LUKE

Era noite. Eu e os outros garotos da alcateia havíamos saído para uma vigiar a cidade e a floresta, coisa que fazíamos sempre. Estava em minha forma humana, caminhando entre as árvores da margem da floresta, escondido pela escuridão, quando ela passou sob um poste de luz na frente da padaria. Naquele momento só vi as ondas do cabelo moreno dela, mas quando o padeiro chamou-a pois estava esquecendo o troco, eu vi seu rosto: seus olhos pretos, seus longos cílios escuros, sua pele branca de nariz avermelhado pelo frio e seu sorriso constrangido.

A menina foi embora tão rápido quanto apareceu.

Eu nunca vira aquela garota. Não sabia seu nome, sua idade, não sabia nada sobre ela, mas era ela.

Meus joelhos fraquejaram, sem força, e me fizeram cair sobre eles. Senti meu coração parar por um longo segundo onde eu não pude mover um músculo, depois ele voltou a bater, aumentando o ritmo rapidamente, parecia querer pular para fora de meu corpo. Soltei um suspiro pesado, derrotado, quando uma sensação nova e desconhecida tomava conta do meu corpo.

As última lojas abertas fecharam-se, deixando a cidade, e não apenas a floresta, também coberta pela escuridão. A chuva começou a cair sobre mim, mas eu não saí dali, nem sei se podia, então, após pouco tempo, fiquei encharcado.

Ouvi alguns uivos distantes.

Meu coração continuava com sua disritmia, provavelmente, tentando entender aquela sensação que parecia sólida, presa a mim, que estava por toda parte, inclusive em meu sangue.

Algo mudou e seria assim daqui para frente, será que demoraria para meu corpo e eu mesmo me acostumar com isso?

Ao desviar minha atenção por um breve segundo, pude notar meu irmão, Drake, parado a minha frente.

–Levanta daí, Luke. Está todo mundo te procurando... - sua voz sumiu de repente.

Eu olhei para ele: sua boca se mexia, porém eu não ouvia som algum.

A garota, minha atenção estava nela de novo, e tão focada que mal percebi quando Drake se transformou.

Quando ele uivou eu pude ouvir com mais clareza. Meu corpo foi se acomodando, se familiarizando com a novidade. Controlei a minha respiração, enquanto a certeza ia preenchendo meu corpo, lentamente.

Logo Mark e Andrew, que também estavam vigiando aquela noite, apareceram. Eles ficaram em silêncio: Estavam conversando.

Consegui me mexer: Ergui um joelho e empurrei o chão, com a palma da mão, para pegar impulso e me levantar. De pé, virei-me para eles: Três Lobos enormes, que, mesmo com presas letais e olhos perigosos, capazes de acabarem com quem quiserem, estavam alarmados.

Eles olharam para mim quando me levantei. Eu somente olhei de volta, e eles entenderam, ao ver a minha certeza presente também em meus olhos, que eu tive um imprinting.