Contra Todas As Probabilidades escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 3
Raiva de si mesma




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/201103/chapter/3

- O Felipe? Tá falando sério? Você foi mesmo ao cinema com ele?

- Ué! O que tem? A gente tava sem nada pra fazer, então resolvemos assistir um filme junto.

Magali voltou a olhar para Mônica como se ela tivesse ficado maluca.

- Você devia estar desesperada mesmo, viu?

- Desesperada por quê? O que tem de errado com o Felipe?

- Hã... nada... só achei que ele não tivesse nada a ver com você.

- Eu heim! Você fala como se a gente estivesse querendo namorar!

- Pelo que eu sei, ele também está de olho em você.

- Que bobagem! Ele só fingiu estar interessado em mim pra me ajudar naquele plano que fez o Cebola me pedir em namoro. Era tudo encenação, só isso. Tanto que ele nunca tentou chegar em mim em momento algum depois disso.

- Se você diz...

Ela acabou deixando aquilo para lá. Talvez não tivesse nada a ver. E Mônica precisava mesmo se distrair um pouco e esquecer do Cebola.

- E você se divertiu mesmo com ele?

- Bastante. Ele é bem engraçado, sabe? Dei muita risada com ele. Ah, e ele se ofereceu para me ensinar a patinar.

- Você aceitou?

- Aceitei, né! Cansei de levar tombo.

 __________________________________________________________

Ele percorria a pista de obstáculos, dando grandes saltos e fazendo manobras arriscadas e perigosas que nem sua irmã tinha coragem de fazer. Era como se seu corpo tivesse sido tomado por uma energia nova e nada parecia impossível para ele. Luísa estranhou toda aquela disposição e acabou perguntando:

- O que deu em você? Que empolgação toda é essa?

- Eu só tô feliz, ué! O que tem?

- Hum... e por que você está feliz desse jeito, eu posso saber?

Felipe deu um sorriso sem jeito, ajeitou os óculos que usava em cima da cabeça e resolveu falar a verdade.

- É que ontem eu passei a tarde com a Mônica, sabe...

- Ah, é? Com a Mônica? Como foi isso?

Depois de contar a historia resumidamente, ela ficou surpresa por seu irmão finalmente ter criado coragem para se aproximar da Mônica. Ele sempre foi interessado por ela, mas nunca tinha tentado se aproximar de verdade.

- Sabe como é... ela estava ali sozinha, de bobeira e sem o mané do Cebola por perto. Então eu arrisquei.

- Puxa, demorou heim!

- Como assim demorou?

- Você pensa que eu não te vejo babando toda vez que ela passa? Falta pouco molhar o chão!

O rosto dele ficou vermelho e ele tentou disfarçar checando seus patins. Certo, aquilo era mesmo verdade, mas ainda era um tanto embaraçoso saber que outras pessoas já tinham reparado.

- Quando vão começar as aulas de patinação?

- Heim?

- As aulas que você prometeu pra ela, cabeção! Quando vão começar?

- Eu... não sei... não marquei nada com ela...

- Não marcou? Ah, fala sério! Na pista você pode ser muito veloz, mas para outras coisas é bem devagar, viu? Telefona pra Mônica e marca com ela.

- Assim tão rápido?

- Claro, seu lerdo! Vai esperar pra quê?

- Eu... er...

- Escuta, você não disse que o Cebola vai viajar?

- Foi o que ela falou...

- E que vai passar as férias lá nos “states”?

Ele fez que sim com a cabeça.

- Beleza! Tá aí a sua chance! Você vai ter dois meses inteirinhos pra conquistar a Mônica. Então cai dentro e vai fundo porque quando o cabeça de cebola voltar das férias, não vai ter mais pra você não! A hora é agora!

- Cara, eu nem tinha pensado nisso!

- Claro que não! Eu sou o cérebro da dupla, esqueceu?

- Sua convencida! – ele falou empurrando a irmã de brincadeira, sabendo que ela não ia cair.

- Sou mesmo. Agora vamos voltar a treinar que perdemos muito tempo aqui conversando! E a gente ainda tem que marcar os dias e os horários do treinamento para o concurso também, não esquece!

Durante o resto do treino, ele se esforçou para concentrar no que estava fazendo, mas toda hora a imagem da Mônica vinha na sua cabeça. Sua irmã tinha razão. Com o Cebola longe, ele tinha a chance de passar mais tempo com ela e quem sabe não poderia rolar alguma coisa? Pelo menos ele pretendia tentar.

__________________________________________________________

Ela tinha acabado de chegar do aeroporto, sendo trazida pelo seu pai. Coitado, ele teve tanto trabalho para conseguir uma folga no serviço e levá-la para despedir do Cebola... tudo pela sua garotinha.

Ao chegar em casa, ela foi direto para o quarto e ficou sentada na cama com seu coelho de pelúcia no colo e um olhar perdido. Várias vezes ela tentou dizer a si mesma que aquilo era somente impressão, que talvez ele só estivesse nervoso com a viagem ou com medo de encarar um país estrangeiro, com uma cultura diferente. O medo, a ansiedade e a insegurança costumavam deixar as pessoas paralisadas e sem ação.

“Larga de ser boba, não era nada disso!” uma vozinha gritou lá do fundo de sua consciência, “ele tá é muito feliz de poder viajar, isso sim! Tão feliz que nem está se tocando de que te deixou pra trás!”

Ela apertou seu coelho com mais força contra o peito. “Não... não é nada disso... ele me ama, vai sentir saudade e quando voltar, pode até resolver me pedir em namoro!”

Aquela vozinha chata voltou a martelar em sua cabeça: “Mentira! Tudo mentira e você continua acreditando que nem uma retardada! Ele não vai sentir sua falta e quando voltar, tudo continuará a ser como antes, com ele te enrolando e você esperando feito uma trouxa!”

“Ele disse que me ama!”

“Grande porcaria! Falar que ama até papagaio bem treinado fala. Demonstrar é que são outros quinhentos!”

“Ele demonstra sim!”

“Ah, é? Como? Te fazendo gastar os melhores anos da sua vida esperando por uma promessa que nunca se cumpre? Tirando o corpo fora toda vez que aparece uma oportunidade para te derrotar?”

“Eu só tenho que ter paciência, isso vai mudar e no fim tudo vai dar certo!”

“Acorda, criatura! Ele já está te enrolando há muito tempo e se você bobear, vai continuar assim por pelo menos uns cinco ou dez anos!”

Aquilo lhe fez lembrar de uma conversa que estava tendo com suas amigas sobre a lerdeza do Cebola.

- Ai, que lenga-lenga, credo! – Denise falava já muito impaciente com aquela demora. – Fófis, eu acho que esse Cebola tá devagar demais pro meu gosto!

- É que ele ainda quer me derrotar, você sabe.

- Aham, senta lá, Claudia! E quando vai ser isso? Já pensou vocês dois com mais de sessenta anos de idade e ele ainda te enrolando com esse papo? Ah, tem dó, né?

Na hora, Mônica não tinha levado aquilo a sério. Denise sempre fora exagerada com as coisas. No entanto, ela foi percebendo que sua amiga não estava exagerando tanto assim.

“Deixa eu ver... quando foi que a gente começou a namorar? Ah, sim... depois a gente terminou e...” ela foi fazendo as contas e viu que do dia em que terminaram o namoro até a presente data, tinha se passado cerca de um ano e meio. “Um ano e meio? Nossa! Eu nem tinha percebido!”

Ela levantou-se da cama e ficou andando pelo quarto, conversando consigo mesma.

“Ai, que droga! O Cebola está demorando demais com isso. Por que ele tem tanta neura em me derrotar? Qual é o problema dele? Humpt! Eu deveria seguir em frente, isso sim! Não... isso não...”

Todas as vezes que ela pensava em desistir dele, um sentimento de desanimo tomava conta dela. Além do mais, ela o amava, ele a amava... não era justo terminar um relacionamento onde os dois se amavam só por causa da sua impaciência. Por outro lado, também não era justo eles ficarem separados indefinidamente só por causa dos obstáculos que somente ele impunha ao namoro dos dois.

Ainda assim, ela não se sentia forte para abrir mão daquilo.

Uma raiva surda foi surgindo dentro dela. Raiva de si mesma por ser tão fraca, por não ser capaz de dar um fim naquela enrolação, por não ter coragem de chegar no Cebola e colocar tudo em pratos limpos, e muita raiva por continuar aceitando as desculpas ridículas dele.

Ela também começou a sentir raiva do Cebola, que não reatava o namoro e nem lhe deixava livre para procurar outra pessoa. Raiva por causa dessa neura dele que parecia ser mais importante do que a felicidade dos dois e raiva por ele estar claramente se esquivando de cada oportunidade que surgia para derrotá-la. No fundo, ela não acreditava nas desculpas que ele dava.

E mesmo tendo raiva de si mesma, raiva dele e sabendo que ele estava fugindo da luta, ela ainda não encontrava forças para terminar com tudo aquilo e sua raiva aumentava mais ainda. Se fosse possível, ela até daria uns bons socos em si mesma para tomar vergonha na cara.

Antes que ela acabasse fazendo mesmo aquilo, o celular tocou tirando-a dos seus pensamentos.  

- Alô?

- Mônica? Sou eu, o Felipe.

- Oi Felipe, tudo bem?

- Tudo. Escuta, por acaso você quer mesmo aquelas aulas de patinação? Se quiser, eu tenho o dia livre amanhã. A gente pode ir para o parque e eu posso te ensinar. O que acha?

- Eu acho legal. Claro que eu quero aprender! Mas você vai mesmo querer ensinar? Você sabe que eu ainda sou muito nooba!

- Tem grilo não. Devagar você vai aprendendo. Então? Você topa?

- Claro! A que hora a gente começa?

- Eu estarei no parque por volta das nove horas.

- Então tá combinado. Amanhã a gente se vê.

- Tranqüilo!

Ela desligou o celular, feliz em ter encontrado algo para distrair sua mente daquela neurose com o Cebola. Assim ela teria uma trégua.

 __________________________________________________________

- E aí?

- Ela aceitou, não é demais? Amanhã começam as aulas.

- Puxa... é ela quem vai aprender e é você que fica empolgado?

- Ah, não enche!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Pois é, né... vai ser preciso algum tempo (e também certo incentivo) para que a Mônica consiga esquecer o Cebola.
.
Parece que muita coisa vai rolar nessas férias, não deixem de acompanhar a história e reviews, please! É muito bom saber o que as pessoas pensam da minha história.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Contra Todas As Probabilidades" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.