Imprinting escrita por Mila


Capítulo 3
Faça alguma coisa


Notas iniciais do capítulo

Sem inspiração para o título, desculpa.
Mas boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/205012/chapter/3

LUKE

Eu chutei a parede, com força e raiva, e ela tremeu por um centésimo de segundo, o que me fez pensar que ela cairia, ou, no mínimo, aparecia uma rachadura.

–LUKE! - minha mãe gritou brava comigo.

Bufei e me joguei no sofá.

–Por que você está assim, ein?

–Imprinting... - disse Kluke, minha prima. Eu olhei para ela por um momento: Seus cabelos lisos e curtos, na medida do ombro, balançavam em torno de sua cabeça a cada movimento que fazia. Eu percebi que não poderia imaginá-la de outra maneira: Seu perfil se encaixava perfeitamente com toda aquela agitação dentro dela. Ela era a única menina no clã e a mais nova, e odiava quando nós víamos um problema nisso. Ela enfiou um biscoito na boca e continuou: - Deixa os Lobos mais retardados do que eles já são.

–Cale a boca. - resmunguei quase sem mover os lábios.

–Luke! - minha mãe protestou.

A porta de casa se abriu e meu irmão entrou.

–E aí? - ele cumprimentou-nos, depois olhou para minha cara e, como se fosse bom em leitura facial, comentou: - Uuu... Levou um fora.

Eu joguei meu tênis nele, porque pensei que uma almofada não machucaria o suficiente.

–LUKE! - minha mãe berrou.

Levantei as mãos para o alto como se me rendesse e, afinal, meu irmão era um ser imortal, um tênis não o machucaria de jeito nenhum.

Ela respirou fundo para se acalmar, e logo em seguida pousou as mãos na cintura e me olhou com uma cara que dizia "e então? O que tem pra me dizer?".

–Vai contar o que aconteceu ou não?

Queria responder que não, mas o olhar de minha mãe não me dava outra opção.

–Ahn... Eu tive um imprinting pela Madson... - com o canto do olho, vi Drake tentar roubar um biscoito de Kluke. Irritado, parei de enrolar e falei de uma vez: - Essa coisa dos Lobos é perigosa demais para um humano, mãe! Não posso arriscar perdê-la.

–Mesmo sem... tê-la? - perguntou Kluke confusa e fez uma careta. Ela bateu na mão de Drake quando ele tentou roubar um dos biscoitos dela. - Olha se é para fazer rima e não ter sentido... Não faça.

–Kluke tem razão. - Drake concordou com ela apenas para conseguir um biscoito por ter apoiado-a, mas ela o ignorou e puxou os biscoitos para mais perto dela.

Mamãe pensou um pouco com a testa enrugada. Abriu a boca algumas vezes, como se fosse falar alguma coisa, mas desistia antes de dizê-las. Por fim disse:

–Vai conseguir ficar longe dela?

–E se você não contar para ela sobre os Lobos? Ou então... Vocês podem ser amigos. Não podem? - Kluke sugeriu.

–Não dá. É difícil... Ela estava atraída por mim, eu sentia isso, e eu tenho que fazê-la feliz. É um instinto.

–Bem, seja o que for fazer... Confio em você. - ela veio até onde eu estava e me deu um beijo na testa. Depois sumiu dentro da cozinha (para fazer mais biscoitos, provavelmente).

Percebi que Drake não tinha conseguido furtar mais nenhum dos biscoitos de Kluke, mas tinha um olhar presunçoso estampado no rosto, que fez eu me perguntar o que significava aquilo.

Mas antes que pudesse imaginar qualquer coisa, minha mente me levou até o parque de diversões, no dia de ontem. O toque de nossas mãos, a nossa corrida infantil, seu sorriso, o beijo e a chuva... que não tinha parado ainda.

MADSON

Chover enquanto tinha sentimentos fechados e reservados era extremamente clichê, e isso me deixou frustrada. Porque, depois que o aluno calouro te beijou, pediu desculpas e fugiu misteriosamente, chover era apenas o que faltava para tornar minha vida de estranha para clichê.

Tentei, por um longo tempo, entender o que significou aquele beijo e, o mais importante, aquele pedido de desculpas. Porém, depois de passar por pensamentos que foram desde "ele estava num momento confuso" até "ele fugiu de algum sanatório", percebi que não conseguiria achar uma resposta sozinha. E, sinceramente, não sei se queria encontrá-la. Eu tive uma professora que sempre me dizia: "Não faça perguntas, se não quer saber da resposta".

Minhas ideias davam tantos nós que quase gritei de alívio quando o telefone tocou - qualquer coisa para encobrir esses pensamentos.

–Alô? - atendi.

–Madson, é a Ashley. Vamos sair?

–Nossa, mudou de ideia? Achei que ia se trancar na sua casa pelo resto da vida.

–Ah, mudei mesmo. A vizinha de cima tá dando chilique com o controle remoto, eu acho. Então eu preciso sair de casa antes que minha mãe decida que é responsabilidade minha ajudá-la.

Eu ri.

Ashley tinha esse jeito: Ela só fazia o que queria fazer. Ela sempre me dizia que se a vida era dela, ninguém deveria lhe dar ordens, obrigações, dizer-lhe o que deveria fazer, como deveria agir... Ela fazia o que queria e ponto.

–Tudo bem. - respondi, um pouco mais animada. Nunca pensei que ouvir os problemas dos outros fosse tão bom.

–Agora mesmo, OK? Te espero lá na frente.

Encontrei Ashley na entrada do cinema. Ela já estava na fila para comprar os ingressos.

–Oi! Fica aqui um pouco. - Ela me puxou para o lugar dela na fila. - Eu já volto. Acho que vi o Alex passando por aqui e preciso saber com quem aquele imbecil veio.

Eu não pude contestar, pois no segundo seguinte ela já havia sumido.

Suspirei.

Alex era a pessoa que Ashley mais amava e mais odiava na Terra.

Comprei meu ingresso e continuei esperando por ela em frente a sala do filme que íamos assistir. Esperei e esperei mais um pouco. Quando eu me incomodei com a quantidade de pessoas que já tinha entrado na sala, eu decidi que era melhor entrar para pegar um lugar.

–Oi. - um menino moreno e bonito, ligeiramente familiar, estava ao meu lado, apontado para a poltrona vazia ao meu lado. - Tem alguém aqui?

–Não - eu disse. Ashley não ia aparecer, e se aparecesse, ia ter que arrumar um lugar para ela.

Enfim, deixar o menino sentar ao meu lado não foi uma ideia boa. Ele não parou de falar um só segundo. Eu soube de mais coisas da vida dele do que do filme: Seu nome era Drake, ele morava com sua mãe, seu irmão mais velho e uma prima, e seu pai havia morrido quando ele era uma criança.

Quando a sessão acabou fui a primeira a sair.

–O filme foi bem legal. - Drake disse. Nem percebi que ele estava ao meu lado então levei um susto enorme. - Gostei de te conhecer. Madson, não é?

–É. - foi só o que eu respondi. Tinha medo que, se disse palavras muito longas ou frases com mais de duas palavras, ele puxasse assunto a partir disso.

No meio de tantas palavras ele comprou uma coca, e mal prestei atenção nisso; mas segundos depois eu levei um banho de coca. O copo escorregou da mão dele e a coca molhou toda a minha blusa.

–Opa! Desculpa! Não estava segurando direito...

–Não, tudo bem. - eu disse automaticamente.

–Vem para minha casa. É aqui perto. Minha mãe pode te emprestar uma blusa.

Não gostava da ideia de ir para casa de um estranho. Mas eu tinha uma irmã mais velha e um irmão mais novo, sabia me defender. A casa dele era realmente perto, porém nunca pensei que fosse no meio da floresta.

Nós entramos na primeira casa da pequena aldeia.

Fiquei surpresa quando vi quem estava sentado no sofá comendo salgadinho de queijo.

LUKE

Eu não esperava que Madson entrasse em casa sem mais nem menos, de uma hora para outra, acompanhada de Drake... Ah Merda! Drake? Aí tem coisa, pensei.

–E aí? - ele cumprimentou casualmente.

Olhei para o salgadinho de queijo tamanho família que engolia sem mastigar e empurrei-o para o colo de Kluke.

Madson parecia tão surpresa como eu por nos encontrarmos ali.

Minha pele formigava, e eu já começava a tremer. A raiva borbulhava dentro de mim, como alguém que se queima com pimenta e explode de dor à procura de água ou leite. Mas, em mim, não era bem assim. Era pior. Eu não podia explodir, não na frente de Madson. Ela me acharia um monstro. Tinha que me controlar, apenas isso.

Minha mãe saiu do corredor com uma cara confusa, mas pareceu entender o que acontecia após um segundo.

–Mãe. - Drake disse. - Eu derrubei coca em Madson, e como estávamos aqui perto, pensei que você poderia emprestar uma blusa para ela.

–Mas é claro. - minha mãe abandonou a minúscula ruga de preocupação entre suas sobrancelhas e sorriu para Madson. - Vem aqui, Madson.

Madson a seguiu pelo corredor envergonhada, sem saber o que dizer.

–Eu vou também. Vamos ver se Madson é legal. - Kluke cochichou para mim, enquanto seguia as mulheres pelo corredor.

Fuzilei meu irmão com o olhar.

–Que foi? - perguntou ele fingindo-se de inocente.

–Por que a Madson está aqui?

–Ela vai usar a blusa da mamãe, porque eu derrubei coca na dela.

Onde você derrubou café nela?

–No cinema. Quer dizer, passeando depois do cinema.

–Você foi ao cinema com ela?! - exclamei, furioso por um momento, mas logo parei e me perguntei o que eu estava fazendo. Perguntei cansado: –Por que você está fazendo isso?

–Por que você é lerdo e precisa fazer alguma coisa.

–Seu idiota. - resmunguei e fiquei feliz por minha mãe não estar ali para me repreender.

Drake deu de ombros e caiu sentado ao meu lado no sofá.

–E então? - perguntou.

–E então o que?

–O que você vai fazer?

–Nada.

–Como assim?

–Assim. Como a gente está fazendo nesse momento - eu abri os braços para indicar-nos sentados no sofá. - Nada.

MADSON

A blusa serviu certinho, e ficou tão bem em mim, que pensei pela segunda vez depois que entrei na casa (a primeira foi quando vi Luke sentado no sofá), se tudo aquilo não havia sido planejado.

A mãe de Drake, Sally, era muito gentil e se ela fizesse parte desse possível sequestro, pelo menos, não estava me deixando com medo... e suja de coca.

–Você é pacifista? - a menina que morava ali falou.

Eu deveria responder que não, seja lá qual fosse a resposta verdadeira para essa pergunta estranha, pois se isso fosse mesmo um sequestro... eu não deveria me mostrar... sei lá, fraca.

–Não. - respondi devagar.

–Aprovada! - Ela exclamou. Eu não entendi o que ela quis dizer. Mas sorri quando ela sorriu também. O que estava acontecendo ali?!– Você é a...?

–Madson. - completei.

–Eu sou Kluke. - ela respondeu.

–Ahn... então, aquele que estava ali no sofá é o Luke, não é? - arrisquei perguntar. - O que ele faz aqui?

–Ele mora aqui. A Sally é a mãe dele, o Drake é o irmão... - ela disse enquanto engolia salgadinhos de queijo de um saco maior do que ela.

Drake e Luke eram irmãos! Como não percebera isso? Eles são muito parecidos... Eu me perguntei novamente nesse momento se tudo aquilo não havia sido planejado, e se eu estava sendo sequestrada. Pensei na chance de não ser pega se saísse correndo.

Porém, antes que eu pudesse pesar minhas chances de escapatória, eu entendi grande parte da confusão, e não tinha nada a ver com sequestro: Drake estava fazendo ciúmes em Luke ao "sair" comigo. E isso significava que... eu estava num jogo entre irmãos? Uma aposta, talvez? Argh!

Senti a a raiva crescer em mim, mas engoli-a e tentei parecer normal. Voltei a conversar com Kluke:

–E você? Você mora aqui também?

–Sim. Depois que os meus pais morreram, a tia Sally cuida de mim.

Não sabia o que sentir, mas tinha uma grande confusão em minha mente. Lá fora, havia parado de chover. Sem saber muito bem o que fazia, saí do quarto dei um "tchau" rápido e esquisito para todos e saí da casa, dizendo que sabia o caminho. Mas, não sabia.

Eu andei por entre as árvores. Embora eu estivesse decidida, eu não sabia onde estava; e como descobrira nos meus acampamentos de verão com Tyler, o meu irmão mais novo, eu não tinha nenhum censo de direção. Queria que ele estivesse aqui, já que, diferente de mim, ele sabia olhar para o sol e dizer: "Lá é oeste, então temos que ir para..." Olhei para o céu. Não tinha sol.

Andei por mais algum tempo, mas tudo parecia igual. Será que eu já havia passado por ali e visto esta árvore? Mas esta árvore é igualzinha àquela! Decidi parar onde estava. Quanto mais andava, mais me perdia.

Sentei-me em uma pedra e fiquei ali, olhando para o chão. Fiquei pensando no que aconteceu hoje. Não sabia por que, mas ao saber que Luke era irmão de Drake eu me senti mal, como se estivesse traindo Luke ou algo do tipo. Não que tivéssemos algum tipo de relacionamento. Eramos apenas amigos que se beijaram... OK. Isso foi esquisito; mas por que ele tinha que ser tão lindo?!

–Está perdida? - Eu ouvi uma voz melodiosa dizer de repente. Levei um susto tão grande que pulei. Virei-me para ver quem era, esperando encontrar o meu "salvador" que me mostraria o caminho para a cidade, mas o que encontrei não parecia ninguém disposto a a me ajudar.

LUKE

Quando minha mãe não estava vendo, soquei a barriga de Drake. Ele soltou um palavrão, mas não revidou.

Depois que Madson foi embora, Kluke veio se sentar ao meu lado novamente com seu pacote de salgadinho de queijo tamanho família, como se nada tivesse acontecido.

–Ela é legal. - disse.

Drake já estava deitado de ponta cabeça no sofá, e de repente parecia ter muita gente ali. Levantei-me e andei pela sala por um tempo até decidir sentar-me no banco do balcão da cozinha.

Nesse momento, Andrew entrou na minha casa sem cerimônias e com seu típico olhar de superioridade. Essa estrada, não só dele, mas de todos os outros Lobos também, era tão comum que não me importei.

Com ele veio Thai, Kaio, e Mark. Todos sem camisa, vestindo uma bermuda velha, e mostrando a tatuagem negra no braço direito.

Esperei por alguma piadinha vindo deles, pois isso era muito comum, mas ninguém disse nada. Eu arrumei a minha postura, receoso. Algo tinha acontecido.

–O que foi? - perguntei.

Andrew olhou para mim por um segundo, e depois desviou o olhar para Drake e Kluke.

Ele mal olhava na minha cara depois que tive o imprinting. Ele achava que ele deveria ser o primeiro, afinal, era o mais velho e o alfa. Mas ele mal ia para a cidade, não via mulheres diferentes. Andrew era um idiota por pensar que ela iria cair do céu e ele teria um imprinting assim.

–Tem algo errado. - ele disse, sério. - Vamos ver o que é.

Ele virou-se e saiu, e todos nós fomos atrás. Quando já estávamos longe o suficiente da casas da aldeia, eu e Drake tiramos as camisas que vestíamos e penduramos-as numa árvore.

O sol já tinha ido embora, a lua estava bem alta no céu. Ouvi um uivo: Kaio havia se transformado, e agora Mark, e Kluke...

Fechei os olhos. Pelos cresceram em meu corpo, minha coluna foi se encurvando até eu estar com as duas mãos e os dois pés no chão, meu maxilar cresceu a minha frente, os dentes pontiagudos saltaram de minhas gengivas, minhas pupilas se esticaram verticalmente, as íris de meus olhos ficaram amareladas, - estava enxergando no escuro. - Era uma sensação boa. Uivei.

Olhei para os lados, Thai foi o último a transformar-se.

Vamos. Andrew pensou. Quando nos transformávamos era assim que funcionava: Não tínhamos mais privacidade, todos os nossos pensamentos e sentimentos eram compartilhados.

Espalhem-se. Ele ordenou.

E fizemos.

Corríamos por entre os altos pinheiros. O solo sob minhas patas estava úmido por causa da chuva de ontem.

Amoras.. Parecem deliciosas.

Nem pense nisso, Drake! Andrew o repreendeu.

Nada, nada, nada, nada... Que merda! Nada de interessante. Por que continuamos procurando por algo? Nenhum urso para arrumar briga, nenhum coelho... nem esquilo. Que droga! Mark pensou.

Eu ri.

Ontem estava chovendo pelo menos, era mais emocionante. Kluke lamentou-se.

Prestem atenção! Andrew ralhou com eles.

Que merda, pensei.

Luke!

Legal.

Encontrei alguma coisa! Kaio falou de repente.

O que? Andrew perguntou, preocupado.

Um coelho? Thai riu da própria piada.

Talvez um Hamster? Drake completou.

O que foi? Perguntei, já incomodado com a enrolação.

Não sei, até agora nada. Mas estou ouvindo algumas vozes.

Caçadores? Mark sugeriu sem o tom de deboche de Thai e Drake.

Todos paramos de andar e prestamos atenção.

Eu estou aqui perto, Kaio. Kluke falou. Estou vendo...

Kaio passou por pensamento: ... Vampiros.

Fique onde está! Andrew comandou imediatamente. Estamos indo aí.

Kaio ia responder, mas Kluke falou antes:

Ele tem uma presa.

Quem? Todos perguntaram.

Ahn, Luke... Kluke começou a dizer sem jeito. É Madson.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

O que acharam? Contem-me, por favor.
Beijos, até o próximo.