015 – Ajuda

[Beatriz]

Era difícil pra mim acreditar naquilo que eu estava fazendo. A velocidade da moto e o vento batendo em meu rosto pediam pra eu continuar adiante, mas minha mente, ou melhor, minha consciência me obrigou a fazer o contrario. Acelerei mais um pouco antes de fazer a manobra. Dei meia volta com a moto em uma virada brusca, passando a centímetros de um caminhão que se movia rapidamente na pista ao lado e quase sendo acertada por um motociclista na mesma pista. O susto me fez perder levemente o equilíbrio e ir para a contra mão, passando por dois carros antes de voltar para a pista certa.

Pude sentir o vento mudando no mesmo instante em que eu mudava a direção. Não me assustei quando percebi que era um vento mais empolgante. A paisagem passava rápida pelos meus olhos enquanto eu tentava entender o porquê de eu ter feito aquilo.

O motivo era obvio. Não passava de uma única imagem, como uma fotografia ou uma pintura, que eu vi na mente daquele garoto. Era definitivamente uma imagem perturbadora. “Assistir a morte do melhor amigo. E ainda ter forças para continuar.” A ‘pintura’ estava um tanto quebrada. Era como vê-la através de um espelho rachado e a rachadura se encontrava exatamente em cima da face do assassino, então eu não pude ver seu rosto.

Mesmo assim aquilo não era da minha conta. Então porque diabos eu dei meia volta para dar a maldita carona para o garoto?

Enquanto acelerava para o ponto em que o encontrei e tentava procurar qualquer brecha para esquecer tudo aquilo e voltar pro meu caminho normal, um pensamento frio de um homem acertou minha mente como uma flecha recheada com veneno. A fonte do pensamento estava distante e por isso tudo o que eu ouvi foram fragmentos.

“... matar todos... dinheiro... caixa registradora... sumir...”

A preocupação e a tensão do pensamento me preocuparam.  Me lembrei de ter passado por uma pequena loja de conveniências pouco depois de ter mandado o garoto descer da moto. O pensamento provavelmente vinha de lá. “Droga! Odeio isso, se eu não fizer nada serei afogada por minha culpa.” Não tinha celular para ligara pra policia, e mesmo se tivesse eles não chegariam a tempo.

– Droga, droga, droga, droga!

Pelo visto eu teria que dar um jeito naquilo usando meus poderes. Acelerei ainda mais. O vento realmente estava mais empolgante naquela direção, não sabia se isso era bom ou ruim.

Mas dane-se, que escolha eu tinha?

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