Decepciono-me, choro e me despedaço em cacos de vidro. Desejo desaparecer e tal como saio sem rumo ou metas, desvendo amores e mistérios, viajo o mundo inteiro e ao final do dia estou no caminho de volta para casa, talvez não curada, mas com cicatrizes absortas.

E então eu estou inteira de novo, estou de pés descalços no asfalto e de repente qualquer vestígio de sanidade se evapora com a chuva, liberto a mim mesmo e ao mesmo tempo prendendo-me em alguma espécie de cápsula do tempo, entre a realidade e a fantasia, entre o certo e o errado, e acima de tudo, entre a verdade e a mentira. Estou finalmente perto demais para tocar, mas longe o bastante para não me ferir, então perdida nas mãos do mundo, encontro a mim mesma em um único piscar de olhos. Sou isso, sou inteira, sou humana e sonhadora, estou forte e destemida, e agora, a única coisa que pode me parar é justamente o meu maior aliado. O tempo.

Ele, o mesmo tempo que criou minhas cicatrizes trata agora de torná-las invisíveis. O tempo, meu maior aliado e ainda assim o meu pior inimigo. Agora o mesmo tempo que me diminuiu me faz ficar mais forte, me faz gente grande, me transforma em algum tipo de heroina irônica, e acima de tudo, mostra-me que aos olhos do mundo eu talvez seja apenas uma farsa, mas que aqui dentro de mim sou apenas uma menina tentando conquistar o mundo, sem loucuras ou aversões, apenas eu mesma.