POV Julie

            Segunda. Dia de aula. E o que me lembrava... Terça. Dia do meu aniversário. Eu devia estar feliz. Mas não. Eu fui pra aula com a Bia. Felizmente, acabou bem rápido. Fui correndo pra edícula pra dar uns beijinhos no meu bebê. No meu Dani. Mas eu cheguei lá e não vi ninguém. Estranho. O que será que aconteceu? Tomara que não tenha acontecido nada.                                           

            Fui pro meu quarto fazer as tarefas, ouvir música, tocar violão... Fiquei assim por umas três horas. Não tinha aparecido nem o Pedrinho pedindo ajuda com alguma invenção, nem a Bia pra nós duas fofocarmos um pouco, nem os fantasmas, nem ninguém. Já estava começando a ficar preocupada. Onde será que estava todo mundo? Será que eles me abandonaram? Vou procurar por alguma pista de onde eles devem estar.

            Fui à edícula. Olhei em tudo procurando qualquer coisa. Não tinha nada nem ninguém. Entrei em casa olhei todos os cômodos. Nada do Pedrinho. Fui à praça. Também não vi ninguém lá. Fui a casa da Bia. Bati na porta. A mãe dela atendeu. Perguntei pela Bia mas ela disse que a Bia não estava em casa. Estranho. Que ligação esse sumiço de todo mundo tem que está me deixando intrigada? Seja lá o que for, eu descubro.

            - Ah... oi Julie. – Bia disse assim que me viu saindo da casa dela. Ela parecia nervosa. – Aconteceu alguma coisa?

            - Eu que pergunto se aconteceu alguma coisa. Estou procurando por todo mundo há horas. Vocês simplesmente sumiram. O que vocês estão aprontando? Hein?

            - Nada, ué? Não estamos aprontando nada... Quer dizer, eu pelo menos não estou aprontando nada. Por que a pergunta?

            - Mas eu acabei de dizer que vocês sumiram há horas e eu fiquei preocupada. Parece que vocês estão me escondendo alguma coisa.

            - Nada a ver, Julie. Eu, por exemplo, fui... éé... dar uma volta pelo bairro... éh, fui da uma volta. É isso?

            - Hum. Que estranho. Então, por que você não me chamou pra ir junto com você? Somos amigas. Fazemos tudo juntas.

            - Pois é... Mas... Eu até tentei falar com você. Não deu.

            - Nossa você está muito estranha.

            - Fica fria, Julie. Está tudo bem. Não se preocupa... Bom, acho que eu vou entrar. Beijo. Tchau. – e ela saiu quase correndo.

            Mesmo contrariada e com uma pulga atrás da orelha, eu voltei pra casa. Já estava quase na hora do jantar. Quando ficou pronto fui chamar o Pedrinho pra jantar. Bati na porta. E ninguém me respondeu. Fui entrando.

            - Pedrinho, vem jantar. Já está pronto e... – ele me viu e escondeu algo de mim. – O que você estava fazendo?

            - Eu... Nada Julie. Não estava fazendo nada. – ele disse meio nervoso.

            - Tem certeza. Sabe que não gosto quando me escondem alguma coisa.

            - Não se preocupa. Não é nada. Vem, vamos jantar. – ele disse, me empurrando pra fora do quarto e fechando a porta. Ele a trancou também, mas acho que ele não percebeu que eu vi. Que estranho.

            Jantei e fui pro meu quarto. Fiquei tocando por algum tempo para tentar esquecer qualquer pensamento que me atordoava. Não deve está acontecendo nada mesmo. Deve ser só coisa da minha cabeça. Fui dormir. No outro dia levantei cedo. Me arrumei, fiz minha higiene matinal, tomei meu café da manhã e fui para escola. Encontrei com Bia e ela me cumprimentou desejando “Feliz aniversario”. A aula, felizmente acabou bem rápido. Já estava indo pra casa com a Bia conversando comigo.

            - Hey, Julie! O que você acha da gente dar uma volta. Tipo, um cinema, um lanchonete... O que você acha?

            - Ah, não sei. Não queria sair hoje, mas seria uma boa ideia passar meu aniversario me divertindo com você.

            - Ah, que bom. – Bia riu. – Então se arruma e fica bem bonita, ta. Não que você não seja.

            - Ta bom, Bia. – eu disse, ela entrou em casa correndo e falou que logo estraria em minha casa.

            Cheguei em casa e fui direto pro meu quarto. Tomei um banho maravilhoso, peguei uma roupa bonita e me vesti. Bia bateu a porta e pedi para ela entrar.

            - Está pronta? – Bia perguntou me olhando. – Hum, ta linda.

            - Obrigada! E ai, vamos?

            - Vamos, mas antes vamos passar na edícula. Quero dar um “Oi” pro meninos.

            - Dar um “Oi”. Como assim? Você não... – ela nem me deixou terminar e saiu me arrastando contra a minha vontade para a edícula.

            Quando cheguei lá, não acreditei no que vi. Era uma festa surpresa pra mim. A edícula estava toda enfeitada, cheia de balões, faixas escritas “Feliz aniversário Julie!” ou “Felicidades!”, alguns comes e bebes como: doces, salgados e refrigerantes. Os convidados: Meus fantasmas preferidos, Bia, Shizuko, Valtinho, Nicolas, Pedrinho, até a Thalita estava, o que me deixou muito surpresa. Muito mesmo. Os fantasmas estavam invisíveis, claro. Todos aproveitaram muito. Ganhei presente de todo mundo. Menos dos meus fantasmas, que estavam esperando os outros irem embora para fazerem isso. E foi o que aconteceu. O pessoal foi embora e eles me deram cada um, o seu presente pra mim. Eu adorei. Mas de repente me bateu um desanimo que a única coisa que eu consegui fazer foi ir pro meu quarto com a cabeça baixa. O Daniel foi o único que percebeu isso. Já no meu quarto eu comecei a chorar, algo em mim doía muito, lá no fundo. Eu não conseguia explicar o que eu sentia. Dani entrou no meu quarto e me viu chorando.

            - Julie, o que aconteceu? Por que você está chorando? Pensei que você tivesse gostando da surpresa que fizemos pra você. Você devia estar feliz...

            - É, eu sei. – abaixei minha cabeça sobre meus joelhos, já que eu estava abraçada as minhas pernas. Só estão fui entender o porquê do meu pranto. – Mas, eu não estou feliz.

            - Por quê? É seu aniversario.

            - Por isso. – levantei meu rosto com lágrimas nos olhos. – Estou chorando porque estou fazendo aniversário.

            - Não entendo. – ele disse sentando na minha cama.

            Respirei fundo antes de falar. – Dani, quando eu tiver a idade que você tinha quando morreu... Eu... Quero morrer também. – digo isso e começo a chorar de novo.

            - O que? Julie, não brinca com isso. Eu não quero que você morra. Você ainda tem muito pra viver. Não fala isso. – Dani disse isso meio desesperado.

            - È sério. Eu vou querer ficar com você pra sempre...

            - Mas eu também. – disse Dani me interrompendo.

            - Então, eu quero morrer. Porque o tempo vai passar e eu vou envelhecer. Como fantasma eu vou ficar como estou. – chorei mais. – E se eu viver, eu vou ficar velha e você não vai querer nada comigo.

            - Julie, não fala isso. Eu vou te amar pra sempre e... – o interrompi.

            - Não fala nada. Você sabe que é verdade. – disse indo à janela.

            - Não é. Você é tudo pra mim, tudo que eu tenho. Acho que se você morrer eu vou sofrer mais.

            - Mas pelo menos nós vamos ficar juntos.

            Ele me abraçou e me beijou. Me fez deitar na cama. Ficou conversando comigo até tarde. Mesmo contrariada ele acabou me fazendo mudar de ideia. Mas não totalmente.