábito de fumar e desde então, quando algo lhe afligia, buscava conforto na nicotina do cigarro. 

Não suportava mais a quantidade de olhares de congratulação sobre si. Saiu do salão às pressas, tentando evitar o peso de mais algum. Finalmente a carga de herói estava pesando sobre seus ombos, e isso só contribuia para que aumentasse ainda mais o vazio em seu peito.

E só havia uma coisa além do cigarro que poderia amenizar esse vazio...

- Potter.- murmurou Pansy Parkinson, dando uma tragada em sua cigarrilha de menta. Ela se encontrava apoiada na batente de uma das milhares janelas da escola.- A que devo a honra?- zombou, lançando um sorriso presunçoso ao garoto.

- Poupe-me dessa sua falsa preocupação.- disse Harry, cuspindo as palavras, enquanto arrancava desajeitadamente um cigarro do maço, o enfiando na boca em seguida.

O cheiro dela invadiu-lhe as narinas, o pondo louco. Uma essência de morango pairava no ar, provavelmente um shampoo ou quem sabe seu próprio cheiro natural. A menta da cigarrilha só contribuía para que o conjunto ficasse ainda mais irresistível. 

Logo após ascender seu Malboro, a fitou.

O que dizer daqueles olhos? Tão negros quanto a noite. Capazes de drenar sua alma para dentro de um buraco negro. Olhos tão impetuosos quanto a personalidade da garota.

- Não é isso o que você sempre desejou?- perguntou ela com sarcasmo, dando um leve toque na cigarrilha fazendo com que um pouco das cinzas caíssem no chão.- Ser tratado como o herói da sociedade bruxa?

Harry deu uma tragada profunda antes de responder a sonserina.

- Faça um favor para ambos, Parkinson.- falou, se encostando na outra extremidade da batente da janela.- Não se finja de sonsa.-completou, fazendo a garota fechar a cara.- Não combina com você.

Ele percorreu o corpo dela com os olhos. Viu que dois dos botões da blusa social que ela usava estavam abertos, revelando o contorno dos seios fartos da sonserina. A saia era curta demais, mas isso não era novidade...estávamos falando de Pansy Parkinson, certo? E era muito bom poder ter os olhos sobre aquelas pernas macias e bem torneadas.

- Eu faço o que eu bem entender Potter.- falou Pansy, de maneira rude, dando mais uma tragada em sua cigarrilha.- E pare de ficar me olhando.- completou, cuspindo as palavras.

- Achei que já estivesse acostumada com isso.- soltou o moreno.

- Com o que?- disse ela levemente irritada.

- Com os olhares sobre si.- murmurou ele, lançando-lhe um sorriso fraco enquanto levava novamente o cigarro a boca.

A morena lhe lançou um meio sorriso em resposta.

Um silêncio constrangedor se instalou entre os dois.

- Não sabia que garotos puritanos fumavam.- comentou a sonserina, quebrando o silêncio.

- Está aí outra novidade.- respondeu o Potter, ácido, fazendo a morena rir.- Quer outra novidade?- perguntou, se aproximando da Parkinson até ficarem bem próximos.- Resolvi aderir as lentes de contato.

Pansy deu uma leve risada e por um breve segundo encarou-o. Mesmo depois da guerra o garoto ainda era bonito. Traços fortes, corpo musculoso e firme, nada parecido com o garoto frágil e franzino que uma vez conhecera. A morena franziu o cenho ao observar as profundas olheiras que cercavam os magnificos olhos verdes do grifinório.

- Dificuldade para dormir?- sussurrou, de supetão, não tinha a intenção de perguntar algo tão íntimo ao Potter, mas as palavras simplesmente escaparam de sua boca. 

Harry arqueou uma das sobrancelhas. Os dois ainda estavam bem próximos, fazendo com que o moreno pudesse sentir o hálito quente da garota acariciar seu pescoço.

- Achei que já havíamos ultrapassado a etapa das novidades.- respondeu, seco.

- Desculpe.- se arrependeu novamente pelo descuido. Não pretendia ter falado aquilo. 

- Pansy Parkinson pedindo desculpas?- zombou Harry.- Essa novidade valeu pelo resto da noite. 

A sonserina fechou a cara em resposta.

- Olha aqui Potter.- disse a garota, apontando o dedo indicador para a face do moreno, com a voz carregada de veneno.- Só porque estamos tendo uma conversa que poderia ser chamada de civilizada não quer dizer que te dou permissão para comentar sobre qualquer uma de minhas atitudes.- completou, pousando o dedo indicador no peito forte e musculoso do garoto.

Harry sentiu uma onda de calor invadir-lhe ao sentir o dedo suave e macio da garota sobre seu peito. Os músculos de seu corpo se contrairam e relaxaram quando uma onda de prazer tomou conta de si. Observou que a sonserina arfava, o peito subindo e descendo rapidamente enquanto a mesma tentava recuperar o ar. 

Os olhos da garota estavam ainda mais revoltosos do que antes. Em um misto de surpresa e luxúria. Como se estivesse chocada por o que havia feito ao mesmo tempo que queria fazer muito mais que aquilo. Não conseguia decifrá-los ao certo, e nem poderia, mas sabia que os olhos de Pansy Parkinson o fascinavam.

Alheio a tudo que ocorria no momento, só voltou a realidade ao sentir os lábios quentes e macios da morena sobre os seus. A língua quente e sensual da mesma pedindo passagem para explorar sua boca. Gemeu quando esta entrelaçou sua lingua na dele. Ela agarrava-lhe os cabelos com força, tentando aumentar ainda mais o contato entre os dois. O grifinório apertou-lhe uma das nádegas fazendo-a gemer entre seus lábios. Ambos os corpos estavam quentes. Harry quebrou o contato entre os lábios e mordeu o pescoço de Pansy. Ela sentiu-se umidecer em sua parte mais íntima. Mas só quando o mesmo começou a desabotoar os botões de sua blusa, que uma sirene soou em sua cabeça. 

Afastou-se do moreno de supetão, ficando relativamente longe do mesmo.

- O que pensa que está fazendo?- perguntou, ainda arfando. Com a respiração entrecortada.

Os olhos. Só conseguia mirá-la nos olhos. Não se importava nem com os botões abertos da blusa dela, que revelavam um sutiã rendado preto, nem com sua boca vermelha e convidativa. 

Os olhos que cada vez que encarava estavam diferentes. Olhos negros, olhos vívidos, olhos selvagens. Olhos de Ressaca. 

- Nada.- murmurou ele, ainda desconsertado, desviando seu olhar do dela. 

Colocou as mãos nos bolsos, lançou à ela um último sorriso malicioso, e em seguida virou-se de costas, caminhando em direção a seu salão comunal.

FIM