Contra Todas As Probabilidades escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 9
Fique longe do lobo-mau




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– Tem certeza, você viu?

– Bem, ver eu não vi não, mas eu acho que...

– Bah, então não deve ter acontecido nada!

– Olha, eu só sei que na hora de ir embora, o Felipe foi com a Mônica, então é bem capaz de ele ter levado ela até em casa.

– E o que tem isso?

– Ô careca, eu acho que você tá facilitando demais!

– Eu não estou facilitando nada, só não acredito que a Mônica seja capaz de se interessar pelo Felipe.

– Não? Fica bobo aí, fica! Cara, maior vacilo o seu! Você nem ligou pra Mônica ontem pra desejar feliz natal!

– É que eu estava numa festa e não queria perder mais da metade só pra ficar falando com ela! A gente se vê o ano todo, eu preciso do meu espaço, caramba!

– Pode ser, mas acontece que você tá dando muito espaço pra Mônica também! Não fica aí marcando bobeira senão o Felipe vem e cráu!

– Tá bom, tá bom! Eu vou ligar pra Mônica daqui a pouco. Tô sem nada de importante pra fazer, então acho que posso falar uns minutos com ela.


Quando a ligação foi encerrada, Cascão deu um suspiro cansado ao ver o descaso com que o Cebola tratava a Mônica. Se ele não fosse seu melhor amigo, Cascão jamais iria perder o tempo avisando-o do perigo. Talvez fosse até bem feito ele voltar de viagem e encontrar a Mônica namorando com outro.


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“Deixa eu ver... esse ou esse? Esse aqui parece mais delicado, mas o outro é bem mais forte... que coisa!”


– Que foi? Você precisa de outros patins? Use o daquele patrocinador novo. Eles estão doidos para te ver usando a marca deles.

– Não são pra mim, são pra uma amiga. Tem problema?

– Claro que não, a gente recebe muita coisa mesmo.

– Valeu, seu Rômulo!


Aproveitando que o empresário tinha dado a deixa, ele também selecionou um equipamento de segurança mais adequado para ela. As joelheiras que ela usava eram muito grandes e o capacete de qualidade duvidosa. Faltou apenas decidir entre azul ou rosa. Garotas geralmente gostavam de rosa, mas Mônica parecia ter uma queda pelo azul por causa do coelho dela. No fim ele escolheu azul. Se ela não gostasse, bastava trocar.


Felipe sentou-se um pouco e ficou estudando os patins que tinha escolhido para ela. O design era bem interessante e ele tinha gostado do desenho. Engraçado... ele patinava há tantos anos e nunca tinha parado para prestar a atenção nos patins que usava. Aquele par estava bom e ele colocou em sua sacola. Então ele pegou outro par e ficou examinando. As cores eram bonitas, mas o design daquele parecia ser meio ruim, um tanto desconfortável.

Os patins eram fabricados em série, o que ele não achava muito bom já que cada pessoa tinha suas particularidades. E aquele tinha alguns penduricalhos que davam uma aparência bonita, mas que ele achava totalmente desnecessários. Havia vários pares de patins e equipamentos que os patrocinadores enviavam para ele e sua irmã. Os dois eram muito famosos e isso lhes rendia bons contratos e patrocínios.


“Hum... por que eles fizeram esse aqui com essa curva? Nada a ver, isso vai é atrapalhar! E o material dessa cotoveleira tá bem ruizinho!”


Ele ficou ali estudando o equipamento e fazendo anotações até chegar a hora de ir ao shopping treinar com Luísa. Só de pensar em ter que patinar com sua irmã no gelo uma preguiça enorme tomou conta dele. Aqueles treinos não estavam adiantando de nada. Sozinho ele até patinava bem e já conseguia fazer algumas manobras, mas com ela tudo parecia dar errado.


Patinar com a Mônica no parque era mil vezes melhor do que ser arrastado para o ringue de patinação só para ficar levando tombos durante a maior parte do tempo.


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Mônica estava deitada na cama lendo uma revista quando ouviu o Skype tocando aquela música indicando que havia uma ligação. Ao olhar, ela ficou surpresa ao ver que era o Cebola. Por que ele tinha resolvido ligar após dias e dias sem entrar em contato?


– Oi, Cebola. Como vai? – Ela cumprimentou tentando aparentar alegria.

– E aí, Mônica? Aqui vai tudo bem, e aí?

– Tudo ótimo.


Engraçado... era impressão sua ou o Cebola estava muito magro e careca? Talvez fosse a webcam... ou não? Ele parecia tão sem graça!


– O que você tem feito de novo aí?

– Eu tenho aprendido a patinar e estou gostando muito!

– Aprendendo a patinar com quem?

– Com o Felipe, ué!

– Hum... – ele fez uma cara de desconfiado. – e há quanto tempo você vem... aprendendo?

– Deixa eu ver... acho que eu comecei no dia três ou quatro de dezembro, não tô lembrada.

– E você aprendeu alguma coisa?

– Ah, sim! Eu consigo patinar sem cair e posso até dar pequenos saltos! O Felipe está me ensinando muita coisa!

– Que bom. Escuta, agora que você já consegue patinar sem cair, por que ainda continua tomando aulas com ele?

– Porque quero aprender outras coisas, ué!

– Ah, fala sério! Disso você não passa!

– E como você sabe?

– Sabendo, ué! E eu não te conheço?


Ela levantou uma sobrancelha. Ele apenas pensava que a conhecia, que otário!


– Enquanto eu estiver gostando, vou continuar tendo aulas com ele sim, não vejo nada demais nisso!

– Pois eu vejo! Não quero ver você andando pra baixo e pra cima com outro rapaz, Mônica! Poxa, eu estou aqui ralando feito doido e você fica aí só se divertindo?

– Helowww! Estamos de férias, esqueceu? Você está ralando porque quer! Eu não vou ficar aqui trancada no meu quarto as férias todas só porque você tá “ralando” por aí!


Cebola ficou sem fala por alguns segundos, olhando a Mônica com os olhos arregalados.


– Escuta, por acaso você ia gostar se eu ficasse andando com alguma americana por todo lado?

– E daí? Não somos namorados, então cada um faz o que quer fazer.


Outro susto e por pouco ele não cai da cadeira. Pelo visto, a situação estava pior do que ele imaginava.


– Que coisa! Foi só eu me ausentar um pouco pra você me esquecer desse jeito?

– Ah, tá. Você ficou aí dias sem dar nenhum sinal de vida e vem falar que EU te esqueci? Fala sério!

– Eu estou estudando muito, Mônica! Será que você não entende o meu lado?

– E será que você não entende o meu? Você quer que eu faça o quê? Que eu deixe tudo de lado só pra ficar te esperando? Esquece, eu não vou fazer isso! Cansei, viu? Cansei!


Ela começou a falar cada vez mais alto, deixando o rapaz assustado. Se continuasse daquele jeito, as coisas iam piorar. Ele não pensou que ela fosse ficar tão aborrecida assim com sua ausência a ponto de acabar se rebelando daquela forma. Com isso, Cebola achou melhor contemporizar antes que as coisas fugissem do seu controle.


– Mônica, minha linda... – aquilo fez com que ela se acalmasse um pouco. – você tem razão, eu pisei na bola não te dando notícia. Só que não foi por mal, acredite! Eu posso até não ter mandado e-mail ou ligado, mas pensei em você o tempo inteiro.

– Pensou mesmo?

– Claro! Eu te amo, esqueceu?

– Hum... – ela fez cara de manhosa e Cebola viu que tudo estava sob controle novamente. Era tão fácil levá-la na conversa!

– Antes de viajar eu disse que ia te compensar por tudo e pretendo cumprir essa promessa, pode esperar! Ano que vem, vamos ficar bem juntos o tempo inteiro e eu não vou te largar nem pra jogar vídeo-game, eu juro!

– Jura mesmo?

– Claro! Pode acreditar em mim! Agora, você promete que vai parar de andar com o Felipe? Eu sei que não tem nada a ver, mas fico muito encucado com isso! Sabe-se lá o que ele anda pretendendo!

– Bem...

– Ah, vai! Não anda com ele mais não, tá? Eu não quero minha linda coelhinha andando por aí com nenhum lobo mau!


Ela deu uma risadinha, deixando-o ainda mais tranqüilo e seguro.


– Está bem, Cebola, eu não vou dar bola para nenhum lobo mau. Prometo!

– É assim que eu gosto! Quando eu voltar, prometo que tudo vai ser uma maravilha, está bem?

– Certo.


Eles ainda conversaram mais um pouco antes de encerrarem a ligação. Cebola recostou em sua cadeira, muito aliviado. Tinha sido mais fácil do que ele imaginou, sinal de que as coisas não estavam tão críticas quanto ele tinha pensado antes.


“Humpt! Ela nunca vai se interessar por mais ninguém. Não se depender de mim.”


Após encerrar a ligação com o Cebola, Mônica deu um sorriso cínico. “Fala sério! Será mesmo que ele pensa que eu ainda acredito no papo dele?”


No inicio, ela chegou mesmo a pensar que ele estivesse falando sério, mas depois foi percebendo que era apenas conversa mole. Afinal, Cebola era excelente mentiroso, sempre fora. Ela já estava mais do que vacinada e sabia que ele sempre agia dessa forma quando havia risco de ela se interessar por outro rapaz. O mesmo jeito de falar, as mesmas promessas, o mesmo carinho, o mesmo olhar apaixonado... e no fim ela sempre ficava no vácuo.


Não, daquela vez ela não ia ser feita de boba, nem pensar. E Mônica não se importava nem um pouco em também mentir um pouco para ele. E pensando bem, ela tinha prometido ficar longe de qualquer lobo mal.


Só que o Felipe não era nenhum lobo mau.


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Notas finais do capítulo

Aleluia! Parece que a Monica finalmente ficou esperta!



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