Acsa POV

Eu não acreditava naquilo que via. Melanie e Petter não podiam ter feito isto comigo. Não podiam!

Corri o mais rápido que pude, ignorando os chamados de Petter e de Melanie. Subi em uma árvore com uma velocidade que nenhum outro conseguiria e deixei que Petter passasse, procurando-me. Quando senti que estava sozinha, desci, me encolhi no chão e chorei em silencio.

 -Não chore, querida. - Disse uma voz ao meu lado. Me virei e vi Bastet ajoelhando-se ao meu lado. Ela tinha cabelos castanho-claros, mas só apareciam alguns fios por causa do elmo de cabeça felina que usava. Sua pele era levemente bronzeada, assim como a minha, seus olhos contornados por kajal tinham um tom brilhante de amarelo e seus lábios eram carnudos. Usava grandes brincos, diversas pulseiras e colares e uma túnica de linho.

 -Mãe. - Saudei, abaixando a cabeça com respeito enquanto beijava ambas suas mãos com delicadeza. Ela sorriu. - O que faz aqui? Hã... Sem ofensas, mas pensei que deuses egipcios não podiam passar pelas fronteiras mágicas de um acampamento grego.

 -Pensei que você estivesse precisando de mim. - Fez bico. Revirei os olhos e sorri. Apesar de ser uma deusa, ela às vezes parecia uma criança.

 Ficamos em silencio por um tempo, nos olhando, até que por fim ela suspirou.

 -A hora está chegando.

 -Eu sei disto.

 -Mas antes você precisará ajudar os gregos.

 -Perdão?

 -Você ouviu. Jasmine e Yumemi estão planejando montar a espada.

 -Mas eu disse a eles que--

 -É o que eles querem. Destruição. Você precisa impedir aqueles dois. Não só você, mas os seus parceiros gregos.

 -Com "parceiros gregos" você quer dizer a Annie, o Johan, a... a Melanie e o Petter? - Minha voz falhou nos últimos nomes.

 -Sim. Mas eu não vim aqui só para isso.

 -O que mais? - Perguntei curiosa.

 -Sua arma. Você ainda não tem uma, não é mesmo? - Pensei ter visto um brilho maligno nos olhos dela. Acho que meus olhos também brilharam, mas de alegria. Estou esperando por essa tal arma que ela tanto me conta faz um bom tempo. - Bem, ainda não é a hora... - Desanimei - Mas enquanto isto não acontece, não quero que fique desprotegida. Aqui, pegue. - Ela tirou de sei-lá-aonde uma tiara de orelhas de gato.

 -Ah, poxa, uma... hã... tiara...! - Tentei parecer animada, mas acho que ela percebeu.

 -Não é uma tiara. É a tiara. - Repreendeu. - Coloque-a. - Sorriu.

 -Certo. - Suspirei, colocando a tiara na cabeça. Sabe, eu sou filha de Bastet, a deusa da fertilidade, dos eclipses solares e dos gatos, mas não sou muito fã de tiaras de orelha de gato. E como diabos isto ia funcionar como uma arma?Ah, já sei! O inimigo ia olhar para a tiara, para mim, para a tiara, para mim e, por fim, morrer de rir. Wow, que arma fatal! Melhor que a foice da Annie.

 -Aqui, veja! - Bastet tirou um espelho em formato de gato de sabe-se-lá-aonde. Já falei que essas aparições repentinas de objetos estranhos está me assustando?

 Encarei meu reflexo no espelho e agradeci à Nefertum pelas orelhas de gato terem desaparecido.

 -Então...? - Ok, agora é sério, será que ela acabou de chegar do templo de Hathor?

 -Então o que?

 -A arma. Onde?

 -Olhe para você mesma.

 Eu usava uma túnica de linho egipcio, estava descalça como sempre, provavelmente também tinha olhos contornados por um kajal mágico agora. Em meus braços havia uma espécie de cordão prateado que se prendia em pulseiras com pingentes - a pulseira do meu pulso esquerdo tinha uma lua, a do direito um sol. O cordão era ligado a uma capa negra de tecido grosso que caia sobre minhas costas.

 -Esta é sua arma. - Disse.

 -A capa?

 -E as pulseiras. A capa, como pode imaginar, ajudará você a se camuflar. Não se preocupe, ela muda de cor. Por exemplo, se você estiver numa sala branca, ela fica branca. Entendeu?

 -Acho que sim. - Disse. - Obrigada, mãe. - Sorri, beijando novamente ambas suas mãos.

 Ela sorriu, levantando-se. Deu um passo para trás e se voltou para mim.

 -Tome cuidado com suas decisões, querida.

 Antes que eu pudesse perguntar alguma coisa, Bastet começou a brilhar num tom dourado, virei o rosto para não me transformar em cinzas. No último momento lembrei que ela não havia me falado sobre as pulseiras. Suspirei.