Ice Heart escrita por MyHeartBeating


Capítulo 2
Estranhos




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–Sakura, acorda! Já são 7 horas, vai se atrasar assim! – Gritou Tenten minha colega de quarto no orfanato.


– Sete? – Levantei num salto, estava ferrada. – Droga! Prometi a diretora que passaria na sala dela as sete. – Disse indo no banheiro fazer minha higiene matinal.


–O que a diretora quer com você? – Perguntou a morena preocupada, ela sabia muito bem de tudo que me acontecia e como me tratavam naquela escola.


–Não sei, mas provavelmente não é algo bom. – Peguei a escova de cabelo e comecei a tratar dos meus fios rosados apressada. Vesti o uniforme com saia de pregas e sai arrastando Tenten para não nos atrasarmos.

Tenten trabalhava e por sorte havia comprado um carro há alguns meses, então cheguei cerca de 7:15 na escola.


–Vou lá na diretoria, até mais. – Disse abrindo a porta do carro e correndo em direção a grande entrada, enquanto Tenten dava a volta para colocar o automóvel no estacionamento.

Em Konoha com 16 anos era permitido dirigir.


Assim que entrei na recepção a secretária nada amigável me olhou de cima a baixo, acenando com a cabeça o escritório principal. Ninguém ia com a minha cara nessa escola, alguns me achavam maluca pelo que fazia, as orientadoras já estavam cansadas de me marcarem psicólogos aos quais eu fazia questão de não ir.

Bati três vezes no mogno, e escutei um “Entre” amargo.

Abri a porta e a fechei, ouvindo a diretora bufar.


–Sente, sente. – Ela me disse rápido gesticulando com a mão a cadeira em sua frente. – Atrasada. – Parecia que ela havia me chamado de “atrasada” no sentido de “lerda” e não por ter perdido a hora, tentei relevar e fingir não ter escutado o tom arrogante que ela usou.


–Me desculpe, Sra. Tanaka. – Ou devo dizer Sra. Panaca ?


–Vou direto ao ponto já que você precisa ir para suas aulas. – Disse a mulher sem me encarar, parecia ocupada escrevendo algo que não me atrevi a olhar. – Recebemos uma carta dos seus pais, querem que você vá morar com eles. -


Primeiro fiquei chocada, mas logo lembrei que segundo o que me contaram meus pais morreram num acidente de carro.


–Com certeza foi um engano, senhora. – Disse convicta.


–Engano coisa nenhuma, seus pais estão vivos e estão te chamando para morar com eles, e você vai. – Retrucou ela grossa como de costume.


–Meus pais estão mortos! – Disse sem exaltar a voz, mas mostrando força o suficiente nas minhas palavras. – Como a senhora sabe se eles não são uns seqüestradores querendo me matar? -


–Deixe de tolice mocinha! Mesmo que não sejam seus pais, tem alguém querendo lhe adotar, aproveite a oportunidade calada, quantos tem a chance de encontrar um lar com 16 anos?! Não seja ingrata. – A velha senhora Tanaka soltava fumacinhas.


Aquelas palavras me atingiram profundamente, não estava sendo ingrata, só realista. Era difícil acreditar que meus pais estivessem vivos, ou que alguém gostaria de me adotar, pois segundo todo mundo eu não era bem certa das idéias. Mas se realmente teria a chance de ter um lar, qual seria o problema? E se algo me acontecesse, não havia nada a perder afinal de contas.


– O orfanato pediu para lhe contar, a carta veio pelo correio escolar o que é estranho pois quem cuida de adoções é sua instituição. Virão te buscar amanhã á tarde, arrume suas coisas direito e agora esta dispensada para as aulas. –


Sai da sala sem dizer uma palavra, minhas emoções estavam borbulhando, nem sequer sabia o que estava sentindo. Assistir as aulas não faria sentido algum, pois estava me mudando sei lá pra onde, e prestar atenção depois de saber que seria adotada era impossível.

Decidi cabular as aulas daquele dia junto com Tenten para quem contei a situação e não se importou em me fazer companhia. Fomos até uma parte meio deserta da cidade perto de um rio, passamos em um mercado e compramos algumas coisas para um piquenique embaixo de uma árvore. Estava relaxante curtir um ultimo dia ao lado de Tenten minha única amiga, mas estava nervosa para a tarde de amanhã.


– Você tem um pouco de sorte afinal. – Disse Tenten, quando estávamos deitadas na toalha de mesa admirando as formas das nuvens. – Deve ser legal ter uma família, imagina se você tiver outros irmãos? Uma família bem grande pra compensar a falta de uma esses anos todos deve ser demais. – As palavras dela vinham carregadas de pura emoção, ela merecia um lugar mais do que eu, e era injusto eu ter sido escolhida, sabia me virar sozinha, mas Tenten mesmo sendo responsável sofria muito com tudo.


–Vou sentir sua falta, você é a única com quem realmente me importo. – Disse triste.


–Sem dramas, por favor, acho que já tivemos o suficiente para o resto de nossas vidas. – Retrucou ela em vão com os olhos cheios de lágrimas, o que me fez chorar também.


O pior de ir embora era deixá-la, há um tempo tínhamos feitos planos para irmos morar juntas assim que atingíssemos a maioridade, e agora estava sendo levada para longe deixando minha amiga sem planos futuros. Estava á abandonando assim como os próprios pais dela fizeram, meu coração estava machucado mas o dela parecia estar em pedacinhos.


O dia foi lindo, e tínhamos passeado a tarde toda .

Quando a lua apareceu, decidimos voltar e com muito pesar arrumar minhas malas. Logo que terminamos fomos dormir, esperando o melhor.


Estava na cozinha na manhã seguinte preparando meu café, quando Tenten apareceu.


–Finalmente acordou, dorminhoca. – Brinquei.


–Olha quem fala. – Retrucou. – Você está acordada cedo hoje, que milagre.


–Pois é, mal preguei o olho noite passada. – Beberiquei um pouco de café, e mordi um pedaço da torrada com geléia.


–Vai dar tudo certo. – Disse Tenten tentando convencer a si mesma.


– Espero. - Falei pensativa. – Você vai para a escola? – Indaguei-a olhando para o uniforme que ela usava.


– Infelizmente tenho que ir, cabular aulas por um dia vai me custar problemas... Teremos que nos despedir agora... – Tenten já tinha os olhos marejados. Larguei minha xícara e fui abraçá-la.


–Prometo te ligar todo dia... caso onde eu for morar não tiver sinal, lhe mando cartas, e se não tiver correios por lá pago alguém pra te trazer a mensagem, e logo que chegar começarei a treinar uma coruja por via das dúvidas. - Comecei a dizer exasperada, molhando o ombro de Tenten com lágrimas. Escutei-a dar uma risada em meio ao choro.


– Aos finais de semana pego o meu carro e vou te visitar, mesmo que more do outro lado do mundo, então não se preocupe. – Aquelas palavras me fizeram sentir um pouco melhor. Depois de alguns minutos Tenten foi para a aula.


Não larguei meu celular um segundo, consultava as horas o tempo todo, estava ansiosa.

Quando eram mais ou menos 3 horas da tarde decidira que deveria me arrumar, algo que passasse uma boa impressão seria minha escolha.


Fui até as minhas malas e procurei algo do tipo, e por sorte encontrei um vestidinho curto, mas nem tanto, bem clarinho no tom de verde quase branco. O vesti e comecei a sentir um friozinho na barriga. Não acreditava no que estava me acontecendo.


Quando deu quatro horas comecei a andar de um lado para o outro, iniciava a me preocupar imaginando que tinham esquecido, ou que os meus futuros responsáveis haviam voltado atrás em querer me adotar.


Fui até sala e sentei-me no sofá, balançando a perna por nervosismo.

Consultei as horas no celular mais uma vez, e ouvi um baque na cozinha que me assustou, algo como a mesa de vidro se quebrando.

Receosamente caminhei até cozinha e meus olhos se arregalaram com o que vi.

Um garoto loiro, vestindo uma blusa laranja chamativo estava sobre a mesa, ou o que sobrou dela.


–Ai..- Murmurou ele passando a mão nas costas e cabeça. – Essa foi feia.-


–Q-quem é-é você? – Perguntei alarmada, pegando uma faca que encontrei no balcão. O garoto parecia não ter me notado até então, assim que me vira o loiro abriu um sorriso enorme.


Levantou-se e veio em minha direção com a mão estendida.


–N-Não chegue perto de mim – E apontei a faca para ele, a mesma tremendo na minha mão –


–Calma, Sakura. – Disse ele, me assustei mais ainda com o fato dele saber meu nome. – Eu sou Naruto, prazer. – E estendeu mais uma vez a mão. Por incrível que pareça ergui a minha, parei na metade do caminho, mas cedi e cumprimentei o garoto.


–O que você quer? E como destruiu minha mesa? – Fui direta. - Não tenho dinheiro se quer saber. – Naruto riu alto.


–Não sou ladrão, viemos aqui te buscar. – Disse ainda rindo.


–Viemos? – Indaguei.


Ao fim da minha pergunta outro rapaz apareceu, mas diferente de Naruto, este estava em pé bem ao meu lado, era como se tivesse aparecido do nada.

Ele tinha cabelos negros bagunçados, olhos negros e uma expressão fechada. Extremamente bonito.


–Esse é o Sasuke, como já reparou é um chatão. Onde estão suas coisas? –


–Que? – Perguntei avoada.


–Suas malas. Precisamos ir logo, todos estão esperando pela sua chegada. – O loiro falou indiferente, mas bastante empolgado.


– Vocês são meus novos pais adotivos? – Perguntei devagar, imaginando a possibilidade.


Naruto começou a gargalhar de uma forma mais espalhafatosa do que na primeira vez.


–Você ta achando que eu e Sasuke somos um casal? – Disse ele sem fôlego.


–Tsc. – Resmungou Sasuke num canto com raiva.


–Isso é bem normal hoje em dia. – Respondi sincera.


–Não, não somos gays. Além do mais todos têm 16 aqui, por acaso parecemos dois velhos? Vamos Sakura, antes que minha mãe me mate por demorar. -


– Estão no meu quarto, são as malas em cima da cama. –


–Ok. – E o garoto foi e voltou rapidamente com tudo que tinha preparado para a viagem numa velocidade anormal. – Já podemos ir. – Ainda estava meio atônita com tudo que tinha acabado de acontecer, mas fui abrir a porta para sairmos.

Senti uma mão segurando meu braço, olhei para trás e constatei que era Sasuke.


–Aonde pensa que vai? – Ele questionou olhando nos meus olhos. Ele era definitivamente muito bonito.


–Por aqui, Sakura-chan! – Chamou Naruto que estava na sala, fechei a porta novamente.


A mão de Sasuke largou meu braço e contornou minha cintura, estava assustada e decidi não questioná-lo.


Fomos assim até a sala, onde o loiro estava parado bem no meio.


–Isso é necessário? – Naruto perguntou apontando para a mão de Sasuke na minha cintura.


–Você sabe que é. – Sasuke respondeu de cara fechada. Os dois conversavam e eu estava totalmente alienada.


– Então vamos. – Dizendo isso Naruto saiu correndo em direção a janela aberta e pulou lá para baixo.


– Naru- Fiz menção em gritar, mas Sasuke começou a correr em direção a janela assim como o loiro havia feito, me apertando com mais força junto dele.


Passamos pela janela, com meus olhos fechados estava esperando colidir com o chão e me encontrar com a morte, mas isso não aconteceu.

Senti o chão abaixo dos meus pés, e minhas pernas pareciam bem firmes sobre ele.

Abri meus olhos devagar encontrando os de Sasuke, me perdi ali por uns instantes até perceber que meus braços estavam ao redor do pescoço dele.

Logo me soltei e olhei para o lado envergonhada.

Não sabia explicar como havíamos sobrevivido, nem como minha mesa tinha sido quebrada por Naruto. Mas uma coisa sabia, eles eram diferentes como eu.


–Venham! – O loiro convidou, estávamos na entrada do orfanato e Naruto estava um pouco mais a frente abrindo a porta de um carro de aparência bem cara.


Entramos no carro, os dois ficaram nos bancos da frente, Sasuke que dirigia.


Ainda estava muito confusa e levemente assustada, entretanto aqueles dois me passavam uma sensação tranqüilizante.

Humanos normais não podiam aparecer do nada, ou pular de prédios e sobreviver disso tudo tinha certeza.


–Que saco minha mãe querer ser certinha, já podíamos estar em casa á séculos. – Resmungou Naruto depois de alguns minutos de viagem.


–Não podemos teleportar, Sakura. – Disse Sasuke girando o volante na curva.


–História pra boi dormir, Sakura é como nós, qual seria o problema? –


– Você viu a forma que ela reagiu á nós, duvido que seja. –


– O que querem dizer com ser igual a vocês? – Perguntei.


– Poder fazer o que fizemos agora pouco, ou voar, possuir sombras, ler mentes, ver o futuro... essas coisas. Mesmo que você não saiba, algumas pessoas te ensinam a fazer, então relaxa. – Foi citando Naruto como se tudo fosse nada me deixando surpresa.


Sasuke me encarou pelo espelho retrovisor, constatando que tudo que Naruto dissera não era do meu conhecimento.


– O que você sabe fazer, Sakura? – Perguntou-me sério.


–Isso é tão estranho, mas vejo um homem encapuzado correndo na chuva e logo depois começa a chover. –


–Como assim um homem encapuzado?- Naruto queria saber mais.


– Todo de preto, sujo de lama e molhado com uma máscara preta cobrindo o rosto.


Sasuke freiou o carro inesperadamente me fazendo ir para frente, pois estava sem cinto. Por pouco não bati na marcha.


– Droga Sasuke, porque você fez isso ?! – Brigou Naruto. – Sakura, você tá’ bem? –


–Tô’ sim. – Respondi me recompondo.


– O que deu em você, Teme? –


– Nada. – Antes de acelerar novamente olhou-me intrigado mais uma vez como se quisesse saber algo e então voltou a dirigir.



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