AMERICAN IDIOT escrita por Ely Vieira


Capítulo 2
Jesus Of Suburbia




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Parte I

Jesus of Suburbia

Meu nome é Jesus do Subúrbio e eu sou o filho da raiva e do amor. Tá, esse não é o meu nome de verdade. O meu nome verdadeiro é Jimmy e moro com a minha mãe divorciada em uma cidade chamada Jingletown.

– Aonde você vai? - perguntou minha mãe, Helena.

– Aonde eu sempre vou à noite. No 7-11.

– Você não vai voltar bêbado ou drogado não, por favor. Eu quero descanso.

– Não se preocupe eu vou voltar sóbrio. - falei já pensando que talvez eu só fosse voltar no dia seguinte.

Fechei a porta e entrei no meu carro. Era a minha rotina. Eu ia me encontrar com os meus amigos e com a minha namorada que vou chamar de Whatsername, pois não lembro mais o nome dela.

Eu cheguei e todos já estavam lá bebendo e fumando.

– Finalmente o Jesus do Subúrbio chegou. -disse o meu melhor amigo Alan.

– E vocês não me esperaram para começar a festa.

– Você demorou demais. – Whatsername se levantou e me beijou.

– Eu estava me arrumando. Você acha que é fácil deixar esse cabelo todo espetado.

– Tá bom. Pega aqui. - Alan me passou um cigarro.

– Então, vocês já pensaram no que vamos fazer hoje?

– Claro. - respondeu Peter, outro amigo.

– Nós estamos a fim de pinchar uns muros. - agora foi James que respondeu.

– De novo? Nós fizemos isso semana passada. - eu estava cansado de sempre a mesma coisa.

– Então o que você sugere? - perguntou Stuart.

– Eu pensei que seria bom nós irmos ao Joe’s bar. - respondi dando uma tragada no cigarro.

– É uma boa ideia. Faz tempo que não vamos lá. Você sabe que eu adoro aquele lugar. - Whatsername disse me abraçando.

– Então está decidido.

Nós fomos para o Joe’s bar depois de mais uns 10 cigarros fumados.

Passamos um bom tempo fumando e bebendo. Fomos embora umas 4 da manhã, mas eu não voltei pra casa sozinho. Fui com Whatsername.

Chegamos, tiramos nossas roupas e fizemos sexo até cairmos em um sono profundo por causa de tanto cigarro e bebidas.

Eu tinha uma namorada maravilhosa. Ela não se importava como eu agia porque ela era igual a mim.

Parte II

City of the Damned

Apesar de tudo eu não me sentia bem em Jingletown. Eu me sentia trancado, entediado como se os meus movimentos fossem limitados.

Dizem que “o seu lar é onde o seu coração está”. Que mentira!O meu coração está aqui, mas aqui não é o meu lar.

Fui criado aqui desde sempre. Talvez fosse por isso que eu queria tanto deixar esse lugar.

Jingletown, uma cidade no fim de uma rua perdida. O Centro da Terra. Esse lugar é o pior de todos e era exatamente onde eu estava.

Uma vez eu li na parede pinchada do banheiro do shopping que “o centro da Terra é o fim do mundo”. Achei incrível e então comecei a perceber que o fim do mundo não era pra mim. Eu precisava sair dali. Essa era a cidade dos mortos. A cidade dos malditos.


Parte III

I Don’tCare

No outro dia eu estava mais uma vez em casa assistindo TV e pensando como e pra onde eu ia. Eu precisava sair dali.

Eu não me importava com o que ia acontecer comigo em outra cidade eu só queria liberdade.

Então resolvi ir ao 7-11 porque sabia que Whatsername ia estar lá.

Cheguei e vi uma coisa que eu nunca imaginei que ia ver.

Whatsername beijando outro cara. E não um cara qualquer. Era o Alan, o meu “melhor” amigo.

Eu já cheguei dando porrada. Não pude aturar aquela cena sem acabar com a cara dele.

Whatsername interveio e perguntou:

– Qual é o seu problema?

– Qual é o meu problema? Você ainda pergunta. Eu vou acabar com esse idiota.

– Você vai embora esfriar a cabeça. - disse Alan.

– Cala sua boca. Eu vou te matar... - Eu fui pra cima dele mais alguém me segurou e era Peter, James e Stuart.

– Vocês sabiam né? Que eles estavam me traindo.

Todos ficaram em silêncio mostrando que eu estava certo. Fui embora puxando Whatsername pelos braços.

– Você está me machucando.

– Eu não estou nem ai.

Chegamos a minha casa e minha mãe estava sentada no sofá com bilhetes de loteria, como sempre.

– Ei, o que está acontecendo?

– Não é seu assunto! Não se mete. - gritei.

– Ah, mas é claro que não é meu assunto. Essa não é minha casa. - gritou ela em tom sarcástico.

Quando entramos no quarto Whatsername estava com o braço roxo. Eu a joguei na cama com toda a minha força e raiva.

– Você estava mentindo pra mim.

– O que você quer de mim, Jimmy? Eu transei com ele.

– O que eu fui pra você? - perguntei. Ela riu como se não tivesse entendido a pergunta.

– Que merda eu fui pra você? - gritei.

– Um amigo. Alguém que amei. Uma lembrança. Uma lembrança muito foda. - ela disse rindo.

– Eu não te amo. Nunca te amei. Pra mim você não é nem uma memória.

Eu estava saindo do quarto quando ela jogou algo em mim.

– Foda-se. - disse Whatsername que agora chorava.

– Agora você quer voltar pra mim! - gritei mais uma vez.

Ela continuava chorando.

– Você é só um par de peitos. É o que você é pra mim.

E sai do quarto deixando Whatsername caída no chão.

O que ela pensa que é? Como pôde fazer isso? Mas eu não me importava. Não me importo. Agora nada me impedia de deixar aquele lugar.


Parte IV

Dearly Beloved


Eu estava sentindo um vazio maior do que eu já sentia. Eu queria negar, mas eu só me sentia feliz por causa dos meus amigos e da Whatsername. Não fazia nenhum sentido continuar ali.

Eu fui para casa e quando cheguei lá estava a minha mãe sentada na poltrona com bilhetes de loteria. Eu me sentei no sofá.

– Qual o seu problema? - ela perguntou.

– Sua cara.

– Bem, então deve ser fácil sentar e bancar o rei de um monte de merda.

– Monte de merda é exatamente o que esse lugar é. Essa casa nojenta onde você vive. Sabe qual a parte mais nojenta disso? Você me olha todas as manhãs com o mesmo olhar de nojo.

– Como eu olho?

– Você me olha como se eu fosse o perdedor. Depois você senta com a droga dos seus bilhetes de loteria. Você acha que talvez amanhã tudo vá mudar. Você nunca vai ganhar na loteria.

– Você está farto? Quem te deu o direito de começar a falar merda? O que você é? Jesus sentado me condenando por ser uma perdedora? Isso te faz o filho de uma perdedora. Você está mais fudido.

Eu não aguentei e joguei um prato de comida, que estava na mesa, na cara dela e fui pro meu quarto.

Em cima da minha cama havia uma carta.


Querido amado,

Eu já não me lembro de nada que foi dito essa noite. Eu sou insana, perturbada, demente por ter feito isso com você.

Talvez uma terapia possa preencher o vazio que eu sinto agora.

Ninguém é perfeito e eu cometi um grande erro. Por falta de algo melhor pra dizer, essa é a minha melhor desculpa.

Beijos,

Whatsername.


Joguei a carta no lixo e fiz questão de queimar nossas fotos, uma por uma.


Parte V

Tales from another Broken Home

Eu queria fugir e eu ia fazer isso essa tarde.

Nada mais me importava naquela cidade, eu só queria procurar um lugar onde eu me sentisse melhor.

Quando minha mãe entrou no quarto eu estava arrumando minha mala.

– Mas o quê que você está fazendo?

– Arrumando as malas. - respondi calmamente.

– Pra onde você pensa que vai?

– Eu não penso que vou. Eu vou. - eu estava determinado.

– Ah! Então você acha que vai conseguir viver sozinho em outro lugar?

– E por que você acha que eu não posso?

– Por que você é um vagabundo. Você não tem futuro. Só por isso. - ela falava com um tom grosseiro, pra variar.

– Isso é o que eu mais admiro em você. A sua confiança em mim. - eu disse sarcasticamente.

– Eu só falo o que eu vejo. É um fato. Você é um Zé Ninguém. Eu duvido que você tenha coragem de sair daqui. - ela estava me desafiando.

– Você duvida? - disse com um sorriso no rosto. Ela me olhava como se tivesse se arrependido de duvidar. Ela me conhecia bem e sabia que eu tinha coragem para fazer qualquer coisa.

Eu já estava terminando de arrumar as minhas malas. Quando terminei fui para o meu carro e minha mãe foi atrás com cara de choro.

– Você não pode me deixar sozinha aqui.

– Então agora você não duvida mais. Eu cansei de você, das suasgrosserias, da sua cara.

– Você é o meu filhinho, não vá, por favor. - ela estava me abraçando e chorando.

– Eu acho que eu nunca fui o seu filhinho. Cansei desse lugar eu vou embora antes que eu fique preso aqui como você.

– Não, fica.Eu não vou conseguir ficar aqui sozinha.

– Chega de chororô. Adeus.

E assim eu deixei aquela casa e comecei um conto sobre um lar despedaçado.



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