Romeo, Julieta E Bianca escrita por EstherBSS


Capítulo 4
A vida que se esvai com os segundos




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/202284/chapter/4

A vida que se esvai com os segundos

Rio de Janeiro

2012

Os bombeiros e paramédicos corriam entre as cinzas que caíam. O jato de água direcionado tentava apagar as chamas que tomavam conta de parte da lataria. Os carros de reportagem já estavam posicionados e algumas tomadas já eram transmitidas na TV aberta.

- ...que caiu durante o tiroteio. A hipótese mais provável é que o motorista tenha perdido o controle do veículo e por isso o ônibus teria caído do viaduto. Agora – a repórter se virou e apontou para a cena terrível -, é possível ver os bombeiros correndo contra o tempo para tentarem tirar todas as pessoas do veículo antes que ele exploda.

Outros repórteres já trabalhavam e as pessoas se juntavam para olhar.

- ...a cidade do Rio é vítima de uma falha na segurança...

- ...esse é o resultado da negligência com o setor de segurança...

Um dos bombeiros abriu caminho por entre as ferragens. Havia alguns corpos dilacerados e ele resistiu a vontade de vomitar. Alguém gemeu e ele gritou avisando que havia sobreviventes. Era um homem de meia idade com uma fratura exposta na perna. O bombeiro continuou procurando. Até que o ônibus não estava tão cheio naquela hora. Ele andava pelo que seria o teto do veículo. Viu a poça de sangue.

Aproximou-se mais rápido. A vítima estava perto do foco de incêndio e estava quente como o inferno lá dentro. Abaixou-se perto dos corpos e viu que era uma moça nova e um rapaz. Não tinha mais do que vinte e cinco anos. Era branca, estatura média e um pouco rechonchuda. Ela tinha um corte profundo na testa. O bombeiro a puxou com cuidado para afastá-la do fogo. O rapaz estava sobre ela, provavelmente tinha caído durante o acidente. Tentou retirá-lo com cuidado. Outros companheiros se aproximaram e colocaram a moça em uma maca. Ela tinha arranhões por todo o corpo, mas o corte na testa era o pior.

Retiraram a bolsa dela, para acomodá-la na ambulância. Ela ainda estava viva e devia ir para o hospital o mais rápido possível se quisesse continuar assim. Os paramédicos trabalhavam depressa e a ambulância cruzava a cidade com a sirene ligada.

Os médicos já estavam na porta esperando. A maca já estava preparada. Ela saiu do carro direto para o centro cirúrgico. O corte na testa não era apenas um corte. Ela havia sofrido traumatismo craniano. Um dos médicos, Dr. Marcus a achou muito nova. Aquilo era revoltante. Uma jovem não merecia morrer tão cedo por causa da inaptidão de políticos corruptos. O cirurgião se concentrou na cirurgia. Daria tudo para mantê-la viva. Era a sua palavra de honra. Na recepção, as atendentes reviravam a bolsa da mulher. Uma olhou para outra e disse:

- Disque 555-256-555. Avise que Bianca Baristieri sofreu um acidente. Esse é o telefone de contato em caso de emergência.

Karina reclamou por ser acordada no meio da noite. Meio sonolenta e meio acordada, ela empurrou os braços quentinhos do marido e se levantou para ir atender ao telefone na sala. Olhou o relógio. Eram mais de quatro horas. Detestava ser acordada no meio da madrugada e principalmente se fosse quase na hora dela acordar.

- Alô? – Ela disse esfregando os olhos e bocejando.

- Alô. Eu falo com Karina Bergman? – a voz do outro lado da linha disse.

- Sim. É ela. Quem fala.

- Desculpe ligar a essa hora, mas Bianca Baristieri deu entrada no hospital há algumas horas. Ela tem o seu telefone como contato de emergência.

- Como? – o susto espantou o sono de Karina – Bianca? Minha Bianquinha? O que aconteceu?

- Houve um acidente na linha vermelha essa noite e a senhorita Bianca está entre os acidentados. Estamos ligando para avisá-la. Você é parente dela, certo?

- Eu sou uma amiga. Ela não queria assustar os pais com nenhuma notícia e por isso sempre colocava o meu nome como contato de emergência. Diga qual o hospital que eu já estou indo para aí.

Quando ela chegou ao hospital, os pais de Bianca já estavam lá. Alguém tinha visto na internet e ligado para eles. A recepção não sabia dar maiores informações além do fato de que ela estava em cirurgia. Karina estava ficando ainda mais nervosa com o choro da mãe da amiga e se levantou, resolvendo dar uma volta.

Assim que se afastou o suficiente, pegou o celular. Tinha certeza que ainda tinha o celular de Rafael. Ele demorou muito para atender. Quando atendeu, não estava sonolento. Parecia ofegante... Karina nem quis pensar no que ele devia estar fazendo.

- Rafael? É a Karina.

- Karina? – ele xingou baixo – Isso é hora de se ligar? Ah, vou te falar...

- O que aconteceu exatamente entre você e a Bianca ontem?

- Eu não acredito que você tenha me ligado para isso.

- Ela está morrendo, Rafael! – Karina exclamou irritada – Eu quero entender porque ela está aqui e você não vai se negar a me dizer.

Houve um silêncio do outro lado da linha e alguns barulhos como se Rafael estivesse se levantando ou se sentando.

- Eu conversei com ela e a deixei sentada em um bar na Lapa. O que houve?

- Houve um acidente na linha vermelha com o ônibus. Está passando na TV. Ela está em cirurgia há horas. Pensei que talvez... Ah, deixa para lá. Desculpe por te acordar.

- Quem era? – Daniela perguntou acariciando o peito de Rafael enquanto ele desligava o telefone em silêncio. Ela beijou o pescoço dele, mas não obteve nenhuma resposta – Que foi?

- Bianca está no hospital. – ele disse e se levantou devagar. Como se decidisse o que fazer.

- O que... – Daniela riu – Ela entrou em coma alcoólico ou algo do tipo? Não suportou o seu fora?

Rafael olhou para ela sem emoções.

- Houve um acidente...

- Bom. Um problema a menos.

- Não acredito que disse isso. – Rafael falou chocado. Ele a olhava como se não a conhecesse,

- Ah, qual é? Não dê uma de santo. Você é tão errado quanto eu. Estava dormindo comigo mesmo antes de terminar com ela. Não haja como se você se importasse.

- Mas eu me importo. – Rafael falou começando a se vestir – Eu vou até o hospital. Tranque a porta quando sair.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Romeo, Julieta E Bianca" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.