Change Of Heart escrita por Sak Hokuto-chan


Capítulo 10
Separate Ways, Worlds Apart


Notas iniciais do capítulo

Bem, as notas do capítulo anterior servem para esse também. Com mais uma que eu poderia explicar no fim do capítulo, mas achei mais interessante colocar no início mesmo, já que se aplica a várias situações...:

"In vino, veritas" é uma expressão latina que quer dizer "No vinho, está a verdade", no sentido de que o comportamento de alguém que está sob o efeito do álcool reflete emoções verdadeiras, talvez mais do que as que ela manifesta quando sóbria.

Meu carneiro-beta, Orphelin, obrigada pela betagem, pelas dicas, pela paciência, etc... 8D



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Capítulo X

Uma noite você se lembrará
Como nos tocamos
E fomos para nossos caminhos separados
Separate Ways (Worlds Apart) - Journey

Satisfeito consigo mesmo, Milo deslizou a mão pelo tórax de Camus ao mesmo tempo em que mordia levemente o pescoço pálido deste. Tentava reconstruir a cena que protagonizara com Shina, para provar ao amigo que tinha razão ao afirmar que a garota havia exagerado. Entretanto, assim que fez isso, o francês agarrou-lhe o pulso com firmeza.

– Calma aí! Ainda não chegou a parte em que ela me interrompeu...

Camus o encarou com tanta frieza que Milo começou a cair em si.

– Ehrm, isso foi meio gay, né?

O ruivo arqueou uma sobrancelha para ele.

– Por que você é obcecado por mim, Milo? – indagou, apertando o pulso do outro com mais força.

O escorpiano piscou duas vezes e sorriu bobamente:

– Sou?

– Você não tem o direito de ficar me agarrando de surpresa sempre que quiser.

– Ahn... – fez o grego, tentando escapar do aperto do outro sem a menor força.

Poxa, três anos atrás, tinha sido uma aposta! Foi o tonto do Aiolia quem escolheu o francês para que desse aquele selinho. Quanto ao que tinha acabado de fazer...

– Ehrm... – Milo continuou titubeando, os olhos inquietos em qualquer lugar, menos no rapaz à sua frente. – Eu não sei... Posso colocar a culpa na bebida?

Camus estalou a língua em desconsideração e o soltou, virando-se de costas. Então, num tom frio e controlado demais para alguém que claramente tinha bebido além da conta, disse:

– Espero que entenda minha lógica. É a segunda vez que você me ataca. Devo ter meu momento também, não acha?

– Como as-...? – Milo tentou perguntar, mas foi interrompido pelas mãos geladas do aquariano que, de repente, estavam em seu rosto, segurando-o com firmeza.

Não foi um selinho apressado, ou desajeitado, que o ruivo lhe deu. Não, ele realmente o beijou. Aproveitou que os lábios do grego estavam semiabertos e deslizou a língua entre eles, compartilhando o gosto etílico de sua boca com a de Milo.

O escorpiano arregalou os olhos. As coisas não faziam mais sentido. Ele estava bêbado, agitado e... Droga! Pensar na situação era uma tarefa árdua demais naquele momento. Resolveu que nada importava, afinal. Queria se divertir! Assim, Milo correspondeu com um entusiasmo renovado, novamente envolvendo o francês em seus braços.

***

Em outro ponto do Meikai, Mu e Máscara da Morte estavam sentados em um banco de madeira bem perto de um quiosque de bebidas. O italiano tinha entregado um copo com algo que parecia suco de frutas para o ariano e, depois, permanecido em total silêncio, tal como uma estátua.

Mu bebericou do conteúdo do copo que lhe foi entregue com um ar pensativo. Estava preocupado, mas não só com seu relacionamento. Preocupava-se, também, com seu melhor amigo. Perguntava-se qual poderia ser o problema de Aiolos. Garotas à parte, tinha alguma coisa muito errada acontecendo com o grego.

O sagitariano era uma pessoa decidida e honrada que, no entanto, não estava conseguindo lidar com duas garotas que o perseguiam. Por que Aiolos não se decidia, de uma vez por todas, entre elas ou terminava de vez com as duas? Não! Ele parecia estar apenas se deixando levar. Só isso.

Preocupante.

Mu terminou sua bebida e imediatamente recebeu outro copo de Máscara da Morte. Resolveu prestar mais atenção nele.

– Sabe, quando você disse bebida de maricas, eu achei que seria um suco ou refrigerante... E não cocktails...

– Aí, seriam bebidas de crianças – o italiano replicou com impaciência. – Cocktails são para os que não aguentam bebidas fortes. Se você ficar bêbado só com eles, é porque é muito fraco mesmo.

O tibetano apenas sorriu, fitando aquele seu segundo copo. Com certeza acabaria embriagado se continuasse naquele ritmo, pois não era muito resistente para bebidas, por menor que fosse o teor alcoólico delas.

– Lá vão eles – comentou Máscara da Morte, olhando para um ponto distante. Estava se referindo a Shura, que caminhava com um agitado Aiolos praticamente colado em si.

Limitando-se a um suspiro, Mu voltou a beber.

– Vamos ver se entendi – o ex-soldado começou, levantando o indicador por um segundo antes de apontá-lo para o outro. – Você é namoradinho do meu primo. E esse tal de Aiolos é uma ameaça em potencial?

Mu soltou uma risada curta e seca. O grego não era uma ameaça... Tentou explicar brevemente a situação bizarra do amigo e em que lugar Shura entrava naquela história.

O italiano ouviu o que lhe foi dito com uma expressão entediada no rosto, só prestando atenção porque sabia que informações valiosas podiam escapar quando menos se esperava.

Quando o ariano ainda mal tinha acabado de falar, Afrodite apareceu, visivelmente ébrio, aproximando-se deles:

– Hey, Mu! Shura! Vocês viram o Shaka?

O ariano balançou a cabeça em negação. Em seguida, desfez a confusão do garoto, apresentando-os. Afrodite encarou o italiano com uma atenção maior. Primo de Shura? Bem parecidos mesmo, de alguma forma não muito óbvia. Mas e aquela alcunha esquisita? Será que...

– Você também joga The Sims pelo prazer de matar todos de várias formas? – perguntou curioso, dando uma risadinha embriagada.

Máscara da Morte abriu um meio sorriso para ele e fez que não com a cabeça, encarando o pisciano de volta. Nenhum dos dois prestou atenção quando Mu se despediu e se afastou, resolvido a ajudar na procura pelo indiano.

– Então, por que esse apelido? – o pisciano quis saber, estremecendo sob a intensidade do olhar do outro.

Em algum lugar no cérebro de Afrodite, algo lhe dizia para tomar cuidado. Alguém com uma alcunha daquelas só poderia representar problemas... e perigo. O olhar selvagem do italiano certamente respaldava essa suposição.

Entretanto, pela segunda vez na vida, o sueco teve a atenção atraída por alguém. Dessa vez, justamente por causa daqueles olhos que o analisavam de cima para baixo sem o menor pudor. E, apesar do álcool em suas veias, o pisciano pôde distinguir claramente o deslumbramento do outro consigo, o que fez com que sorrisse envaidecido.

Como Máscara da Morte poderia não se enlevar? Afrodite era mesmo fascinante, apesar dos cabelos levemente desalinhados e das bochechas coradas pelo álcool. Aliás, esses detalhes o deixavam ainda melhor. Sem perceber, o italiano umedeceu o lábio inferior com a ponta da língua, exatamente como seu primo fazia...

E Afrodite reprimiu um suspiro. Como se já não bastasse o olhar...

– Faça isso de novo...

O mais velho franziu o cenho, aproximando-se mais do outro. Antes que pudesse perguntar o que o pisciano quis dizer, ouviu, de repente, a voz seca de Shura lhe perguntar:

– Onde está o Mu?

– Não sei – replicou, dando de ombros. – Saiu por aí.

O capricorniano o encarou com uma expressão ininteligível. Fez menção de falar alguma coisa, mas pensou melhor e limitou-se a umedecer o lábio inferior rapidamente, antes de dar as costas para o parente, afastando-se.

A rápida ação, contudo, provocou um suspiro estrangulado em Afrodite – no estado em que se encontrava, não conseguia controlar esse tipo de atitude constrangedora. Com isso, atraiu a atenção do italiano de volta para si.

– Hmm... – fez o italiano, experimentando passar a língua nos lábios de novo. Sorriu satisfeito quando o pisciano suspirou de novo, extasiado. – Você gosta disso, é? – perguntou divertido, acabando com a distância entre eles.

Afrodite balançou a cabeça positivamente. Sim! Ele adorava!

Com um sorriso ferino, Máscara da Morte inclinou-se sobre o mais novo e deslizou a ponta da língua sobre os lábios deste, bem rápido. Afrodite sorveu o ar com uma ansiedade atípica. Infelizmente, o italiano apenas soltou uma risada e voltou a se afastar.

Frustrado com a distância, o pisciano não pôde se impedir de soltar um palavrão em sueco. Mas, então, recobrou um pouco de si mesmo e esboçou um sorriso enganosamente doce, encarando o italiano como se o ameaçasse em silêncio.

Máscara da Morte não entendeu o significado da imprecação do sueco, mas a entonação deixava o sentido bem claro. Sem falar que o fedelho era muito audacioso por fitá-lo daquela forma! Gargalhou com gosto. É, estava precisando de um pouco de diversão mesmo.

***

Não muito longe do local onde Milo e Camus estavam, Marin se viu numa situação um pouco parecida com a deles. Aiolia tinha acabado de abraçá-la pelas costas, murmurando coisas sem sentido em seu ouvido, a respiração tão próxima e quente causando-lhe cócegas.

– Não entendi nada – ela disse, inclinando o pescoço para o lado com uma risadinha, tentando escapar da sensação.

Porém, atraído pela pele clara e macia que lhe foi exposta, o leonino lambeu-lhe o pescoço maliciosamente, subindo até a orelha de novo para provocar um arrepio na ruiva.

– Você é tão linda, Marin... – murmurou, passeando as mãos por baixo da blusinha dela, acariciando-lhe a pele lisa do abdômen.

– Obrigada... – ela replicou, dando tapinhas nas mãos dele para que a soltasse. Quando conseguiu, virou-se de frente para ele e afastou-se dois passos para trás. – Espero que o elogio de um bêbado seja sincero...

– Não estou bêbado! – exclamou faceiro, fazendo um muxoxo ao tentar se aproximar de novo sem sucesso. Será que a ruiva só o deixaria tocá-la se eles namorassem sério? Bem, já que agora ele era mais alto do que ela mesmo... – Você quer namorar, Marin?

A pergunta fez a garota emudecer e parar de tentar se desvencilhar. Aiolia aproveitou a deixa para abraçá-la. Afundou o rosto nos cabelos cor de cobre e apertou o traseiro dela sem a menor cerimônia.

– Hey! – Marin exclamou num pulo, puxando as mãos dele, e sorriu. – Olha, me faça essa pergunta de novo quando estiver sóbrio, ok?

– Mas... – Aiolia tentou, sendo interrompido por um selinho suave.

– Agora, vamos continuar procurando o Shaka! – ela disse, voltando a se preocupar com o sumiço do loiro, e saiu caminhando apressadamente.

O leonino cruzou os braços e fez um beicinho, contrariado. Onde diabos o virginiano tinha se enfiado?

***

Ikki poderia responder. Acabara de entrar no banheiro, chamando pelo indiano, quando o ouviu responder um aqui fracamente enquanto abria a porta de uma das cabines.

– Shaka? O que você tá fazendo sentado na tampa do sanitário?

O virginiano reprimiu um comentário mordaz, mas só porque estava sem condições de se levantar sozinho sem se desequilibrar vergonhosamente. Malditos cocktails saborosos e cheios de álcool! Nem tinha percebido que bebeu demais até o mundo girar ao seu redor quando foi ao banheiro. Então, sentara-se um pouco até a sensação passar.

O leonino começou a rir com gosto, lamentando não ter uma câmera na hora para registrar tal acontecimento insólito com o todo-poderoso Shaka, e puxou-o pelos pulsos a fim de levantá-lo.

Os olhos claros do indiano giraram nas órbitas ao que o mundo se agitou com vigor, forçando-o a se apoiar no outro para não cair.

– Não acredito que o Aiolia tá perdendo isso!

– Não se atreva – Shaka avisou, encarando o outro com o máximo de frieza que conseguiu.

Resolvendo ignorá-lo, Ikki passou um braço pelas costas do loiro para guiá-lo, mas este dispensou a ajuda e reuniu sua dignidade restante para sair do banheiro. Lá fora, Shaka respirou fundo o ar noturno, sentindo-se um pouco melhor.

– Você precisa comer alguma coisa – o oriental constatou, sentando-se num banco comprido de madeira junto com o outro.

– Eu não vou comer os fast-foods insalubres desse lugar.

– Aff! Deixa de frescura, loiro.

– Eu prezo pela minha saúde – replicou rispidamente. – E não me chame de loiro.

– Pinte o cabelo de vermelho e eu o chamarei de ruivo, oras!

O virginiano massageou as têmporas e limitou-se a olhar para cima. A lua estava redondamente imensa e brilhante. Ficou olhando para ela e para as estrelas, buscando identificar alguma constelação e falhando miseravelmente.

– Eu me pergunto como alguém consegue enxergar alguma imagem nas constelações – Ikki comentou de repente, compartilhando o momento. – Não fazem muito sentido.

– Você que é muito ignorante.

O leonino lançou-lhe um olhar irritado. Até parece que Shaka estava identificando alguma coisa!

– O álcool está me atrapalhando... – o virginiano afirmou convicto, fazendo o outro bufar exasperado.

Passaram os próximos minutos em silêncio. Pelo menos, até que Mu apareceu e se aproximou deles.

– Quer dizer que você já foi encontrado... Está se sentindo bem, Shaka?

O virginiano desviou a atenção do céu e fitou o recém-chegado de uma forma aérea, fazendo um sinal para que se sentasse do seu outro lado.

– Sim, mais ou menos. Acho que bebi um pouco além da conta... – respondeu, sentindo-se bem melhor. Deu uma cotovelada em Ikki quando este se atreveu a rir.

– Você comeu alguma coisa aqui? – o ariano retorquiu, sentando-se com eles.

– Ele é muito enjoado pra isso – o rapaz oriental resmungou, revirando os olhos e ganhando uma cotovelada mais forte.

O ariano sorriu para eles, bebendo um gole de seu próprio cocktail. Ato que, alguns minutos antes, teria feito Shaka adquirir um aspecto meio verde só por ver o copo. Antes que alguém pudesse dizer mais alguma coisa, escutaram uma voz muito familiar chamando Mu. Ele olhou para o lado e viu Shura, ainda acompanhado por Aiolos.

– Cuide bem dele, por favor – pediu para o leonino. Depois, despediu-se da dupla, acenando para ambos, antes de caminhar na direção do espanhol em passos meio desequilibrados.

Shaka observou Mu se afastando com o namorado e bufou, cruzando os braços. Repentinamente, foi como se todo o álcool tivesse evaporado de seu corpo. Sentiu-se sóbrio e mal-humorado. Tomando uma decisão, virou-se para Ikki com um olhar firme:

– Quero uma bebida mais forte.

– Enlouqueceu de vez? – exclamou indignado. – Quase passou mal só com aquelas bebidinhas fracas...

– Cale-se! Não foi você quem disse que eu alcançaria uma espécie de iluminação? Pois bem, estou interessado agora.

***

Bem distante deles, Aiolia procurava o virginiano por ali onde estava mesmo, perto das árvores. O que significa que ele não demorou muito para encontrar Camus e Milo numa situação pra lá de comprometedora.

Ahá! – exclamou, chamando a atenção dos dois, que se afastaram por reflexo. – Eu devia ter desconfiado que aquela sua mania de ficar me dando selinhos, quando a gente era criança, te levaria a esse caminho, Milo.

– Eu... Ahn... Porra! Já te falei que eu nem sabia o que estava fazendo na época! – Milo retrucou, olhando de Camus para o leonino, menos constrangido do que achava que se sentiria.

– Mas agora você sabe, né?

– Ehrm... Merda. Dane-se! Não devo explicações pra alguém que chorou assistindo O Rei Leão!

– Eu era criança! Aliás, você também chorou!

O aquariano cruzou os braços, desinteressado, encostando-se a uma árvore enquanto os outros dois embriagados mudavam totalmente o foco da discussão.

– Chorei nada, é que tinha um cisco no meu olho na hora e... – o escorpiano replicou, vermelho e olhando para baixo.

– Fala sério, Milo! – Aiolia protestou exasperado. – Quem não chorou quando o Mufasa morreu, não tem coração! – apontou o punho para o céu e bradou: – Maldito Scar!

– Okay, eu chorei um pouquinho, mas...

Camus suspirou, constatando que aqueles dois eram uma causa perdida, e resolveu que precisava de água. Os amigos demoraram a perceber sua ausência. Quando perceberam, saíram caminhando juntos, procurando-o enquanto ainda discutiam.

***

Por sua vez, Mu precisava discutir algumas coisas também. Com Shura e Aiolos. Disse isso a eles com uma voz surpreendentemente cansada. O sagitariano sorriu para ele de um jeito que dizia que andara bebendo algumas também. O espanhol não. Estava completamente sóbrio e no controle de si mesmo. Sentaram-se em um banco, afastado da movimentação e da música alta, num silêncio estranho.

– Estávamos te procurando há muito tempo, Mu! – disse Aiolos distraído. – O que aconteceu?

– Nada não. Eu... – respirou fundo e começou a falar, antes que perdesse o ânimo.

Perguntou para Aiolos qual era o problema com ele, num tom de voz ameno, mas, quando o grego não soube responder por qual motivo não se decidia quanto às duas moças que o perseguiam, Mu exasperou-se. Não sabia se sua calma e paciência tinham chegado a um limite ou se era o álcool estimulando suas ideias – provavelmente as duas coisas –, mas estava cansado da situação e preocupado com o sagitariano.

Será que o grego tinha desenvolvido algum apego pelas duas? Ou preocupava-se em magoá-las? Ou, quem sabe – sugeriu num tom mais sério do que pretendia –, era porque se terminasse com elas não teria mais motivos para ficar enfiado na casa de Shura?

Aiolos levantou os olhos, confusos e incrédulos, para Mu. Ele nunca tinha falado daquele modo rígido e grave consigo. Assim, o efeito daquelas palavras foi forte no sagitariano, que não entendeu a razão da última pergunta, fazendo com que Shura se adiantasse antes que pudesse saber.

– Mu... Você ainda não abandonou essa teoria?

O tom neutro e a expressão ilegível do capricorniano abalaram um pouco mais os nervos do tibetano. Como poderia abandoná-la se Shura não colaborava? Se Aiolos estava cada vez mais e mais próximo dele?

– Do que é que vocês estão falando? – o grego quis saber, já que nunca ouviu falar de teoria nenhuma.

E Mu explicou para ele. Contou aquela sua teoria sobre Shura admirar tanto Aiolos que achava que o espanhol preferiria ficar com ele e não consigo. Contou como Shura tinha achado cômica sua teoria, mas que, quando acontecia alguma coisa com Aiolos, era sempre o primeiro a se prontificar a ajudá-lo, sempre colocando o sagitariano acima de tudo e todos. E, por fim, contou como isso era perturbador.

– Não é assim, Mu – Shura protestou.

– Não? – perguntou com uma ironia atípica, que soava muito estranha em sua voz. – Quanto tempo levou pra você perceber minha ausência, hoje mesmo, quando Aiolos te abordou lá perto das árvores?

O capricorniano o fitou como se fosse óbvio. Realmente demorara a perceber que o ariano e seu primo tinham se afastado, mas... Droga! Mu sabia muito bem como Aiolos era do tipo que conseguia arrebatar a atenção de qualquer um, especialmente quando resolvia dramatizar. Não tinha nada a ver com um suposto interesse entre eles.

– Será? – replicou amuado e massageou os sinais em sua testa, sentindo-se incrivelmente exausto.

Aiolos arregalou os olhos para eles, abismado. Poxa, por que Mu nunca tinha dito como se sentia? Não sabia nada daquela história, nada! E nunca tinha reparado em nenhum tipo de interesse vindo de Shura também.

– Me desculpe, Mu. De verdade. Mas é igual daquela vez, anos atrás, quando você teve aquele problema com meu irmão. Por que você tenta lidar com as coisas sem me contar nada?

– Eu não sei... – murmurou sendo sincero. De repente, já não sabia mais nada. Estava confuso e cansado, sentindo que devia desculpas para Aiolos. – Eu só... Às vezes, eu acho que vocês estão interessados um no outro, mas, como nós três somos amigos, eu sou um empecilho e... Não! – exclamou por reflexo, encolhendo-se porque Shura tentou tocá-lo no ombro. – Desculpa! – pediu rapidamente, segurando a mão do outro, que ainda estava no ar. Então, respirou fundo lentamente. – Acho que bebi demais...

Provavelmente era isso mesmo, Mu pensou. Afinal, estava mais na defensiva do que deveria, enquanto discutiam aquele assunto. Poderia dizer que quase se sentia culpado, agora, por ter começado aquilo. Deveria ser a mágoa que vinha guardando há tempos, ou, ainda, a certeza de saber que o sagitariano não estava a par daquela situação até então. O fato é que não conseguiu ser mais agressivo, embora o momento pedisse por tanto.

In vino, veritas... – Aiolos murmurou para si mesmo, chateado.

– Eu gosto muito de você, Shura – Mu recomeçou, olhando para seu copo quase vazio. – Mas acho melhor darmos um tempo para você repensar suas ideias e prioridades.

O espanhol franziu o cenho, não gostando nenhum pouco do rumo daquela conversa. Achou-a desnecessária. Sem falar que para ele não existia meio termo. Ou estavam juntos ou separados de uma vez. No entanto, acabou concordando com aquela condição conforme Mu se mostrou muito teimoso quanto a ela.

Com um sorriso mais nervoso do que satisfeito, o ariano apertou levemente a mão de Shura, sugerindo antes de se afastar:

– Por que vocês dois não conversam entre si? Talvez ajude ambos a se decidirem.

Shura acendeu um cigarro, com sua displicência conhecida, e encarou o ariano de forma intensa. Tão intensa que Mu achou que algo dentro de si fosse quebrar. Talvez fosse apenas uma impressão causada pela bebida. Por via das dúvidas, preferiu se afastar antes, deixando os outros dois sozinhos.

***

Aldebaran estava caminhando sozinho também, depois de passar a última meia hora bebendo e agitando perto do palco com os gêmeos. Precisava de ar fresco e uma bebida não alcoólica, pra variar. Água seria uma maravilha. Comprou uma garrafa e bebeu, sentindo-se feliz como só uma pessoa perdida num deserto poderia se sentir ao encontrar um oásis.

Foi quando pensou ter visto Mu ao longe, caminhando a esmo pelo local. Correu até ele, animado, dando-lhe um abraço forte que, até mesmo, levantou-o do chão.

– Hey, Mu! – exclamou, soltando-o. – Faz horas que não te vejo! O que houve? Você parece meio triste...

Recompondo-se do abraço esmagador, o ariano sorriu fracamente para ele. Sentiu uma vaga vontade de chorar e perguntou a si mesmo se foi só a bebida que o deixou sentimental daquele jeito. Provavelmente não. Aldebaran era um amigo excelente, mas não estava a fim de conversar com ninguém no momento. Mesmo porque, o brasileiro parecia ter bebido pra caramba e com certeza mal se lembraria do que lhe dissessem mais tarde. Então, murmurou simplesmente:

– Nós demos um tempo. Shura e eu. Não pergunte, por favor.

Aldebaran o encarou surpreso e, apesar de não estar em seu melhor juízo, ficou chateado pelo amigo. Mu era uma pessoa tão incrível! Merecia estar feliz, e não triste daquele jeito! Entretanto, não poderia perguntar nada mesmo que quisesse. Aiolia e Milo estavam se aproximando deles na maior altercação; cada um segurando uma garrafa de bebida alcoólica, é claro.

– Hey, pivetada! – cumprimentou-os, apertando levemente o ombro do tibetano enquanto este tentava recompor sua expressão usual sem muito sucesso.

– Alguém quer? – Milo ofereceu, impressionando-se quando os mais velhos recusaram. – Sério? Vocês estão bem?

– Estou ótimo! – o brasileiro começou a rir. – Mas parei por hoje. E não é disso que o Mu aqui precisa. Podem beber sozinhos.

Aiolia e Milo se entreolharam com curiosidade. Do que é que o ariano precisava então?

– Hmm... – Aldebaran observou a fisionomia triste do amigo e concluiu com sinceridade, mas sem pensar direito: – Acho que ele precisa de um pouco de amor!

O tibetano levantou os olhos para o outro, processando a ideia. Não era bem isso...

– Mesmo? – o escorpiano perguntou curioso, num nível alto de embriaguez. – Pode deixar comigo! Eu vou te amar legal, Mu!

Aldebaran gargalhou com gosto depois dessa. Milo não fazia a menor ideia do que estava falando. Aí, motivado pela bebida e pelo espírito de competição de sempre, Aiolia empurrou o outro grego e declarou:

– Eu posso fazer isso melhor do que ele!

– O que você disse?

– Ah, Milo, fala sério! Com essa sua agulhinha aí, o Mu não ia nem sentir o seu amor! – o leonino implicou, ambíguo, levando o tal papo de amor a outra interpretação.

O escorpiano olhou feio para ele e mais uma vez começaram a discutir sob as risadas de Aldebaran.

Mu os encarava de boca aberta. Eles definitivamente não faziam a mínima ideia do que estavam falando com aquela história de amor!

– Olha isso, Mu! – Aldebaran indicou a dupla com um menear de cabeça. – Não vale a pena ficar triste pelo Shura, tem mais gente disposta a te amar!

O tibetano encarou o amigo de forma inexpressiva, mas, de repente, começou a rir também. Pelos céus! Quanta bobeira! Riu mais e mais, percebendo como aqueles dois eram realmente engraçados, com aquelas discussões bobas de sempre. Lembrou-se de quando tinha quinze anos, época em que sua amizade com Aiolos ainda estava começando, e riu ainda mais, sentindo falta de si mesmo com aquela idade. Não tinha nenhuma preocupação maior do que os estudos naquela época. Bons tempos. Só rindo muito mesmo.

Se Aldebaran não tivesse bebido tanto, teria percebido que havia alguma coisa errada na risada intensa de Mu. Uma nota vaga de desalento. Porém, naquele estado em que se encontrava, achou que o amigo estava se animando um pouco, por isso resolveu deixá-lo com a dupla briguenta por um momento, para ir ao banheiro.

Milo desistiu de discutir e segurou o ombro do ariano. A ação imediatamente causou uma reação em Aiolia, que puxou o escorpiano pelo braço sem a menor delicadeza.

– Cara, você é muito ciumento! – o escorpiano reclamou, desvencilhando-se da mão do amigo. – Mais do que eu, caramba!

Aiolia fez um muxoxo. Era extremamente ciumento mesmo, e daí? Tinha ciúmes de amigos; parentes; animais; objetos; ideias; citações... Tinha ciúmes até de Shaka, concluiu em pensamento, horrorizado. Enfim...

– Olha, Milo, vai amar o Camus que você ganha mais!

Camus? O escorpiano lembrou-se do ruivo e do que faziam até serem interrompidos pelo outro. Percebeu que não fazia ideia de onde o francês estava. Nossa, era melhor procurá-lo mesmo. Vai que ele estava passando mal?

– Eu volto logo, Mu! – afirmou, lançando um olhar furioso para cima do leonino antes de se afastar.

Numa atitude pueril, Aiolia mostrou a língua para o outro e, depois, olhou para o ariano com um sorriso radiante. Ah, espera aí... Ele piscou confuso, mordendo o lábio inferior. Como que se amava alguém assim, do nada? Será que deveria chamar o Shaka para isso? O loiro bem que gostava do Mu e...

– Não se preocupe – pediu o tibetano com sua voz amena. – Estou bem...

Mesmo com o raciocínio vagaroso por causa do álcool, Aiolia percebeu o tom abatido implícito. Os olhos do ariano brilhavam tanto que o mais novo teve a nítida impressão de que ele logo estaria chorando. Porém, Mu não chorou. Apenas balançou a cabeça de leve, atordoado, abrindo um pouco os braços e deixando que caíssem fracamente ao longo do próprio corpo de novo.

Aiolia interpretou o gesto vago como um pedido por um abraço e, alegremente, passou os braços em torno do ariano, sem pensar em nada. Nos últimos anos, tinha feito aquilo tantas vezes para aborrecer Shaka que, de uns tempos para cá, já tinha se tornado um costume abraçar o tibetano, como forma de cumprimento, até mesmo quando o loiro não estava por perto.

Assim, acostumado com o gesto, Mu se deixou abraçar. Sentia-se meio patético por estar sendo confortado por um garoto de quinze anos bêbado. Ainda mais por este ser o irmão caçula do rapaz que, talvez, fosse arrebatar-lhe o namorado... Mas era um abraço realmente reconfortante. Quis rir de novo, mas se conteve.

Indiferente aos problemas do outro, Aiolia fechou os olhos, sentindo o perfume daqueles cabelos compridos. Rapidamente, decidiu que era muito bom. Olhou para eles, notando como eram brilhantes, e começou a brincar com uma mecha, tentando trançá-la.

– Aiolia? – chamou alguns instantes depois, arregalando levemente os olhos. – Por favor, diga que você não está dando um nó no meu cabelo...

O leonino franziu o cenho, observando sua quase obra de arte, e soltou uma risadinha ébria. Ah, bem... Era para ser uma trança!

– Não, não! Pode deixar! – o tibetano pediu alarmado, quando o mais novo se prontificou a desfazer aquele desastre capilar. Era bem capaz de piorar se mexesse mais. – Depois eu desfaço, sem problemas!

Dando de ombros, Aiolia voltou a rir. Sua boca quase se encostava ao ponto entre o ombro e o pescoço do ariano. Não demorou e Mu teve um sobressalto ao sentir rápidos beijinhos serem depositados em sua pele, seguidos por uma sucção macia em seu pescoço...

Continua...


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Notas finais do capítulo

Ehrm, levou 10 capítulos, mas finalmente temos uma interação entre o casal principal da fic! E pensar que, quando comecei a escrever, imaginei que a fic teria, no máximo, 10 capítulos... o.o

Obrigada pelas reviews: Mel Dark, Larissa Saint, Vanessa, Hanajima, Suzuki_Yoi, Lord Bol, Isa Angelus, Orphelin, KassiaKarolayne, Vanessa Braga da Silva e euzinho x! :D

No próximo capítulo teremos a volta dos gêmeos, Dohko e Shion! :D Eu ia atualizar só semana que vem, mas as reviews fofas que recebi me inspiraram a escrever mais rápido o.o Então, que tal ficou esse? ^^