Numa manhã na estrada da BR­ 316...

Samira estava bem longe de ser aquela garotinha chorona dos dramalhões. Apesar de sua vida ser quase ou igual a delas.  Com a morte da mãe e do padrasto num padrasto num acidente de carro ela passou a viver com sua avó numa pequena cidade do interior do Pará.

Mas com a morte da avó estava indo para Belém ainda sem saber ao certo o que a aguardaria dali para frente. A única certeza que tinha era que estava indo rumo a casa de Ryan, seu único parente.

Pensar nisso fez com que ela sentisse certa ansiedade diante a expectativa de encontra-lo.  “ Bem, na verdade ele não era seu parente, ele era filho do seu padrasto. ”

Esperava muito que ele pudesse lhe ajudar! Ou pelo menos ceder um espaço para que ficasse durante algum tempo. Enquanto isso, aproveitaria para desenvolver suas técnicas de dança. Em Belém, certamente teria maiores chances.

Ela tinha abandonado o sonho de ser dançarina, mas há pouco tempo atrás tinha conhecido uma professora de dança que lhe incentivou a retornar a praticar a arte. E desde então não pôde mais parar.

 "Afinal, aquela era a única de suas paixões que ainda lhe dava o direito de sonhar."

Ao saber sobre sua vinda para a cidade a professora fez contato com uma escola de Arte e Dança de grande referência em toda região norte e nordeste. Ela estava ansiosa pela possibilidade de conseguir uma vaga nessa grande escola.

Ryan era sua referência de família naquela cidade e precisava de seu apoio mais do que nunca! Ela suspirou agradecendo por que ainda contar com uma a pequena quantia em dinheiro que sua mãe lhe deixou no banco. Uma pequena poupança que não duraria muito, mais tardar até que completasse dezoito. Coisa que não tardaria muito! Somando a essa poupança ainda tinha o dinheiro da venda da casa, mas teria que esperar até concluir sua maior idade.

Samy, como era chamada por alguns amigos, era uma garota alegre que estava buscando pelo seu maior sonho: “De se torna melhor dançarina. E quem sabe alcançar os mais altos padrões e dançar nos palcos da Broadway nos Estados Unidos! ”

Ela sorriu sozinha olhando para a rua pela janela do ônibus. Sabia que não era a maior beldade no mundo, mas não era feia! Seus olhos castanhos amarelado saindo para um tom mel eram sua beleza marcante. Mas uma coisa que todos sempre comentavam, era o fato de seu sorriso transmitir certa ternura. Seu cabelo era castanho e comprido e pelo fato de ser bem liso, ela gostava de deixá-lo solto e os fios caiam para o lado formando uma cascata bem lisa.

A ideia de voltar a se encontrar com Ryan fez seu coração acelerar outra vez. “Deveria ter informado que estaria chegando à casa dele! ” Talvez ao vê-la ele não gostasse muito. Nem todo mundo estaria disposto a receber uma hospede adolescente em sua casa, afinal eles dois nunca foram o melhor exemplo de “família”.

Como será que ele estaria? Será que estaria bem? Traduzindo: De bom humor! Tomara que sim! Porque precisava de Ryan para que ele fosse seu tutor até que ela fosse maior de idade.

Samira pouco falava com ele, mas sempre que podia entrava em contato para saber como Ryan estava. Durante cinco anos eles haviam se falado somente em datas comemorativas. Como quando ela o parabenizava por seu aniversário e outras pelo natal e ano novo.

Apesar do tempo, ainda conseguia lembrar perfeitamente da fisionomia de Ryan quando ela o presenteou durante uma festa de natal. Pensar nele fazia com que seu corpo reagisse com ansiedade.Queria ver novamente aquele belo rosto.

“ Sim. Ryan era tão lindo! E também muito sério! ”

Mas sua seriedade logo era ocultada pelos seus belos olhos azuis que transmitiam suavidade. E o conjunto de beleza ficava completo com seu sorriso. Quando ela ria em seu rosto formavam duas covinhas. “Céus, era sexy demais! ” Ela sorriu travessa quando imaginou poder beijar aqueles lábios carnudos.

 Tinha que confessar. Era completamente encantada por Ryan! Para ser mais precisa, desde o tempo que tinham morado juntos. Mas naquela época ela tinha treze anos, e nunca esperou que ele lhe notasse. Além do mais, ele sempre foi muito ocupado e quase não parava em casa. Imaginava que ele continuasse a ser um homem muito ocupado , já que tinha uma empresa de publicidade e propaganda. Com apenas trinta anos e poucos anos de formação , já fazia parte de um grupo de profissionais bem sucessíveis.

Ele era um homem másculo e elegante, de olhar atraente. Aquele olhar era capaz de fazer qualquer mulher se render sem fazer muito esforço e ela era uma das mulheres.

“ Duvidava que algum dia ele a olhasse! ”

Afinal, ele jamais olharia para uma garota de dezessete anos e ainda mais uma adolescente sem graça como ela.

“ Mas se ele me olhasse! ”

Apesar de estar enamorada, ela imaginava que Ryan provavelmente tinha alguma namorada como ele. Brilhante e bem formada em uma ótima faculdade. Mas em quesito de sentimento, ela sabia ser capaz de ganhar qualquer uma.

“Isso é por que ele não sabe o que eu sinto. E o que ela sentia, jamais poderia ser chamado de sentimento de criança”.

Aos treze anos ele a via como uma criança. Será que seria diferente agora? Se bem que pensando, já seria muito se ele aceitasse que ela ficasse em sua casa.

“Ai céus! ” 

Samy afastou do rosto os fios de cabelos que o vento bagunçava.

Ao descer no terminal ela foi logo em direção aos táxis onde pegou um. Em poucos minutos estava diante da casa onde viveu com sua mãe durante pouco mais de oito meses e logo depois foi o acidente que vitimou sua mãe e o padrasto. Então Samira foi embora e tudo o que tinha ficado eram as lembranças.

 Ela pagou o taxista e adentrou na casa abrindo o portão da frente. Tudo estava silencioso, mas ela viu pela entrada do jardim através de uma enorme janela em estilo de porta, um homem debruçado lendo alguns documentos, então ela se aproximou e bateu de leve na porta. O homem a encarou com um ar de “Eu a conheço? ”

 Ele largou os papéis e caminhou até ela. Era um homem muito bonito e parecia um tanto mais jovem que Ryan, algo em torno de 26 ou 27 anos e de uma fisionomia atrativa com belos olhos verdes.

— Oi. Eu posso ajudar você?

A voz dele era grossa e marcante.

 _ O Ryan mora aqui, não é?

— É a casa dele.

 Ela desceu a mala para descansar.

 _ Ele... Ele está?

— Não, ele saiu para atender alguns clientes. Mas quem é você?

Ela sorriu embaraçada e estendeu a mão.

— Eu sou Samira, a "irmã" dele. Deveria ter avisando que eu estava chegando hoje. Mas mandei uma carta falando sobre a possibilidade de minha vinda para cá.

 Ele ficou como que se lembrando de alguma carta.

— Aqui não chegou nenhuma carta. Mas você disse que é irmã do Ryan? Ele tem irmã?

— Ele é filho do meu padrasto

“Explicar aquelas pequenas coisas sempre eram complicadinhas. ”

— Você é filha da Silvia?

Ele chegou a conhecer a esposa do pai de Ryan e lembrava vagamente daquela garota ali na sua frente.

— Sim, sou eu mesma! Aliviada porque você sabe quem eu sou ...

— Recordei ao olhar para você.

— Será que eu posso... Entrar?

— Sim! Pode entrar.

Ele a ajudou com a pequena mala, mas que estava bastante pesada.

— Eu sou Davi, eu moro aqui com o ele.

Ela olhou bem para o rosto do homem e lembrou de tê-lo visto algumas vezes com Ryan.

 _ Sei quem é você!

Ela respirou o ar refrigerado da casa.

— Nossa eu estou morta de sede, a cidade está muito quente.

—Você que beber alguma coisa?

— Sim. Uma água, por favor.

Ela o seguiu até a cozinha em estilo americano.

— Ele sabia que você viria?

— Na verdade não. Mas eu enviei uma carta falando sobre a possibilidade de minha vinda para cá.

— Por acaso, você revisou bem o endereço?

— Sim.

Samira arregalou os olhos.

— Por quê?

— Por que tivemos uma pequena mudança no endereço.

—Ah não! É agora?

Ela sentou na cadeira e olhou para Davi.

—O que o Ryan vai falar?

Ele olhou meio sem graça e disse:

— Você nunca ouviu falar em Telefone? Internet?

Ela o olhou de lado e ele entendeu de pronto.

— Desculpa, mas essas coisas por aqui na cidade são tão comuns.

— Não é que não tenha lá, mas e que...

Ela passou as duas mãos na cabeça sentindo certa apreensão.

— O Ryan não vai gostar de me ver aqui!

— Não se preocupa eu ajudo você. O máximo que ele pode fazer e gritar

 _ Hum!

— Você quer ir para o seu antigo quarto? Ele não está ocupado, mas acho que você vai ter que dar uma geral por lá.

— Está tudo bem, não se preocupe que me ajeito até o Ryan chegar.

“O que era meio sujinho para ele? ”

Aquele quarto estava uma zorra total, tanto que Samira precisou acomodar a mala no canto para assim começar a “sessão arruma”. No local haviam alguns móveis e coisas que não eram mais utilizadas. Após meia de muita limpeza, ela pôde perceber simples melhoras no ambiente.

Ela viu que a porta do quarto de Ryan estava entreaberta e então abriu entrando no quarto dele.

Tudo estava em seu devido local, lindamente arrumado. Ali tudo refletia a personalidade dele: a cama bem arrumada, o espaço simples, mas tudo de muito bom gosto.

 O cheiro do perfume dele era forte no quarto. Samira passou a mão por cada cômodo “aquele era o espaço de Ryan...” Então ela retornou ao seu minúsculo quarto aonde retornou para a arrumação. Davi entrou no quarto e viu a grande diferença em relação ao que era.

— Uau! Parece que você conseguiu grandes progressos por aqui.

—É, mas inda estou nervosa pensando no Ryan.

— Não queime seus neurônios com ele. O Ryan é um pouco cabeça dura.

Ela riu junto com Davi

—Prometo que vou falar com ele.

— Valeu Davi. Nossa, você nem imagina como isso vai contar!

— Precisa de ajuda com isso? _ perguntou ao ver ela ajeitar o colchão que tinha encostado.

— Obrigada. Será que ele vai demorar?

Davi olhou para o relógio.

— Não, nós temos uma reunião com um cliente às 4 horas e nessa hora ele já vai está aqui.