Party e Jet começaram a virar as cabeças, procurando pela voz, mas não acharam. Fun e Kobra se entreolharam e franziram a testa, mas Poison simplesmente olhou para a porta, esperando a voz dizer mais alguma coisa.

-Então, o que acharam?

­-Vocês estão criando mutações para nos matar. O que quer que achemos? – rosnou ela.

-Ooooh, desculpe se te magoamos! Mas é necessário, afinal, vocês rebeldes não nos obedecem!

-Obedecer a uma companhia que cria pílulas de prazer e que pretendem nos fazer matar uns aos outros? Não, obrigada! – cuspiu Poison. A outra voz ficou calada por um curto espaço de tempo.

-Pois bem. – a voz ficou fria – Vejamos se gostam das mutações perto de vocês.

Dito isso, a caixa com Tracker Jackers se abriu instantaneamente, libertando as vespas geneticamente modificadas. Todas foram em direção ao grupo. Poison gritou para correrem, e eles obedeceram sem pensar duas vezes. Party praticamente quebrou a porta e saiu correndo pelos corredores, enquanto os outros simplesmente o seguiam, correndo rápido. Kobra ocasionalmente soltava tiros com sua raygun, esperando que pudesse acertar alguma. Claro que nada aconteceu, afinal, todas as aulas de mira que tivera com Poison desapareceram de sua mente na hora do desespero. Poison bufou e atirou, matando duas ao mesmo tempo. Porém, duas não eram nada comparadas à nuvem de Tracker Jackers que os seguia. De repente, Poison, que estava um pouco mais para trás do que os outros, recebeu uma ferroada de Tracker Jacker. A menina gritou, o que chamou a atenção dos outros. Kobra automaticamente arregalou os olhos e voltou o caminho todo até Poison, que estava ajoelhada no chão, gritando de dor. Party gritou o nome do irmão, mas o último não lhe deu ouvidos, pegou Poison no colo e a carregou, aparentemente, sem maiores problemas. Fun arregalou os olhos e gritou:

-NÃO TEMOS TEMPO! ANDEM LOGO! – e com isso, eles voltaram a correr, os Tracker Jackers em seu encalço. Eles decidiram se separar na bifurcação. Party, Kobra e Poison foram para um lado e Jet e Fun foram para o outro. Antes de se separarem, Party lançou um olhar de dor a Fun, que retribuiu com um meio sorriso de desculpas. Foram as únicas coisas que fizeram antes de um seguir para um lado e outro seguir para o outro. A nuvem de Tracker Jackers se dividiu em duas e cada um foi para um lado.

Kobra e Party corriam muito rápido, ou o mais rápido que o peso do corpo de Poison os permitia. A menina gemia e se contorcia, ficando tonta e tendo alucinações, ao mesmo tempo em que sentia o veneno entrar em suas veias. Fez um esforço enorme, o que fez sua cabeça latejar ainda mais, mas alcançou seu braço esquerdo e retirou o ferrão de Tracker Jacker. Não ajudou muito, mas ela sabia que ajudaria mais tarde.

-Você vai ficar bem, eu prometo. – sussurrou Kobra, ofegante. Ela sorriu fracamente em agradecimento e remexeu-se no colo de Kobra.

-Eu já posso andar.

-Mentira. – comentou Party.

-Não, sério, deixa eu andar! – disse ela, teimosamente, pulando para fora do colo de Kobra e quase desmaiando por causa do impacto no chão, somado à sua dor no braço. Ela pôde jurar que viu bolinhas pretas dançando à sua frente, mas fazia parte da alucinação. Continuou correndo ao lado de Party, ignorando os olhares preocupados que Kobra Kid lançava constantemente. Sua cabeça parecia que ia explodir, isso era fato, mas ela fez esse esforço, afinal, havia prometido a Kobra que ficaria viva, não é?

-Vamos entrar aqui! – gritou Kobra, apontando para uma porta de metal que parecia diferente das outras. Tentou abrir e não conseguir. Party bufou e gritou para o outro sair da frente e se jogou na porta, abrindo-a bruscamente. Os três entraram de forma rápida e fecharam a porta, sentindo as vespas enterrarem os ferrões na porta metálica, mas nenhum dos ferrões atravessou a porta. Poison escorregou e caiu no chão, sentada. Party e Kobra se ajoelharam perto da menina que gemia e se contorcia de dor. Kobra abraçou-a e beijou sua face e, surpreendentemente, a menina não o empurrou nem protestou, simplesmente olhou-o com intensidade. Subitamente, Kobra teve uma ideia.

-Gee... Você ainda tem o livro aí?

-Não. Por quê? – indagou ele, franzindo a testa.

-Talvez tenha alguma informação sobre veneno de Tracker Jacker... – ele mordeu o lábio – Lembra-se de ter visto um nome desse?

-Acho que não. Sinto muito. – ele deu de ombros e lançou um olhar de desculpas.

-Não, tudo bem. Não era obrigação s... Poison?

Ela não respondeu. Seus olhos estavam fechados e não se abriram. Party arregalou os olhos e Kobra também. Ambos ficaram estáticos, sem saber o que fazer, até que. Kobra balançou a cabeça e pegou o tablet que havia trazido consigo. Começou a procurar algo desesperadamente, enquanto Party murmurava para Poison ser forte e continuar. De repente, Kobra gritou:

-ACHEI!

-Achou o que?

Kobra não respondeu e começou a procurar por pílulas da BLI pela sala onde se encontravam. Logo as encontrou em um armário próximo. Pegou uma caixa, pescou somente uma e deu a Poison, pondo a pílula delicadamente na boca vermelha da menina. Passaram-se vinte segundos e ela acordou bruscamente, olhando em volta e sentindo o veneno sair de seu corpo lentamente. Kobra ofegou e sorriu ao vê-la sentada e beijou-a lentamente. Party pigarreou, visivelmente desconfortável. Poison afastou Kobra levemente e se levantou.

-Obrigada por me salvarem. O que me deram?

-Se eu falar, você vai me matar. – disse Kobra, ficando vermelho.

-Não vou. – prometeu ela.

Kobra hesitou um pouco antes de sussurrar:

-Pílula da BL/Ind.

Ela ficou tensa e pareceu que ia explodir, mas, ao contrário, não fez nada.

-Obrigada. Vocês me salvaram. Vocês dois. – ela deu um beijo na bochecha dos dois, surpreendendo tanto Party quanto Kobra. Poison pegou sua arma que estava jogada no chão e abriu a porta, observando os Tracker Jackers presos na parte de fora. Ela olhou de um lado para o outro, franziu a testa e indagou:

-Ei, cadê o Jet e o Fun?

-Foram para o outro lado. – Party mordeu o lábio inferior – Temos que achá-los.

Poison assentiu e os três foram ao encalço dos dois colegas. Em um dos corredores, acabaram encontrando com uma menina estranha. Tinha os cabelos negros e ondulados, os olhos eram de um tom esverdeado e vestia um uniforme da Better Living Industries.

-Ei, quem são vo... ESPERA AÍ, SÃO OS PROCURADOS! – ela arregalou os olhos. Poison chegou por trás dela e tapou a boca da mulher.

-É, somos. E você fica quieta, se não, eu juro que vou te matar.

Party e Kobra se entreolharam.

-Poison, acho que não precisa ser tão... Indelicada. – disse Party, com um tom de voz casual. Poison lançou-lhe um olhar nada agradável e soltou a mulher.

-Então você lida com ela. Anda!

-Qual o seu nome?

-Giselle. – disse ela, baixinho.

-Será que existe alguma chance de que nós possamos convencê-la a não contar para ninguém que estamos aqui?

-Acho que não. – admitiu ela, com uma expressão séria no rosto. Kobra suspirou e preparou a arma, porém, Party Poison o impediu.

-Espera aí, eu te conheço... – ele pensou por um longo tempo, até que um estalo lhe veio à mente – Espera, você é Giselle Roux, não é?

-Sou, por quê? Como sabe meu nome? – indagou ela, franzindo a testa.

-Eu tentei te tirar das mãos de um Draculoid quando atacaram a sua escola, mas você disse para eu salvar a sua irmã e foi o que eu fiz. Meu nome é Party Poison, lembra de mim?

A menina arregalou os olhos.

-Claro que eu lembro! – ela sorriu, mas seu sorriso desapareceu logo depois – Como está a minha pequena Jasmine?

-Eu não sei. – respondeu ele, com sinceridade – Logo depois que a salvei, ela saiu correndo. Não pude segui-la, sinto muito.

-Não tem problema. Contanto que ela esteja viva... – ela suspirou – Desculpe não me lembrar de você.

-Tudo bem. Mas o que faz aqui? Trabalha para eles?

-É, né. Fui capturada e todos que são capturados são forçados a trabalhar aqui... Isto é, quando não são mandados para as Salas de Teste, é claro.

De repente, Poison Heart fez um barulho de impaciência.

-Com licença, pombinhos... Nós temos dois Killjoys para salvar!

Party olhou para Giselle mais uma vez.

-Nós temos que ir...

-Espera, eu vou com vocês.

-Você? Ficou maluca? Você vai ser mandada para uma Sala de Teste se ajudar a gente a soltá-los!

-Mas eu te devo essa, não é? – ela fez uma careta – Anda, não vou discutir com você. Acho que sei onde seus amigos podem estar – ela saiu correndo na frente. Party, que não estava com humor para discutir, acabou seguindo-a, assim como Kobra e Poison.

-X-

Enquanto os três lutavam para fazer Poison voltar a viver, Fun e Jet lutavam contra os Tracker Jackers. Ray começara a atirar neles, enquanto Fun tentava achar um lugar em que pudessem ficar até a nuvem deles ir embora. O problema é que, como o primeiro grupo descobriu, os Tracker Jackers são feitos para perseguir qualquer um até a morte (ou até que ficassem presos em uma porta). Isso só fez com que Fun se desesperasse mais.

-ANDA, A GENTE PRECISA SAIR DAQUI! – disse Jet, vendo um Tracker Jacker passar de raspão por ele.

-C-calma! Eu estou tentando! – respondeu Fun, que tentava abrir qualquer porta que achasse pelo caminho. Porém, todas estavam trancadas. Fun foi tentando abrir todas, até que achou uma que abriu. Entraram no cômodo e fecharam rapidamente a porta, livrando-se, assim, dos Tracker Jackers. De repente, os dois ouviram barulhos que pareciam vir de uma criança. Ambos olharam na direção de onde vinham os barulhos e viram Sunshine, amarrada em uma cadeira. Eles correram para soltá-la e, quando Fun retirou a mordaça que a impedia de falar, a menina gritou:

-SAIAM DAQUI, É UMA ARMADILHA!

Os dois olharam para trás e viram uma horda de Draculoids entrando. Jet lançou um olhar preocupado a Fun. Eram muitos, não dariam conta de todos. Fun se ajoelhou e disse:

-Sunshine, eu quero que se saia daqui e se esconda. Longe da vista de Draculoids, Exterminators ou algo do tipo. Tente encontrar Poison, Party e Kobra. Eles estão por aí.

-M-mas vocês vão morrer!

-Não vamos morrer. – disse ele, um pouco incerto – Vamos ficar bem, eu juro.

A menina começou a chorar e abraçou Fun fortemente. Ele retribuiu o abraço, sentindo uma lágrima solitária escorrer pela sua bochecha.

-Vá. – sussurrou ele. Sunshine deu uma última olhadela no amigo e se esgueirou rapidamente, saindo pela porta. Jet olhou para Fun e disse:

-Belo jeito de morrer, não?

-Cercado por Draculoids? – ele fez um barulho de escárnio – Acho que não.

-Não. Morrendo por um mundo melhor. Um mundo habitável, sem uma companhia vendendo pílulas de prazer.

Fun Ghoul sorriu involuntariamente.

-É... Pensando assim, é um belo jeito de morrer mesmo.

Os dois deram um último sorriso antes de começarem a atirar feito loucos. Vários dos tiros passaram de raspão elos Draculoids, porém, alguns realmente acertaram, matando-os quase que instantaneamente.

Jet Star, que estava mirando perfeitamente nos Draculoids, foi quem conseguiu matar um maior número deles, já Fun desviava dos tiros mais do que atirava, deixando os Draculoids frustrados e, por isso, com menos controle, deixando-os como alvos mais fáceis. Porém, mesmo com tudo isso, ainda haviam muitos Draculoids para exterminar, e logo os dois Killjoys estavam se sentindo fracos e tontos demais para prosseguir. Fun sentiu suas últimas forças se esvaindo e um enorme desejo de ficar ali, inerte, tomou conta de seu corpo. Ele pensou em Party, em como poderia ter uma vida normal (ou o máximo de normalidade que um Killjoy poderia ter em sua vida) junto a ele, mas nem mesmo isso foi capaz de lhe dar impulso para continuar. Jet também estava com os músculos do corpo doendo e estava visivelmente cansado. Foi para perto de Fun e murmurou:

-É... Parece que esse vai ser o nosso fim. – ele sorriu tristemente.

-É o que parece. – disse Fun, ofegando.

De repente, a porta se abriu, revelando Poison, Kobra, Party e uma menina que nem Jet e nem Fun conheciam. Os três Killjoys atiraram e mataram todos os Draculoids que estavam na sala, enquanto a menina assistiu a matança com inflexibilidade no rosto.

Ao mesmo tempo que Poison, Kobra e Party matavam tantos Draculoids e Fun observava tudo isso, maravilhado, Jet não prestava atenção nisso. Toda sua atenção havia sido voltada para a menina desconhecida que apareceu ali. Sua franja colada na testa por causa do suor, o olhar frio e atento, a expressão de confusão misturada com determinação... Tudo parecia ser atraente nela. A menina mexia com algo dentro de Jet que ele não conseguia explicar.

Ele a amava.