-Q-quem é você? – gaguejou Party. A menina não respondeu, tamanho foi o seu choque. Fun se aproximou um pouco dela, mas Sunshine pulou da cama e recuou.

-Calma, baixinha, eu não vou te fazer mal. – disse Fun, tentando se aproximar mais uma vez e, novamente, a pequena recuou. Jet franziu a testa e abriu o comunicador do quarto, digitando alguns números. Da tela, surgiu o holograma de Poison Heart. Ela parecia exausta e seus cabelos azuis estavam escorridos e molhados. Seus olhos que, pela primeira vez, não estavam maquiados, denunciavam cansaço.

-Poison Heart fa-a-lando. – disse ela, em meio a um bocejo. Ao ver os quatro Killjoys do outro lado da linha, logo assumiu uma expressão irritada – Ah meu deus, o que foi agora?!

-Não acha que nos deve explicações? – replicou Jet. A face de Poison parecia confusa. Kobra direcionou a câmera em direção à Sunshine.

-... Ah. Olá, Sunshine. – disse Poison – O que houve? Eles estão te incomodando?

-Ei! – Poison ouviu Party exclamar.

Sunshine balançou a cabeça negativamente. Jet voltou o foco da câmera para si mesmo.

-Quem é ela e por que está aqui? – indagou ele, baixinho.

-Ela é a Sunshine.

-Quem... ?

-É uma longa história. – interrompeu ela – Apenas convivam com ela, sim? É só até amanhã. Eu vou conseguir um quarto só pra ela.

Os quatro se entreolharam.

-Mas Poison... – começou Kobra. O killjoy logo desistiu de falar ao ver o olhar gélido de sua chefe.

-Poison Heart desligando. – murmurou ela, irritada.

Jet deu um assobio.

-Essa Poison é fogo...

-Nem me fale. – disse Party. Este último se virou para a pequena Sunshine.

-Escuta... Sunshine? Esse é o seu nome? – ao ver a menina assentir, Party continuou – Então escute Sunshine. Nós não vamos lhe fazer mal, ok? Pode dormir na minha cama. Fun, posso dormir na sua?

Fun Ghoul arregalou os olhos, mas assentiu.

É, essa ia ser uma longa noite.

-X-

Os quatro tentaram agir naturalmente, mas era quase impossível fazer isso com a criança assistindo, até que Kobra lhe deu um dos cadernos de desenho de Party. Sunshine passou o resto das horas desenhando, até que ela chegou perto de Party e puxou suas vestes, tentando lhe chamar a atenção. Party olhou para baixo e viu a pequena lhe estender a folha na qual desenhava. Nela, ele viu o rosto de um homem careca com olhos ameaçadores. Party franziu a testa.

-Quem é?

Os olhos cor de chocolate de Sunshine se encheram de lágrimas e ela não respondeu. Ao invés disso, tirou a folha das mãos do maior, desenhou mais alguma coisa e entregou-a novamente.

Party viu dois bonecos palitos: um homem e uma mulher. Ambos tinham dois “x” no lugar de olhos, indicando que estavam mortos. Uma seta ligava o rosto do homem ao casal morto. Ao lado deles, outro boneco palito, dessa vez sendo uma menina, chorava. Sunshine olhou para Party, esperançosa.

-São seus pais? Este homem os matou? – perguntou ele. A menina assentiu tristemente.

-Mas por que ele os matou?

A menina deu de ombros.

-Você conseguiu escapar deles, não é? – perguntou Jet, se metendo na conversa. Party olhou para ele de cara feia, mas sunshine assentiu. Foi só aí que ela notou que os outros três interromperam seus afazeres e olhavam para ela. Sunshine corou e se escondeu debaixo das cobertas da cama de Party. Este último suspirou e guardou o desenho debaixo de seu próprio caderno. Talvez, uma hora, ele tornasse a examinar o desenho.

Todos os quatro começaram a se preparar para ir dormir. Na verdade, Fun se preparava mais do que todos, afinal, ele também tinha que se preparar psicologicamente. Ele já conseguia imaginar todos os copos de café que seria obrigado a tomar no dia seguinte.

Party, que não via o menor problema em dormir com o amigo, se ajeitou na cama. Fun deitou ao seu lado e percebeu que começara a suar frio. Rapidamente, tentou disfarçar.

-Boa noite, Fun! – disse ele, se virando para o lado oposto.

-Boa noite... – sua voz não passava de um sussurro rouco.

-X-

Já passava de meia-noite e Fun ainda não conseguia dormir. Em algum ponto da madrugada, Party se virou na direção dele, fazendo com que o menor pudesse sentir seu hálito fresco. Porém, ao tentar se virar, Fun podia sentir o corpo do maior contra o seu e isso lhe trazia pensamentos um pouco... Digamos... Impuros. Fun optou simplesmente por ficar virado na direção de Party. E ali estava ele, observando o lindo homem de cabelos ruivos dormir serenamente. O menor examinou cada detalhe de seu rosto e, ao observar sua boca fina, teve uma vontade intensa de beijá-los. Fun gemeu ao sentir o corpo de Party se chocar contra o seu, enquanto o maior dormia, inconsciente de seus atos. Fun estava surpreso com o fato de que Party ainda não tinha acordado com seus gemidos constantes. Ele sabia que não devia ter esses pensamentos para com seu melhor amigo, mas ele não podia evitar.

Fun Ghoul suspirou ao examinar pela quinquagésima vez o rosto calmo de Party. Ele passou levemente os dedos em sua face pálida, admirando sua beleza. Fun sabia que nunca poderia tê-lo, mas essa era uma ótima oportunidade de observá-lo sem ninguém para censurar.

Fun suspirou e beijou levemente a testa de Poison, esperando que este último não acordasse. Suas expectativas funcionaram e seu amigo roncou levemente. O baixinho riu e sussurrou:

-Boa noite, meu amor inalcançável...

-X-

-Caralho Fun, você ta bem? – perguntou Kobra enquanto assistia Fun ficar pronto para irem ao treinamento.

-Hmm? Claro...

-Tem certeza? Você está com umas olheiras enormes... – disse Party, preocupado, passando a ponta dos dedos levemente na face do amigo, mais especificamente em cima das olheiras. Fun corou.

-Não, é que eu demorei um pouco pra dormir ontem...

-Eu ronquei enquanto você dormia e te acordei?

-Não, não... Não foi culpa sua. – ele tentou sorrir fracamente.

-Tem certeza?

-Sim! Claro!

-Então tudo bem... – ele suspirou – Bom, vamos lá, antes que a Poison coma o nosso fígado.

Os quatro desceram rapidamente até a arena, encontrando uma Poison Heart muito ocupada.

-Shh, esperem! – Party abriu os braços, impedindo a passagem dos outros três, e começou a assisti-la.

Poison Heart suspirou e tirou uma espada de laser da cintura.

-Mas as espadas só são usadas em situação de emergência! – sussurrou Kobra, boquiaberto.

-Cala a boca, Kobra! – murmurou Party.

A menina de cabelos azuis se aproximou de bonecos de palha e estalou os dedos.

Em questão de segundos, ela pulava para lá e para cá, fazendo manobras e acertando todos os bonecos e vendo a palha sair de seus “corpos”. Dois minutos depois, todos os dez bonecos estavam praticamente destruídos.

-Como... – gaguejou Jet, baixinho. Poison, que ainda não tinha notado a presença de seus quatro alunos, desligou o laser da espada e a colocou de volta na cintura. Do outro lado, tirou sua arma e ficou girando a raygun entre os dedos.

-Como fez isso? – perguntou Party, em voz alta. Poison arregalou os olhos e se assustou tanto que deixou cair a raygun.

-D-do que está falando?

-Da espada. Como fez aquilo? E por que fez aquilo?

-N-n-não é da sua conta.

-Eu q...

-Não é da sua conta, Party Poison. – cortou ela – Vamos começar logo o treinamento, vocês estão atrasados.

-M...

Poison Heart lançou mais uma vez seu famoso olhar gélido que fez o killjoy calar a boca.