Pov Matt

            Eu corri sem rumo, minha vista embaçada pelas lágrimas e o coração descompassado eram barreiras para encontrar o médico de Mello. Fugi de vários enfermeiros que tentaram me parar, até que alguém finalmente conseguiu.

- Mail! _a mulher segurou meu ombro _se acalme, está tudo bem!

- Dra. Kyo! Ele... _minha respiração ofegante não me deixou falar.

- Mihael está na terapia intensiva – UTI – venha comigo _virou as costas e deu passos largos em direção ao elevador.

            Subimos dois andares e então entrou no quarto de numero 23.

- Fale baixo por favor _segurou meu pulso quando fiz menção de sair correndo _e não o toque.

- ...o que está acontecendo? _Mello estava dentro de uma espécie de “bolha” e, além disso, não tinha mais ninguém no quarto.

- Te explicarei lá fora... vamos?

- ... _mesmo relutante, sai do quarto.

- Mihael não está respondendo as novas células implantadas, está sabendo disso não está?

- ... _fiz um sinal negativo com a cabeça, mil coisas vieram a minha cabeça, mas fiquei calado apenas ouvindo.

- Lembra do que eu disse? Seu sistema imunológico está alterado, está frágil e se não desse certo as novas células... _ela deu um longo suspiro e me olhou com pesar.

- Sim... _cerrei dos dentes, estou prestes a explodir.

- ...tsc, eu sinto muito... vamos fazer o impossível pelo Mihael.

            Por comodidade ela me deixou sozinho, as lágrimas vieram uma após a outra – acho que não preciso descrever a dor que sinto nesse momento, certo?

Pov Mello

            Recobrei a consciência num lugar diferente do quarto que ocupei até então, logo vi que estava na UTI – preocupante?

            Não tenho forças para levantar se quer minha mão, onde estaria Matt agora? Provavelmente chorando do lado de fora do quarto... droga Keehl, agüenta!

            Reuni todas as forças que ainda tinha e me levantei, logo senti a tontura novamente, mas ignorei.

- “Matt... preciso ver seu rosto só mais uma vez... seu sorriso...”

            Segurei na cama para não cair, minhas pernas estavam falhando, dei passos lentos em direção a porta. Porém o esforço que fiz para levantar me derrubou novamente, senti meu coração pulsar mais forte e logo ouvi o barulho ensurdecedor do aparelho ainda ligado ao meu coração. Não consegui ver muitas coisas, apenas médicos entrando e mexendo em mim... Matt, ele não está aqui.

Como vou deixar esse idiota sozinho? Ele vai ser perder no mundo, vai chorar feito uma criança todos os dias... então como eu vou deixá-lo sozinho?...

Pov Matt

            Médicos entraram correndo no quarto, fui barrado então tudo que fiz foi gritar seu nome e rezar, rezar por um milagre qualquer.

Deus, se você existe permita que troquemos de lugar!... eu quero que ele viva, seu sorriso, seus sonhos... por favor... Mello protegeu o mundo contra Kira então do que adiante se o próprio Mello não existir nele?!

Pov Mello

            Matt, eu não queria perder o brilho dos seus olhos, seu sorriso contagiante, então desculpe por amá-lo tanto assim... e não ter contado sobre isso antes.

Eu levarei comigo seu andar calmo quando eu não mais puder me levantar. Verei através dos olhos do seu coração quando eu não mais puder enxergar.

Mail, viva todas as coisas boas do mundo... Eu te amo e nunca me arrependi de ter lutado contra essa doença até o final por você.

Droga, afinal não consegui mesmo me despedir de você. Meus olhos se fecharam involuntariamente, apesar de não ter certeza... eu espero estar sorrindo... e que esse sorriso alcance seu coração.

Pov Matt

            Tudo ficou em silencio, ninguém saia, ninguém entrava. Esperei pelo que pareceu uma eternidade até que a Dra Kyo abriu a porta e me chamou.

Mihael Keehl não existe mais... Mihael... _perdi as forças e desabei, acho que alguém me levantou, que se foda... deixei ser levado e espero que seja para o inferno porque qualquer lugar é melhor.

...

...

...

Japão, algum tempo depois.

            Tudo o que eu via eram os lírios brancos sob seu túmulo recém feito, tudo o que eu sentia era o cheiro nauseante dos incensos que acendemos um a um durante a missa e tudo o que eu ouvia era os passos lentos das pessoas se distanciando de mim. Nessa hora não existe Near e Sr. Roger, não existe amigos ou inimigos, são apenas vultos.

Mihael não existe mais, não está aqui do meu lado sorrindo ou reclamando, tudo que sobrou foram lembranças e uma ilusão que tento criar dele momento á momento.

Cheguei em casa pela primeira vez depois que Mello faleceu, tirei os sapatos, o casaco pesado, meus óculos... fui jogando peça a peça pela casa até alcançar minha cama e cair nela. Quando fecho os olhos ainda sinto sua presença, tudo é você... desde este quarto até o meu corpo, tudo... tudo.

            As lágrimas vieram uma a uma, todos dizem aquelas frases bonitas como: "agora ele está em paz ou guarde os bons momentos e viva por vocês dois", mas a verdade é que não sobra nada fora a dor afinal...

            Mello não está mais aqui e essa é a minha droga de vida. Vivo a pensar como seria nosso futuro, vivo a lembrar do meu passado, como uma marionete dos meus sentimentos eu ando pelo mundo.

            Não conseguimos nos casar em São Francisco, nem ver o por no sol do cume da montanha... nunca mais comerei sua lasanha, não ganhei um beijo final de despedida como naqueles filmes bonitos; você apenas foi embora numa cama de hospital sem que eu pudesse estar perto. Algo simples, patético e comum.

Meu coração está apertado, eu não sei explicar na verdade o que sinto... é algo que supera o entendimento. Não dá para aliviar, é como aquela velha louca me disse certa vez – que eu não levei a sério – de uma doença, não tem como se vingar, não tem como se aliviar.

Vida de merda.

Fecho meus olhos... o que sinto depois do Adeus? Dia após dia, continuo a chorar... lágrimas caem sem que você tenha força para conte-las. Diga-me o que uma rosa crescendo no deserto pode fazer!...  nada além de tentar sobreviver a essas condições tão difíceis. 

            O primeiro dia sem você, a primeira semana sem você, de volta ao vazio que me assombra... estou sendo puxado pouco a pouco pela escuridão, abaixo apenas sobraram os espinhos e rosas já murchas pela solidão. O para sempre finalmente está perdendo sua cor... estou errado por sentir dor? Estou errado por ser a dor? Estou errado por querer que a noite nunca acabe?

            Eu canto sem você, pode sentir meu coração chorar a cada nota? Certamente eu não consegui chegar até você, e agora ando nessa chuva sem fim até que meu corpo caia. Não me toquem... deixe-me viver com essa dor até o fim.

            A vida passa como areia entre meus dedos, incapaz de segura-la sou um fantoche do mundo agora. O que deseja senhor? Sim senhor, agora mesmo senhor...e estou a servir eternamente essa dor. 

Extra: Solidão de Mail Jeevas – final.  

A casa de Matt e Mello foi aos poucos se deteriorando por falta de cuidados, os pertences em sua maior parte vendidos para obtenção de dinheiro por parte de Matt, que se tornou um viciado em drogas.

            Sendo pego por seu trabalho ilegal, acabou preso algumas vezes e assim seu nome sujo no mercado fez todas suas portas se fecharem uma a uma.

            Sem emprego, endividado, torturado pelo pesar da morte de Mello e sem condições de se livrar do vício, Matt fugiu da cidade numa madrugada qualquer antes botando fogo em sua antiga moradia.

Pov Matt.

            E aqui estou no alto da montanha mais alta que eu consegui escalar, não é a mais alta, nem a mais famosa, mas com certeza é a mais bonita. Está vendo Mello? Este é o por do sol que eu sempre procurei para te mostrar... agora mesmo estendo minhas mãos e mesmo assim você ainda está tão distante.

            Tirei meus googles amarelos e peguei o maço de cigarros quase no fim deixando ambos junto á pedra onde estava sentado até então.

- Não pude cumprir minha promessa de te trazer até aqui... você também não cumpriu a sua promessa de que ia ficar tudo bem, estamos quites?... isso só quer dizer uma coisa _abri um sorriso – falso obviamente, não que ele fosse realmente necessário já que não havia ninguém.

            Levantei e dei dois passos a frente, olhei para o horizonte; meus ombros caídos pelo peso de não ter você, as olheiras fundas por noites mal dormidas, os lábios rachados por causa da cocaína.

- Eu te amo _sibilei antes de deixar o vento levar minha alma para o nada.

E...

Acreditando que nos encontraremos outra vez

Eu cantarei eternamente...

Scarlet Love Song.