Change Of Heart escrita por Sak Hokuto-chan


Capítulo 15
Never Understand


Notas iniciais do capítulo

Agradecimentos pro Orphelin, le carneiro-beta, por tudo, até pelas broncas na madrugada, haha S2



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Capítulo XV

Eu me pergunto por que
Nunca entendo
Toda minha vida é nunca entender
Never Understand – Angra

Mu observou os lábios de Máscara da Morte aproximarem-se cada vez mais dos seus, numa velocidade torturante, e permaneceu parado. Sentia-se confuso com toda aquela semelhança entre o rapaz e Shura, semelhança que o italiano fazia ir além da aparência. Era algo que estava impregnado nos gestos, no jeito e, especialmente, no perfume que usava.

Foi só quando Máscara da Morte finalmente roçou os lábios nos do ariano que este percebeu o que estava fazendo e o quanto era errado. Virou rapidamente o rosto para o lado, prendendo a respiração e sentindo um pouco de dor na nuca, já que o outro ainda segurava-lhe os cabelos com firmeza.

O italiano encarou a bochecha avermelhada do menor, cujo olhar constrangido pendia-se para baixo, e começou a rir com gosto. Soltou aqueles cabelos compridos, afastando-se um pouco, e chegou a gargalhar quando Mu lhe lançou um olhar indignado, todo exasperado pelas risadas sem sentido aparente.

– Por quê...? – Mu balbuciou, cruzando os braços enquanto se afastava dois passos para trás.

Transformando o riso num prepotente sorriso enviesado, Máscara da Morte deu de ombros. Tragou o cigarro, quase no fim, pela última vez e, imediatamente, acendeu outro da mesma forma displicente tão típica de Shura.

– Quem você acha que ensinou ele a fumar? – o italiano perguntou com um bom humor duvidoso, arqueando uma sobrancelha para o outro. Referia-se ao primo, naturalmente.

Mu estava preocupado demais, devido à sua falta de atitude recente, para conseguir comentar alguma coisa. Seu silêncio fez com que o outro rolasse os olhos com descaso, dizendo-lhe que estava se preocupando à toa. Mal tinha sido um selinho!

– Você... – o ariano começou, interrompendo-se ao notar que Aiolos se aproximava juntamente com o espanhol.

– Ops – fez o italiano diante do olhar estreito que o tibetano lhe lançou. – Parece que calculei errado quanto tempo tínhamos... – comentou debochado, olhando para o relógio despreocupadamente. Bem menos de quinze minutos tinham se passado.

No que é que você estava pensando? – aborrecido, Mu sussurrou a pergunta rapidamente, antes que os outros dois chegassem perto o bastante para ouvi-los.

– Que seria interessante ter sua cabeça pendurada na parede do meu quarto também...

O ariano fez uma expressão ainda mais confusa, entretanto, as coisas tiveram que ficar por isso mesmo. Não teve coragem de fitar Shura nos olhos. Sentia-se um traidor, mesmo que eles estivessem dando um tempo e tudo o mais. Infelizmente, o olhar hesitante de Mu fez com que o capricorniano lançasse olhares desconfiados para ambos.

– Estávamos esperando vocês! – Máscara da Morte exclamou sarcástico, olhando com um interesse avaliativo para Aiolos. Um sorriso enviesado continuava estampado em seu rosto. – É... – estalou a língua em deleite. – Nada mal – declarou um instante depois, fumando e observando o rapaz de cima a baixo, como se admirasse uma obra de arte. – Nada mal mesmo, priminho...

O sagitariano franziu o cenho em confusão, sem entender exatamente o que o outro estava insinuando. E enquanto ele tentava, inutilmente, arrancar alguma explicação do italiano, Shura olhava de viés para o parente. Estava mais interessado nas reações do ariano.

– O que ele fez pra você, Mu? – inquiriu, muito sério, sem se preocupar em ser ouvido pelo primo.

O tibetano balançou a cabeça como se dissesse que nada, enrolando uma mecha do próprio cabelo entre os dedos. Shura bufou, claramente não convencido. Decidiu que já era hora de resolver as suas pendências com Mu. Não gostava da situação indefinida em que se encontravam. Não era um relógio para dar tempo!

Assim, pediu para que conversassem mais à noite, depois que deixassem seus trabalhos.

Mu concordou, preocupado com a situação, mas, também, aliviado porque conversariam. Logo, tratou de se distanciar daqueles primos, praticamente arrastando Aiolos consigo.

***

Era, mais ou menos, o que Milo queria fazer com Camus: arrastá-lo para fora da biblioteca e sacudi-lo vigorosamente até que começasse a se explicar!

Só que, em vez disso disso, o grego simplesmente ficou parado no início de um dos corredores formados pelas prateleiras de livros, observando o aquariano em pé quase no fim do mesmo.

Camus não pareceu ter notado sua presença. Estava concentrado em sua busca por alguma obra específica. Seus dedos pálidos deslizavam suavemente pelos dorsos dos livros antigos; os lábios formando palavras sem emitir nenhum som conforme ele lia os títulos para si mesmo; seus cabelos longos rolavam por seus ombros, caindo pelos lados de seu rosto, forçando-o a afastá-los distraidamente para trás incontáveis vezes.

E se aos doze anos Milo achava que o tom vermelho daqueles cabelos parecia deslocado no francês, aos quinze ele tinha certeza de que aquela cor quente numa pessoa fria daquele jeito soava como uma tremenda ironia.

Quando observou Camus escolher um livro, abri-lo e ler alguma página com atenção e interesse, o escorpiano se sentiu estranhamente mais aborrecido do que já estava. Apertou os punhos e foi até o outro com passos rápidos.

– Camus!

– Milo – replicou em seu tom monótono habitual, sem sequer tirar os olhos da página que lia.

– Certo... Será que dá pra me dizer qual é a sua?

O aquariano entreabriu os lábios num suspiro enfastiado. E essa foi a única resposta que o outro obteve.

Milo quis sacudi-lo com todas as forças. Camus andava sendo totalmente injusto. Dizia que estava tudo bem, sem ressentimentos entre eles, mas continuava distante. Tratava o grego como se fosse um colega qualquer. Absurdo! Não se trata um escorpiano como um qualquer! Além disso...

– Quem é o tal Hyoga que tem andado com você?

Camus arqueou uma sobrancelha ruiva, o olhar estático sobre o livro, mas continuou sem dizer nada.

– É, eu fiquei sabendo.

O fato era que, num dia qualquer, Aldebaran comentou que tinha visto o francês em uma biblioteca pública na companhia de Hyoga – um calouro da mesma universidade do brasileiro. Só isso. É claro que Milo ficou curiosíssimo e quis saber dos detalhes, mas Aldebaran não tinha mais nada a declarar, embora tivesse ficado com a impressão de que Hyoga parecia bastante atento aos movimentos do ruivo.

Se o brasileiro não estivesse tão ocupado, flertando com uma mocinha tímida e risonha que estava por lá, teria reparado na forma como, às vezes, Hyoga corava muito levemente ao esbarrar seu braço no de Camus sobre a mesa de estudo, ou a perna por baixo da mesma... e o francês não parecia se incomodar.

Não que Milo tivesse precisado saber daquilo para se indignar, é claro! Quer dizer, ele tinha tido tanto trabalho, passado o maior sufoco para conseguir dar um selinho em Camus três anos antes – preocupado em morrer! – para, de repente, descobrir que o outro não era tão... antissocial como imaginava.

Camus enfim retirou os olhos do livro, a sobrancelha ainda arqueada ceticamente, e encarou o grego com seu semblante apático.

– A gente bebeu e se beijou no Meikai, daí, você começou a me ignorar – Milo relembrou de uma vez, enrubescendo um pouquinho ao mencionar os beijos. – Eu achei que estava aborrecido porque somos caras e tal, mas, agora, você está flertando com outro cara! Tipo, o que eu fiz de errado então?

O aquariano suspirou de novo e fez um muxoxo, guardando o livro de volta na prateleira. Depois, respondeu friamente:

– Nada.

Nada? Cada vez entendendo menos, Milo aproximou-se mais um passo do ruivo e replicou com irritação:

– Então, por quê...?

Dessa vez, Camus deu o passo que faltava entre eles. Seu rosto inexpressivo estava tão próximo que, pela primeira vez, Milo pôde notar como a cor de seus olhos era estranha – um tom acobreado suavemente puxado para o vinho e pontilhado de azul.

– Porque não sou eu a pessoa confusa aqui – o aquariano murmurou, deslizando um cacho dourado do outro por entre seu dedo indicador e o polegar.

Milo não precisou de um espelho para saber que encarava Camus com uma expressão muito confusa, o que apenas confirmava, de alguma forma, as palavras do ruivo. Viu o francês se afastar, pegando de volta o livro escolhido, e não conseguiu dizer mais nada.

***

Shaka estava tendo dificuldades em dizer alguma coisa também. Após muito meditar, ele, relutantemente, resolveu seguir o conselho de Mu sobre se aproximar mais dos amigos. Passou o dia inteiro tentando falar com Aiolia e Milo, só que não estava sendo nada fácil. O que, exatamente, diria?

Pela manhã, momentos antes das aulas começarem, ele tentara falar com Aiolia. Não deu certo. O leonino impacientou-se com a demora do virginiano e este acabou lhe dizendo alguma coisa ríspida, antes de entrar altivamente na sala de aula.

No intervalo, tentara falar com Milo, mas o escorpiano estava tão concentrado em lançar olhares irritados para Camus, murmurando qualquer coisa sobre ir falar com o francês naquele dia, que Shaka mal teve ânimo para dizer algo. E, na hora da saída, Milo parecia tão confuso consigo mesmo que o virginiano não achou que o amigo prestaria alguma atenção em si.

Assim, resolveu tentar falar com Aiolia, o tolo selvagem, de novo.

– Hmm... – começou, após um suspiro aborrecido, observando o outro sentado de forma displicente sobre uma mureta nos fundos do colégio. O problema foi que o grego parecia distraído, curtindo o vento de olhos fechados enquanto seus cabelos cor de mel balançavam suavemente. – Você está me ouvindo?

– Agora que você finalmente resolveu falar, sim, estou – replicou entediado, abrindo só um olho azulado para fitar o virginiano. No fundo, estava curioso. Como o outro apenas o encarou com azedume, Aiolia perdeu a paciência que já não era muita: – Olha, já saquei que você tá querendo minha ajuda pra alguma coisa. Então, para de frescura e desembucha logo o que é!

O indiano fez uma careta e reprimiu alguma resposta ferina que já tinha na ponta da língua. Se continuassem naquele ritmo, nunca conseguiria o que queria. Eles eram tão diferentes! E, ao mesmo tempo, tão parecidos no aspecto intransigente! Mu tinha que estar enganado, não era possível... Como poderiam ser amigos íntimos se Aiolia era genioso e insolente? Eles iam acabar se matando, isso sim.

– Estou envelhecendo aqui, Shaka...

O virginiano reuniu toda a sua paciência – que nem parecia a mesma, grandiosa, de quando meditava – e perguntou se o grego lembrava-se do que tinha dito há algum tempo sobre ele – Shaka – gostar de Mu.

Aiolia penteou a franja para trás com os dedos, mordeu o lábio inferior enquanto pensava sobre o que tinha acabado de ouvir e resmungou alguma coisa que soou como uma resposta positiva. Por quê? Shaka tinha resolvido se declarar para o ariano?

– Em termos... – respondeu num murmúrio que esperava ter soado confiante, e não tímido como pareceu a si mesmo. Era aquilo mesmo que tinha feito?

Subitamente, o indiano assustou-se quando o leonino pulou da mureta e parou à sua frente com uma expressão curiosa, ainda mais impaciente do que antes. Algo no olhar fixo de Aiolia fez com que Shaka soubesse que não seria deixado mais em paz, não depois daquela conversa. Por fim, teve que contar sua última conversa com o tibetano – de uma forma extremamente sucinta, é óbvio!

– Ele acha que você poderia me ajudar – concluiu, balançando os ombros com desdém. Agora que falara, percebia que não fazia a menor ideia de como o outro poderia fazer isso. Será que teriam que ficar conversando intimidades?

– Ah, ele acha, não é? – Aiolia indagou com frieza, mas era evidente que apenas pensava alto. Fez uma expressão um tanto quanto irritada, mas que logo se desfez quando pareceu se lembrar de alguma coisa. – Cara, eu preciso ir! Depois a gente vê isso direito, ok?

Shaka assentiu, meio ofendido pelo descaso aparente, revirando os olhos ao ver o outro se afastar correndo.

Mal sabia que Ikki andava atento aos seus passos e à sua atitude suspeita de ficar tentando falar com o grego.

***

Enquanto isso, Mu tinha saído da universidade no final da tarde e ido direto para a casa de Aiolos tentar, mais uma vez, conversar com o irmão caçula deste. Por ter escolhido um horário em que sabia que o sagitariano estaria treinando arco e flecha, Mu acabou sentindo um déjà vu. Tinha feito a mesma coisa, alguns anos atrás, quando Aiolia ainda era uma criança problemática.

Porém, dessa vez, não encontrou o mais novo sentado ao piano, pressionando as teclas com tanta indelicadeza que produzia sons grosseiros. Na verdade, chegou lá quase ao mesmo tempo em que o leonino, que vinha correndo pelo outro lado da calçada.

– Meu irmão ainda não chegou! – o grego informou, levemente corado pela corrida, entrando em casa e jogando a mochila sobre um sofá sem o menor cuidado.

– Eu sei... – replicou, fechando a porta atrás de si calmamente. – Eu queria falar com você mesmo.

– Agora não dá! – Aiolia disse, pegando alguma coisa na mochila antes de subir rapidamente as escadas, pulando alguns degraus com facilidade.

– Só vai levar um minuto – insistiu, subindo atrás do garoto. Mu estava cansado. Por que as coisas eram sempre tão difíceis com o mais novo?

O leonino ia entrar no banheiro, mas parou na soleira da porta, encarando o mais velho com uma expressão ainda mais irritada do que a habitual.

– Olha, estou com pressa – explicou secamente, fitando o outro de forma acusadora: – O Shaka me atrasou na saída da escola, sabe?

O tibetano franziu um pouco o cenho.

– Vai ter que ficar pra outra hora, Mu – então, abruptamente, Aiolia mordeu o lábio inferior e abriu um meio sorriso para outro: – A não ser que você queira tomar banho comigo, né?

Boquiaberto, o ariano piscou tão surpreso pela rápida mudança de atitude quanto pela sugestão absurda. Por um instante, ficou apenas encarando aquele rosto adolescente. Deboche cintilava naquelas íris meio verdes, meio azuis. Pela segunda vez na vida, Mu teve consciência de que, cada vez mais, o despropositado garoto irradiava saúde e mau comportamento. Só que tudo o que o tibetano queria era...

– Foi o que imaginei – o leonino interrompeu assim que o mais velho abriu a boca. – Então, dá licença! – exclamou em voz alta e bateu a porta na cara do outro.

Sobrou, para o tibetano, ficar parado ali por alguns minutos, encarando a porta de forma extremamente chocada, a boca aberta para dizer uma frase que nem ao menos tinha sido formulada ainda.

Garoto insolente! Era a única coisa em que conseguia pensar, indignado, conforme descia as escadas e saía daquela casa, indo embora para a sua própria.

***

À noite, já recuperado da cena na casa dos gregos, mas sentindo-se apreensivo, Mu foi até a casa de Shura. Já tinha pensado em várias coisas, analisado seus sentimentos e atitudes, sabendo exatamente o que queria. Só que estava preocupado, naturalmente. E foi assim que se sentou no sofá escuro, sentindo os olhos do espanhol estáticos sobre si.

– O Máscara da Morte saiu?

– Claro. Por sinal, agora você pode me dizer o que ele fez aquela hora em frente à universidade?

– Ehrm... – Mu titubeou, mexendo nos cabelos.

Shura sugeriu algumas opções: o italiano tinha dado em cima dele? Tentado agarrá-lo?

Sabendo que o espanhol não descansaria até descobrir o que tinha acontecido, o ariano inclinou o pescoço para o lado, o rosto levemente ruborizado, e contou como Máscara da Morte o pegara de surpresa, avançando para lhe roubar um beijo que mal teve tempo para se esquivar... resultando num breve roçar de lábios.

– Me desculpa, Shura, eu...

– Ele te deixou confuso? – indagou, bufando de um jeito estranhamente conformado. – Não se desculpe, ele sempre faz isso – e acrescentou para si mesmo: – Pelo jeito, não mudou muita coisa de quatro anos pra cá...

Máscara da Morte, nesse sentido, era um pouco parecido com Kanon. Ambos gostavam de flertar com qualquer pessoa que julgassem interessante. A diferença era que o geminiano tinha Saga para colocar rédeas em seus assédios; já o italiano, bem, este não se preocupava com nada, geralmente partindo para o ataque quando queria.

– Enfim... – Shura murmurou, indo para perto da janela com o maço de cigarros e o isqueiro em mãos, de forma que pudesse fumar sem que a fumaça atingisse o outro.

Mu observou os gestos que conhecia tão bem, da forma displicente de puxar um cigarro do maço ao jeito de umedecer o lábio inferior antes de tragá-lo. Shura não era uma pessoa particularmente afetuosa, porém, sua falta de reação perante o assédio do italiano era indiferença demais, não? Tudo bem que ele conhecia o primo que tinha e estava acostumado, mas...

E se Máscara de Morte tivesse assediado Aiolos?

Fechando os olhos, o tibetano respirou fundo, preparando-se para falar primeiro. Afinal, a ideia do tempo tinha sido sua, certo? E sabia que o espanhol era pragmático, direto e que costumava falar pouco. Ou seja, sabia que seria uma conversa rápida.

O silêncio era total na casa. O cheiro do cigarro impregnava o ar, mesmo Shura soprando seus anéis de fumaça em direção ao céu escuro, repleto de estrelas, através da janela aberta.

Pela primeira vez, Mu conseguiu vislumbrar o abismo que existia entre eles. Começava a compreender como tudo não passara de momentos de emoções lúbricas; de como não ocorrera nenhum momento em que tivessem vivenciado sentimentos mais profundos.

– Nós éramos amigos que sentiam atração um pelo outro – Mu tentou explicar lentamente. – E, em vez de continuarmos assim, nessa amizade colorida, tentamos namorar e assumir um compromisso mais sério... Com o tempo, simplesmente nos acomodamos nessa situação...

Shura terminou seu cigarro e voltou para perto de Mu, sentando-se no sofá ao lado. Ele concordava completamente com tudo o que o outro dissera, mas ficou em silêncio, como de costume.

– E, no momento em que olhei, confesso que com olhos ciumentos para Aiolos, vi a verdade. Vi que você olhava pra ele de um jeito diferente do que me olhava... Foi então que compreendi que não podíamos continuar assim – o ariano disse baixinho, levantando-se para sentar no mesmo sofá que o espanhol e encostando a cabeça no ombro deste.

Naquela noite no Meikai, na qual Mu se viu dominado pelo álcool e se rebelou contra a inércia que o fazia continuar naquele relacionamento, ele se sentiu péssimo porque temia perder, junto com o namoro, a amizade que tanto apreciava manter com Shura.

– Vai ficar tudo bem, continuamos amigos – o capricorniano afirmou, umedecendo o lábio inferior e passando um braço ao redor dos ombros do rapaz de cabelos longos. – As coisas podem continuar iguais, mesmo sem estarmos namorando.

Satisfeito pelas coisas estarem terminando bem, Mu soltou uma risadinha suave:

– Soa como se fossemos continuar saindo e tudo o mais...

– E por que não? Não nos amamos, mas sentimos atração um pelo outro, como você mesmo disse... Amizade colorida... não é?

– Acho que você é muito esperto... – replicou bem-humorado, beliscando de leve a coxa alheia.

– Precisamos aproveitar enquanto você não encontra alguém que ame, oras – Shura sorriu de lado para o outro.

– E o Aiolos? Você ainda não me disse se estou certo sobre o que sente por ele...

O espanhol não respondeu. Puxou os cabelos da nuca do ariano e deslizou a língua pelos lábios deste. Mu era tão atraente! E ele sabia, de alguma forma, que as coisas iam ser bem complicadas até que chegasse a algum lugar com Aiolos...

Mu envolveu o pescoço do outro com as mãos e sorriu. Sabia que tudo estava bem. Sabia disso porque, apesar da expressão circunspecta, os olhos esverdeados de Shura sorriam para ele.

***

Os dias pareceram passar rapidamente, trazendo um ar de estranheza com eles. Afrodite teria reparado se não estivesse se perdendo nos braços de Máscara da Morte. Ele não se importava, mas tinha consciência de que não sabiam nada a respeito um do outro. Não sabia qual percurso o italiano tinha tomado para ser o que era.

Assim como Milo não sabia o que queria. Camus o confundira justamente por não estar confuso, e Shina não o ajudava com toda aquela história de yaoi. Entretanto, era melhor que ela não estivesse apaixonada por ele mesmo. Imagina, tudo seria ainda mais complicado!

Marin sabia como era estar apaixonada, embora, se pudesse escolher, não estaria assim logo pelo charme intimidante de Aiolia. Ele a estava envolvendo lentamente com seus sorrisos enviesados, meio libertinos, meio perigosos...

O sorriso que Pandora rapidamente teria identificado como típico de Kanon, caso ela mesma não estivesse ocupada tentando manter a atenção de um distraído Aiolos só para si.

Mu, por sua vez, mal conseguia ter a atenção do arredio Aiolia, para que este aceitasse conversar por um minuto consigo sobre o que queria. O leonino passava o dia inteiro entre o colégio e os treinos esportivos; boa parte da noite enfiado na casa dos gêmeos; e, quando se esbarravam em algum lugar, andava mais revoltado do nunca, sempre dizendo que estava atrasado por culpa de Shaka...

O que era bem estranho, até mesmo Ikki poderia dizer. O que é que o indiano andava tramando? Se não estivesse em época de vestibular, Ikki dedicaria bem mais atenção a isso.

Numa manhã chuvosa, em que Shura acordou bastante pensativo, Aiolos decidiu voltar toda a sua atenção ao piano, sozinho num dos anfiteatros da universidade. Não percebeu quando o espanhol entrou e parou perto de si assistindo, fascinado, aos movimentos ágeis de seus dedos pressionando habilmente as teclas pretas e brancas do instrumento.

De olhos fechados, Aiolos entregava-se à música suave como se sua própria alma se dissolvesse nas notas graves e agudas que fluíam pelo ar. E essa entrega era só uma das muitas coisas que Shura admirava nele.

– Não fique aí me olhando – o sagitariano pediu, ao perceber que não estava mais só, assim que terminou os últimos acordes da música que tocava. Alguma de Mozart, o espanhol identificara.

– Você é mesmo incrível!

O grego olhou para as teclas frias sob seus dedos, por um momento, aí levantou a cabeça para o amigo com animação:

– Em sua homenagem então! – e começou a tocar algumas músicas do clássico jogo Super Mario.

Shura arqueou as sobrancelhas e sorriu para o outro. Era admirável, não conhecia ninguém como aquele sagitariano. Quando o grego parou novamente de tocar, decidiu que arriscaria tudo... O máximo que podia acontecer era receber um não, afinal, certo?

– Escute, Aiolos... Pensei bem nas coisas que o Mu me disse... – começou, com seu tom de voz grave e sério, aproximando-se mais do outro. – E, de fato, cheguei à conclusão de que não sinto uma simples admiração por você, assim como passei um bom tempo imaginando.

O sagitariano afastou as mãos do piano e encarou o espanhol por sob a franja castanha-clara. Nunca tinha visto Shura daquele jeito quase... apreensivo?

– Bem, você sabe que não sou de ficar rodeando pra chegar onde quero, então, presta atenção... – umedeceu o lábio inferior e mirou o grego com cara de quem ia matar alguém, ganhando imediatamente toda a atenção do mundo. – Eu gosto de você mais do que como um simples amigo.

Ele gostava de... Oh, Aiolos pestanejou, seus olhos claros arregalando-se aos poucos. Como assim? Sentiu uma vontade estranha de rir. Um pouco por nervosismo e um pouco pela expressão assassina do espanhol, que não condizia com o que este dizia – ou melhor, com a declaração que fazia.

– Não me faça repetir – Shura pediu, virando-se de costas e estalando as juntas dos dedos.

– Mas... – balbuciou confuso, lembrando-se da vez em que o espanhol tinha discutido com o ariano no Meikai. – Me deixa entender... Não foi você quem disse ao Mu que as suposições dele estavam erradas? Ou... – acrescentou, colocando as mãos na cabeça num gesto confuso: – Ou será que fui eu a não entender nada?

– Você não está prestando atenção, Aiolos? – inquiriu incrédulo, segurando o outro pelos ombros e sacudindo-o. – Foi uma das primeiras coisas que eu disse... Que estava enganado e que o Mu me abriu os olhos.

Quando o capricorniano parou de sacudi-lo, Aiolos o fitou de um jeito mais atordoado do que espantado. Logicamente, Shura foi muito direto:

– O que você tem a me dizer sobre tudo isso?

Continua...


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Notas finais do capítulo

Eu diria "Pegael, Shura!" *-* /aloka

Eu sei, esse capítulo ficou mais pra "tenso" do que cômico. Mas finalmente a situação entre o Shura e o Mu se resolveu, agora dá pra avançar mais com a história. A tendência agora é o foco cair sobre os casais, especialmente o principal... Vamos ver no que vai dar... oo

Obrigada pelas reviews: Vanessa Braga da Silva, Orphelin, Hanajima, Álefe, Faith, ddkcarolina, Leo Saint Girl, JosephLawrence de Andrômeda, Isa Angelus, Sagara-san, Vanessa e Kaorux3, que são uns fofos até quando me cobram! -q :D

Agradeço especialmente a Kaorux3 que é muito amor no coração e recomendou a fic! S2 *hugs*

Reviews fazem autores felizes, autores felizes tem mais inspiração. Logo, autores felizes escrevem mais rápido! S2