POV Nathan

Eu acordei naquele dia desejando poder continuar na cama.

Era hoje o ultimo dia dela.

Ela iria embora.

Eu tomei um banho rápido naquela manhã, sem conseguir parar de pensar nela. Mal engoli um café e peguei meu caminho para o estúdio.

As gravações do iCarly haviam terminado, tínhamos gravado os últimos episódios há duas semanas atrás , então não havia muito o que fazer no set agora. Era só a gravação de algumas propagandas, alguns eventos para promover o final do programa e assuntos contratuais. Mas hoje era um dia importante, afinal, era a festa de despedida dela. Eu realmente não entendia como poderiam fazer uma festa se ela estava indo embora.

Ela.

Quando eu a conheci, há seis anos, não imaginava que ela seria tão importante na minha vida assim. Mas em pouco tempo ela conquistou não só eu, como todos ao seu redor, com aqueles seus olhos azuis que brilhavam enquanto ela sorria.

Ah, o sorriso dela. Eu não estou exagerando quando eu digo que o sorriso dela tinha poderes. Sempre que ela sorria, eu sorria também; era involuntário. O sorriso dela podia iluminar o meu dia mais triste.

Mas agora ela estava indo embora, e levando o sorriso que eu amava junto com ela.

Quando eu cheguei ao estúdio, o set de gravações do iCarly estava todo balões e confetes por toda a parte; cartazes escritos "Boa Sorte,Jennette'' , ''Nós te amamos'', ''Sentiremos sua falta'' e coisas do tipo. Eu entrei e sentei no sofá do cenário da casa dos Shay.

Com o fim do iCarly, todos do elenco estavam cheio de planos para o futuro; Miranda estava indo pra faculdade, Noah renovou seu contrato com a Nickelodeon , assim como eu , e o Jerry estava indo tirar férias. Iríamos ficar muito tempo sem se ver, é claro, mas era suportável. Continuaríamos morando na mesma cidade, então a saudade não seria tanta.

Mas com ela, era diferente.

Jennette estava indo morar em Nova York, depois de assinar um contrato com uma gravadora. Ela ia dedicar totalmente á musica por uns tempos.

Há 4.000 km de distancia de mim.

Eu sabia que era aquele era o sonho dela, e que ela estava feliz, mas eu era egoísta. Se eu pudesse escolher, preferia que ela ficasse aqui em Los Angeles, sem contrato. Mas comigo.

Eu tentava imaginar como seriam meus dias longe dela. Eu estava habituado á vê-la praticamente todos os dias, e conversar com ela, rir com ela. Era sempre divertido estar com ela.

Pode soar infantil, mas ela é minha melhor amiga. Acho que ela era a única pessoa que eu permitia zoar o meu cabelo.

Durante os anos de convivência eu aprendi a amar aquela loira, e eu via nela uma amiga incrível. Nós brincávamos muito no set; mal parecia que estávamos trabalhando.

Mas então, dois anos depois de conhecê-la, tivemos que gravar uma cena de beijo. O que foi muito desconfortável, porque até então, ela era só uma amiga para mim.

Mas aquele beijo definitivamente mudou tudo entre nós. Foi um beijo técnico, mas a sensação dos lábios dela... Era diferente. Inexplicável.

Nós ficamos muito constrangidos um com o outro depois daquele beijo; não sei se ela sentiu o que eu senti. Mas depois de um tempo, nossa amizade voltou ao normal.

Depois daquele beijo, eu passei a ver ela com olhos diferentes.

Eu observei ela crescer, vi ela mudando. O corpo de criança deu lugar ao corpo de uma mulher linda, embora por dentro ela ainda fosse uma menina.

Minha menina.

Eu desviei dos meus pensamentos quando escutei palmas e assobios; ela havia chegado.

Dei um suspiro. '' Ótimo'', pensei. ''Vamos acabar logo com isso''.

Mas tudo o que eu consegui ver foi a parte de trás da sua cabeça e ouvir ela dizendo ''obrigada'' várias vezes. Havia dezenas de pessoas ali; parecia que todo o prédio da Nickelodeon estava ali agora.

Eu vi desde seguranças da entrada até produtores de outros programas. Todos compareceram ali pra se despedir dela.

Eu continuei ali, apenas observando a cena. Só percebi que a Miranda sentou do meu lado quando eu escutei sua voz.

"Se você pedir, ela vai ficar. '' ela disse.

Eu olhei pra ela, e vi que ela também observava a Jennette no meio daquela bagunça. Segui o seu olhar. Agora sim, eu podia vê-la direito. As pessoas deram espaço para ela receber o Dan, que surgiu trazendo um bolo cheio de velas.
Ela estava linda, como sempre. Sorrindo. Aquele sorriso que eu amava, o meu sorriso, embora os olhos dela estivessem com lágrimas.

Miranda levantou do meu lado, e correu para abraçá-la. Enquanto elas se abraçavam, meus olhos e os dela se encontraram por breves segundos, mas foi o suficiente pra eu ver que ela estava chorando. Seus olhos azuis estavam agora vermelhos.

Eu não podia agüentar aquilo.

Quando eu vi a Miranda pegar um microfone e começar a falar das qualidades dela, eu resolvi sair dali. Levantei-me e segui pro meu camarim, sem falar com ninguém.

Entrei, fechei a porta, e deitei no sofá.

Eu ainda podia ouvir a voz da Miranda, e de outras pessoas, cada uma listando as inúmeras qualidades dela.

"Engraçada. Alegre. Sempre pronta a te ajudar. ''

Mas aquilo não era realmente ela. Ninguém disse sobre como ela ficava com as bochechas vermelhas no frio. Ou como ela brincava com o cabelo quando ficava nervosa. Ou como ela sempre chegava 10 minutos atrasada porque ela ficava assistindo Friends e perdia o horário. Ou como ela nunca demonstrava que estava triste ou com problemas. Como ela sempre sorria, sempre tentando ver o lado bom das coisas.

Ninguém ali realmente a conhecia.

As palavras da Miranda ecoavam na minha mente. "Se você pedir, ela vai ficar. '' Seria verdade? Poderia eu pedir aquilo pra ela, depois de tudo?

Apesar do beijo que nos gravamos, nada aconteceu entre nós, apesar de as coisas terem mudado. Estávamos-nos cada vez mais próximos; era como se um imã sempre me puxasse pra perto dela.

Mas ela continuava brincando comigo do mesmo jeito de antes, como se eu fosse um irmão. Eu tinha plena certeza de que o beijo não tinha sido pra ela o que tinha sido pra mim, então eu tentei esquecer aquilo e ver ela apenas como minha amiga, porque eu não queria me afastar dela.

Então eu conheci a Madisen, acabamos saindo juntos uma, duas, três vezes. Era bom estar com ela; ela parecia se preocupar muito comigo, e tínhamos vários amigos em comum. Eu não a amava de verdade, mas ela era legal e aquilo já era um começo. Eu poderia acabar amando ela, se eu tentasse. Então eu a pedi em namoro.

Isso mudou muito a minha relação com a Jennette. No começo, ela me tratava diferente, me olhava diferente. Nós não brincávamos mais como antes; ela agia fria e distante comigo.

Porem mais uma vez as coisas foram voltando ao normal e no fim, nos tínhamos voltado a ser praticamente como éramos antes.

Até que nos tivemos que viajar pra a Austrália, para apresentar uma premiação. Só iria eu e ela de todo o elenco. Como nos velhos tempos.

Foi à viagem mais incrível da minha vida. Nós estávamos o mais próximo possível. Nós tomávamos café da manha juntos, dávamos entrevistas, visitamos lugares turísticos. Sem Madisen, sem Miranda, sem ninguém. Só eu e ela.

Ate chegar o nosso ultimo dia de viajem.

Nós tínhamos no reunido no quarto dela para descansar. A viagem foi incrível, mas também um pouco cansativa, com tantos compromissos e entrevistas.

Nós estávamos no sofá vendo um desenho na TV e conversando; era um desenho totalmente sem noção, mas ela ria muito dele, e eu acabava rindo também.

Nós ficamos horas conversando sobre tudo e nada ao mesmo tempo. Sempre sorrindo um pro outro

Até que o assunto virou a família dela. Mais especificamente sobre a mãe dela. Jennette sempre ficava emotiva quando falava sobre a mãe dela. Ela tinha câncer, e já tinha passado por tratamento, mas o risco da doença voltar era enorme.

Eu me assustei quando eu vi que quando ela falou sobre a mãe, seus olhos encheram de lágrimas. Ela tentou disfarçar, mas era impossível não ver.

"Oh, isso é tão estúpido, me desculpe'' ela disse,limpando as lagrimas. "Eu não deveria chorar por causa disso''.

Eu sabia que era difícil pra ela, ela raramente demonstrava fraqueza. Ela era sempre forte.

''Tudo bem'', eu disse sorrindo pra ela. Ela sorriu de volta pra mim, mas era um sorriso triste. Aquilo partiu o meu coração. Eu amava vê-la sorrindo. Eu queria ver o meu sorriso, aquele que eu amava aquele que era verdadeiro. Eu não podia deixar ela com aquele sorriso triste no rosto.

Então eu a beijei.

Estranho? Loucura? Talvez, mas na hora pareceu certo. Eu simplesmente a beijei, um beijo simples, apenas pressionei meus lábios no dela por alguns segundos. Ela se afastou de mim, assustada, me olhando. Nós nos olhamos por um tempo, até que dessa vez ela me beijou. Um beijo de verdade, um beijo incrível, um beijo que fez cada pêlo do meu corpo se arrepiar. A boca dela era doce, e a sua língua era macia contra a minha. Nós ficamos ali no sofá nos beijando, meio que sentados, meio que deitados, as unhas dela arranhando levemente a minha nuca. Nós poderíamos ter ficado horas ali, talvez dias, se o meu celular não tivesse tocado e nos trazido de volta pra realidade. Eu me separei dela e peguei meu celular, amaldiçoando quem estava nos interrompendo.

Era a Madisen.

Só ali eu lembrei que eu tinha uma namorada. Eu não devia ter ficado ali beijando a minha melhor amiga.

Eu olhei pra Jennette. Ela parecia estar tão sem graça quanto eu.

"Fala alguma coisa'' eu pensei." Fala pra ela que você a ama, anda logo, idiota, fala pra ela''.

Mas meu celular ainda tocava.

Ela olhava pra mim, esperando eu fazer alguma coisa.

"Isso foi errado'', eu disse sem pensar. Porque diabos eu disse aquilo? "Hann ... Eu vou atender ao telefone. '' eu falei e sai, fechando a porta do quarto dela e entrando no meu.

Eu estava muito nervoso.

Atendi ao telefone e resmunguei qualquer coisa pra Madisen. Mal entendi o que ela disse. Não conseguia parar de pensar no que tinha acontecido. No Nosso beijo. Nela.

Como aquilo aconteceu?

Nós éramos amigos conversando em uma hora, e de repente estávamos nos beijando.
Eu não podia negar que tinha sido incrível.

Eu não podia negar que eu amei o beijo

E que eu a amava também. Não só como amigo. Nunca tinha sido só como amigo.

E ela retribuiu o beijo. Será que ela me amava também?
"Bem, eu não vou descobrir ficando aqui falando sozinho'', eu pensei.

No momento em que eu decidi ir falar com ela, ela surgiu no meu quarto de repente. Ela começou a falar muito rápido:

"Desculpa'', ela disse. "Você tem razão. Nos não devíamos ter nos beijado. Você tem namorada, você é meu amigo. Isso ta errado. Desculpa, eu estava vulnerável no momento. Não vai mais se repetir''

Bem, pelo visto, eu estava enganado.

"Desculpa'', ela repetiu, e saiu do quarto, me deixando ali sozinho com os meus pensamentos.

Quando nós voltamos pra LA, era como se nada tivesse acontecido.

Nós nunca mais falamos nesse assunto.

As coisas iam correndo normalmente, embora estivesse um clima meio pesado entre nós.

Às vezes eu a pegava me olhando, e ela rapidamente desviava o olhar.

Às vezes ela me pegava olhando pra ela, e eu fazia o mesmo.

Nos ainda brincávamos, ríamos juntos. Mas nada como antes. Parecia haver sempre receio entre nós.

A Madisen nunca descobriu, embora ela desconfie de que algo aconteceu.

Eu não era do tipo que traía, e me senti muito mal por aquilo, então eu recompensava passando cada vez mais tempo junto com a Madisen.

E menos tempo com ela.

E agora, ela estava indo embora, e ela nunca vai saber o quanto eu a amo, o quanto eu preciso dela, como o sorriso dela é a coisa mais linda do mundo pra mim.

Eu devia fazer alguma coisa. Mas o que?

''Se você pedir, ela vai ficar''. Aquelas palavras rodavam a minha cabeça.