Rachel

COMO ELA PÔDE FAZER ISSO COMIGO!? Quinn Fabray sua estúpida! Como pôde dizer tudo isso e sair correndo, sem ao menos esperar que eu diga algo, mas não mesmo!

“Sério que Q esperou poder andar novamente para sair correndo da sala, depois de abrir as portas Nárnia? E tudo pelo gnomo cantante? Hahaha, por essas e outras que adoro esse clube.”.

Claro que isso foi Santana, que nem poupava sua melhor amiga de comentários debochados. E com suas palavras, desperto de todo o torpor emocional que tomou meu corpo no momento em que Quinn começou sua declaração e levanto-me.

Mas quando estou prestes a sair pela sala, sinto mãos fortes segurarem meu pulso. Viro e me deparo com meu ex – noivo. Sim, acabou tudo quando eu disse a ele que não o amava como antes, na verdade como nunca. Estava esperando por hoje, para dar essa notícia àquela Fabray idiota hoje e ela me apronta essa. Arg! Você não perde por esperar Quinn Fabray!

“Me solte Finn, preciso ir atrás dela.”. Digo com uma seriedade e tranquilidade que arrancou um olhar interessado de Santana, isso não é com sinal.

Olhando novamente para meu ex – noivo, ex – namorado, ex – tudo, vendo seus olhos tristes e com algo que eu poderia supor ser raiva, ele diz.

“Foi por ela Rachel? Foi por ela que você me deixou?”.

Fecho os olhos enquanto respiro lenta e profundamente. E quando abro os olhos, é diretamente nos dele que miro meu olhar. E calmamente respondo.

“Não Finn, não foi por ela que tudo acabou entre nós...”.

Vejo um sorriso presunçoso se desenhar nos lábios dele, e continuo.

“Foi por meu amor por ela que tudo o que houve entre nós não pudesse ser sustentado. E é por esse amor que não existe chance alguma de nós dois termos qualquer coisa além da amizade.”. Seu aperto em meu pulso se intensifica, e em segundos ele se levanta furioso e responde gritando.

“ELA TE ODIOU E HUMILHOU POR ANOS! NUNCA FOI CONFIÁVEL! E AGORA VOCÊ DIZ QUE A AMA? QUE TERMINOU COMIGO POR CAUSA DELA? O QUE ELA FEZ POR VOCÊ AFINAL?”.

Furiosa com a dor em meu pulso e pelas palavras que ele diz, respondo também gritando.

“ELA FOI SINCERA! MESMO QUANDO TUDO ERA ÓDIO ELA ME DIZIA A VERDADE. QUINN PODE TER FEITO MUITAS COISAS, MAS MENTIR PRA MIM NUNCA FOI POSSÍVEL. ELA MUDOU, É CLARO COMO ÁGUA E ELA ME CONQUISTOU, NÃO COM UM SORRISO BOBO E DESCULPAS ESFARRAPADAS, MUITO MENOS COM EGOÍSMO E INTERESSE. ELA ME CONQUISTOU POR SER QUEM FOI E POR QUEM SE TORNOU. ME FEZ SUA AMIGA E PASSOU POR CIMA DO QUE SENTIA, AO ACEITAR SER MINHA MADRINHA, POR MIM! ACHA MESMO QUE UM SENTIMENTO COMO ESTE NÃO SERIA CORRESPONDIDO? MESMO QUE EU ME CASASSE COM VOCÊ E FOSSE INFELIZ, AINDA A AMARIA COMO A NINGUÉM NO MUNDO E ISSO FINN, VOCÊ JAMAIS PODERIA MUDAR.”.

Ele deu mais um passo em minha direção, e posso afirmar que este foi seu erro, pois Santana já estava de pé e lhe acertava o rosto com um soco poderoso.

Olhei espantada pra ela, enquanto Finn caia no chão, gemendo de dor. Todo o clube nos olhava sem reação, não os julgo, afinal não é todos os dias que vemos Quinn Fabray declarar seu amor por Rachel Berry e Finn apanhar de Santana por esta defender ninguém menos que eu, novamente, Rachel Berry. Pergunto-me como consigo me meter em tanta confusão, mas voltando ao presente, no momento seguinte vejo Santana vir marchando em minha direção e a única coisa que consigo fazer, é implorar mentalmente pela minha vida. Ela se aproxima e diz, ou rosna, não consigo definir.

“Aquela mulher passou pelo inferno apenas por amar você. Se a ama como acabar de dizer aos berros nesta sala, vá atrás dela e faça com que ela saiba. E faça agora Berry, antes que eu resolva fazer com você o mesmo que com seu ex, caído ali no chão.”.

Ainda em choque, ajo antes de pensar e a abraço feliz. Pois apesar de saber que ela fazia isso pela sua amizade por Quinn, não posso me sentir mais feliz por saber que a mulher que eu amo tem amigos tão fiéis. E antes que Santana cumpra sua promessa saio correndo pelo corredor vazio.

Parece uma eternidade, mas toda essa discussão durou poucos minutos e assim que saio da sala vejo Quinn dobrar o corredor correndo, e se não fosse pela urgência da situação, ficaria ali admirando aquela mulher correr pelo corredor, pelo simples fato dela estar de pé. Mas não perco tempo com isso e saio em disparata em sua direção, torcendo para que eu consiga alcançá-la mais uma vez, e não apenas fisicamente, mas também emocionalmente, pois apesar de tudo o que ela disse naquela sala, seu olhar antes de sair deixou claro, pelo menos pra mim, que ela estava quebrada.

Corro como se minha vida dependesse disso, e talvez realmente dependa, e antes que ela chegue à porta da saída eu a alcanço e lanço meus braços ao seu redor, forçando-a a parar.

Ela para e sinto seu corpo tremer por causa do choro copioso que não cessou. Forço um pouco mais os braços ao seu redor e sinto-a relaxar minimamente. E isso foi o suficiente para que eu me sentisse capaz de pegar sua mão e guia-la para o auditório. É claro que iria pra lá, além de ser o meu lugar favorito na escola, fato que todos conheciam, era o mais calmo e privativo, que permitiria uma conversa mesmo que as aulas, neste momento, não tivessem terminado.

Segurando firmemente sua mão, guio-nos até que estejamos de frente ao palco e com um leve apertar em sua mão, indico para nos sentarmos no chão. E quebrada como estava, Quinn não tem forças para protestar e simplesmente se senta do meu lado.

Cautelosamente circundo seus ombros com meus braços, a puxando para um abraço tão familiar. Familiaridade esta conquistada depois de meses ao seu lado durante sua recuperação. Familiaridade que vinha acompanhada da paz que apenas Quinn poderia me proporcionar.

Sinto-a parar de chorar aos poucos, exatamente como acontecia quando ela chorava de dor ainda no hospital, e relaxar em meu abraço. Então com isso inicio a conversa que mudaria definitivamente nossas vidas.

“Você disse que eu te salvo todos os dias, mas não creio que seja verdade.”.

Digo suavemente e ela me olha com indignação e já sei que está prestes a protestar, então gentilmente coloco os dedos em seus lábios, para impedi-la de falar e continuo.

“Você falou antes, agora é minha vez.”.

Lhe ofereço um sorriso sincero, para lhe assegurar que não estou prestes a surtar, e ela assente levemente com a cabeça.

“Não poderia ser sua salvadora Quinn, pois se o fosse, você não teria engravidado do Puck e sofrido tudo o que sofreu, primeiro por ser rejeitada pela sua família, depois por perder o rapaz que você acreditava amar e o mais doloroso, ser incrivelmente altruísta ao dar sua filha para adoção.”. Ela volta a chorar baixinho mas sem sair do abraço então continuo, segurando as lágrimas, pois eu precisava dizer e ela ouvir.

“Se eu fosse sua salvadora, você não teria se perdido no início desde ano quando se juntou às Skanks, por exemplo.”. Ela se afasta um pouco e para evitar que vá embora, circundo sua cintura com meus braços e apoio a cabeça em seu ombro, enquanto ela apoia o rosto em minha cabeça, permitindo que eu continue.

“E principalmente, se eu fosse sua salvadora não teria prosseguido com aquela ideia estúpida de casamento, causando-lhe um grave acidente. Acidente este que quase lhe custou à vida.”.

Eu já chorava novamente, abraçada a ela, assim como ela que se agarrava a mim como um náufrago em uma tormenta. E ao mesmo tempo em que ela chorava copiosamente, me fazia um gentil carinho nos cabelos tentando me acalmar. E com isso me descubro corajosa o suficiente para continuar.

“Se formos olhar novamente, é você que sempre me salva. Me salvou quando brigou comigo de modo tão feroz que me fez compor a música mais importante da minha vida, até agora. Me salvou quando foi direta e sincera ao dizer que eu não deveria me casar com Finn, mesmo que eu não tenha seguido seu conselho, eu o ouvi e ele ficou gravado em mim, assim como tudo o que você sempre me disse. E me salvou quando quase morreu para impedir meu casamento. E por me salvar em todos estes e tantos outros momento que eu jamais poderei lhe deixar.”.

Digo, agora olhando diretamente em seus olhos, pois queria que ela visse em meus olhos o peso e a verdade em todas as minhas palavras.

Ela suspira com pesar enquanto olha para o chão, desviando nossos olhares, e isso me faz lembrar o que ela disse antes de sair da sala.

Pego seu queixo para levantar seu rosto e reestabelecer à ligação dos nossos olhos, lhe digo determinada, mas suavemente.

“Você não é covarde. É a mulher mais corajosa que jamais vi na vida. Foi sua coragem e determinação que a fizeram vencer todas as adversidades e ter um bebê saudável. Foi sua coragem que lhe fez entregar sua filha a uma vida que você não poderia dar, por mais que a ame. Foi sua coragem que lhe fez apoiar a pessoa que você ama, de acordo com o que você disse, a seguir um caminho que não seria ao seu lado. Foi sua coragem que lhe salvou a vida de um acidente fatal, foi ela que lhe fez acordar e andar novamente. E acima de tudo, foi sua coragem que lhe fez dizer em alto e bom som o que você sente, sem medo do que as pessoas vão pensar, ainda que eu veja em seu olhar que você tem medo da minha reação.”. Neste momento ela balança a cabeça confirmando e continuo. “Mas ainda sim isso foi sua coragem Quinn, não duvide disso novamente, não duvide de você, por favor.”

Digo-lhe tudo olhando nos olhos, com uma determinação que desconhecia, mas que entendo, pois tudo o que disse é a mais pura verdade. É a verdade que vejo na mulher que amo, e está na hora de deixá-la saber disso, mesmo que tenha acabado de dizer, ela ouvirá a resposta que merece com todas as letras.

Mas antes que eu continue, sinto ela se afastar minimamente para poder me encarar nos olhos com força e determinação.

“Sou uma covarde por tudo isso Rachel. Por entregar minha filha, me unir às Skanks, deixar você com Finn...”.

Esta última parte ela quase sussurra, e neste momento me lembro de que ela não sabe que eu e ele não estamos juntos. Rachel, como você é burra!

“Quinn eu...”. Ela me interrompe do mesmo modo que fiz minutos antes, colocando os dedos em meus lábios e diz.

“Mas apesar de ser uma covarde por lhe deixar com ele Rachel, eu seria mais se lhe impedisse de ser feliz. Você o escolheu e me disse que ele a faz feliz.“.

Ela se levanta suavemente me trazendo junto a ela. E agora de pé, ela continua.

“E só disse tudo àquilo na sala do coral por medo. Medo de morrer a qualquer momento sem que você soubesse, por mim, o quanto te amo. Claro que Santana lhe contaria aos berros, caso algo me acontecesse. Mas naquele momento, na sala, decidi que você deveria saber por mim, enquanto eu lhe olhava nos olhos, para que você sentisse, muito mais que visse, a sinceridade dos meus olhos e a verdade em minhas palavras.” E o verde em seu olhar agora é intenso de modo que jamais vi antes e não poderia esquecer.

“E apesar de não tê-la, me sinto feliz por saber que você está bem. Fico feliz por ser a pessoa que está diante de você agora, a pessoa que você ajudou a formar, a pessoa que lhe ama a ponto de desistir de você para que seja feliz. Essa é a Quinn Fabray que nasceu por você e pra você Rach.”

Ela me dá um leve beijo na testa e começa a se afastar. E quando percebo o que ela está fazendo faço o de sempre e deixo as palavras saírem da minha boca, sem controle.

“Você não é Quinn Fabray!”.

Digo usando minha voz forte e poderosa o que a faz virar espantada. Sua reação me faz continuar, mais baixo, mas ainda determinada.

“Quinn Fabray não desiste de nada! Quinn Fabray, não desistiu da vida quando afirmaram que era impossível sobreviver. A minha Quinn não desistiu de andar quando lhe disseram que viveria o resto da vida em uma cadeira de rodas. A minha Quinn não desistiria de ninguém que realmente amasse e que acaba de dizer que não a deixará. Então se você me ama, me responda, quem é você?”.

A vejo marchar furiosa em minha direção, e parando a centímetros do meu rosto, ela diz baixo e cortante.

“Não se atreva a dizer quem eu sou ou não Rachel. Sou a mulher que te ama, há tanto tempo e de modo tão poderoso que seria sim capaz de deixar tudo por você. Me diga o que quer com essas palavras, pois até a parte que me cabe, você é noiva.”.

O modo como ela diz me faz lembrar exatamente a cherrio poderosa que fazia os corredores se abrirem como o mar vermelho para Moisés, e neste momento sei que a provoquei, mas me mostra também que esta é minha Quinn. A força descomunal de uma pessoa incapaz de desistir de qualquer coisa e ainda assim abrir mão de tudo por quem ama. Esta é a minha Quinn, a ex-cherrio, mãe adolescente, sobrevivente a um acidente quase fatal. E com isso me vem a palavra que a define.

“Força.”.

Sussurro baixinho, mas o suficiente para ela ouvir. Então com um rosto em confusão ela diz.

“O que?”.

Acordo do meu devaneio e continuo a falar como antes, praticamente exigindo dela uma resposta, uma atitude digna de Quinn Fabray. Pois ali estava a minha Quinn, prestes a se perder novamente e eu não permitiria isso.

“Você vai desistir? Vai me deixar casar com ele?”.

Ela fica mais uma vez furiosa e seu olhar é um misto de surpreso, raivoso e amoroso. E só agora percebi, os olhos de Quinn sempre foram amorosos, mesmo que disfarçados com seu olhar gélido, eles sempre foram amorosos, pelo menos quando eram direcionados a mim.

“O que você quer? Que eu impeça seu casamento? Quer que eu lhe impeça de destruir sua vida com Finn Hudson, a força?”.

Ela diz furiosa. Sabendo que a atingi e que minha Quinn está prestes a entrar nos trilhos novamente, continuo como que a desafiando.

“Você disse que é Quinn Fabray, não estou vendo agir como ela. Pois lhe garanto que ela não permitiria que isso acontecesse. Quinn quase morreu para impedir que eu me casasse, porque você, que se diz ser ela, permitiria tão facilmente depois do que eu lhe disse aqui?”.

E ali estava de volta, minha amada Quinn Fabray. Com sua força e determinação sem limites, vi em seus olhos que ela jamais permitiria que eu me casasse, não depois de declarar meu amor por ela. E neste momento ela percebe o que eu lhe disse e toma uma decisão.

“Sim, eu permitirei que você se case.”

Ela diz com tranquilidade, o que me assusta, não apenas por seu tom de voz e a segurança nele, mas pelo que disse. Isso me deixa triste, e me faz dizer em tom baixo e choroso olhando para o chão, incapaz de olhar nos olhos da mulher que acaba de desistir de mim.

“Pensei realmente que você me amasse tanto quanto te amo. Que quase ter morrido lhe fizesse ver que sou nada ou ninguém sem você por perto. Que sem você pra me obrigar a ser forte, seria apenas mais uma pessoa comum neste colégio, que jamais lutaria pelos meus sonhos. Foi pra te dizer isso que eu vim atrás de você! Para lhe dizer que te amo também, como jamais amei Finn, mas você permitiria que eu me casasse com ele. Por que Quinn? Se você...”.

Sou cortada por seus lábios contra os meus em um beijo doce e suave. Um beijo aguardado por anos, ansiado por ambas. O beijo que mostra o quanto nos amamos.

Segundos depois ela se afasta suavemente, e quando a olho em confusão, ela acaricia meu rosto com uma mão, enquanto a outra circunda minha cintura me puxando para mais perto.

Então sorrindo, o meu sorriso, o sorriso que alcança seus olhos ela diz divertida.

“Eu disse que permitirei que se case, não disse que era com ele ou qualquer outro.”

O olho surpresa e ela continua.

“Obrigada por me dizer. Por me trazer de volta, por me salvar mais uma vez.”

E me dá um selinho demorado e se afasta encostando sua testa na minha. Então digo baixinho.

“E com quem eu me casarei?”

Ela sorri, me olha diretamente nos olhos e diz contra meus lábios.

“Comigo! Com quem mais seria Rachel? Quem mais te amaria tanto que tornou impossível tal sentimento não ser correspondido? Quem voltaria do inferno por você, para lhe dizer que te ama. Peço desculpas por um momento não ter notado que este amor é nosso, não apenas meu ou seu, e por isso lhe imploro, case-se comigo Rachel. Eu te amo.”

Fecho os olhos por causa da emoção que aquelas palavras causam em mim. E quando os abro novamente vejo seu olhar sincero, livre de qualquer máscara ou receio. Vejo nos seus olhos todo o amor que ela sente e quero que ela sinta o mesmo através do meu olhar.

E sem desviar os olhos pergunto ainda com meus lábios roçando os dela com um pequeno sorriso.

“Quando?”.

Ela sorri, me dá mais um selinho e responde.

“Hoje, em uma semana, um mês, daqui alguns anos... não me importa quando, desde que você aceite, desde que você permita-me lhe amar, lhe fazer feliz, estar com você...”.

Sorrio em resposta e a beijo com amor e devoção. E ali ela sente que eu não poderia me casar, amar e viver com outra pessoa que não ela. Mas como minha voz, além do meu sentimento por ela, é o que tenho de mais poderoso, respondo ao terminar o beijo.

“Sim, realmente não poderia ser outra pessoa que não você. Te amo tanto Quinn.”

Ela sorri e me beija novamente. Como que selando uma promessa.

Minha Quinn está de volta, e eu não poderia estar aqui por mais ninguém.