Cartas escrita por Lucy Holmes


Capítulo 3
Aos meus pais




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III - Aos meus pais

Queridos papai e mamãe,
Olá, sou eu de novo. Seu filho, Neville. Não sei se podem se lembrar da minha letra, eu sei que não conseguem se lembrar de mim quando os visito...
Não estou reclamando! Longe disso. Muitas vezes eu sinto que lá no fundo vocês ainda me reconhecem, que sabem que sou seu filho, porém não têm forças para falar comigo...
Eu sei que é difícil conversar com vocês abertamente, principalmente com a vovó por perto, por isso decidi escrever. É que às vezes eu sinto falta de um apoio, aquele apoio que só um pai pode dar a um filho. A vovó tem sido muito boa comigo, eu sou muito grato por tudo o que ela tem feito, mas... Tudo o que eu faço, por mais esforço que eu faça, nunca será suficiente. Eu nunca serei tão bom quanto você, pai.
Muitas vezes eu penso que se falasse com vocês eu conseguiria um pouco mais de confiança, algo que a vovó não consegue transmitir. Nem quando eu era criança, porque meus poderes demoraram a aparecer e ela então passou a achar que eu era um aborto. Desde então... vocês devem entender o que quero dizer...
Tento me espelhar em vocês, juro. Queria ser corajoso, só que tudo o que faço parece dar errado. Em todas as aulas sou muito atrapalhado, o Profº de Poções tem prazer em me ridicularizar nas aulas, mesmo diante de outros professores. Fora isso, sou um alvo fácil de zombarias para os alunos das outras casas...
Às vezes acho que a vovó tem razão, eu nunca serei tão bom como você, pai... Na verdade, eu não sei como vocês foram, porque por causa daquela mulher não posso conviver com meus pais, só terei as histórias de como eram bons, sem nunca compartilhar nada diretamente com vocês.
O pior é que aquela mulher continua solta... Ela fugiu de Azkaban e já matou outra pessoa. Eu vi tudo e o Harry também. Vocês sabem de quem estou falando, eu acho, do Harry Potter. Ele continua vivo e estuda comigo.
Dos poucos amigos que tenho em Hogwarts, Harry é um dos que mais gosto. Eu sei que ele não me considera seu melhor amigo, nem somos tão próximos, mas tenho orgulho e muita gratidão com o Harry. Temos treinado azarações e feitiços que nunca consegui aprender em aula e ele tem sido muito paciente, diz que progredi muito.
Minha outra amiga, a Hermione Granger, também me ajuda muito nas outras matérias, até melhorei um pouco em Poções, apesar de ainda ficar muito nervoso com o professor... Foi isso que me ajudou nos N.O.M.s.
Eu gosto da Hermione, penso que gosto mais do que qualquer outra garota, só que eu sei que ela não olharia para mim com outros olhos senão de pena. Não a culpo, porém não quero mais que sintam pena de mim e o primeiro passo e mais importante estou tomando agora: não vou mais sentir pena de mim mesmo.
A profª Minerva sempre me disse que o que falta é apenas autoconfiança, e antes eu duvidava disso... Sempre fui trapalhão, ninguém acreditou em mim, quero dizer, poucos acreditam em mim, a nossa família mesmo não tem tanta certeza de que serei um bruxo talentoso... No entanto, quero acreditar que posso mudar.
Estou disposto a provar a todos que posso ser bom em algo e também quero lutar. Não sei se é um sentimento de vingança, eu já pensei dessa forma, apesar de tentar não pensar, mas não quero ver Belatrix Lestrange solta. Harry também quer pegá-la, mas ele já tem Vocês-Sabem-Quem para vingar a morte dos pais, acho que não vai se opor se eu quiser lutar com ela.
Chega a ser estranho, porque nunca em toda a minha vida senti raiva de alguém como eu sinto dela. Ela praticamente acabou com as nossas vidas, não tem como eu perdoá-la. É muito estranho o que sinto, não sei explicar. Todas as vezes que penso em me vingar dela - agora que sei que tenho a chance - parece que cresce um bolo no meu estômago. Deve ser ódio dela e de mim mesmo, por não conseguir fazer nada até agora...
Escrevi porque quero que saibam, de uma maneira ou de outra, que estou fazendo de tudo para não decepcioná-los, quero que se orgulhem de mim. É uma promessa: nunca mais quero ter medo de nada nem de ninguém; sei que não vou conseguir superar tudo de uma vez, será aos poucos, mas estou mudando e mesmo que não me reconheçam, preciso que confiem em mim.
Não sei se vocês podem ler essa carta. Não sei se ainda se lembram de como se lê algo... Queria que sim, queria muito que entendessem o que estou sentindo. Vou colocá-la debaixo do seu travesseiro, mãe. Não quero que a vovó veja, pode pensar que é mais uma fraqueza minha, como sempre pensa.
Se eu pudesse fazer um desejo, seria de que um dia, pelo menos um dia, vocês me reconhecessem e me chamassem de filho. De sermos uma família normal, unida e amorosa.
Essa carta não é uma despedida. Com certeza vou voltar a escrever e ainda, voltar a vê-los. É mais uma promessa que faço.

Com amor,
Neville.



Neville dobrou o pergaminho no momento em que sua avó o chamava para a visita ao hospital. Chegando lá, aproveitou um momento de distração e colocou a carta no local combinado.
Depois de muito tempo em que já havia ido embora, Alice Longbottom encontra o pergaminho dobrado. O abre de forma desajeitada e passou os olhos de relance pelo que estava escrito. Seus olhos pareciam brilhar e num gesto infantil jogou a carta na cama do marido.
Frank se mexia para frente e para trás, sentado na cama, os olhos em transe. Parou o movimento quando percebeu o papel. Abriu devagar e observou as linhas demoradamente.
Se compreenderam ou não o que estava escrito, Neville nunca viria a saber. No momento em que sentiu Alice pegar em sua mão de forma terna e carinhosa como há muito não fazia, Frank sentiu uma lágrima cair em seu rosto.
- Filho... pai... orgulhoso... sempre...

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