Improváveis Vestígios escrita por Jaque de Marco


Capítulo 5
Capítulo 5 - Onde se encerra o infinito




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Estava tudo tão escuro. Não podia enxergar nada muito além de suas mãos estendidas. O caminho se tornava cada vez mais difícil, mas seus passos se tornavam cada vez mais apressados. Estava com medo... Muito medo!

Sentia a umidade das paredes se tornando cada vez mais intensas. Ouvia as gotas grossas pingando intensamente sobre si... como se o cômodo estivesse suando ao seu redor. Tinha a impressão de que o teto cairia sobre sua cabeça a qualquer momento.

Pisava em poças d'água. O chão molhado dificultava extremamente seu caminho. Pisando em falso, ela caiu no chão... Não tinha tempo a perder, então se levantou rapidamente. Estava suja, molhada e apavorada.

Respirava rapidamente, mas tentava com todas as suas forças não fazer barulho... Tinha medo de que alguém a ouvisse. Tinha medo, alguém estava às suas costas.

Aos poucos, percebeu que o lugar se estreitava a cada passo que dava, até um ponto em que podia sentir as paredes roçando em seus braços. Apertou ainda mais o passo. Corria. Corria para fugir. Agora não pensava mais em não ser ouvida. Queria viver, só isso!

Ao longe avistou o contorno iluminado de uma porta. A luz que vinha por detrás dela iluminava toda a volta da porta alta e estreita. Ela correu com ainda mais pressa. Precisava sair daquele lugar. Não podia demorar.

Conforme se aproximava do contorno da porta, sua visão se tornava turva; a claridade era ofuscante!

Tateou a maçaneta com pressa. Estava trancada! Procurou rapidamente sua varinha nas vestes.

- Alorromora!

O ranger da porta se abrindo era assustador. Manteve sua varinha em mãos e empurrou com força o corpo contra a porta pesada.

A luz cegou-a no mesmo instante em que atravessou a porta por completo. Sentia mais medo do que nunca. A breve cegueira foi diminuindo conforme seus olhos se acostumavam com a claridade. Sentiu-se acuada... Não tinha muita escolha a não ser seguir em frente. Caminhou a passos lentos vendo aos poucos uma figura se formar em sua frente. Algo estava jogado ao chão.

Caminhando devagar, ela pôde notar que o que estava no chão era um corpo... Um corpo inerte, uma mulher morta. Seu coração começou a bater forte quando seus olhos detectaram o grisalho dos cabelos da pessoa. Os fios se misturavam ao sangue que formava poças no chão.

Apesar de seus olhos mostrarem uma mulher idosa morta, seu coração tinha esperança de que não fosse quem ela imaginava. Abaixou-se perto do corpo e, com o extremo cuidado, ela o virou vendo a massa de sangue no lugar do rosto.

Em fração de segundos, o rosto ganhou forma e já não era mais a sua avó Helen, mais sim ela mesma, Joss Atkinson. Com os olhos arregalados, ela a encarava. Seus olhos sem vida estavam agora contornados de sangue que escorria de sua cabeça.


Estava quase sem ar.

- O que houve, Joss? – a bruxa ouviu a voz alarmada de Scorpius.

Com receio do que pudesse estar acontecendo, ela abriu os olhos com cuidado. Encarou os olhos azuis tão assustados de Scorpius bem próximos ao seu e o abraçou fortemente.

- Estou ficando preocupado. – disse ele segurando o rosto dela – O que houve?

- Ela foi atacada... eu estava lá...

- Joss, foi somente um pesadelo. Calma!

Um pesadelo? Mas para ela foi tão real. Joss ainda não conseguia pensar direito, mas aos poucos foi tomando consciência de que escorriam lágrimas de seus olhos. Seu coração batia forte e sua respiração estava ofegante.

O pesadelo era sempre o mesmo: ela fugindo de algo, um escuro corredor, uma porta e sua avó morta se transformava nela mesma, embora quando acordava as imagens do sonho fugiam de sua mente. Às vezes os pesadelos tinham ângulos diferentes, cenas novas, mas o terrível fim era sempre o mesmo.

- Tenho tanto medo.

Ela abraçou ainda mais forte o tórax desnudo de Scorpius, recebendo um afago gentil, quase fraternal. Nos cinco anos, desde que recebera a marca negra e se tornara Comensal da Morte, vira muitas mortes e coisas que não conseguia entender como qualquer ser humano poderia suportar, mas ela era obrigada a suportar.

- Vou buscar um copo de água com açúcar para você...

- Não, não precisa. Já estou bem. – disse ela um pouco ríspida se apartando do abraço.

Não queria se apegar desta maneira com alguém, especialmente Scorpius. Ele sempre esteve ao seu lado, era seu melhor amigo. Tinha medo de perder tudo por um sentimento mal entendido. Sabia que gostava de Scorpius, gostava até demais em sua opinião. Mas não era para ser assim.

Scorpius lançou para ela um olhar rude e levantou-se, cobrindo-se com o lençol amarrotado.

- O que você quer, Scorpius?

- Joss, estamos juntos há meses e você faz de tudo para fingir que nada está acontecendo. Qual é seu problema?

- Você sabe que não podemos ficar namorando por aí como se fossemos adolescentes...

- Não seja ridícula! – Scorpius disse caminhando em direção ao banheiro.

Joss olhou ao redor e enfim sentiu o seu coração voltar ao batimento normal. Estava em seu quarto. O sol iluminava singelamente o lugar, burlando as janelas fechadas.

Vendo a cama desarrumada, ela lembrou-se do que houve na noite anterior. Nunca resistia a ele. Odiava-se por isso! Não queria ser tão vulnerável a ele.

Suas roupas estavam largadas no chão, ao lado da cama. Sentindo uma ligeira timidez, ela pegou suas vestes do chão, vestindo a calça jeans e a blusa preta ainda com o cheiro de Scorpius.

O barulho do chuveiro começou a vir do banheiro. Joss não gostava de ser tão rude com Scorpius. Às vezes ele conseguia tirá-la do sério com apenas uma única frase, mas em compensação ele era o único que conseguia acalmá-la.

Levantou-se, já vestida, e pegou as roupas de Scorpius do chão. A porta do banheiro estava apenas encostada. Joss sabia que não havia sido um mero esquecimento dele. Empurrou a porta e sentiu o vapor quente do chuveiro ligado.

Podia ver Scorpius por detrás do box fumê. Não era à toa que se sentia tão atraída por ele. O corpo de Scorpius era o modelo ideal de um homem no auge de seus 23 anos... era esguio, ligeiramente musculoso e a cor de sua pele tinha uma palidez saudável.

- Trouxe sua roupa.

- Pode deixar aí pendurada.

- Você está com raiva de mim?

Scorpius desligou o chuveiro e, cobrindo-se com uma toalha, saiu do box.

- Por que eu deveria?

- Scorpius, nós estamos numa guerra e...

- Essa história de novo. – Scorpius pegou sua camisa, que estava ao lado de Joss. – Eu mexo com você. Está apaixonada... Só falta admitir.

- Não, Scorpius, não começa de novo.

- Por que não? – Scorpius prendeu-a em seus braços. Joss perdia o controle sentindo-o tão perto de si e ele sabia disso – Eu sei que sou o único bruxo do mundo que a entende. Que sabe a pessoa maravilhosa que existe por debaixo dessa massa fria e sem graça.

- Scorpius!

- Não, sério. – e então seu rosto mudou. O tom de voz do bruxo estava repentinamente urgente. – Vamos fugir. Vamos largar essa luta idiota, viver algo que realmente valha a pena. Quem sabe nos Estados Unidos. Construir uma vida, nós dois.

Antes que Joss pudesse dizer algo, um forte ardor em seu braço fez com que ela se separasse de Scorpius. Ao olhar para o bruxo, ela teve certeza de que ele sentira o mesmo. Era a Marca Negra. Havia serviço para ser feito.

- Precisamos ir.

- Ah, o que poderia ser dessa vez? Um idiota que acionou o tabu ao falar o nome do Lorde? – Scorpius debochou enquanto secava seu cabelo em uma toalha branca.

- Trabalho é trabalho.

Scorpius se aproximou de Joss e beijou-a suavemente. Aquele beijo era único para ela. Ele conhecia exatamente os seus pontos fracos.

- É melhor você ir... Daqui a pouco nos vemos lá embaixo.

Ela viu o olhar ressentido de Scorpius, pouco antes dele pegar suas roupas e desaparatar sem dizer uma única palavra.


- Mas isso é um absurdo, Rony! – Teddy bateu o punho na mesa enquanto falava – Devíamos ir até lá e acabar logo com isso!

- Não podemos agir por impulso. Sabe-se lá quantos comensais encontraríamos.

- Mas Mundungo já disse que eles devem ser menos de cinqüenta...

- E desde quando você confia nas informações de Mundungo, Gina? – Rony elevou o tom de voz.

Hermione sabia que a discussão estava longe de ser encerrada. Sempre era a mesma história quando descobriam novas pistas sobre o paradeiro de Voldemort. A maioria queria enfrentar os comensais na tentativa de acabar logo com a guerra, mas Rony aprendeu a ponderar as informações e pensar nas conseqüências dos seus atos. Hermione sabia que fora a duras penas essa consciência do marido; somente nos últimos anos eles sofreram grandes perdas como Neville Longbottom, Kingsley Shacklebolt, Gui e Fleur Weasley.

Rony endurecera com a guerra. Hermione não lembrava a última vez em que vira seu marido sorrindo. Ele tomara para si a responsabilidade da Ordem e, consequentemente, sentia-se extremamente culpado quando algo saía errado. Só Deus saberia dizer o quanto a mente do bruxo estava carregada de culpa pela morte de quase toda sua família nestes últimos anos. Hermione gostaria de dar a ele a boa notícia de que sua filha Rose estava viva, mas não tinha certeza desta informação. Há alguns anos soube do paradeiro da senhora a quem entregara a menina, mas as informações pareceram sumir no passar dos anos. A única coisa concreta que conseguira descobrir era que a senhora tivera uma neta, mas mesmo esta, Hermione não tinha conhecimento por onde andava.

- O que eu estou dizendo é que não vamos colocar mais pessoas em risco por uma informação ainda não checada.

- Você sempre diz isso. Estou farto!

- Vamos mandar uma equipe ao local para averiguar a situação. Caso esteja certo o esconderijo Daquele-que-não-deve-ser-nomeado iremos até lá e acabaremos com tudo. Enquanto isso, Teddy Remo Lupin, você obedecerá ao que digo e ficará aqui!

Teddy encarou Rony por um breve momento. Seu cabelo estava com um tom alaranjado, semelhante a chama de fogo, e seu olhar ainda era rude, mas ele não falou mais nada, levantou-se e saiu da sala batendo a porta ao passar. Victoire, ligeiramente constrangida, levantou-se logo em seguida e saiu da sala murmurando algo como “desculpem-me”.

Rony voltou a sentar-se em sua cadeira visivelmente abalado. Teddy era o mais próximo que ele tinha como filho e Hermione tinha certeza que estas discussões sobre táticas de guerra o magoavam demais.

Os demais bruxos na sala pareceram esperar que os ânimos fossem acalmados e não falaram mais nada.

- Jorge, monte uma equipe e verifique as informações de Mundungo. Veja se é seguro irmos até lá.

Jorge assentiu.

- Bom, acho que é isso. – Hermione mal terminara a frase e os demais levantaram de seus lugares, saindo da sala deixando ela e seu marido sozinhos.

Estavam na antiga casa da família Black, no número 12 de Grimmauld Place. Desde que o celeiro tornara-se pequeno demais para os inúmeros adeptos à causa dos rebeldes, parte da Ordem mudara-se para o local, servindo como segundo quartel general. Teddy, afilhado de Harry Potter, era o novo dono da casa.

Hermione aproximou-se de Rony. Ele ainda estava sentado, encarando a mesa. Ela abraçou-o por trás, dando um delicado beijo em seu pescoço.

- Você não devia ser tão rude com ele.

- Hermione, ele vai me substituir quando eu morrer. Ele precisa aprender que para ser um bom líder é preciso pensar antes de agir.

- Você não era assim na idade dele. – Hermione contornou a beirada da mesa, sentando-se ao lado do bruxo. Ela voltou a falar de forma mais leve, quase divertida – Rony, ele é muito mais maduro do que você era aos trinta.

- Ele definitivamente não se parece comigo. – Rony bufou.

- Entende-se. Afinal, Teddy não é seu filho.

- Não, claro que não é. – Rony ficou sério rapidamente – Nossos filhos estão mortos.

- Hugo está morto!

Hermione corrigiu Rony com o tom de voz um pouco alterado. Ela odiava a mania do marido de falar em Rose como se ela estivesse morta.

- Vamos lá, Hermione, encare os fatos. Não temos notícias de Rose há mais de vinte anos. Você sempre foi tão sensata, me surpreende ver que ainda acredite na possibilidade dela ter sobrevivido a essa guerra.

- Sim, eu acredito.

- Ah, você acha que aquela senhora extremamente boazinha cuidou da nossa filha e protegeu-a de todo o mal?

- Existe uma possibilidade.

- Hermione, analise o que está dizendo! – Rony voltou a elevar a voz. Sua pele ganhou um tom rosado, muito comum quando ele ficava nervoso – No meio de uma guerra não há distinção de adulto, criança, homem e mulher. Só existem dois tipos de pessoas, culpados ou vítimas. Nossa filha passou a correr perigo a partir do momento em que a colocamos no mundo. Voldemort não pouparia a vida dela por ser uma criança ou...

Rony parou de falar assim que Hermione cobriu seus lábios.

- O que você fez?

Rony então entendeu o medo nas palavras e nos olhos da esposa. Acabara de acionar o tabu ao falar “Voldemort”. Ele puxou Hermione pelo braço para fora da sala.

- Todos a postos! Quero todos com varinhas à mão!

Rony mal terminara de alertar os demais na casa quando um jorro de luz verde atravessou a janela, quase acertando Audrey Weasley. Rumores de capas esvoaçantes eram ouvidos assim que diversos bruxos encapuzados aparataram na casa. A maioria dos integrantes da Ordem foi pega de surpresa e, enquanto procuravam as varinhas nas vestes, recebiam rajadas de feitiços lançados pelos comensais.

Hermione correu agachada por trás do sofá, aproximando-se de Victorie que estava abraçada com seu bebê. No caminho, estuporou dois comensais que lançavam feitiços em sua direção.

A alguns metros, Gina duelava com três comensais, logo sendo amparada por Carlinhos. Jorge, Teddy e Rony encurralaram dois comensais deixando-os desacordados com um feitiço.

Após convencer Victorie a desaparatar para um lugar mais seguro, Hermione correu para o lado do marido.

- Vamos sair daqui! – Rony gritou para os demais enquanto duelava com um comensal.

Um a um, os integrantes da Ordem foram desaparatando. Restando somente Rony e Hermione. Ela se recusara deixar o local sem o marido. Rony estuporou o Comensal com quem duelava.

- Vamos, Hermione! – Rony gritou e antes que os demais comensais se aproximassem, ele agarrou o braço do bruxo mascarado desacordado, com quem acabara de lutar, e desapareceu.

Hermione fechou os olhos e assim que o abriu estava no andar subterrâneo do celeiro que a Ordem da Fênix usava como esconderijo. O local estava muito cheio; provavelmente a notícia da batalha já chamara a atenção dos demais moradores do local. Rapidamente Hermione procurou ao redor pelo marido, encontrando-se há alguns metros, agachado sobre um corpo vestindo trajes negros e uma máscara de porcelana.

- Você trouxe um comensal, Rony!

Hermione ouviu Carlinhos gritar com o ruivo assim que se aproximou.

- Ele pode nos ser útil! – ele retirou a varinha das vestes do comensal e levantou-se, ficando a mesma altura do irmão – Não queríamos saber se a informação de Mundungo estava correta? Pois bem, agora podemos saber.

- Ele nunca nos falará nada!

- Usaremos Veritaserum nele, Audrey!

Um grande murmúrio foi ouvido. Hermione sabia que ninguém queria um comensal da morte por perto, mas o plano de Rony fazia sentido. Era muito mais seguro obter informações com um prisioneiro do que colocar uma equipe em risco para verificar.

Rony novamente inclinou-se para o corpo ainda inerte no chão.

- Vamos ver agora quem é você, comensalzinho de uma figa!

Rony tirou a máscara e um delicado rosto pálido foi revelado. Uma mulher, aparentando com pouco mais de vinte anos, estava desacordada.


Cenas do próximo capítulo:

“Sua visão voltou ao normal no exato momento em que um homem ruivo apertava as laterais do seu rosto, forçando sua boca a abrir, e lhe derramando um líquido frio.”

...

“- Eu preciso da sua ajuda!

Astoria parou de caminhar, mas permaneceu de costas por alguns segundos.

- Por causa dela. – o tom de desprezo era nítido nas palavras que a bruxa dizia.”


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