Soul Healer - Viva La Revolución escrita por Frau Schnellfeuer


Capítulo 8
Os Cordeiros Armados até os Dentes...


Notas iniciais do capítulo

Ai! Já disse que odeio o espaço "Título do Capítulo" do Nyah!?
>_
Enfim.
Lá vem Sai de Baix... ooops, Soul Healer.
Ah, pessoas: se liguem please, na cronologia das putaria. Sério, sei que é chato ficr prestando atenção em horários e tal, mas se não fizerem isso pelo menos dessa vez, cêis num vaum intendê nadz.
(Capítulo Revisado )



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[Capítulo IV] - Os Cordeiros armados até os dentes e o Lobo no meio deles/ O Primeiro Ataque

"Se a morte fosse um bem, os deuses não seriam imortais."

(Safo de Lesbos)

12 de novembro de 5845, Centro-Sul de Nebula, 22h52min

Mais uma daquelas reuniões de excêntricos e Caleb ficaria muito satisfeito em estourar os próprios miolos só pra quebrar a monotonia. Os sons de música e de vozes picadas enchiam os ouvidos sensíveis do caçador a ponto de querer sair correndo dali. Aquelas pessoas falavam demais, alto demais, com emoção demais. Caleb queria esmurrar alguém.

Se metade do corpo policial Nebulano soubesse do que era composto o famoso e temido Conselho Estacatto, aquela sala provavelmente estaria entupida de oficiais fortemente armados (Não que já não tivessem tentado, mais de uma vez). Mas os peixões da Polícia Distrital recebiam mais que o dobro do seu salário líquido pra ficarem moucos à barulheira que eram as reuniões mensais.

À primeira vista todo aquele aparato não passava de crianças novas demais pra atirar com uma. 38, ou velhos tão velhos que não conseguiam usar o penico sozinhos. O único perigo aparente daquele cenário eram os 14 charutos acesos muito próximos da toalhinha de renda – sem nenhum extintor de incêndio por perto, notou Caleb.

Chiara Mazzero-Castiglione,  a matriarca da Família Castiglione da zona oeste, estava sentada em uma das cadeiras de espaldar alto, ao redor da mesa de mogno comprida e retangular. Logo atrás dela, de pé, Alphonse Castiglione III (que na maioria das vezes já ocupava a cadeira da avó, exceto em ocasiões muito especiais, como a do momento), Caleb e por trás dos dois o enorme Big Tom, com suas suíças alouradas e imponentes. Era assim com o resto dos 13 membros. Alguns velhos enrugados, dois ou três menores de idade, uma garotinha de nove anos morena, de bastos cabelos encaracolados e olhos verdes que parecia não entender direito o que estava acontecendo. O seu charuto queimava nas mãos de um homem alto, de cabelos descoloridos, asiático.

O senhor na ponta superior da mesa, Giuseppe Fiorentino, com um estupendo e nada discreto bigode imperial bateu palmas. Havia duas garotas gêmeas logo atrás dele, sorrindo e cochichando segredos uma a outra. Provavelmente sobre o novo cara alto atrás do Picollo Al.  Ninguém se calou. Nem mesmo as gêmeas que estavam logo atrás. Chiara discutia algo com o rapazinho moreno ao seu lado, como você não mudou nada, Giovanni, está do mesmo jeito quando te conheci há 45 anos!

Primeiro o homem de bigodes teve que gritar. Logo estava berrando. Quase 10 minutos depois, quando esgoelava palavras (e palavrões) em italiano, batendo palmas acima de sua cabeça, e esmurrando a mesa, foi que conseguiu algum silêncio.

“Que família barulhenta você tem, hem, Al...”

A discussão daquele Conselho em especial era dedicado ao recente ingresso de um caça-prêmios na prestigiada família Castiglione. O mesmo caça-prêmios que por acaso, duas semanas antes tinha perfurado os rins de Francesco di Napoli, da Eleventh Street, o dom de dezenove anos, com carinha de moça e voz de tenor, cuja cadeira agora era ocupada por sua irmã mais nova, Allegra, a picolla de cabelo castanho e encaracolado.

Metade do conselho – aquela que não padecia de mal de Parkinson ou Alzheimer, mas que provavelmente ainda tinha polução noturna  – era a favor da entrada de Caleb Hund, como cão de guarda da ilustríssima Nonna Chiara. A outra metade, reacionária, considerava afrontoso que um militar reformado, e pior, caçador de recompensas se misturasse numa linhagem tão pura. As únicas exceções eram os extremos do tempo: Uma senhora de 71 anos e uma garotinha de nove.

Chiara Castiglione falava a favor daquele garoto que viu crescer. Por mais barbado que estivesse Caleb sempre seria um dos seus moleques...

– ...O Sr. Hund sempre foi da família. Este rapaz cresceu junto com o meu Picollo Al, e o finado Castiglione adorava-o. Ele mesmo o treinou. Caleb nos ajudou de muitas formas quando o meu velho Alphonse se foi, e foi um bom amigo pro meu picollo. Apesar do seu caminho até aqui ser um pouco trágico – nessa hora ela fez uma pausa e enxugou com um lenço florido uma lágrima do canto do olho – ele sempre foi um bom menino.

Uma tossidela foi ouvida logo atrás de Allegra di Napoli, vinda do seu guarda-costas asiático que fumava o charuto da sua Família. Sorriu, embaraçada, desviou o olhar e balançou os pezinhos debaixo da mesa quando percebeu que todos os outros treze olhares estavam sobre ela.

– Ahm... Bem... Cof, cof Eu me posiciono contra a entrada. Estou aqui para falar pelo meu irmão, coitadinho, que ficou no hospital com um enorme ferimento na barriga. Desde que o Sr. Hund invadiu o escritório do meu Papa, onde meu irmão estava e o atacou, eu pedi ao senhor Akito para investigá-lo. Com sua permissão, senhor Giuseppe, eu vou ler o... O... – Ela se esticou até o homem asiático e perguntou algo à ele, muito baixo para ser escutado pelo restante da mesa. Ele sussurrou uma resposta no ouvido dela e ela corou – ah, obrigado, Akito. O dossiê. Vou ler o dossiê.

A garotinha colocou óculos pequenos, cor-de-rosa com correntinhas de ouro que lhe faziam parecer uma pequenina avó. E começou a ler fluentemente.

– Arisugawa Caleb Hund, filho de Arisugawa Arashi uma neurocirurgiã e Maddux Hund, um antigo Coronel de infantaria do Exército. Descendente de alemães por parte de pai e japoneses por parte de mãe, o Sr. Hund nasceu dia oito de agosto do ano de 5824, em Das Engels. Mudou-se muito jovem para Nebula por ocasião da morte de seus pais em um latrocínio. 

Caleb nunca foi muito de noticiar suas emoções, mas seu espírito era mais volátil do que éter líquido. Sua expressão foi se aprofundando ao ver seu passado sendo destrinchado perante aquelas pessoas que não conhecia.

–  Ele veio para a cidade para ficar sob a custódia de Arisugawa Miho, sua tia materna e única parenta viva, junto com sua irmã mais nova, batizada por Arisugawa Minae Hund, nascida em 14 de novembro de 5827, atualmente desaparecida. Mas a senhorita Arisugawa alegou em tribunal que só podia cuidar de uma das crianças e a guarda de Minae foi concedida a ela. Caleb foi enviado para o Centro Militar de Proteção de Menores Desabrigados e iniciou seus estudos como militar aos nove anos... Porém, fugiu diversas vezes e preferiu morar nas ruas. Foi nessas circunstâncias que ele se envolveu com a Família Castiglione. Alguns anos depois, especificamente 5840, Caleb deu sua primeira entrada no reformatório Donna Louise Lorscheider, apenas alg....

A leitura da garota foi interrompida pela ponta de uma faca de vindo em sua direção. Akito deu um puxão repentino no espaldar da cadeira da garota, quase deitando-a no chão, ao mesmo tempo que agarrou a faca precisamente pela ponta e a jogou de volta na direção de Caleb. Tudo durou só um segundo, coisa de filme de ação. Logo a menina estava de volta à posição inicial, com os óculos tortos o cabelo esvoaçando e a faca estava cravada na parede atrás de Caleb. O espadachim ofegava e tinha outra faca na mão, maior. Uma meia espada afiada e pronta pra ser usada, com a qual desviara o contra ataque. Por um quase nada ia ficando uma cabeça mais baixo.

– Chega! Basta! Basta! Basta! – Giuseppe Fiorentino se ergueu e começou a bater palmas (era seu jeito de demonstrar que estava irritado) – Basta pequenos! Nonna, aquiete seu cão de guarda, per favore, an? E Senhorina Di Napoli, não acha que foi meio indelicado xeretar a vida do pobre ragazzo? Non, non, non. Questo está errado. Nonna, podes ter quem quiseres como membro de tua família, questo não é da nossa conta... Mas será una afronta à Família di Napoli ter esse garoto... Selvagem, nas reuniões de nostro adorado Conselho. Entendo que o picollo Francesco precisava de um corretivo... Sinto molto, Nonna,  mas o garoto não pode tomar um lugar nesse Conselho Estacatto. Estamos fracos, senhores, precisamos mais que nunca nos unir. Somos una família, an? Una famiglia!

Caleb pediu licença, arrancou a própria faca da parede  e deixou a sala.

O resto daquela reunião passou em branco, pra alegria dos neurônios exaltados do rapaz.

Quando Alphonse deixou a sala, Caleb esperava do lado de fora do prédio. Ele se despediu e agradeceu à Alphonse por tudo.  Prometeu uma cerveja pra depois, subiu na moto e foi pra casa, cansado de tudo aquilo.  Cansado do passado.

Quando Caleb descobriu, logo após levantar dos mortos, que era um Imune, e carregava no sangue uma moléstia que atormentava a Sagrada República à pelo menos oitenta anos, ele se considerou sortudo. Quem mais além dele naquele maldito inferno que chamavam de Nebula se consideraria? Bem, Caleb se considerou. Erguer-se dos mortos era um benefício discutível na vida que levava, e talvez Caleb devesse ter se recolhido à sua insignificância de defunto e permanecido gelado pelo resto da condenada eternidade. Mas estava fora do controle dele. Até mesmo morrer estava fora da sua jurisdição.

Devia ser uma bruta sorte meio controversa, ou só azar escrachado mesmo. Caleb podia não acreditar nos deuses que os padres e sacerdotes pregavam, mas qualquer que fosse o ser que cuidasse daquela parte da sua vida, nos últimos tempos estava com um humor particularmente sádico.

Ele nunca tivera domínio de nada, e domínio não era uma palavra que se adequasse ao seu estado de espírito; na verdade, causava-lhe calafrios, para não dizer furor surdo, quando tentavam aplicá-la praticamente à sua pessoa. Poucas vezes teve escolhas diretas na vida, e quando teve, sempre fez a primeira coisa que lhe veio à cabeça. Soava para ele a algo como liberdade. O instinto, seu pai sempre lhe disse, siga o instinto. É o que um verdadeiro lobo faz.  

O Lobo do Deserto era como seu pai era conhecido, e Cria de Lobo, o apelido menos lisonjeiro que ele e a irmã mais nova tinham recebido quando moravam na base militar da cidade de Engels, em uma harmonia e serenidade que parecia ter acontecido há séculos.

Parecia um ponto longínquo no tempo e espaço, mas tinham se passado apenas quinze anos desde que o ser que controlava sua sorte resolvera brincar de cão e gato com ele.

As coisas mudaram depois da morte do Coronel Maddux e da doutora Arashi Hund. Mudaram pra Caleb e pra Minäe. A menina mais nova foi pra casa da tia, mas Caleb foi separado da matilha. Fugira muitas e incontáveis vezes até que por fim se cansaram de perseguir a Cria de Lobo a deixaram vagar por entre os roedores da Metrópole.

Ele achava que tinha sido deixado livre e em paz. Que finalmente o controle, a coleira  não iam mais persegui-lo, machucá-lo, esmagá-lo. Até descobrir que sua irmã sumira. Até descobrir que tinha a merda da Infecção entranhada no sangue de lobo.  E então, o tolo ingênuo achou que era enfim demais. Achou que era azar o suficiente pra um filho da puta só. Caleb não era de reclamar; portanto, nessas horas, apenas se munia do seu sorriso sardônico, deixava o sarcasmo infeccionar suas ações e pensamentos e seguia em frente.  

E a porcaria toda explodiu bem na sua cara na forma de sangue e miolos de mulher, naquela quinta-feira de geada.

Aconteceu quando ele parou a moto, que beirava 280 km/h para acender um cigarro. Estava em frente a um bordel.

Não que estivesse nos seus planos visitá-lo. Estar enrolado em pernas de mulher não fazia parte do programado para a noite, por mais que a idéia lhe acendesse uma brasa nas calças como o isqueiro fazia agora com o cigarro que tinha entre os lábios. Queria apenas fugir, fugir da sua Infecção, fugir de seu passado, fugir de si mesmo.

Se ele soubesse o perigo real em que se metia, teria ligado a moto e fugido literalmente.

Talvez o cigarro o deixasse relaxado demais e sua adrenalina baixa entorpecia os instintos do seu lobo. Quando ele percebeu a bala, ela já estava perfurando o pulmão direito, sem nenhum ruído, tão soturna que por um milissegundo achou que estivesse tendo um enfisema pulmonar. Mas lembrou que o cigarro não podia matá-lo agora, já que seu pulmão (abençoado ou maldito?) se regenerava limpo e cor-de-rosa todos os dias. Foi caindo da moto, levando-a com o peso do próprio corpo quando sentiu os outros dois tiros, um de raspão no pescoço e um numa coxa. Não teve tempo de virar e ver quem era o atirador. O cigarro rolou na sarjeta sem apagar.

– Malditos – praguejou para seu desconhecido inimigo e tentou se levantar do chão, de debaixo do cavalo de metal, empunhando uma faca de 40 centímetros de lâmina  que extraiu de uma tampa escondida no tanque da moto. Tirou outra gêmea do lado oposto do tanque – se sentia melhor com as duas mãos adornadas de aço bem forjado, como se seu duplo empenho garantisse uma vitória mais rápida.

– Isso doeu, seus malditos mafiosos...!

Ferido, cuspiu sangue antes de levantar sobre a coxa sadia. Essa era a pior parte de ser alvejado: O sangue na boca, o sabor de ferro na língua e o enjôo posterior se por acaso o engolisse ao invés de expeli-lo. Não iria ficar com o estômago cheio de sangue, não senhor. Não aquela noite. Tinham atirado por suas amaldiçoadas costas, e agora ele ia enfrentar a cara do desgraçado. Ele percebeu então que a rua estava totalmente vazia, e silenciosa como um túmulo.

“Um estúpido e sujo franco-atirador” pensou, ele. “Pretendem me matar com um covarde”

Geava. As três balas foram expelidas involuntariamente de seu corpo e caíram no chão, tilintando junto com o granizo. A agonia trespassou seu rosto ao sentir seu corpo regenerador obrigar a bala a fazer o caminho inverso com um terço da velocidade, provavelmente ferindo mais do que quando entrou. Caleb via o granizo cair através da sua vista vermelha como se fossem flocos de sangue congelado no segundo em que caiu com um joelho no chão, e sentiu uma ferroada no peito, dolorida como os sete infernos quando tentou pegar um gole de ar. Engasgou. Mais dor.

Seu corpo rejeitou os objetos estranhos, penosamente se reconstruía e ele estava vulnerável como um espantalho para um quarto ou quinto tiro. Mas ao invés da bala, foi uma garota de cabelos verdes  e curtos que varou as sombras. Não devia ter mais que 13 anos, e ao invés de ter um rifle sniper nas mãos, tinha uma manopla estranha acoplada ao braço direito. Um katar*.

–Arrumou coragem pra me encarar? Não se acha um pouco pequena pra ter um brinquedo tão perigoso? – ele ofegava com o esforço de falar  e respirar com um pulmão perfurado. 

–Não fale muito, Sr. Hund. – voz era esganiçada e nasal e áspera e dura e condolente, tudo ao mesmo tempo. – Está ferido.

– De verdade? Nem tinha percebido. – Caleb se ergueu e apertou o cabo das espadas. – Vê? Já estou melhor. Quer testar? Largue essa arma e mande o atirador aparecer e eu não a mato.

Ela deu um passo à frente e Caleb viu a menor insinuação de seios por baixo da blusa frente-única curta e estampada que ela usava. Quando se aproximou, Caleb percebeu por seus quadris que não era mais uma criança há uns bons seis anos. Havia um cachecol cobrindo sua boca e parte do nariz como ele, portanto não podia dizer nada sobre o rosto além de olhos grandes, amendoados e verdes. Devia ser da idade da sua irmã mais nova... Viva ou morta, Minäe devia completar dezoito em breve.

- Se acha que parece ameaçador com essas duas facas de pão, então não sabe mesmo com quem fala. O senhor não passa de um rapazinho verde como o verão.

Do jeito que falava, o tom de voz insolente parecia uma professora que repreendia um aluno.  Caleb sempre odiou professoras. De supetão, como um raio que cai numa árvore sem aviso, ele se lançou em direção a menina, brandindo a faca.

Ele distribuiu um, dois, três golpes longos  como um chicote com o lado serrado da faca, mas a menina desviou de todos. Em um segundo, ela estava aparando um golpe duplo das facas gêmeas com um só braço, e ele empurrava com o peso de seu corpo. A vadiazinha tem muito mais força do que aparenta.

– Me ofende ver que não luta com o lado certo da sua arma. Toma-me por uma criança indefesa? Isso poderia custar a sua vida, numa batalha de verdade, Sr. Hund.  A sua sorte é que eu não estou aqui pra lutar de verdade.

Abriu o ataque de Caleb fortemente e recuou com dois pulinhos ágeis de mico de circo, se mantendo à uma distância consideravelmente boa, sorrindo.  A voz nasalada dela dava nos nervos.

– Cale-se, você atirou em mim. Se sabe lutar,  e me atacou, cale-se e lute!

– O senhor é sempre tão inconseqüente assim? Não deseja ao menos saber por que o atacamos?

Era óbvio que aquela garota Di Napoli não perdoaria sua afronta. Sua espada era sua melhor resposta. Ele avançou e as lâminas opostas tilintaram, dessa vez com o lado certo.

Caleb girou fugaz e aerodinâmico como um papel conduzido pelo vento e atacou-a pelo lado com a outra mão. Ela abaixou e rolou por entre sua base aberta, pelo meio das pernas longas do caçador. Apesar de ser muito mais veloz que a maioria dos espadachins de duas mãos, era quase o dobro  de mais alto que ela.

Ela baixou o cachecol. Foi aí que ele viu seu rosto, seu sorriso, suas leves rugas. A garotinha devia ter quase trinta anos.

– Isso é brincadeira de criança, Sr. Hund. Acalme-se ou terei que abrir mais uns buracos em você.

– Então venha!  E mande logo toda aquela família Di Napoli de merda atrás de mim! Acabe com isso de uma vez!

– Di Napoli? Você quis dizer a família do Estacatto? – Ela sorriu.

Ele atacou-a com cólera fria, mais vezes, em muitas brechas, mas a garota tinha molas nos pés, dobradiças nos quadris e força nos braços; Ela desviava tão habilmente que sua risada sarcástica o rodeava de todos os lados, e ele estava ficando impaciente.

– Sua vagabunda!

Em nenhum momento ela contra atacou. Apenas desviou e provocou, afastou e irritou, fintou e atiçou... Até que a lâmina de Caleb resvalou nela, num corte raso que abrangeu o nariz e um pouco da maçã do rosto.

A mulher riu com gosto, estridentemente. O sangue que escorria de seu nariz e  bochecha logo alcançou os lábios.

– Impetuoso e violento, exatamente como me disseram... – ela deu mais uma risadinha. – Por isso o atacamos. Para ver se tinha o lobo em você. E ele nunca esteve mais vivo... Dá pra ver em seus olhos.

Caleb não precisava de muita imaginação pra saber como deviam  ser os seus olhos. Eram olhos Arisugawa, os olhos de sua mãe, pretos como carvão, amendoados de asiático.  Se por um acaso curioso do destino ele tivesse à mão ou à vista um espelho ou uma superfície refletora, veria o carvão se tornar cada vez mais castanho, mais dourado, a ponto de revelar-lhe o centro negro da pupila mesmo na luz fraca dos postes. Rajado como o olho de um lupino. Selvagem.

– Ele está aí, não está...?  Curando seu corpo, cobrindo seus erros na batalha. E você conhece  suas habilidades... Conveniente, não? – Ela passou a folha de metal do katar sobre a ferida que sangrava e depois lambeu lentamente o sangue que ficou lá. –Regenerar... É uma habilidade conveniente que, como vê, eu não possuo e sou mais prudente por isso. Apesar de que você opera muito mais suavemente do que um cara que ataca achando que não pode morrer...

Aquela mulher não estava ali à mando da Família Di Napoli, não era uma mafiosa e não estava para brincadeiras.

– Quem diabos é você?

– Só uma mensageira. E uma testadora. Agora, prepare-se para o teste número um, Sr. Hund. O teste do controle. É minha vez de atacar.

E ela o fez.





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Notas finais do capítulo

Gente, escrever sobre mafiosos malucos é o que há.
Eeeeenfim.
Foi. Esperem muito dessa maluca de cabelo verde. E do atirador desconhecido.
Arisugawa Arashi. Quem já assistiu X/1999 manjou as mil tretas desse nome.
òsculos e amplexos da Frau.



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