Eu mal podia acreditar.. Mais alguns dias e eu poderia tirar essas faixas que cobriam meus olhos e então... Não conseguia imaginar como era ver. Uma coisa tão simples, que as pessoas normalmente nem notam a importância e a magnitude.
Pensava também em Sasuke... Havia anos que eu não o via. Será que ele ainda se lembrava de mim? Não que devesse pensar nisso, afinal eu estava namorando com Hideki-san havia algum tempo... Mas o fato era que eu nunca havia esquecido Sasuke-kun. Não pudera ao menos se despedir...
- Finalmente você vai poder ver! Está ansiosa? – a voz animada de Hideki quebrou o silêncio da sala.
- É...Sim, estou! – disse meio sonolenta. Ele segurou minhas mãos, acariciando-as delicadamente.
- Você vai ver! Eu vou levar você para conhecer o mundo, Sakura! – sua voz animada ficava distante a medida que o sono chegava juntamente com a doce canção de Sasuke.
- Sasuke-kun... – sussurrei sonolenta. No mesmo instante, Hideki parou de falar.
- O que? – perguntou aturdido. Foi aí que me dei conta de onde estava.
- Nada, eu...hm...Eu estou cansada...acho que é efeito dos remédios. Precisava dormir um pouco... – disse ajeitando minha cabeça por entre os travesseiros. Depois disso, não ouvi mais nada. Só pensava em Sasuke, em sua voz, na música...
Como seria poder reencontrá-lo? Poder vê-lo? Ouvir sua voz, sentir suas mãos e seu abraço já havia sido maravilhoso. Se pudesse escolher, ele seria a primeira pessoa em que poria meus olhos. Com tantos pensamentos, acabei adormecendo, sendo acordada apenas no dia seguinte pelo doutor, que alegremente vinha me dizer que era o momento de desenfaixar meus olhos e me fazer ver... Ver tudo!
Foram vários dias de preparação, pois toda vez que eu tentava abrir os olhos, uma imensa dor de cabeça me invadia, só conseguia ver um clarão, era uma sensação horrível, mas que foi melhorando com o passar dos dias, até que o doutor me disse que no dia seguinte eu poderia ter alta.Quando abri meus olhos foi mágico. Uma imensidão de luzes e cores invadiu meu mundo, até então vazio. Não pude evitar um grande sorriso. Lágrimas rolaram por minha face, mas eram lágrimas de pura alegria. A mesma felicidade que senti ao ouvir a doce música que Sasuke compôs em minha homenagem, naquela doce tarde há cinco anos atrás.
Apesar das vozes ecoando em meu redor, só pude ouvir uma, a única que nunca havia ouvido antes, a música que a vida esperou anos para cantar pra mim.
Havia um mundo novo lá fora, esperando por mim. E eu iria conhecê-lo!

Hideki avisou meus pais que me levaria. Com o consentimento do diretor pude sair do hospital, já estava de noite quando pegamos a estrada.
Pelo caminho, pequenos pontinhos de luz voavam, descompassados.

- O que são? – disse, curiosa, apontando-os através da janela. Hideki entreolhou e respondeu, completamente indiferente:
- São vaga-lumes. – voltando a atenção para a pista.
“Vaga-lumes..!”, pensei... Então eram eles? Ah, Sasuke-kun.

No outro dia começaria a ter aulas particulares. Queria aprender TUDO, cores, nomes de objetos... Queria poder ler, realmente, um livro...
Foi muito bom ver meus pais adotivos. Minha infância foi muito gostosa, confortável. Havia passado toda ela na Itália, em Veneza, e só agora, depois de tanto tempo, voltava para Londres. Ouvi dizer que o orfanato foi fechado. Chorei muitas semanas após ter ficado sabendo. O velho casarão está lá, mas sabendo que Sasuke-kun não estava lá, morreu minha vontade de ver, conhecer aquele lugar. Queria conhecer com ele ao meu lado. Mas, seria possível?

Passado um ano eu já havia aprendido muitas coisas, estava até pintando quadros! Esta semana havia voltado de uma viagem para a Itália, fui rever meus pais e conhecer o país. Fui a Roma, Milão... Foi tão lindo! Cada lugar maravilhoso!
Cheguei de viagem ontem, e hoje irei conhecer o restaurante de Hideki.

Chegando ao restaurante, me surpreendi: como ele tinha bom gosto! Tudo muito bem decorado, luzes sobre todas as mesas, lustres lindos! E, em uma das extremidades, estava o local reservado para os showzinhos ao vivo. Hideki já havia me levado ali outras vezes, mas nunca cheguei a ver o lugar.
Uma banda estava se preparando para tocar. Algumas batidas, alguns ajustes, um moço extremamente encantador entre eles... Ahh, já não estava mais em época de sentir minhas pernas tremerem, nem meu coração disparar! Aliás, só havia sentido isso com a presença de Sasuke. Mas... Por que agora? De novo?

Sentei-me em uma mesa meio reservada, mas com uma visão totalmente privilegiada. Podia ver a banda toda bem de pertinho!
- Ah, minha linda deusa! – disse Hideki, indo até nossa mesa, e fazendo com que meus loucos pensamentos sumissem de cena por um momento.- Mil desculpas se eu não estou dando a você a atenção que você merece! Mas o restaurante está uma loucura! Não tenho paz por nem um segundo!
- Tudo bem, Hideki! – disse observando-o atentamente. Hideki era muito bonito. Era alto, magro, tinha cabelos castanhos com algumas mechas avermelhadas. E além de tudo, era extremamente carinhoso comigo.
Logo vieram me mostrar o cardápio, e eu escolhi um dos pratos, pedindo um vinho para acompanhar.
A banda que estava a tocar era realmente incrível. Que voz aquele rapaz tinha! E era tão bonito... Ele era um pouco mais alto que Hideki, e tinha os cabelos pretos com mechas azuladas. Enquanto tocava, algumas mechinhas insistiam em cair sobre sua face, e ele logo as afastava com um gesto da cabeça.

Em determinado momento, meus olhos se encontraram com os dele. Grandes orbes ônix, profundos, misteriosos, e um pouco deprimidos... Daí que ele se confundiu na música, e quase derrubou seu violão. Desde então nossos olhares se cruzavam toda hora...
Em um dos intervalinhos da banda, o vi se aproximar da minha mesa, parando na mesa ao lado, que, imagino eu, estava reservada para a banda. Enquanto tomava um grande copo de água, não resisti:
- Você toca muito bem. Está de parabéns! – dando um sorriso ao ver a expressão envergonhada dele, ao me olhar e quase engasgar com a água que estava tomando.
- Ah, hm.. Obrigada! – disse, totalmente enrubescido, com um sorriso de orelha a orelha. E que sorriso! E que voz... Era extremamente familiar... Mas onde a havia ouvido? – Você...hm...está sozinha?
- É, praticamente! – disse com uma expressão entediada. Hideki mal havia ficado comigo aquela noite.
- Ah, isso é muito triste. Lhe faria companhia, mas tenho que voltar para o palco daqui a pouco. – disse, fitando-me por longos instantes. – Você... Não me é estranha. Sempre morou aqui?
- Não, morava na Itália! – Ia continuar a falar, mas um dos integrantes da banda veio até nós, falando-lhe no ouvido.
- ah, desculpa, moça! Tenho que voltar. Depois conversamos – disse, dando uma piscadela, e saindo em direção ao palco.
O resto da noite correu extremamente chato. Hideki não vinha mais na mesa, nem para ver como eu estava, e o cantor da banda já não havia feito mais intervalinhos.
Já estava quase na hora de fechar, quando começou uma chuva torrencial.

- Espera aqui, ok? Eu vou buscar o carro e já venho. – disse Hideki, saindo correndo pela porta.
- Ok – eu disse sorrindo, observando a banda recolher os instrumentos.
- Err... Mal tivemos tempo de conversar! – disse o “gato-ônix”, aproximando-se por trás. Aquela voz, mexia completamente com meus sentidos.
- Pois é... É uma pena, não?!

Nesse momento, Hideki apareceu com o carro, buzinando brevemente:
- Sakura, vamos!? A chuva está piorando. – disse, saindo do carro e vindo em minha direção, colocando seu casaco sobre minha cabeça.
- Sakura? – disse o gato-ônix, olhando-me atônito.
- Sim. Foi um prazer! – disse, sendo puxada por Hideki até o carro. Não havia entendido a expressão feita por ele. Mas era de extrema surpresa.

Hideki levou-me para sua casa, arrumando o quarto de hóspedes para mim.
Dormi com o doce barulhinho da chuva, acompanhado da doce melodia que aquele moço me inspirava...