Change Of Heart escrita por Sak Hokuto-chan


Capítulo 2
No More Lies


Notas iniciais do capítulo

Então... Sei que é estranho, mas foi preciso deixar o Mu mais velho do que o Aiolia para que o enredo que criei para essa fic funcionasse. Não teria como seguir minhas ideias se eles tivessem a mesma idade, como no original =/ Mas, fora isso, eu não vou transformar o Afrodite em um travesti, não vou tratar o Shaka e o Mu como duas donzelas indefesas, nem nada absurdo assim. Aiolia x Mu são um dos meus casais favoritos ^^

E meu obrigada ao Orphelin, meu carneiro-beta, por revisar a fic /o/

Fanart por 満水@:Q



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Capítulo II

Não há nada de que possa se esconder
Eu estou de olho em você
No More Lies - Iron Maiden

Quando Aiolia acordou, sozinho em seu quarto, tudo parecia girar tanto que ele achou que fosse vomitar. Seu corpo estava muito quente, mas ele sentia frio. E uma sonolência incrível. Só mesmo sua vontade de saber onde estava o irmão – que deveria estar ali! – o impediu de cair no sono mais uma vez.

Aiolos estivera alternando sua atenção entre Aiolia e Mu. Naquele momento estava com Mu, pois tinha checado o caçula há pouquíssimo tempo. Terminava de explicar sua situação em relação a Saori para o ariano:

– E foi isso, Mu. Achava melhor terminarmos de vez, mas ela estava tão abalada que falei pra darmos um tempo. Fiz mal?

Mu piscou confuso. Não fazia a menor ideia. Nunca tivera um relacionamento amoroso, que dirá um daquele jeito. Mas, se Aiolos não queria mais nada com ela, não era pior dar esperanças de que poderiam voltar um dia? Ou ele acreditava que ela melhoraria com o tempo?

– Hm, acho que sim... – o rapaz respondeu devagar. – Ela já tem um lado um pouco mais maduro do que muitas garotas que conheço. Quando superar o outro lado, que é mais... sabe?

– Mimado?

– É... Quando ela superar isso e amadurecer de vez, talvez valha a pena a gente tentar outra vez – Aiolos concluiu pensativo. Aí, coçou a cabeça com aquela cara de culpado, de novo: – Se bem que eu também não devo ser lá muito maduro, né? Haha!

Antes que Mu dissesse mais alguma coisa, foram interrompidos pela voz baixinha e manhosa de Aiolia, chamando o irmão. Ele se apoiava no batente da porta, parecendo muito cansado e com o rosto afogueado pela febre. Embora tivesse chamado Aiolos, seus olhos verde-azulados estavam fixos em Mu.

Mas que droga! Lá estava aquele cabeludo estranho tentando roubar seu irmão de novo! Até mesmo quando estava doente, precisando de Aiolos, aquele cara vinha importuná-lo?

Assim que Aiolos levantou-se e foi até o caçula, Mu também se levantou, pronto para ir embora rapidamente. Aquele olhar persistente e furioso do menino não era um bom sinal. Aiolos falava com o irmão, mas ele parecia não ouvir nada. Mu arrependeu-se de não ter saído correndo de uma vez, pois, assim que se encaminhou para a porta, a voz furiosa de Aiolia dirigiu-se a ele:

– Hey, você!

Mu parou e virou-se para os irmãos automaticamente, demonstrando toda a sua placidez na face.

– O que tá fazendo aqui?

– Qual o problema, Aiolia? – foi Aiolos quem perguntou, surpreso com o tom de voz irritado do irmão.

O caçula não prestou atenção, estava bravo e sua cabeça doía, parecendo mais quente do que nunca, o que o deixava mais zangado ainda. Não deu espaço para que Mu dissesse alguma coisa também.

Por que tá sempre grudado no meu irmão, hein? Ele é MEU irmão!

Imediatamente, Mu percebeu que suas suspeitas estavam certas. Aiolia era extremamente possessivo, tinha um ciúme imenso do irmão mais velho. E o pior é que o menino estava claramente muito doente e incapaz de raciocinar direito, pois nunca demonstraria sua revolta na frente de Aiolos daquele jeito. Afinal, ele sempre se comportava como se não se incomodasse com Mu quando o irmão estava por perto.

Aiolos, por sua vez, se encontrava estupefato. Há mais de três anos Aiolia não tinha nenhum acesso intenso de raiva e, de repente, estava daquele jeito. Encostou a mão na testa do caçula, confirmando que a febre estava altíssima.

Aiolia desvencilhou-se do irmão e ameaçou partir para cima de Mu. Uma tontura o impediu e Aiolos prontamente o amparou antes que caísse. O leonino parecia rosnar.

– Aiolia! – chamou o mais velho, mas foi ignorado outra vez.

– Ouça, Aiolia... – Mu começou, com aquela voz tão serena. – Eu não quero tirar seu irmão de você, eu...

– MENTIRA! Você é um mentiroso idiota! – tentou se desvencilhar mais uma vez, mas não teve forças para tanto, o que fez com que sua raiva triplicasse. – Grr! Que raiva! Sai daqui! Eu odeio, odeio, odeio você! Odeio muito!

– ...

– Você não sabe o que está dizendo, Aiolia, e está ardendo em febre. Vamos para o hospital – o sagitariano disse o mais suavemente que pôde, levantando o irmão no colo. Então, olhou para o amigo sem saber o que dizer: – Mu...? Desculpe por isso...

O ariano assentiu, mesmo achando que a culpa era sua por ter ido até lá sabendo que podia ser desastroso. Pediu licença e foi embora.

Com a cabeça apoiada no ombro do irmão, o garoto continuava delirando, dizendo baixinho que detestava Mu e que era para ele ir embora. Estava respirando com dificuldade, em um estado tênue entre a consciência e a inconsciência, sem perceber que Mu já tinha partido e que Aiolos o levava para o hospital.

***

Por sua vez, Mu foi direto para casa, sentindo-se preocupado e chateado. Por que tinha ido até a casa de Aiolos? Sem dúvida Aiolia piorara com toda aquela exaltação e a culpa era do próprio Mu.

– Olá.

O ariano, que entrara na casa de cabeça baixa e com movimentos automáticos, se surpreendeu ao ser cumprimentado.

– Olá, Dohko...

Sendo o melhor amigo de Shion desde a época do ginásio, Dohko conhecia Mu o suficiente para perceber que alguma coisa estava errada. Mu possuía um controle emocional excepcional, mas, naquele momento, parecia claramente preocupado.

– Você está bem?

– Ahn, sim... Onde está o Shion?

– No banho, nós acabamos de chegar – e ficou observando Mu atentamente.

O ariano percebeu e esboçou um sorriso cansado. Disse a Dohko que estava preocupado com uma pessoa doente, o irmãozinho de seu melhor amigo e...

E quando se deu conta, já tinha contado toda a situação para o rapaz mais velho, de forma bem resumida. Sentiu-se melhor depois de compartilhar com alguém, mas, ao mesmo tempo, era um tanto constrangedor admitir que não sabia lidar com uma criança raivosa.

– Mu! – Dohko sorriu, incrédulo. – Você deve ser uma criatura divina pra ter aguentado tudo isso sem reclamar. Caramba, algumas crianças são umas pestinhas mesmo e tenho certeza de que você não é o único que não sabe o que fazer – sorriu, passando a mão pelos cabelos castanhos. – No seu lugar, eu estaria morrendo de vontade de dar uns tabefes no traseiro desse moleque atrevido...

O mais jovem sorriu também.

– Ele é um bom garoto, acredite. Só faz essas coisas porque ama o Aiolos e deve ter medo que alguém tire seu posto de irmão... É compreensível, os pais deles viajam muito e Aiolia não deve querer que o irmão fique longe de si também... – Mu massageou as têmporas. – Só que eu demorei a perceber isso e agora não sei o que fazer...

Mu era mesmo surpreendente. Apesar de tudo o que passara, ainda defendia o pirralho. Dohko estava impressionado, mas não duvidava que o ariano tivesse razão.

– Bem, acho que no momento você não pode fazer nada. E nem vai precisar.

O ariano franziu o cenho, sem entender.

– Hm, talvez tivesse sido melhor contar o caso para Aiolos desde o começo – Dohko explicou. – Entendo que você não queria dedurar o moleque, causar algum problema entre os irmãos, ou algo assim, fazendo pirralho te detestar ainda mais. Mas, por outro lado, só Aiolos poderia descobrir qual o problema e solucioná-lo. Pelo que você falou do menino, acho improvável que conseguisse alguma coisa. Tanto é que não conseguiu mesmo.

– Seria arriscado...

– Hmm... Pensando bem, deve ter sido melhor assim. Agora, o Aiolos vai ter que tomar uma atitude e você nem precisou falar nada...

Era verdade, mas não ajudava o ariano a se sentir melhor. Estava preocupado por não fazer ideia de qual atitude Aiolos tomaria. Preocupado com a reação de Aiolia dali em diante. Mas, especialmente, estava muito preocupado com a saúde do menino.

– Tudo o que você pode fazer é esperar. E não adianta ficar se culpando. Lembre-se de que o garoto já estava doente.

Mu inspirou profundamente e expirou devagar.

– Obrigado pela atenção, Dohko. Desculpa por tomar o seu tempo.

– Sem problemas. Mas, falando em tempo, será que seu irmão se afogou na banheira? Que demora, parece uma noiva...

– Quem você está chamando de noiva? – Shion perguntou, sobressaltando os outros dois, que não o viram chegar.

– Aff, Shion! – exclamou Dohko para o amigo, que estava com as costas apoiadas na parede e com os braços cruzados. – Há quanto tempo você está aí?

– Acabei de chegar.

– Bom, então eu vou tomar banho agora. Com licença – disse Mu, já se retirando.

Quando Shion sentou-se ao seu lado, no sofá, Dohko perguntou baixinho:

– Certo, há quanto tempo você realmente saiu do banho? Você chegou a ouvir a conversa?

Shion semicerrou os olhos de cílios compridos para ele. Não tinha o costume de ficar ouvindo conversas alheias.

– Faz algum tempo. Quando me aproximei daqui, vocês pareciam estar conversando algo que, pelo tom de voz do Mu, era importante. Então, eu fui ao meu quarto esperar que terminassem.

– Sério que você não fica nem um pouco curioso?

– Desde que o Mu consiga resolver seus problemas, está tudo bem.

– Deve ser complexo ter um irmão como você...

Shion afastou uma mecha de cabelo que caía sobre seus olhos e lançou a Dohko um olhar indefinido.

– É a segunda crítica que você me faz em menos de cinco minutos...

Dohko começou a rir.

– Hmm, então é hora de fazer um elogio... – aproximou o rosto do pescoço do amigo e disse: – Você está muito cheiroso...

Shion levantou-se no mesmo instante, mas sem parecer incomodado ou constrangido. Rumou para o quarto, dizendo que estavam ali para estudar. Dohko foi atrás dele, concordando. Era sempre ótimo estudarem no quarto.

***

Três dias se passaram, depois do incidente, e Aiolos ainda não aparecera no colégio. Durante a ausência do amigo, o ariano procurou ligar para saber da saúde de Aiolia só uma vez. Aiolos lhe respondera que o menino estava melhorando, mas com um tom de voz que não incentivava uma conversa maior por telefone. Mu achou melhor esperar para conversarem pessoalmente.

Naquele dia, Aiolia acordou sentindo-se recuperado de vez. Aiolos estava sentado ao seu lado, com os olhos fixos em si de forma pensativa. Aiolia não se lembrava do ataque que tinha dado, mas se sentiu constrangido quando Aiolos lhe contou. Não porque se importasse com Mu, mas por ter dito aquelas coisas na frente do irmão.

– Agora, você pode me explicar a causa dessa revolta toda? – Aiolos pediu muito sério.

O menino arregalou os olhos claros para o mais velho. Nunca tinha visto o irmão tão sério consigo e só pôde concluir que ele estava bravo. Aiolos estava bravo! Era tudo o que Aiolia não queria na vida. O mais velho esperava sua resposta em silêncio.

– Eu... Eu não gosto dele... – balbuciou, sentando-se na cama com a cabeça tão baixa que a franja não permitia que seus olhos fossem vistos.

Aiolos arqueou uma sobrancelha. Aquilo já tinha ficado bem óbvio. Mas, por quê?

– Você é meu irmão... Não dele...

Aiolos franziu a outra sobrancelha. Sim, sem dúvidas. O que uma coisa tinha a ver com a outra?

O leonino levantou a cabeça e bufou. Parte da franja continuou cobrindo um de seus olhos, mas o olho visível brilhava em indignação.

– Ele quer que você seja irmão dele! Quer roubar você de mim! E você tá caindo na dele!

Aiolos piscou, estupefato. Como o menino chegara àquela conclusão absurda?

Aiolia fez beicinho, emburrado, e desviou o olhar para o lado.

– Você mesmo falou que ele é um irmão pra você, igual a mim... – disse em voz baixa. Foi nessa hora que Aiolos começou a se arrepender daquelas palavras. Aiolia continuou: – É um sinal de que o Mu já tá executando o plano maligno dele...

Plano maligno? – Aiolos o encarou estupefato. – Você anda assistindo anime demais, hein...

A criança encolheu os ombros.

Aiolos revirou os olhos, inconformado consigo mesmo. Como pôde ter dito aquilo sem algum tipo de explicação? Sabia que Aiolia tinha ciúmes de si, mas nunca imaginou que fosse tanto assim. Deveria conhecer melhor o irmão que tinha. Achou incrível como aquela sua frase inocente causou sentimentos negativos no menino, que, por sua vez, causou problemas para Mu.

– Aiolia... – começou, com o mesmo tom sério. – Você interpretou de forma muito exagerada minhas palavras. Preste atenção! O Mu é um amigo muito importante e que eu gosto muito, como se fosse um irmão. Só que isso não significa que ele vai ocupar seu lugar oficial como meu irmão, nem que vai mudar meus sentimentos por você. É impossível. Eu sou seu irmão e isso não é algo que alguém possa tirar de você. Mas me desculpe por ter te causado esse problema.

Aiolia mordeu o lábio inferior.

– Então... Por que você passa muito mais tempo com ele do que comigo?

– Você acha? Bom, deve ser porque nós estudamos juntos. Sempre temos trabalhos pra fazer, provas pra estudar, essas coisas. De qualquer jeito, eu sempre te chamo pra ir junto quando vamos passear ou algo assim. Você que não quis mais ir de uns tempos pra cá.

– Eu não queria ficar perto dele...

– Aiolia, o Mu é um cara legal. É um grande amigo e não há motivo pra você ficar irritado, certo?

O menor assentiu relutantemente.

– Me responda uma coisa... – o sagitariano pediu, estreitando os olhos claros: – Você aprontou pra cima do Mu da mesma forma que fazia com a Saori?

– Ahn...

– Imaginei... – apesar disso, Aiolos finalmente sorriu. – Você vai pedir desculpas pro Mu, não vai?

Aiolia arregalou os olhos. Ele era muito orgulhoso para pedir desculpas para alguém, mesmo quando estava realmente errado. Infelizmente, o irmão notou sua hesitação e voltou a ficar sério.

– Você sabe que errou, que foi muito malcriado e que o Mu não fez nada, não sabe?

– Sei... – respondeu com má vontade. – Okay...

Aiolos sorriu mais uma vez, bagunçando os cabelos do caçula.

– Desmancha essa carinha de velório, não vai ser tão difícil assim. Mas, e a Saori? Por que você e o Milo atazanavam tanto ela?

Aiolia emburrou dez vezes mais só de ouvir o nome da moça.

– Porque ela é um saco – respondeu com tanta simplicidade que o mais velho acabou rindo.

Depois disso, Aiolos puxou o irmão para seus braços, deu-lhe um beijo no topo da cabeça e afirmou, mais uma vez, que eles sempre seriam irmãos e que Aiolia não devia se estressar com Mu. Aliás, o ariano tinha um irmão mais velho e, certamente, não devia estar precisando de outro irmão. Era fácil acreditar em suas palavras, mas Aiolia continuou um pouco desconfiado. Aiolos podia estar certo, mas nunca se sabe. E se Mu resolvesse se voltar contra ele de repente? Melhor ficar de olho.

No dia seguinte, na saída do colégio, o sagitariano chamou Mu para ir à sua casa. O rapaz recusou. Estava absolutamente convencido a não ir de jeito nenhum, tanto que Aiolos teve que repetir, mais de uma vez, que o irmão estava curado e que não ia ter nenhum ataque, nem nada. Por fim, disse que se Mu não fosse iria arrastá-lo para lá. Foi tão convincente que o ariano não teve dúvidas de que Aiolos o arrastaria mesmo.

– Mu, eu realmente sinto muito por tudo. Como eu te contei, foi culpa do que eu disse ao meu irmão um tempo atrás. Eu já me desculpei com você e com ele. E você já se desculpou comigo, nem sei por qual motivo, já que não fez nada de mau além de não ter me contado logo no início. Então, não se preocupe tanto – Aiolos deu seu melhor e mais radiante sorriso: – Vamos?

Ainda relutante, o ariano acabou aceitando ir.

Quando chegaram, Aiolos o deixou sentado no sofá e sumiu casa adentro. Fato que deixou o rapaz de cabelos longos apreensivo. O sagitariano foi até o quarto do irmão e fez um sinal. Era hora de ir se desculpar. Sozinho.

Aiolia foi. Aproximou-se de Mu bastante emburrado. Sabia que era o certo a fazer, mas seu orgulho infantil não se conformava. Quando fosse mais velho seria um pouco mais fácil passar por cima do orgulho, mas, naquele momento, estava tenso.

Mu notou a presença do garoto e olhou para ele sem saber o que viria. Nessa hora, o chão pareceu interessantíssimo e Aiolia ficou olhando para baixo por um longo tempo. Então, finalmente, pediu baixinho:

– Ehrm... Me desculpa por tudo que eu fiz e disse, Mu...

O rapaz não se surpreendeu muito. Pelo jeito, Aiolos tinha pedido para o irmão se desculpar e, portanto, aquilo talvez não significasse que o menino estava de fato arrependido. Mas se sentiu um pouquinho melhor.

– Tudo bem.

Aiolia respirou aliviado e já ia se afastar quando levantou o olhar para Mu. Apesar do rosto tranquilo de sempre, o mais velho parecia um pouco chateado. Aiolia não gostava de ver as pessoas chateadas, mas também não sabia como confortá-las. Sem pensar duas vezes, sentou-se no sofá, bem ao lado de Mu, e deu-lhe um tapinha nas costas, dizendo:

– Eu não te odeio mais – e, pela primeira vez, abriu um sorriso radiante para o ariano.

Dessa vez, Mu se surpreendeu. Fitou aqueles olhos verde-azulados e soube que o pequeno estava sendo sincero mesmo. Porém, antes que pudesse processar direito a informação, Aiolia se levantou e completou:

– Mas ainda não confio muito em você – mostrou a língua e saiu correndo.

Já era um grande passo, Mu considerou.

A partir daquele dia, a convivência ficou mais fácil. Não completamente, porque Aiolia parecia estar sempre observando Mu, analisando seu comportamento, como se quisesse saber se o mais velho era digno de sua confiança e não ia fazer nada de errado. Seja lá o que isso significasse na concepção do garoto.

E ele ainda aprontava. Não daquela forma perseguidora e hostil de antes, mas vira e mexe fazia alguma brincadeirinha para tentar tirar Mu de sua eterna calmaria. Simplesmente porque era divertido.

Mu sabia há muito tempo que, assim como Aiolos praticava arco e flecha, o leonino frequentava um clube de esportes. O que ele não sabia era que Aiolia praticava quase todos os esportes disponíveis desde bem novinho, porque era elétrico demais e aquele foi o jeito que seus pais encontraram para fazê-lo gastar energia sem destruir a casa. Aiolos tinha praticado vários esportes quando era menor também, mas escolheu se dedicar apenas a um. Para Aiolia, um só não era o suficiente.

Assim, às vezes, Aiolos e Mu tentavam jogar alguma coisa com ele, embora não tivessem energia o bastante para aguentarem tantas horas de esportes quanto o menino. Exceto se o jogo em questão fosse xadrez – no qual Aiolia não tinha paciência para ficar sentado, quieto e pensativo, por mais de meia hora como os mais velhos faziam – ou videogame.

Quando Aiolia conheceu o irmão mais velho de Mu, achou que ele conseguia ser ainda mais estranho do que o próprio Mu. Mais imponente também. Aiolia não tinha vontade de aprontar para cima de Shion, assim como não fazia com Aiolos.

Dohko era outra história. De alguma forma, Aiolia e ele simpatizaram um com o outro assim que se conheceram – fato que, segundo a titia astróloga, se devia à harmonia existente entre Leão e Libra. Porém, para o leonino pouco importava aquele negócio de signos. Dohko também jogava Pokémon, para que maior afinidade?

Os meses passaram depressa em meio às brincadeiras, aos estudos e às amizades. Aiolia só percebeu realmente quanto tempo passou quando viu Aiolos e Mu extremamente ocupados com o vestibular... E quando viu a si mesmo terminar o primário e entrar no ginásio.

Não que as coisas tenham mudado muito. Milo ainda era seu pior melhor amigo e Afrodite estava cada vez mais narcisista, por mais que já esperasse por isso.

Afrodite sempre foi uma criança que chamava atenção por sua beleza andrógina. Sabia que era belo, com seus olhos grandes e muito azuis, seus cabelos ondulados e sedosos, sua boca avermelhada em contraste com a pele clara e macia do rosto. Muitas vezes o confundiam com uma menina. Não era preciso ninguém dizer o quanto ele era lindo, daquele jeito particular dele, mas as pessoas faziam questão de dizer e deixá-lo ainda mais convencido.

Aiolia olhava para si mesmo, que continuava briguento, e para Milo e Afrodite também, sem notar muita diferença. Estavam um pouco mais altos, com os cabelos mais longos – especialmente Afrodite! – e só.

Já Marin continuava a ser uma ótima amiga e...

E Aiolia ficou surpreso no dia em que percebeu que Marin estava um palmo mais alta do que ele. Na verdade, com exceção de Afrodite, que era um pouco menor, Marin, Milo e Aiolia sempre tiveram a mesma altura. E, agora, lá estava ela, mais alta do que todos eles! Aliás, não só ela, ele logo percebeu. Várias meninas da classe pareciam mais altas do que os meninos, de um modo geral.

Milo fez um bico enorme, mas o leonino não se incomodou – ou melhor, não depois que Aiolos lhe contou que aquilo era normal, que muitas meninas se desenvolviam mais rápido do que os meninos naquela idade.

– Até uns catorze anos eu era baixinho se comparado às garotas da minha classe também – Aiolos, com mais de 1,80m e ainda em fase de crescimento, contou ao caçula. – Aí, quando entrei no colegial, cresci pra caramba! Fiquei mais alto do que as garotas e a maioria dos rapazes.

O sagitariano estava certo e Aiolia ultrapassaria Marin em algum tempo. Até lá não havia nada que pudesse fazer. Aliás, nada além de protestar quando ela o chamava de baixinho, é claro.

Também foi no ginásio que algumas pessoas um tanto quanto estranhas entraram para a vida de Aiolia. Uma dessas pessoas era Camus, um garoto muito inteligente, porém sério e responsável demais para alguém tão novo. Em geral, portava-se como um adulto, indiferente às infantilidades dos colegas. Especialmente de Milo, que não se conformava com o jeito de Camus e vivia tentando tirá-lo do sério.

Outra pessoa meio estranha era uma garota. Shina era linda, mas também muito esquentada e forte. Não pensava duas vezes antes de meter a mão em algum moleque que resolvesse irritá-la, mesmo se ele fosse maior do que ela. De qualquer forma, Aiolia se deu bem com ela logo de cara, pois Shina também era praticante de esportes, especialmente ginástica artística.

Mas nenhuma pessoa de sua classe ganhava em esquisitice quando o assunto se chamava Shaka. Ele tinha longos cabelos da cor do sol ao meio-dia e dormia o tempo inteiro. Ou, ao menos, era o que muita gente achava, já que Shaka parecia estar sempre com os olhos fechados. No entanto, o loiro ficava indignado quando alguém dizia um disparate desses. Dormir na aula! Logo ele, um excelente aluno, muito inteligente e perfeccionista?

Milo e Aiolia achavam que ele era muito metido, isso sim. Só não era a pessoa mais metida do universo porque ninguém poderia ser mais metido do que Afrodite, tão seguro de sua própria aparência.

Mas Shaka estava quase lá. Segundo Milo, o loiro era tão arrogante que se achava a flecha que matou Aquiles, mas quem mais se exasperava com Shaka era mesmo o leonino. As personalidades de ambos viviam em conflito. Aiolia até fez questão de contar para a tia quando era o aniversário de Shaka, buscando saber o que ela tinha a dizer sobre a relação difícil entre eles.

Bem, pela data, Shaka era de Virgem e a relação desse signo com Leão quase sempre significava problemas mesmo. Signos tão teimosos, intransigentes e geniosos! Shaka nunca levava uma discussão longe o bastante para acabar em pancadaria. Limitava-se a um olhar superior que dizia claramente eu estou certo e você está errado, mas não vale a pena continuar a discutir com você, pobre ignorante.

Aiolia, obviamente, fervia de indignação. Nunca soube dizer como acabou se tornando amigo de Shaka. Especialmente depois que o virginiano conheceu Mu...

Continua...


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Notas finais do capítulo

Assim... eu jogo e conheço muito adulto sério e responsável que também joga Pokémon xD

Awn, chibi Aiolia está crescendo! =~ Começou a fic com 8 anos e agora está com 12... Daqui pra frente só vai crescer mais... Ele era tão fofo pequenino! *-* #saudadesjá

Vanessa, Larissa Saint, KassiaKarolyne, Sion Neblina e LettyHyuuga, muito obrigada pelas reviews! ^^

Que tal esse capítulo?