LUKE

Só parei de correr por sentir um cheiro estranho no ar.

Cravei as garras na terra. Olhei ao redor. Nada. Apenas bichinhos, insetos. Abaixei a cabeça e fechei os olhos. Concentrei-me no cheiro e nos sons.

Senti um cheiro de sangue.

Não consegui saber se era o cheiro de Andrew. Só sabia que não gostava de sangue, me lembrava os caras-pálidos, e eles nunca foram uma boa lembrança.

Abri os olhos.

Olhando para o chão consegui ver uma pegada. Humanos? Mais para frente no mesmo caminho: sangue. Eles geralmente não derramavam sangue, então... o que?

Andrew!

Voltei a correr.

Depois de um tempo já estavam todos lá vendo aquele corpo ensaguentado.

Por baixo de tanto saNgue tinha um Andrew... pelado. Provavelmente quando isso acontecera com ele, Andrew deveria estar na forma de lobo, deve ter lutado, pois senão o chamarei de mané em todas as histórias que forem contadas a respeito dele.

Era uma cena horrível. Afastei todos os meus pensamentos de todo aquele sangue

Está morto? pensou Mark.

Cutuquei o corpo com o fucinho.

Andrew gemeu

Geme mais...! pensei.

Pensei alto demais, todos ouviram.

Sabia que isso é estranho? falou Thai.

Qualé, Andrew? tentou Kluke lambendo a mão dele Morre não, o Luke não...

Como assim o Luke não? perguntou Drake.

Ficamos em silêncio por alguns segundos ate surgirem as perguntas.

Quem fez isso? quis saber Kaio.

Kluke começou a uivar: Andreeeeeeeeeeeeeeeeew! Tá me escutando? Ô-ÔI! Você se suicidou?"

Sorte dele se não escutar,

Pensou Drake alto demais. Kluke lançou-lhe um olhar malígno com aquelas pupilas esticadas na diagonal.

Só não quero o Luke. Explicou ela.

O que você tem contra mim?

Imagina como... COMO alguém apaixonado pode assumir a liderança!?

Liderança? Indagou Mark.

Ah, não... pensou Thai.

O que? O que foi? Perguntou Drake doido por uma novidade interessante.

Ele está esgormitando sangue!

Mesmo pelo comentário estranho de Thai, todos olhamos ao mesmo tempo para Andrew.

Nesse instante perdi toda a esperança que me restava.

Andrew estava morto e confirmei isso quando sangue jorrou de todos os seus "buracos": olho, nariz e boca. A cena ficou mais horrível ainda. Senti um calafrio. Depois disso, ele não se mexeu mais.

Senti outro calafrio.

Resumindo tudo: Andrew, o líder, estava morto e eu, o sortudo aqui, era o seu "substituto" e não tinha um substituto para o substituto, porque eu também já estava prestes a esgormitar sangue.

Mil e um pensamentos correram pela minha mente e achei melhor voltar a forma humana primeiro para depois dar atenção a cada um deles. Não queria ninguém escutando o que eu penso.

***

MADSON

Sabia que alguma coisa estava errada, não só porque depois que Luke e Kluke foram para uma misteriosa reunião, Sally não sai de perto da janela. Simplesmente sabia.

—Sally, o que foi?

Ela levou um susto e evitou me olhar, foi correndo até a cozinha e começou a mexer a panela de pipoca. Senti o cheiro espalhado por toda a cozinha.

—Não é nada, Madson. Não se preocupe, está bem?

Fiz que sim com a cabeça. Não estava convencida disso.

Devagar caminhei rumo a sala.

Parei de andar e percebi.

—Sally, não tente me esconder, por favor, mas está tudo muito silencioso. - ela chegou perto de mim rapidamente com um pano de prato na mão e voltou a olhar a janela. Desta vez subiu em cima do sofá para olhar lá fora, como uma criança. Subi no sofá ao lado dela. - Alguém morreu?

Na mesma hora me arrependi de fazer essa pergunta.

A porta da casa se abriu, quase foi arrombada, e todos os "homens-lobos" (lobisomens) entraram aturdidos.

A casa, que eu já achava relativamente pequena, pareceu ainda menor com a entrada daqueles gigantes e lindos homens.

Imediatamente pulei do sofá para o chão.

Luke me encontrou antes que eu visse isso. Pegou meu braço com a sua mão quente e me arrastou para a cozinha.

—O que? O que foi? - perguntei assustada.

O corpo de Luke começou a tremer e eu fiquei com medo, admito.

—Luke! - ouvi Sally berrar.

Como Luke apertava meu braço, comecei a sentir dor quando o sangue parou de circular por aquela área.

—Ai. - falei.

Quase que como mágica ele largou meu braço e parou de tremer.

Empurrando os outros Sally conseguiu chegar perto do filho.

—Luke! Cadê o Andrew?

—Está mooooor... - resmungou baixo.

—O que? - repetiu Sally.

—ESTÁ MORTO! - gritou então.

Como resposta todos os barulhos se cessaram.

Kluke, começou a chorar e a fazer birra enquanto se debatia no pequeno sofá da sala.

—Já era! - gritou ela. Correção automática: berrou. - O mundo vai acabar!

Algum dos homens-lobos mandaram ela calar a boca. Só sei que não foi o Luke, nem o Drake, nem o tal de Andrew, já que ele estava morto.

—Então, é você Luke? - perguntou outro.

—Você que não é, né, Thaí? - falou.

—Dá para alguém me explicar o que tá acontecendo? - perguntou outro com cara de lesado.

—O Luke vai ser o líder! - berrou Sally.

—Cala a boca, mãe! - falou ele.

—Olha o respeito, moleque! - berrou ela de volta.

—Eu vou morrer! - gritou Kluke.

—Por que?! - disse Drake confuso.

—O Luke vai ser o líder!

—Cala a boca, Kluke! - rosnou Luke de novo.

A confusão só piorou quando a tampa da panela voou longe e milhões de pipocas saíram voando.

Sai correndo para desligar o forno.

—O Luke já está comemorando. - falou Drake com a boca cheia.

—Enfia essa diversão toda no seu ra...

—Luke!

—Mãe - gritou ele de volta como uma criança;

—Não ouse dizer essa palavra.

—Ótimo, também não converso mais com você!

Por incrível que pareça ninguém mais parecia ligar para o fato de que o seu líder, ou futuro líder, sei lá, seja um infantil.

Não tinha conseguido entender nada disso direito, só sabia que eu era a única normal ali, e não só pelo fato de eu ser a única humana sempre. Acabei de descobrir que o meu namorado era um CACHORRO, opa, lobo e agora tinha uma confusão inteira na casa da minha sogra cheia de homens metade lobos completamente alterados, sem camisa e cheios de pipoca.

Pareciam crianças da África morrendo de fome, pois todos esses moleques acabaram com a pipoca em segundos. Percebi que Luke não comeu nenhuma, e de um jeito meio infantil, pediu a Sally:

—Mãe... Tô com fome.

***

Um tempinho depois Sally pos todo mundo para correr falando que deveria avisar toda a aldeia que o líder da alcateia estava morto ensanguentada e ninguém sabia o motivo, mas que deveriam sim, se preocupar. Prometeu também levar lanchinhos na casa de cada um depois de terem avisado a todos. Boa chantagem, vou usar isso com Luke algum dia.

Senti os braços quentes de Luke passando pelos meus ombros carinhosamente.

—Madson, vamos? Vou leva-la para casa.

Saímos da casa, depois da clareira, depois da floresta e chegamos a calçada de mãos dadas e infelizmente, em silêncio.

Olhei para ele.

Cara, meu namorado era um gato e tanto! Ui!

Luke estava com seus sentimentos estampados no rosto: completamente preocupado. Mesmo assim continuava lindo. Muito lindo. Acabei ficando vermelha de vergonha. Gente que sorte a minha! Apertei a mão dele. Luke me olhou.

—Que foi?

—Por que está preocupado?

—Não estou preocupado?

Parei de andar e pus as mãos na cintura.

—Qual é, Madson, está ficando tarde, logo escure, vamos!

Continuei olhando para a cara dele com as mãos na cintura e meus lábios se formaram num biquinho.

—Madson... - sorriu ele pervertido. - Madson, Madson, Madson...

—Alfa, alfa, alfa... - brinquei.

Péssima brincadeira, eu sei.

—To preocupado, você tem razão. Nunca pensei em mim sendo o líder, sabe? Não sei se vou me sair bem, geralmente era eu que criava problemas e agora tenho que resolvê-los. Você já percebeu como são todos doidos eles? Como é que eu vou fazer? Além do mais eu sou o primeiro e o último que teve um imprinting. É bem capaz de eu por meus sentimentos por você primeiro que tudo, me entende?

Imagina um gato daqueles te falando uma coisa dessas? Que se sentia inseguro, e a prioridade dele era você.

Dessa vez fiquei vermelha de verdade e ele percebeu.

Beijou meus lábios com vontade depois disse:

—Quem chegar por último é a mulher do sapo.

E saiu correndo.

Minha primeira reação foi de susto, achei que ele ia me deixar ali no meio do nada como me deixou depois do nosso primeiro beijo (mulheres lembram dessas coisas) mas lembrei que meu namorado era MESMO um gato e se eu não quisesse perdê-lo deveria mesmo correr atrás dele.

E lá fui eu.

O que aconteceu depois dele chegar primeiro que eu na minha própria casa foi que a minha "ficha caiu".

Oras, como não tinha percebido antes, mas meu namorado é um lindo, gostoso e gato de um lobo. Parece estranho, eu sei. Quem diria que morar numa cidade nova viria a me calhar?

—Tchau, Mad. - falou ele me dando um último beijo.

Dramático demais? Mas estava carente, car*lho!

Ele deu meia volta e antes que pudesse caminhar de volta para sua casa, agarrei a gola da sua camisa que ele havia acabado de colocar e o puxei para dentro da minha casa.

Muitos pensamentos me passaram, principalmente meus sentimentos começaram a fazer sentido e chamar a minha atenção. Como diria Rihanna em We Found Love: Sinto o coração batendo na cabeça. É assim que eu me sinto não posso negar.

Depois disso, tranquei a porta de casa e voltei a beijá-lo loucamente.

O que aconteceu preferi guardar só eu meus pensamentos.