On My Way escrita por Fernanda Redfield


Capítulo 1
On My Way I


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoas, ainda estou sobre os efeitos do episódio.
Não sei o que os produtores/escritores de Glee estão pretendendo... Mas eles estão conseguindo me deixar ainda mais apaixonada pelas personagens e pelo casal.
Essa ideia surgiu no calor do episódio, com emoções transbordando diante das cenas... É a minha visão de como as coisas deveriam prosseguir.
Boa leitura!



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“Rachel, não podemos mais esperar.” Meu noivo argumentou angustiado do outro lado da sala enquanto eu apertava o celular em mãos, esperando a resposta da minha única e melhor amiga. Quinn não ia me decepcionar, ela disse que me apoiava. Ela não ia me deixar agora, eu precisava vê-la para poder continuar a ter coragem e fazer aquele anel do meu dedo ter valor. Olhei para Finn, suplicante e sentindo meu peito apertado em angústia, respirei fundo e pedi:

“Por favor, Finn. Espere mais um pouco, eu acabei de mandar uma mensagem para ela.”

“Qual a importância dela aqui, Rachel? Não é porque ela resolveu aceitar do nada que podemos mudar a programação por causa dela.” Finn estava um pouco fora de controle agora, mas eu não podia julgá-lo já que eu estava em um estado pior do que o dele, Santana e Brittany se olharam diante das palavras dele e Kurt revirou os olhos. Meu celular vibrou em minhas mãos e eu sorri diante da mensagem.

Estou a caminho.

Meus olhos quase derramaram as lágrimas de desespero que eu estava segurando. Eu ergui minha cabeça e estendi a mão para Finn, ele a apanhou e todos os demais suspirados aliviados enquanto ele me puxava para a cerimônia. Engoli em seco e apanhei o buquê das mãos de Mercedes que sorria. Ao som de risadas e sons de alívio, chegamos diante do juiz.

Finn me deixou na porta, com meu pai Leroy enquanto caminhava até o juiz com Burt e Carole, cumprimentando-o e dando um sorriso nervoso. Olhei para ele, devota, mas com o coração ainda apertado por não ter Quinn ali ainda. Mas eu sabia que ela ia chegar, ela era minha amiga agora, as coisas eram diferentes... Ela ia chegar.

“Tem certeza que quer fazer isso, querida? Ainda dá tempo de sairmos correndo, nosso carro está estacionado bem na porta.” Meu pai murmurou baixinho em meu ouvido em tom de conspiração. Mesmo na minha angústia e com o peito apertado, eu consegui sorrir para ele. Acenei com a cabeça e estava pronta para começar um discurso sobre Finn quando ele me interrompeu, tirou o celular da minha mão e jogou para Kurt que estava ajeitando meu vestido. Meu pai segurou minhas duas mãos e me olhou com emoção. “Se vamos fazer isso, tem que ser da maneira certa. Saiba que eu desejo a sua felicidade, mesmo não concordando em nada com o que acontece aqui...”

“Pai...” Murmurei sufocando as lágrimas e vendo Kurt indignado diante do problema da maquiagem. Meu pai me calou com um olhar severo e eu mordi meu lábio, nervosa. O som de um carro parando próximo ao cartório tirou a minha atenção e eu me virei pra outra extremidade do corredor, esperando ver Quinn correndo em seus saltos, ofegante e corada, me pedindo desculpas enquanto pedia licença e entrava disfarçadamente na sala.

Mas não era ela e muito menos, era ali no cartório.

Baixei meus olhos e respirei fundo, tentando reunir uma coragem inexistente. Minha segurança e minha certeza tinham ido para longe, diante do inevitável “sim”... Eu temia estar dizendo “não” para meus sonhos. Olhei para meu pai e ele pareceu ler o que estava acontecendo em minha mente, beijou minha testa e murmurou calmo:

“É o seu casamento, querida... E vai ser o dia mais especial da sua vida. Independente da presença ou não de sua madrinha. Mas se ela não aparecer, faça-me o favor de exigir um presente muito caro.”

Eu gargalhei roucamente e algumas lágrimas rolaram. Kurt apareceu do nada com um lenço de papel e, delicadamente, limpou o canto dos meus olhos antes de colocar meu celular em seu bolso e caminhar para ficar ao lado das meninas. Meu pai ofereceu-me a mão e juntos, começamos a caminhada até Finn.

Olhando-o parado, com as mãos entrelaçadas, me olhando com admiração e tentando controlar a própria respiração... Finn me lembrou e muito o garoto que cantou “Faithfully” comigo nas Regionais, o garoto pelo qual me apaixonei. Mas Finn era praticamente um homem agora e daqui a alguns minutos, seria o meu homem. Por breves momentos, eu me esqueci de Finn.

Até que desviei meus olhos de seu sorriso de canto e olhei sobre os meus ombros. Nada. O corredor vazio e silencioso... Quinn não ia chegar. Imediatamente, algo explodiu em mim, doendo e eu parei abruptamente. Meu pai me olhou preocupado e eu recuperei o meu ar, tentando recuperar meu ânimo e continuar a caminhar.

Por que Quinn mentiria para mim?

Só fui me tocar do que estava fazendo quando meu pai me entregou para Finn, beijou a minha testa, apertou a mão dele e se retirou para o lado. Eu olhei sorridente para Finn, mas eu sabia que meu sorriso não chegava aos meus olhos. Respirei fundo e o puxei, virando-nos para o juiz. Ele sorriu paternalmente para nós e começou animado:

“Estamos aqui para presenciar o casamento de Finn Hudson e Rachel Berry...”

Quantos minutos tinham se passado desde a mensagem? Quinn não podia me deixar na mão, não agora. Ela prometeu que estaria aqui, ela não ia me magoar de novo.

“Que decidiram se unir em matrimônio por livre e espontânea vontade, diante do imenso sentimento que ambos carregam dentro do peito...”

Eu fui a única que a vi quando ela estava quebrada, eu me comprometi a consertá-la. E ela me prometeu a amizade em troca, éramos nós duas agora, Fabray e Berry. Amigas. Quinn não podia fazer comigo, ela não podia ser uma bitch de novo!

As lágrimas chegaram aos meus olhos e eu respirei pesado, Finn e o juiz olharam preocupados para mim, mas eu procurei dar o melhor dos meus sorrisos e fixar os olhos em meu futuro marido. O juiz pigarreou e continuou:

“Se há alguém presente nessa sala que possa ir contra esse casamento, fale agora. Não haverá outra oportunidade para impedir a felicidade desse casal e...”

Um soluço interrompeu as falas do juiz, olhei para os lados a procura da fonte e me deparei com Kurt em meu celular, chorando copiosamente enquanto Mercedes e Santana o apoiavam. Meus olhos encontraram os dele e a expressão que ele fez me deu uma certeza desnecessária.

Quinn nunca ia me magoar, alguma coisa tinha acontecido com ela.

Kurt saiu de perto das meninas e caminhou até o meu lado. Ele respirou fundo e se abaixou, ficando com a boca na altura de meu ouvido. Olhei desesperada por ele, a procura de respostas. Ele encolheu os ombros e suspirou. “Era do hospital, Quinn sofreu um acidente e está entrando na cirurgia agora. Seu número estava na emergência do celular dela.” Depois disso, Kurt saiu porta a fora com as meninas em seu encalço. Finn apertou minha mão e perguntou:

“O que está acontecendo aqui, Rachel?”

Eu não consegui responder, porque, no instante seguinte... Tudo pareceu ter perdido a importância e o casamento se tornou pequeno diante do imaginar de uma Quinn toda detonada em uma cama. Eu me soltei dele e apanhei a calda do vestido, virei para meu pai Leroy e perguntei desesperada:

“Onde estão as chaves do carro?”

“O que aconteceu, estrela?” Meu papai Hiram perguntou preocupado e eu olhei para os dois, as lágrimas jorraram dos meus olhos e eu não consegui responder. Passei a procurar as chaves no bolso do terno de meu pai e consegui achá-las, eles tentaram me parar, mas eu me desvencilhei deles e saí correndo pelo corredor do cartório.

Esbarrei em Kurt que tomava um copo de água e ignorei os chamados furiosos de Finn.

Eu estou a caminho, Q...

###

“Quinn Fabray, por favor.” Disse ofegante para a enfermeira que estava à recepção do Hospital de Lima. Seus olhos astuciosos percorreram minha maquiagem borrada, meu vestido e minha expressão desesperada. Digitou alguns números no telefone enquanto eu observava minhas mãos tremerem sobre o balcão e os demais pacientes me olharem com curiosidade.

Pela primeira vez na minha vida, eu não queria ser o centro das atenções naquela sala.

“Srta...?”

“Berry, sou amiga dela.” Respondi afobada e me virando tão rápido que quase tropecei na calda de meu vestido e caí estatelada no chão. Esqueci de Finn, do casamento, do meu vestido de noiva... Eu só queria vê-la. A mulher virou-se para mim severa e respondeu:

“Pois bem, Srta. Berry... Você vai ter que esperar. Ela acabou de entrar na cirurgia.”

“Quando eu vou poder vê-la?” Perguntei esperançosa, esperando que a resposta dela não fosse pessimista, porque o meu otimismo tinha se esvaído depois de tudo. Afinal, ela chegou e foi para cirurgia, boa coisa não tinha acontecido.  A enfermeira deu de ombros e eu me recolhi ao meu desespero silencioso, sentando-me em uma das cadeiras com aquele mundo de tecido branco em mãos.

Se eu não tivesse ido na ideia de Finn e mandado mais mensagens, talvez Quinn não tivesse batido o carro. Eu sempre disse a ela para não responder sms enquanto estava dirigindo, eu sempre briguei com ela quando ela atendia o celular enquanto me levava pra casa...

Droga, Quinn! Por que você não me ouviu dessa vez?

Ela estava a caminho, no tempo dela e ela ia chegar... Por que eu tinha que apressá-la?

Olhei desolada para a sala e recebi alguns olhares preocupados em troca, mas ninguém podia me ajudar agora. Só Quinn acordando e dando um daqueles sorrisos para me ajudar, só ela me bronqueando por eu ter saído correndo do casamento por sua causa ia me fazer ficar bem... Baixei a cabeça e me escondi no véu, chorando sem pena dessa vez, borrando toda a maquiagem e me encolhendo na cadeira de plástico. Desejando que tudo fosse um sonho e que, quando eu acordasse, ainda fosse de manhã.

“Quinn Fabray?” A voz conhecida de Mercedes chegou aos meus ouvidos e eu me levantei abruptamente, os olhos dos gleeks e dos meus pais chegaram a mim. Kurt abriu os braços e eu corri até ele, tentando buscar um consolo que nunca veio. Santana comentou alguma coisa sobre café e arrastou Brittany consigo, Mercedes acomodou-se em uma cadeira ao lado de Sam e Finn permaneceu ao nosso lado, como uma estátua. Kurt afagou meus cabelos e meio choroso, disse:

“Vai ficar tudo bem, Rach... Você sabe que Quinn é forte, ela vai superar isso.”

“Mas e se ela não superar, Kurt?” Eu perguntei desesperada, as lágrimas caindo e manchando todo o terno de Kurt. Ele respirou fundo e eu pude escutar os próprios sons do choro dele. Nós dois permanecemos a soluçar, ainda em pé. A mão pesada de Finn tocou meu ombro, mas ele não podia me dar a tranqüilidade da qual precisava. “É culpa minha, eu não devia bombardeá-la de mensagens. Eu devia esperá-la!”

“Não é culpa sua, Rach... Escutou?” Kurt afastou-se de mim e segurou meu rosto para que eu olhasse para ele, ele estava tenso e muito bravo. Eu pisquei meus olhos e mais lágrimas escorreram, Kurt as secou com os polegares e retirou meu véu. Eu permaneci calada e desviei os meus olhos dos dele, nada mudaria isso, a culpa era minha. Quinn estava correndo por minha causa. “Me escutou, Berry?”

“Rachel, você só poderia ser culpada pelo nosso casamento que não aconteceu.” Finn murmurou irônico e dessa vez, eu me rendi e levantei os olhos para ele. Kurt estava tão incrédulo quanto eu e pelo burburinho na sala, os demais acompanhantes também estavam impressionados com o que meu noivo falar. Finn sempre não pensando no que falar, como sempre. Quando meu olhar encontrou o dele, ele deu aquele sorrisinho de canto que tanto me irritava. “Aliás, não foi culpa sua, Rachel... E sim da Quinn que sempre se mete entre a gente, parece que não consegue ver ninguém feliz.”

Finn olhou por cima dos ombros em busca de apoio, mas todos os olhares fora reprovadores para ele. Burt bufou decepcionado e o empurrou para sentar em uma cadeira, Finn arregalou os olhos e se encolheu quando seus olhos focalizaram os meus. Eu voltara a chorar e Kurt voltara a me consolar. Solucei enquanto meu melhor amigo limpava minhas lágrimas e vi quando Santana atravessou a sala e jogou um copo de café quente em Finn.

Meu noivo se levantou emburrado e xingando Santana, a latina teve que ser segurada por Brittany e Tina. Ela estava prestes a partir para cima de Finn, Santana berrou para quem quisesse ouvir ali:

“Quinn podia estar fora de controle nesse ano, mas ela não queria ficar com você, Hudson! Ela só estava vindo ao casamento pela Rachel, ela só queria ver Rachel feliz!”

“Ah sério? Quinn querendo ver a felicidade de alguém? Justo ela?” Eu não conhecia aquele Finn idiota que estava em minha frente, Kurt tentou me puxar para longe da confusão, mas eu firmei meus pés no chão querendo escutar tudo que pudesse acontecer ali. Aquele Finn não era o rapaz pelo qual eu me apaixonara. Ele caminhou até Santana e praticamente cuspiu em cima dela. “Quinn é a rainha da infelicidade que não suporta ver ninguém feliz, ela deve merecer o que aconteceu com ela!”

Santana partiu para cima dele de novo e foi a vez de Mike a segurar. Eu me movi nos braços de Kurt e ele não conseguiu me segurar, Finn teve noção do que falou quando eu, inconscientemente, lhe dei um tapa na cara. A cena ficou muda no mesmo instante. Burt se levantou e segurou Finn, Kurt me puxou enquanto Sam entrava na nossa frente para nos proteger.

Os demais pacientes olharam estupefatos para nós e a única coisa que eu sentia não era minha mão arder e sim, o apertar em meu peito toda vez que as palavras de Finn ecoavam em minha mente. Minha movimentação estava prejudicada por causa do imenso vestido, eu me desvencilhei de Kurt depois de dar um olhar de aviso a ele. Meu amigo saiu de perto e foi conter Santana que agora, chorava sem parar.

Sam olhou para mim preocupado e eu acenei com a cabeça, tentando dizer que estava tudo bem quando as coisas estavam, literalmente, desabando dentro de mim. Olhei para o anel de noivado em minha mão e as coisas pareceram confusas ali. Olhei para aquele Finn colérico que tinha os olhos fixos e animais em cima de mim, fechei meus olhos.

O que eu estava fazendo?

Tirei o anel do meu dedo e Finn paralisou, olhei para ele que estava com uma careta de horror enquanto observava cada movimento meu. Sam me olhou tão assustado quanto Finn e Kurt correu de volta para mim quando viu o que eu estava fazendo. A única coisa que eu podia pensar era onde aquele Finn tinha se escondido.

Porque o Finn que eu amava não falaria uma coisa dessas sobre a minha melhor amiga. O Finn que eu amava teria acatado meu pedido e teria esperado. O Finn pelo qual eu tinha me apaixonado estaria no lugar de Kurt, me consolando...

“O Finn que eu amo não seria capaz de falar isso.” Murmurei roucamente, com os dedos trêmulos segurando nosso anel de noivado. Finn começou a chorar e balbuciar algumas palavras, mas mesmo se ele dissesse desculpas em mais de 10 línguas, eu não seria capaz de perdoá-lo. Olhei cansada para ele e apanhei a sua mão, enrolando o anel em seus dedos, suspirei. A dor em meu peito pareceu aumentar. “Pense no que você disse aqui, Finn. Quinn está trancada numa sala de cirurgia por minha culpa e eu não vou deixar você falar dela assim. O mínimo que eu posso fazer é ficar aqui e defendê-la, porque ela apoiou nosso casamento só para me ver feliz, eu ouvi isso da boca dela. Eu posso gostar de você, mas ela ainda é minha melhor amiga.”

“Gostar? Você disse que me amava, Rachel! Quando isso mudou?” Finn berrou para a sala de recepção, atraindo todos os olhares para nós. Eu não sabia a resposta daquela pergunta, eu nem mesmo tive noção do que falei... Como em todos os momentos cruciais da minha vida, as palavras saíram sem que eu tivesse noção, revelando sentimentos dos quais eu não sabia a existência. “Você não pode me deixar, Rachel... Você ia se casar comigo!”

Eu ignorei as palavras de Finn, porque a única coisa que me importava agora, era Quinn. Quinn acordada e viva, de preferência.

Burt e Carole tiraram Quinn dali. Eu o observei ser carregado pelo corredor e a breve loucura dele me deu um pouco de sanidade. O que eu estava fazendo? Eu estava abrindo mão do meu casamento por Quinn? Olhei para Kurt em busca de respostas, mas a única coisa que encontrei foi seu sorriso fraco, ele tirou um monte de roupa de dentro da bolsa de Santana e me entregou, apontando para o banheiro em seguida.

Segurando o meu vestido do meu casamento fracassado, carregando aquela muda de roupa e sentindo um peso maior do que todas as toneladas do mundo... Eu caminhei até o banheiro e retirei meu vestido. Olhei-me no espelho, a maquiagem borrada, os olhos vermelhos e os lábios trêmulos.

Quinn me reprovaria se visse meu estado. Dei uma risada fraca que logo se transformou em uma crise de choro, escorreguei da pia para o chão em questão de segundos e me encolhi. O azulejo frio do banheiro me fez estremecer e a única coisa que eu desejava naquele momento, eram os braços de Quinn em volta de mim, dizendo que tudo ia terminar bem.

###

“Rach, hey... Rach? Acorde.” Ouvi a voz de Kurt soar distante de mim, mas me acordar. Eu ergui meu corpo de seu colo e olhei sonolenta para ele, meu amigo me deu um sorriso e colocou as mechas de meu cabelo no lugar. Eu não sabia quando tinha dormido, mas provavelmente era pelo cansaço e não pela consciência tranqüila. Sentei-me na cadeira e senti uma pontada de dor em minhas costas, me espreguicei e com um bocejo, perguntei:

“Quanto tempo eu dormi?”

“Cerca de 3 horas, Quinn está a 7 em cirurgia... Eu só te acordei para irmos para casa, só nós dois ficamos aqui. Santana e Brittany acabaram de sair.” Kurt disse um pouco receoso, talvez ele tivesse medo de que eu começasse a dar um show de drama ali. Mas eu estava debilitada demais para aquilo. Eu olhei para ele e apertei minhas mãos entre as suas, com um sorriso triste, disse:

“Vou ficar aqui, Kurt. Eu quero estar presente quando ela sair da cirurgia.”

“Rachel, isso pode demorar horas ainda...” Kurt tentou argumentar, mas eu fechei minha expressão e ele percebeu que eu não ia sair dali. Ele tirou o terno manchado pelas minhas lágrimas e jogou-o sobre meus ombros, deu um beijo em minha testa e acenou. “Tudo bem, mas me ligue quando souber de algo. E dê sinal de vida aos seus pais também.” Afirmei com a cabeça e o observei sair dali, caminhando lentamente e de ombros caídos, parecendo mais cansado que nunca.

Afundei meu rosto em minhas mãos e retirei os últimos resquícios de meu sono. Encostei meu corpo na cadeira e joguei a cabeça para trás, olhando para o teto a procura de algo que eu nem sabia o que era.

As coisas estavam confusas ali, eu não conseguia entender o que fizera nas últimas horas... Mas pareciam certas. Eu deveria estar ali para Quinn, ela esteve para mim quando eu fui falar sobre o casamento, ela aceitou ser a minha madrinha mesmo passando por cima de suas convicções... Não era justo que, por uma mensagem minha, ela morresse.

Não, não, não...! Quinn não ia morrer. Ela era mais forte que qualquer um ali no Glee. Ela não podia morrer quando estava prestes a ser feliz. Porque eu via e observava os sorrisos dela todos os dias e eu nunca tinha os visto tão sinceros. Era muita brincadeira divina tirá-la de nós quando ela estava sendo, finalmente, a Quinn.

Aliás, não podiam tirá-la de mim. Não depois da nossa amizade que, apesar de curta, era a coisa mais real que eu tinha tido. Éramos sinceras, falávamos o necessário. Mas apenas um abraço e um olhar bastavam para que nós nos entendêssemos. Estávamos juntas depois de anos nos odiando, não era certo.

Não podiam tirar Quinn de mim.

“Srta. Berry?” Uma voz séria e comprometida me tirou de meus devaneios, irônico, eu podia ser a Sra. Hudson nesse momento, misteriosamente, essa ideia não me atraiu dessa vez. Levantei-me bruscamente e fiquei um pouco tonta com o movimento. O homem grisalho de jaleco me olhou com um sorriso generoso, ótimo... Menos mal. Depois, estendeu a mão que eu apanhei rapidamente. “Você é amiga de Quinn Fabray, certo? Sou o Dr. Gerritsen e eu realizei a cirurgia dela.”

“Como ela está?” Perguntei afobada, nem me dando ao trabalho de ser educada com o homem que poderia ter salvado a vida da minha Quinn. Ele fechou a expressão rapidamente e eu senti meu coração subir a boca. Meu coração quase explodiu em meu peito. Eu sentia um nó em minha garganta. “Ela está viva, não é?” Minha voz saiu um pouco mais baixo que o normal. O médico me puxou para sentar ao seu lado e apoiou a prancheta que tinha em mãos sobre o joelho, ele me olhou preocupado e respondeu:

“Quinn teve um acidente sério. Ela bateu forte com a cabeça no volante, mas felizmente não teve um traumatismo... Foram apenas algumas escoriações. Porém, parte de sua espinha ficou temporariamente comprometida e uma das ferragens atingiu sua caixa torácica, quebrando algumas costelas e provocando dano ao pulmão esquerdo.”

“Quinn vai ficar paraplégica?” Foi a única dúvida que eu consegui dar voz, porque eu comecei a chorar só ao pensar na possibilidade dela não conseguir andar depois de voltar para as Cheerios. Meu peito apertou e a culpa me esmagou. O Dr. Gerritsen passou o braço pelos meus ombros e disse calmamente:

“É uma condição temporária, Srta. Berry. Mas a cirurgia em seu pulmão foi delicada, ela acabou de acordar da anestesia e está confusa.”

“Eu posso... Posso vê-la?” Gaguejei entre soluços e erguendo meus olhos cansados para o médico. Ele olhou desanimado para mim, mas pareceu entender meu desespero porque, no instante seguinte, me apanhou pelos ombros e me carregou pelo corredor. Paramos na frente de um quarto e ele avisou:

“Ela ainda está muito cansada, mas vai se recuperar.” Eu acenei com a cabeça e esperei que o Dr. Gerritsen abrisse a porta. Mas ele me sorriu tranqüilizador. “Me desculpe a pergunta, mas ela é o que sua?”

Pensei em dizer que ela era a madrinha do meu casamento, mas aquele não parecia o melhor aposto para definir Quinn na minha vida naquele momento. Ela era muito mais do que isso, atualmente, Quinn era a minha melhor amiga, minha melhor confidente e talvez... A figura feminina que eu nunca tivera em vida. Quinn era uma espécie de inspiração. Eu sorri diante de minhas conclusões e dei de ombros, pigarreei e respondi:

“Digamos que ela é uma espécie de alma gêmea, ela é muito mais do que minha melhor amiga, ela é a única.”

A resposta foi vaga e não preencheu tudo o que eu queria dizer, mas pareceu ser o suficiente para o médico que sorriu e abriu a porta para mim. Entrei no quarto escuro e acendi a luz, deparando-me com uma das piores cenas que já tive.

Quinn estava deitada na cama. Um som estranho era definido em sua respiração, ela estava ligada a aparelhos que apitavam todo momento. Estava respirando com auxílio da máquina, seus olhos estavam fechados e sua testa tinha alguns hematomas roxos. Seu rosto estava coberto de pequenos cortes e sua mão direita estava enfaixada, repousada ao lado do corpo. Pela ausência volume do tecido da vestimenta do hospital, uma faixa envolvia todo o seu peito. A mão esquerda repousava sobre o abdômen e ela parecia dormir.

Caminhei lentamente pelo quarto, sufocando o meu choro ao colocar a minha mão em minha boca. Sentei em um espaço vago em sua cama e a observei, sentindo o alívio mesclar-se com a minha raiva e a culpa. Ela não estaria ali senão fosse por minha causa, Quinn não estaria sentindo dor se eu não fosse dramática o bastante para escutar Finn e apressá-la... O que eu achava que estava fazendo bombardeando seu celular com mensagens? Imagine o desespero de Quinn querendo chegar logo ao cartório...

Uma lágrima escolheu pela minha bochecha e eu passei a mão pelos cabelos dela, tirando algumas mechas de seus olhos, a respiração dela produziu mais um som estranho, a necessidade de senti-la viva se fez presente. Então, apanhei a mão esquerda dela entre as minhas, fazendo carinho com meus polegares. Quinn foi despertando aos poucos. Eu parei com meus movimentos, tentando não acordá-la, mas era tarde demais. Os olhos esverdeados abriram-se cansados e ela murmurou confusa:

“Rach?”

“Shii...” Murmurei soluçante e chacoalhando a cabeça, achei que nunca mais fosse ouvir essa voz nasalada antes. Meu coração acelerou novamente e parecia eufórico dessa vez, assim como todo o meu corpo. Continuei a segurar sua mão enquanto direcionava minha outra para seus cabelos, fazendo um carinho ali. “Eu estou aqui, volte a dormir.”

“Me desculpe... Eu tentei chegar ao casamento e...!” Quinn estava nervosa ao falar, mas foi interrompida por uma crise de tosse que deixou seus olhos lacrimejando, tornei a chorar dessa vez enquanto ela piscava para entrar em foco novamente. Seus olhos encontraram os meus e eu abaixei a cabeça, respirei fundo e sequei as lágrimas, dei o meu melhor sorriso e disse:

“Não precisa se desculpar porque um carro quase passou por cima de você, Q. Era eu quem estava te mandando mensagens como uma louca.”

“Você não podia ser uma noiva normal, Rach.” Quinn murmurou com a voz rouca e rindo com dificuldade em seguida. Comecei a ficar seriamente preocupada com ela e lhe lancei um olhar de bronca, mas ela ignorou e deu um sorriso de lado, com dificuldade. Seu lábio inferior estava cortado. Olhei para ela e deslizei a mão da minha testa para seu rosto, ela fechou os olhos e respirou fundo, mais uma vez aquele som estranho de algo sendo sugado preencheu nosso ambiente. Eu tentei controlar as lágrimas, mas estava chorando de novo quando disse:

“Eu não podia ter dado ouvidos ao Finn, eu deveria ter esperado. Você prometeu aparecer!”

“Hey Rach, não se culpe. Eu não sabia o quão mortal um sms podia ser.” Quinn tentou ser engraçada, mas o ambiente e a situação não ajudaram e ela só conseguiu arrancar uma careta emburrada de mim. Quinn revirou os olhos e eu sorri para aquilo, esse gesto só comprovava que ela ainda estava viva, era sua marca registrada e uma coisa da qual eu nunca ia me esquecer. Abrandei a minha expressão e Quinn sorriu para mim, depois corou e baixou os olhos para nossas mãos entrelaçadas sobre seu colo.

Me aproximei, sentando mais próxima a ela e encostando minhas costas doloridas em seu travesseiro. Ela se afastou um pouco mais para o lado com um gemido de dor e eu a olhei preocupada, ela apenas riu e o calor de seu corpo me aqueceu. Foi reconfortante sentir o calor dela, ouvir sua respiração estranha, sentir sua mão na minha... Quinn estava viva, eu ainda podia me redimir com ela.

“Cadê o seu anel de noivado? Você o tirou depois do casamento?” Quinn perguntou preocupada e se esticando para olhar minha mão direita, foi a minha vez de rir de seu pequeno desespero ao procurar anéis que já não tinham mais importância para mim. Lancei a ela um dos olhares cúmplices que desenvolvemos naquela curta amizade, ela tornou a arquear a sobrancelha e eu brinquei com uma mecha de seu cabelo curto ao dizer:

“Não houve casamento e aparentemente, não existe mais noivado.”

“Nossa.” Quinn murmurou baixinho e depois, mordeu o lábio. Observei quando ela suspirou e deu um pequeno sorriso que não passou despercebido por mim, eu sorri também pelo simples fato de ela estar um pouco feliz depois de tudo. Ela tornou a erguer os olhos para mim e eu pude sentir uma energia entranha dentro deles, ela apertou nossas mãos. “Então eu parei o seu casamento?”

“Digamos que sim, mas não fique convencida por isso.” Murmurei brincalhona e ela apenas deu mais um dos seus sorrisos misteriosos antes de corar. Depois, encostou a cabeça em meu ombro e suspirou. O ar quente exalado por ela arrepiou os pêlos de meu braço e eu ri com a sensação de desconforto, ela brincou com nossos dedos entrelaçados para em seguida dizer:

“No final de tudo, Quinn Fabray sempre consegue o que quer.”

Não pude deixar de rir de suas palavras, na verdade, eu gargalhei. Aquele era um pedaço de Quinn que poucos conheciam: a Quinn boba que era convencida o bastante para fazer piadas envolvendo si mesma. Nossos olhares tornaram a se encontrar quando ambas viramos a cabeça e o mundo pareceu parar, porque aqueles olhos verdes estavam vivos a me observar. Abaixei a cabeça envergonhada, porque meu estômago pareceu ser tomado por borboletas. Me levantei da cama e disse:

“Conseguiu o que queria, lide com isso e durma, Fabray... Antes que nos expulsem daqui.”

Quinn deu um último sorriso e tornou a fechar os olhos. Eu caminhei, tentando não fazer barulho até o interruptor e o desliguei. Voltei para ela e com muita coragem, apliquei um beijo em sua testa. Sentindo meus lábios queimarem de volta. Quinn sorriu em seu sonho e respirou fundo, a máquina chiou diante do barulho estranho e eu ri, acomodando-me na poltrona desconfortável ao lado da cama.

Antes de me render ao meu sono, dei uma última olhada nela e sorri. Quinn estava viva e isso me bastava.

Quinn finalmente chegou.


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Notas finais do capítulo

O que acharam?
Eu pensei em deixar a fanfic com esse subtexto, as coisas nas entrelinhas... Acho que não cabe as duas ficarem juntas de uma hora para outra.
Mas calma, eu acho que sai mais um capítulo.
Reviews? Beijos.