Dead World. escrita por Benny


Capítulo 4
O Exército.


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora, prometo postar os capítulos mais rápido.



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Ele se chamava Jason, gritou assim que parou o carro no meio da estrada com estardalhaço e desceu tropeçando. Parecia assustado, segurando uma pistola velha na mão esquerda e com o rosto branco como leite vidrado no meu pai, mais próximo a ele e com sua pistola pronta para atirar.

– De onde você veio? – perguntou Harry, o pai de Anna, dando alguns passos na direção do desconhecido. – O que é aquela coluna de fumaça lá em frente?

O homem chamado Jason demorou a responder, tremendo tanto que não parecia conseguir se manter de pé durante muito tempo. Seu rosto estava coberto de fuligem, os cabelos loiros e quebradiços colados ao rosto coberto de suor e os olhos claros virando de meu pai para Antonio e o pai de Anna. Me mantive próximo ao trailer, tateando a minha pistola presa ao coldre da minha cintura.

– Eles atiraram! – murmurou Jason, apontando para a coluna de fumaça no horizonte. – Nós estávamos escondidos na escola quando eles chegaram atirando! Vieram do céu... Nós... Eles mataram...

Me aproximei mais, com Kate choramingando dentro do ônibus e minha mãe parada na porta, fitando o horizonte. Caroline também desceu do trailer, os cabelos longos e escuros sacudindo ao vento. Meu coração se comprimiu no peito quando lembrei de Anna, e do modo doce como os cabelos dela sacudiam, escondendo seu sorriso um pouco torto e as covinhas ao redor da boca. Eu não quero morrer John, não quero me transformar numa daquelas coisas!

Meu pai tomou a dianteira, erguendo sua pistola acima da cabeça e mirando com precisão a cabeça do homem. O cheio da fumaça já chegava até agente, a fuligem cobrindo o ar e dificultando a respiração.

– Quem atirou em vocês? Aquilo lá era a escola?

Jason confirmou com um aceno rápido de cabeça, parecendo prestes a cair no choro ou desmanchar no chão sem forças. Ele parecia jovem, percebi agora que me aproximava mais, deveria ter pouco mais de 20 anos ou até mesmo a minha idade, era difícil precisar com o homem naquele estado de sujeira e desespero.

– EU NÃO SEI QUEM FEZ AQUILO! – rugiu o homem, numa agonia dolorosa. – ELES VIERAM EM HELICÓPTEROS E COMEÇARA A ATIRAR!

Jason tentou se aproximar, a mão tremendo e a pistola sacudindo-se assustadoramente. Antonio surgiu na sua esquerda no mesmo instante, apontando sua .38 e rugindo uma ordem:

– Largue essa arma!

O homem não obedeceu, finalmente deixando-se cair em lágrimas e chorando como se fosse apenas uma criança de colo chamando pela mãe. Mesmo assim não largou a arma, e nem afastou-se muito do carro. O vidro da frente estava estilhaçado, e havia manchas de sangue no capô e nas rodas.

– Haviam walkers conosco! – disse, chorando e soluçando de dar pena. Fiquei em pé ao lado do carro de Antonio, com a esposa dele assustada e sentada no banco da frente. Respirei fundo quando uma lufada forte de fumaça encheu o ar, e tive de piscar diversas vezes para evitar que meus olhos se enchessem de lágrimas. Tossi, com a garganta começando a reclamar do ar poluído. – Nós éramos um grupo de 30 pessoas, mas ontem a noite... Eu não sei como, estávamos fazendo patrulhas, eu e Diego e o Jace, nós estávamos cuidando da segurança cara! Mas os walkers chegaram! PORRA, ERAM CENTENAS DELES!

Não precisei de mais detalhes para imaginar o que tinha acontecido; e o desespero do homem também já explicava muita coisa. Sangue, morte, dor, pessoas morrendo, tiros, gritos, correria. Anna desvanecendo-se em lágrimas e sangue em meus braços. Eu não quero virar um deles, John.

Ela faria aniversário amanhã, e eu poderia rir da dor em meu peito e das reviravoltas que o destino dava. Meu estômago remexeu-se como se uma centena de cobras se contorcessem em meu interior e minha garganta secou. Anna faria 18 anos amanhã e eu tinha perguntando pra minha mãe se ela não poderia preparar uma festa, pedi conselhos pro meu pai sobre um presente bom para comemorar 18 anos e mais de 2 anos de namoro. Segurei as lágrimas, soando bobo no meio de toda aquela preocupação. Anna estava morta, enterrada e agora aquilo era o fim para ela. Sua morada final era aquele pedaço de terra debaixo dos carvalhos sobre o sol até o fim dos tempos.

– Como você conseguiu fugir? – perguntou Antonio, aproximando-se cautelosamente de Jason. Meu pai e o pai de Anna fizeram o mesmo, cada um por um lado. Eles iriam encurralar o homem, provavelmente tirar-lhe a arma e mantê-lo preso.

– Fugi pelos encanamentos... Eu pulei a grade, e esse caro era da família do Paul Pequeno... Nós o chamávamos assim porque ele realmente era muito pequeno cara... – e em seguida riu, soando estranhamente ensandecido e magoado. Ele está louco pela dor.

– Jason, meu camarada. Nós somos amigos, agora por favor abaixe a arma e venha conosco até nosso trailer. Tome um pouco de água e durma um pouco.

Parecia uma proposta boa demais para que eu acreditasse, e até mesmo o desconhecido em toda sua cegueira e alucinação não parecia levar as palavras do pai de Anna tão a sério assim.

– Não! Eu preciso fugir daqui... Haviam walkers, os helicópteros podem não ter matado todos eles.

O homem parecia tão confuso que eu não sabia se poderia acreditar naquela história dos helicópteros. Se fossem o Exército, e haviam boatos de que eles ainda resistiam ao vírus e a infestação, eles não matariam pessoas inocentes apenas para destruir zumbis. O exército estava lá para nos ajudar, não é?

– Venha conosco! – pediu meu pai, com a voz mais branda, embora a arma em sua mão ainda soasse ameaçadora. – Podemos nos ajudar, são tempos loucos para um homem sair por aí sozinho.

Jason pareceu concordar durante alguns segundos, mais em seguida caiu de joelhos no chão, as lágrimas tornando a manchar seu rosto branco e manchado de sujeira. Ainda segurava sua pistola, e a mão tremia tanto que ele mal conseguia mirar a arma direito.

– Abaixe essa arma agora! – gritou Antonio, mais exigente e perdendo a paciência. – Ou eu vou ter que atirar em você.

Eles atiraram em Anna, eles meteram uma bala na cabeça dela para evitar que voltasse. E embora eu soubesse que havia sido uma atitude certa, meu coração doía ao imaginar ela morta, soterrada por terra e apodrecendo. A pessoa que ela um dia fora agora fazendo apenas parte do passado.

Jason levantou-se aos tropeços do chão, remexendo em alguma coisa nas costas, o rosto se contorcendo de dor. Levantou a blusa alguns centímetros para mostrar uma ferida aberta na altura da barriga, com o sangue seco manchando a calça e o pus escorrendo lentamente. Faltava um pedaço imenso de carne, e embora a região já começasse a necrosar eu fiquei surpreso com o homem e por ele ter conseguido dirigir durante tanto tempo.

– Isso é uma mordida? – quis saber Antonio, gritando e apontando a sua .38 mais perto do homem, que não pareceu se importar com aquilo. – Você foi mordido?

Um burburinho de medo se espalhou por todos nós, e eu escutei minha mãe levando Kate para os fundos do trailer, o barulho do choro da minha irmã aumentando cada vez mais. Caroline arfou de surpresa, e eu puxei minha pistola do coldre com um puxão rápido.

Mas Jason pareceu mais firme e decidido do que qualquer um de nós alguma vez poderia estar. Ele olhou para trás durante alguns segundos, olhando para nuvem densa que se espalhava mais e mais pela estrada, dificultando cada vez mais a visão e irritando os olhos e a garganta de todos. Em seguida olhou para meu pai com uma tristeza profunda, os lábios trêmulos e a mão apertada na mordida.

– Vocês deveria sair daqui agora. Não é seguro, eles estão matando walkers, e vão matar qualquer um que esteja no caminho.

E em seguida apontou sua pistola para dentro da própria boca e atirou. O grito de susto de Caroline e da esposa de Antonio ecoaram pela estrada como se fossem um só, e meu pai, recuou alguns passos quando o corpo morto de Jason bateu com força no carro e caiu ao chão num ribombar seco. Metade da cabeça do homem estava completamente destroçada, e eu não consegui desviar o olhar e de imaginar Anna na mesma situação. Eu não quero virar uma daquelas coisas, John.

E ele também não quis.

A fumaça ficou cada vez mais densa, impedindo até mesmo de ver alguns metros a frente. Escutei meu pai dizendo que deveríamos desviar a estrada e irmos por um caminho mais seguro, e que a escola já não era um refúgio útil.

Estava caminhando de volta para o trailer, acompanhando Caroline, quando outro som forte chamou a atenção. A fumaça revoltou-se quando hélices gigantes de 2 helicópteros verdes sacudiram o ar parado, e eu vislumbrei duas palavras na lateral das aeronaves antes de uma delas dar um voo rasante pela estrada, passando por cima do nosso trailer e sacudindo tudo ao redor com a força motora que o vento adquirira.

Os dois helicópteros circundaram ao nosso redor, e grupos de dois homens debruçaram-se sobre as janelas. Todos seguravam pesadas pistolas escuras e de aparência militar. Caroline correu para dentro do trailer assim que meu pai gritou alguma coisa que eu não consegui escutar. Apressei-me a acompanhá-la, mas a fumaça me fez tropeçar em alguma pedra ao algo desse tipo. Xinguei baixinho enquanto cambaleava, no exato instante em que meu pai me agarrava pelo braço e me puxava com força.

E foi aí que os tiros começaram.


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Notas finais do capítulo

Espero que gostem, e sejam bons comigo deixando reviews! :)



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