Ressurreição escrita por Jaque de Marco


Capítulo 2
Capítulo 1 - O pensamento de Carlisle


Notas iniciais do capítulo

PARTE 1

— GENESIS -



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Eu estava decidida, não iria descer! Não importava o quanto Alice pedisse, a vergonha que sentiria depois ao olhar para Carlisle e Esme ou o sermão que Charlie faria. Não desceria! Edward tinha prometido que não seríamos mais motivo de comentários. Já não bastasse o fato de estarmos nos casando aos dezoito anos. Bom, tecnicamente, já que eu tinha dezoito anos.

A questão era: já não estávamos com casamento marcado? Dia treze de agosto! Por que a ridícula idéia de uma festa de noivado? Não, não desceria! Edward havia me metido naquilo, agora ele que encarasse a família dele, Charlie e quem mais estivesse na casa dos Cullen hoje para cancelar tudo.

Eu ouvi algumas batidas leves vindas da porta. Sabia que pela educação no toque, somente uma pessoa poderia estar ali.

- Edward, já falei que não vou! – eu gritei.

- Bella, você é tão exagerada. Abra a porta – senti um tom ligeiramente desdenhoso entre as palavras educadas.

- Você sabe o que acho de tudo isso! Se quiser entrar, vai ter que derrubar a porta do quarto da Alice!

- Como se eu não pudesse fazer isso. – o ouvi comentar em voz baixa - Se não quiser descer, tudo bem, mas me deixe conversar com você.

Eu podia até formar em minha mente a expressão facial que ele devia estar fazendo. Os lábios curvados em um meio sorriso, os olhos que me deslumbravam. Eu não tinha como não obedecer. Devagar eu caminhei até a porta e girei a chave.

Assim que abri, vi que Edward estava parado, jogando o peso de seu corpo na perna esquerda, repousando o braço no batente da porta. Como ele conseguia sempre estar tão lindo? Ele provavelmente sentiu a aceleração dos meus batimentos, pois seu sorriso se intensificou e ele me beijou levemente nos lábios. Mas, tão rápido como começou acabou, só dando tempo de quebrar todas a minhas defesas. Quando Edward começou a falar eu já estava mole. Faria qualquer coisa.

- Não estou exatamente contente com essa história, mas pensando bem a situação é propícia. – ele falava a um palmo de distância de mim – Nós comunicamos nossas famílias sobre o casamento, mas elas nunca interagiram juntas a idéia. Será bom juntarmos todos para resolvermos alguns detalhes.

- Alice está tratando tudo como uma festa de noivado. – resmunguei.

Edward segurou o meu queixo com uma das mãos. A pele gélida me fez tremer levemente. Nunca me acostumava inteiramente ao fato de eu, uma pessoa completamente normal, namorar um deus grego feito de mármore.

- Entenda, nós já passamos por casamentos na família, mas com o passar dos anos eles passaram a parecer fictícios e algumas vezes desnecessários. Bella, Alice vive através de você, não percebe?

Sabia disso. Às vezes tinha a impressão que Alice Cullen, a meia irmã de Edward, me via como uma boneca. Ela ultimamente estava fazendo coisas que me tirariam do sério se ela não fosse a minha melhor amiga e a minha integrante dos Cullen preferida, depois de Edward, claro.

Edward puxou meu rosto para mais perto do dele e me beijou novamente. Dessa vez o beijo não foi leve como o primeiro. Seus lábios tocaram o meu com mais intensidade mais, bem mais, sedutores. Ele estava aprendendo (na verdade já devia saber há tempos) como me deixar completamente de pernas bambas. Antes que eu pudesse acompanhar o seu ritmo e aprofundar mais o beijo, ele se separou de mim, encostando seu nariz ao meu. Ficamos com os olhos fechados, quietos, por alguns segundos.

- Bella, meu amor... – Edward interrompeu o silêncio com uma voz melodiosa - ... vamos descer.

Não conseguia nem se quer falar, quanto mais negar a um pedido desses. Somente balancei a cabeça positivamente. Edward levantou o rosto e beijou minha testa. Eu fechei os olhos ao toque. Ele era sempre tão gentil. Saímos do quarto de Alice de mãos dadas. Com ele ao meu lado, iria a qualquer lugar.


Depois de uma hora e meia os convites já tinham sido trocados de um tom azul bebê para salmão, voltando para azul turquesa claro, meus padrinhos tinham mudado de Alice e Jasper para Carlisle e Esme e o local da festa não seria mais no terreno da mansão dos Cullen e sim em um grande salão de festas numa saída da estrada a caminho de Bogachiel.

Charlie, Esme e Carlisle estavam conversando há alguns metros de onde estava sentada. Não sabia se me concentrava neles ou em Alice que rodopiava em volta de Jasper, provocando risos de Rosalie e Emmett. Todos pareciam tranqüilos com a idéia de que dali a dois meses teriam um casamento para ir. Era claro que eu era a única nervosa com essa história toda.

Senti um toque gelado no meu ombro e levantei os olhos. Edward estava trazendo um copo com suco. Ele já estava bem adaptado ao fato de que eu precisava me alimentar com mais freqüência que ele.

- Obrigada.

- Não por isso. – ele contornou a beira do sofá, sentando-se ao meu lado. Eu encostei a minha cabeça em seu ombro não me importando o quão frio e rígido era.

- Eu quero dizer obrigada por tudo.

- Achei que não estava gostando da idéia da reunião familiar. – senti seu tom divertido.

- Não gosto da idéia do casamento. Mas adoro a idéia de juntar todos que amo.

Edward virou-se, fazendo com que eu levantasse minha cabeça. Ele estava me encarando sério.

- Você deveria ter medo de colocar seu pai em tamanho risco. Somos perigosos, Bella.

Eu odiava quando ele agia como se quisesse que eu me afastasse, que fugisse correndo de medo. Ele já devia ter se acostumado ao fato de que eu jamais faria isso.

- Charlie sabe se cuidar e além do mais eu confio nos meus vampiros preferidos. – brinquei. Edward apertou os lábios, mas seu sorriso não alcançou seus olhos. Eu sabia exatamente o que devia estar passando em sua mente, mas eu tinha certeza de tudo o que estava fazendo. Era minha decisão ser como ele. Não era como se eu estivesse escolhendo ser um monstro, eu estava escolhendo viver ao lado de Edward para sempre.

Segurei sua mão e ele passou o braço pelo meu ombro. Eu me virei a tempo de ver Carlisle se aproximando, deixando Esme numa conversa aparentemente interessante com Charlie.

- Desculpa-me por tudo isso, Bella – o “pai” de Edward era tão educado quanto o filho.

- Não tem pelo o que se desculpar.

- Posso? – Carlisle apontou a poltrona a nossa frente. Edward sorriu e acenou com a cabeça. Ele sentou-se de uma forma perfeitamente elegante.

- Está mais animada com o casamento?

Perguntei-me se Edward havia conversado com Carlisle sobre o fato de eu não estar dando muita importância para a cerimônia ou se ele percebera isso nas minhas atitudes. De qualquer forma, a resposta não seria muito boa se contasse a verdade. Resolvi ser educada.

- Estou sim.

Edward deixou escapar um leve riso que me entregava.

- Casamento é algo assustador mesmo. Não é de se estranhar que tema a idéia, Bella. – Carlisle falou gentilmente.

- Não tenho medo, eu simplesmente nunca pensei ser do tipo que se casa. Pelo menos não aos 18.

Carlisle riu. Seus dentes eram perfeitamente brancos e o sorriso formava covinhas nas laterais de seu rosto pálido.

- Já vi tempos em que mulheres na sua idade se consideravam velhas demais para ficarem solteiras.

- Bella não teria esse problema de ficar solteirona – Edward comentou divertido – Ela infelizmente tem bastante pretendentes.

Carlisle riu educadamente e eu senti minha pele corando. Tentei fazer uma nota mental para não me esquecer de reclamar com Edward pelo comentário na frente de seu pai.

- Você é uma pessoa inteligente. Todos sabem da sua capacidade e independência. Ninguém te criticaria por estar se casando, Bella.

Ouvi um suspiro de Edward após o comentário de seu pai. Eu sabia que a pessoa que mais teria motivos para esse casamento não acontecer era quem mais o queria. Edward ainda temia pela minha salvação, em diversos sentidos. Eu sabia que ele devia ter muitas coisas em mente no momento. Eu apertei mais fortemente minhas mãos na dele, sentindo uma dor fraca como se estivesse tentando apertar uma pedra.

- Ela sabe que pode ser diferente – Edward comentou numa voz baixa, mas firme.

Eu virei para encará-lo. Ele estava olhando para frente.

- Não poderia ser diferente não, Edward.

Como ele poderia pensar que eu escolheria algo além de ficar para sempre com ele? Se casamentos, transformações em vampira e tudo o mais fosse o preço para estar com Edward, eu pagaria.

- Bella fez sua escolha, Edward.

- Isso porque somente ela tem a dádiva da escolha, Carlisle. – Edward não alterara o tom de voz em nenhum momento, mas era nítida a importância que ele dava a cada palavra – Não conseguiria viver sem Bella, mas sei todas as coisas que farei ela renunciar e isso me faz mal. Isso me faz mal, mas não consigo que seja diferente.

Edward ainda olhava para frente, então forcei com minha mão o seu rosto em minha direção. Seus olhos estavam vazios e seu rosto sem expressão.

- Eu nunca pediria para ser diferente. Quero estar com você.

- E eu não quero estar com mais ninguém a não ser você, Bella. Mas gostaria que você não corresse o risco de perder sua alma por mim.

- Edward...

- Se houvesse uma forma de estar com você sem ter esta eterna dúvida, Bella, eu a escolheria.

Seu corpo ficou rígido por um momento e ele pareceu esquecer de respirar por alguns segundos.

- O que? – ele questionou. Inicialmente achei ter sido para mim, mas então vi Edward se virando para encarar Carlisle.

O vampiro estava tão rígido quanto Edward na poltrona a nossa frente. Ele encarava o filho com uma expressão clara de arrependimento.

- Não disse nada.

- Eu ouvi, Carlisle.

- O que foi, Edward? – perguntei.

Edward olhou para mim, seus olhos estavam vivos. Ele me encarou por alguns segundos, parecia me analisar. Percebi que ele voltara a respirar, parecia estar voltando ao normal. Ele segurou meu rosto com suas mãos e me beijou levemente nos lábios.

- Nada. Não se preocupe.

Fiquei desnorteada por alguns segundos. Os olhos de Edward sempre me deixavam tonta e depois de um beijo ficava completamente fora de mim. Olhei para frente e vi que a poltrona estava vazia. Procurei com os olhos pela sala e vi Carlisle se afastando, seguindo em direção à cozinha.

Antes que pudesse perguntar algo a Edward, senti um puxão em meu ombro.

- Bella, estava comentando com Rosalie que seu vestido deve ser cheio de renda, o que acha? – Alice estava parada nas costas do sofá, debruçada sobre meus ombros, ficando com o rosto quase colado ao meu enquanto falava animadamente – Daria um tom clássico ao vestido. Embora, claro, o corte terá que ser moderno. Nada de calda muita longa, levando em consideração o seu certo problema com equilíbrio.

- O que você achar melhor. – comentei.

Não estava realmente ouvindo o que Alice estava falando. Percebi que Edward aproveitara a chegada de sua meia irmã para levantar do sofá. Antes que pudesse perguntar algo ele já estava rumando na direção que Carlisle havia tomado há pouco.

Perguntei-me o que teria perturbado tanto Edward. Não era como se ele estivesse preocupado ou coisa do gênero. Ele parecia estar com coisas em sua mente que não queria compartilhar comigo.

- Bella? – ouvi Alice me chamando.

- Sim.

- Você ouviu o que eu falei? – ela me encarava com uma carranca. Tentei forçar em minha mente as palavras de Alice, mas não havia nada. Não estava realmente prestando o mínimo de atenção.

- Claro.

- Então concorda?

- Sim. – Me perguntava com o que eu estaria concordando.

- Perfeito!

O sorriso de Alice era quase maquiavélico. Sabia que me arrependeria por ter mentido.


Fazia alguns dias que a minha caminhonete não estava funcionando corretamente. Às vezes ela se negava a ligar, às vezes ela ligava, mas não havia jeito de trocar de marchas e às vezes ela simplesmente parava de funcionar, não importando se eu estava no meio da cidade ou numa estrada sozinha. Por isso, nos últimos dias evitava ao máximo dirigir. Edward insistira em buscar a mim e Charlie para a reuniãozinha na casa dos Cullen.

Estávamos todos no volvo prata de Edward a caminho de casa. Era incrível que quando meu pai estava no carro Edward nunca passava de 60 quilômetros por hora.

Charlie estava conversando com ele sobre o número de convidados para a cerimônia e festa. Edward interagia educadamente, mas eu sabia que ele estava distraído demais para estar realmente envolvido na conversa.

Na reunião, Edward ficara um bom tempo na cozinha junto com Carlisle. Eu pensei várias vezes em ir ver o que eles tanto conversavam, mas sem Edward por perto passei a ser uma presença requisitada pelos demais membros da reunião.

- Chegamos. – Edward comentou assim que o volvo encostou ao lado do carro patrulha do Charlie estacionado em frente à casa.

- Obrigado, Edward. – Charlie cumprimentou enquanto saía do carro – Não demore, Bella.

- Não vou.

Assisti em silêncio Charlie caminhando até a casa. Só comecei a falar quando o vi abrindo a porta.

- Você está tão pensativo.

Edward sorriu e virou-se, ficando de frente para mim. Eu me aproximei dele, ficando a um palmo dos seus lábios.

- Charlie está nos observando – Edward advertiu divertido.

- Ele vai sobreviver a isso – eu disse pouco antes de beijá-lo.

Edward não deixou o beijo se aprofundar muito, logo se separando de mim. Apesar disso, notei que meu ato fizera efeito, pois Edward estava com um sorriso sincero nos lábios e seus olhos estavam com o tom dourado que tanto adorava.

- Bella, você não devia fazer estas coisas. Você não faz idéia do que passa na cabeça de Charlie toda vez que ele nos vê se beijando.

Sorri do comentário dele. Já imaginava que Charlie não gostava de me ver com Edward somente por suas atitudes, fiquei me perguntando como seria para Edward lendo o que se passava na mente dele.

Virei-me e encostei-me ao seu peito. O tecido de sua blusa amenizava o gelo de sua pele. Edward passou seu braço por meu ombro. Ficamos naquela posição por alguns segundos.

- Bella, você sabe que é a minha vida, não?

- Mas é claro. Assim como você é a minha – respondi abruptamente, abalada pelo susto da pergunta de Edward.

- Eu nunca faria nada para te machucar e tudo o que fiz, faço e farei sempre, sempre, será pensando no melhor para você...

- Edward, por que está dizendo tudo isso? – me virei, ficando de frente para ele.

Não conseguia ler a expressão de seu rosto. Não havia tristeza, muito menos felicidade, ele estava somente leve. Como se estivesse aliviado. Nunca o vira daquela maneira.

- Bella, sei que você não concorda comigo, mas você sabe o que penso sobre a transformação – tentei dizer algo, mas ele foi mais rápido ao colocar seu dedo indicador nos meus lábios – Não, deixe-me terminar. Eu ainda acredito que possa ter uma alma e isso foi um dos pontos que me ajudaram a manter a minha existência todos estes anos. Hoje, a minha razão é você. E se já me preocupava com a minha salvação, imagina com a sua.

- Você é minha salvação. A minha desgraça seria ficar sem você.

- Vejo as coisas desta maneira também e isso é algo que nunca tentaria sequer mudar. Mas se houvesse uma maneira diferente para estar com você eu a faria, você sabe disso, não?

- Eu sei, Edward.

Não conseguia entender o ponto da conversa. Ele parecia levar todas aquelas palavras muito a sério. Tudo o que mais temia era perder Edward, isso era inconcebível para mim. Eu precisava ficar ao lado dele, seja como fosse. Para sempre.

Eu me pus de joelhos no banco do carro, ficando quase na mesma altura de Edward sentado a minha frente, e o abracei forte. Seus braços envolveram a minha cintura e ficamos nessa posição por um tempo que pareceu ser uma eternidade.


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