PDV. Bella

Eu estava me sentindo mal. Mal não. Péssima. Essa era a palavra correta. Péssima. Eu havia magoado o Edward. Ele desistira de mim. Era isso o que eu queria, e eu consegui. Então por que essa sensação de tristeza tomava conta de mim? Por que as coisas tinham que ser assim? Eu não devia sentir nada por ele. Nossa ligação devia acabar agora. Eu devia cortar os nossos laços, antes que fosse tarde demais e eu não pudesse mais fazer isso.

Ele insistia em querer a minha companhia, por mais grosseira que eu fosse com ele. Por quê? O que ele viu em mim? Eu só lhe lançava xingamentos e grosserias. Nunca lhe dei um momento de felicidade. Nunca sorri para ele. E ele gostava de mim. Repito, por quê? E pior, eu também gostava dele. E eu me odiei por causa disso.

Tudo o que eu queria ao chegar nessa escola nova era ficar sozinha e em primeiro lugar, nunca e em nenhuma hipótese me apaixonar. E agora aquele garoto estava me fazendo isso. Ele era como uma praga que veio para piorar a minha vida. Desde o primeiro momento em que o vi meu coração balançou. E então eu percebi que o melhor seria afastá-lo de mim o mais rápido possível. Mas ele insistia e me perseguia por todos os lugares.

E teve o momento em que eu me machuquei. Quando o ácido queimou a minha mão. A dor foi horrível naquele momento. Eu nem consigo me lembrar direito do momento, mas eu me lembro bem de Edward. Ele me segurou e me abraçou. Com ele por perto me senti mais segura. Ele era quente e forte e seu abraço era tranqüilizador. Depois eu descobri que ele sabia do perigo da experiência e que não me avisou. Eu senti muita raiva dele no momento e me lembrei do motivo de detestá-lo.

O problema foi que no dia seguinte ele veio falar comigo todo preocupado. Sua preocupação amoleceu o meu coração de novo. E ele me abraçou. No início eu queria me desvencilhar dele, mas depois me senti bem de uma maneira que eu nunca havia sentido. Eu precisava de carinho. Eu queria carinho. O abraço foi bom, mas eu não pude prolongá-lo. Lembranças ruins invadiram minha memória e então tudo o que eu menos queria era ficar com Edward por perto.

Na aula ele viu o meu desenho. Eu nunca havia mostrado para ninguém. Seria uma conspiração? Por que tinha que ser bem ele a vê-lo?

Agora eu tinha um novo amigo, Jacob. Ele era um garoto divertido e parecia gostar de mim. Edward não gostava de Jake e eu não sei por quê. O Jacob é tão legal. Percebi que o Edward estava com ciúmes. Senti vontade de rir. Do Jake? Eu jamais teria algo com ele. É só um amigo pra mim, mas percebi que ele poderia resolver o meu problema. Eu ia fingir para o Edward que eu tinha escolhido o Jake e ia fingir que gostava mais dele do que do Edward. Assim talvez o Edward desistisse de mim. Ele é um jovem normal e logo desistiria de uma garota complicada. Ele merece mais do que isso.

Eu vou explicar uma coisa. Pelo que parece eu estou apaixonada pelo Edward, mas eu o odeio também. Ele é exatamente o tipo de garoto do qual eu tenho que me manter longe. Tudo nele lembra o James. É lindo, pegador, o garoto mais popular do colégio... E esse súbito interesse pela colega estranha de aula. Isso é o que mais me faz mal. O James também era assim. Eu não podia cair na mesma armadilha duas vezes. Eu já fui muito idiota uma vez e não vou ser de novo.

Percebi que estava chorando. Lágrimas escorriam de meus olhos e minhas mãos tremiam levemente. Eu estava na sala de aula, esperando o professor chegar para nos dar a última aula. A aula anterior passou e eu nem percebi, imersa em pensamentos. Tentei limpar as lágrimas, mas não adiantou muito. Mais delas caíram.

-Bella, você está bem? – Era a voz doce de Edward. Abri meus olhos e vi o rosto dele a poucos centímetros do meu. Sua testa se vincava em uma ruga de preocupação. Por que ele tinha que se importar tanto comigo? Será que essa história não poderia terminar sem ninguém sofrer?

-Não – Respondi com sinceridade. Ele passou as mãos em meu rosto para limpar as lágrimas e se virou para o professor – eu nem percebi que ele já tinha chegado à aula.

-Professor, a mão da Bella voltou a doer. Eu acho que vou levá-la ao médico está bem? - Ele perguntou ao professor que assentiu. Saímos da sala e caminhamos pelo estacionamento da escola, enquanto ele me levava em direção ao seu carro.

-Você está bem? – ele repetiu a pergunta que fez na aula.

-Minha mão não está doendo, se é isso que quer saber! – respondi bruscamente. Por que eu sempre reagia assim com ele? A expressão angelical de Edward não se alterou, ele pegou minha mão machucada com delicadeza e aproximou de sua boca, então a beijou com suavidade. – Eu não quero ver você se ferir nunca mais Bella. Eu não podia fazer nada, além de assistir você agonizando – falar aquilo parecia perturbá-lo profundamente.

-Eu já disse Edward, minha mão não está doendo – minha frase começou brusca, mas terminou de maneira mais calma. Eu já estava mais calma.

-O que está acontecendo, Bella? – ele perguntou, pegando minha outra mão. Desvencilhei-me dele. Estávamos perto demais. Íntimos demais. Isso era ruim.

-Nada – me virei, pronta para ir para casa. -Por que não volta pra aula, Edward?

Ele me puxou levemente com o braço e me virou em sua direção.

-Bella, pára de fugir de mim, por favor – Edward disse numa voz de partir corações – Eu quero te ajudar, mas preciso que você me conte os seus problemas.

Por um momento eu pensei em lhe contar. Por um momento eu queria lhe contar. Mas me lembrei que ele era o meu problema. Eu precisava me manter distante dele.

-Edward, me desculpe – murmurei me aproximando dele. – Me desculpe, mas você não pode fazer nada. Só me ajudaria se você se afastasse de mim – eu o abracei. Eu queria sentir nossos corpos juntos uma última vez, depois eu esperava que ele nunca mais falasse comigo. – Edward, você não pode me ajudar. Não cause mais sofrimento a si mesmo. Me esqueça.

Os braços dele me envolveram como cobertores. Quentes e confortáveis. Eu queria ficar ali para sempre, mas sabia que isso era impossível. Era errado.

Me afastei dele e senti uma dor no coração e um nó na garganta. Eu sabia que o tinha perdido. Que tudo tinha acabado. E isso devia ser um alívio, era o certo. Mas eu me sentia triste. Tinha que ir logo para casa, para poder chorar sozinha. Me virei e deixei Edward para trás. O meu amor para trás. Eu devia odiá-lo, ele fazia mal pra mim. Mas eu o amava mais do que qualquer coisa no mundo.