17/12 - Segunda-Feira

Minha mãe não estava brincando quando disse que tinha algo pra mim na sala. Isso porque ela fez o meu vestido para o baile com a cortina da varanda.

Era vermelho como sangue, de uma manga só, com babados que a minha mãe costurou com o véu da fantasia de pirata dela (sim, ela tem uma fantasia para… você sabe) e longo de arrastar no chão. Não era exatamente bonito, mas decidi vesti-lo mesmo assim, até porque eu não estava indo para lá para me divertir.

Coloquei ele, porém não quis usar um salto alto (ainda não aprendi a andar com eles), então coloquei o meu tênis dourado e mamãe fez um coque de lado no meu cabelo.

─ Você está linda ─ sussurrou mamãe, dando um abraço em mim quando entrei no carro. O baile começava as oito da noite e mamãe iria me levar até lá.

Enquanto íamos para a escola, que era a uns quinze minutos da minha casa, coloquei uma música desconhecida para tocar, porém ela me deixou um pouco deprimida com o seu “I guess we can blame it on the rain”, porque estava realmente chovendo. Aliás chovendo horrores.

Então a possibilidade de que algo ia dar errado me deixou apavorada. Não contei para mamãe que talvez eu nem fosse entrar no baile, que eu não tinha um par e que provavelmente Lizzie estava ficando louca por me mandar vir.

E pensei realmente em mandar ela voltar, mas aí, já estávamos em frente a escola. O portão da frente estava todo decorado com balões dourados e dois seguranças estavam parados na frente.

─ Lexi, cadê o seu par? ─ perguntou mamãe, parando o carro em um ponto morto e tentando olhar por sobre o meu ombro.

─ Está lá dentro, não se preocupe ─ menti, tirando o cinto de segurança ─ Obrigado por me trazer, e me deseje sorte!

─ Ah claro, boa sorte querida. Volte amanhã antes das dez ─ murmurou ela, dando um beijo na minha testa. Eu iria dormir na casa da Val, por isso só iria para a casa de manhã.

Desci do carro e estava apenas chuviscando, e eu não tinha um guarda-chuva. Na verdade, fiquei uns bons minutos parada do outro lado da rua sem saber o que fazer. Eu deveria mandar uma sms para Lizzie, mas infelizmente havia deixado meu celular em casa.

Respirei fundo e atravessei a rua, porque, eu ia passar pelos seguranças nem que fosse a última coisa a se fazer. Os dois me olharam desconfiados e eu segui reto em direção ao portão fechado. Quando empurrei para poder entrar, um dos seguranças me puxou pelo braço.

─ Aonde a senhorita pensa que vai? ─ perguntou o mais alto, que estava segurando meu braço.

─ Ué, eu vim para o baile ─ respondi, balançando os braços como se eu estivesse dançando.

─ Então, cadê seu par? ─ perguntou o outro segurança, mais novo e mais baixo que o que estava me segurando ─ Porque você deve saber que não pode entrar desacompanhada.

Fiz a minha cara de “eu vou chorar por causa de vocês” misturada com “sou uma jovem dama frágil” para tentar sensibilizá-los. Mas não deu certo.

─ Realmente, eu preciso entrar ─ pedi, tremendo de frio. Maldita chuva!

─ Daqui você não passa ─ alertou o segurança, soltando meu braço.

Os dois, vendo que a chuva estava piorando, abriram o portão, depois o fecharam e foram para dentro, iriam ficar cuidado de tudo pelo lado de dentro.

Então eu fiz algo realmente imprestável.

Segurei o portão de ferro e pulei, para ver se conseguia entrar sem abri-lo e assim fazer muito barulho. Consegui passar uma perna para o outro lado, porém, quando fui passar a outra, a ponta do meu vestido ficou presa e eu rolei.

E eu não sabia se era sorte eu não ter caído ou ter ficado pendurada com o meu rosto a trinta centímetros do chão.

─ Droga, porque eu fui ouvir a Lizzie? ─ perguntei baixinho para mim mesma. Ela seria a próxima a me enganar, era isso? Ela estava o que, do lado da Bianca também?

Ouvi passos pela estrada mas não consegui ver quem era.

─ Seja lá quem for, não estou assaltado a escola, eu juro! ─ exclamei, tentando virar meu pescoço em vão.

─ Alex, o que você está fazendo ai?

Eu conhecia aquela voz, era Rony! Mas o que ele exatamente estava fazendo ali?

─ Você pode me dar uma ajudinha? ─ pedi, ficando imóvel.

O portão foi aberto e eu fiquei meio zonza com o balanço que ele deu. Rony tentou desamarrar a fita da minha cintura que havia ficado presa.

Enquanto ele fazia seu “trabalho” fiquei observando seus joelhos.

─ Cadê seu par? ─ perguntou ele.

─ Não tenho um ─ admiti, olhando agora para o chão ─ E o seu?

─ Também não tenho um. Lizzie pediu que eu viesse trazer para ela um casaco ─ revelou.

Maldita, maldita, maldita! Que as almas obscuras do inferno tenham ouvido o que ele havia falado! Elizabeth havia armado para que eu fosse ao baile com o irmão dela!

Senti um puxão na minha cintura, então eu subi. Dei um grito, e depois parou, e eu fiquei suspensa a um metro do chão.

─ O que aconteceu? ─ perguntei, me debatendo. Não gostei muito daquilo, agora eu estava na altura da cintura dele e do… an, bem, deixa pra lá.

─ Desculpa, foi mal. Puxei o fio errado, pronto, espera ai.

Ele puxou a fita com tudo e dessa vez eu cai, porém, ele me segurou antes que eu sequer pudesse me dar conta de que estava caindo.

E lá estava eu, nos braços do belo Ronald Stark. Fiquei olhando para ele seriamente.

─ Obrigada, mas você pode me soltar? Acho que consigo dar a volta atrás da escola ─ murmurei, tentando não olhar para o rosto dele.

Rony suspirou e me colocou no chão gentilmente. Ele estava todo elegante, com um terno azul escuro e uma gravata preta.

─ Vamos lá ─ disse ele, estendendo a mão pra mim ─ Você vai entrar comigo, acho que posso te ajudar.

Continua...