POV Annabeth

Nada como acordar às seis da manhã, foi a primeira coisa que eu pensei, antes de bater no despertador que tocava loucamente e arrancar o edredom de cima de mim. Mal conseguia acreditar que já era segunda feira e já se passara um dia desde aquela maldita festa. Parecia coisa demais para ter acontecido em apenas 24 horas. A briga com Rachel, a conversa com Thalia, as drogas... e Percy Jackson.

Dei um gemido de desgosto e taquei o travesseiro na parede ao mesmo tempo que, preguiçosamente, levantava para tomar banho. Água gelada, mesmo no outono frio de Nova York, sempre me ajudava a colocar as ideias no lugar.

Mas dessa vez, nem isso adiantou. Eu quase chorei como chorara no dia anterior, depois do infeliz comentário da mãe de Percy. Naquele momento, sentada no sofá da minha própria casa, tendo a pior ressaca da minha vida e com aquela maldita fantasia que não servia em nada para espantar o frio, eu me acabei de chorar, ao ponto de acordar Bobby e ele me abraçar quase como quando nossa mãe morrera.

Eu contei para ele como me sentia estúpida fazendo-o apenas balançar a cabeça e dizer que o nome disso era amor. Nós rimos com o comentário, embora ele ainda esteja-o digerindo como algo realmente sério, que valha a ser pensado e repensado.

Infelizmente, o clima leve foi quebrado pelas notícias que eu perdera nos últimos dias que ficara fora. Pelo que Bobby me contara, nosso pai não aparecera em casa desde que recebera a ligação da escola relatando o "sexo selvagem" que a minha pessoa e Nico aparentemente estávamos fazendo na sala de espanhol. Como se eu não precisasse de mais alguma coisa para me remoer de culpa. Não que isso fosse uma justificativa para ele sair por aí se embedando e não voltar mais para casa. Só que, poxa, Frederick ainda era meu pai e eu me sentia imensamente preocupada com seu estado.

Saí o chuveiro e me enrolei na toalha. Porém, em vez de abrir a porta do closet, corri para as sacolas de compras que eu fizera com Nico e as meninas, sendo que o mesmo passara aqui para deixá-las quando eu ainda não estava em casa.

Aquela noite de sábado pode ter sido um verdadeiro desastre se não tivesse me ensinado uma grande lição. Quer dizer, por mais que eu ainda sentisse muita raiva por tudo que Thalia havia feito, ela me mostrara que eu precisava dar a entender para todos ao meu redor que eu havia dado a volta por cima, mesmo que não tivesse dado. 

Foi justamente isso que me motivou a pegar um short jeans claro de cintura alta com spikes, um camisa um pouco transparente acompanhada pelos corturnos e a jaqueta de couro, ambos pretos. Sem contar com a maquiagem carregada e todos aqueles acessórios que faziam com que eu me sentisse uma árvore de natal ambulante e barulhenta. Por mais que eu me sentisse desconfortável e até mesmo meio vadia naquela roupa, eu sentia que era hora de mostrar ao mundo aonde Annabeth Chase poderia chegar.

(look da Annabeth: http://www.polyvore.com/cgi/set?id=76058300&.locale=pt-br)

Nico deve ter esperado séculos, e isso é só uma estimativa pelo número de vezes que ele buzinou, até que eu finalmente desci para encarar um dia tremendamente frio com um short que mal tapava a minha bunda. Trágico.

- Wow - foi a primeira que ele disse, assim que eu bati a porta do carro. Falando nisso...

- O que houve com a Scooter?

- Vai muito bem.

Revirei os olhos com o comentário.

- Por que você não está com ela, babaca?

- Ah, minha mãe pediu pra eu pegar o carro no conserto, aí sabe como é, resolvi dar uma voltinha com ele - respondeu-me, logo em seguida dando uma piscadela.

E realmente, era um senhor carro. Um porsche vermelho vivo, conversível e provavelmente, novo demais para dar algum tipo de defeito a ponto de ter que ir parar em uma oficina. Continuei a avaliá-lo com o olhar, até que desse um belo tapa no volanete e respondesse:

- Tá legal, não tem oficina nenhum envolvida nessa história. esse é o presente de aniversário de Bianca. Na verdade, eu só estou com ele porque minha mãe pediu pra eu pegar na concessionária. Aí eu...

- Sério que você realmente tá fazendo isso? Nico, sua irmã não tem nada a ver com o fato da sua mãe ter preferência por ela. Esse é o presente da menina, poxa...

- Ela ganha um porsche de aniversário e o que eu ganho, Annabeth? Um apartamento em um dos bairros mais violentos da cidade, infestado de baratas?

Tarde demais, fui perceber que ele estava realmente frustrado com a situação. Nico parecia demasiadamente magoado com a mãe pelo jeito que esta tratava-o, algo que talvez eu nunca viesse a entender por sentir tanta falta da minha e por ela sempre ter sido tão boa. Dei um suspiro tristonho. Aquele definitivamente estava sendo um péssimo dia.

- Eu sinto muito - disse, colocando minha mão sobre a sua que estava em cima da marcha. Ele só tornou a olhar pra mim quando paramos em um sinal.

- Nós temos que conversar, Annabeth.

Um calafrio percorreu todo o meu corpo. Em meio a todos os pensamentos malucos e todas as hipóteses que havia calculado, não pensara em como contar a Nico sobre o que ocorrera com Percy. Só de ao menos pensar nisso, eu tinha vontade de sair do carro e ir caminhando no meio dos carros e do frio violento que fazia.

- Sou toda ouvidos.

- Eu...

- Você...?

- Hã...

- Fala logo, Di Ângelo!

- Eu andei conversando com a Thalia - disse rápido e de uma vez só e eu dei um suspiro de alívio, apesar de me questionar sobre o motivo e ter algumas dúvidas sobre o porquê.

- E aí?

- Foi tão estranho. Não sei se você me entende, mas ela mudou tanto, ao mesmo tempo que continua a mesma, sabe?

- A ponto de você não saber mais se gosta dela?

- Pelo contrário. A ponto de eu ter certeza que ainda gosto dela. E, chegamos. Pode descer.

- Como assim? - balancei a cabeça confusa. As últimas palavras dele ainda rodavam na minha cabeça. Que porra ele queria dizer com aquilo?

- Descer. Do. Carro. Pra assistir aula. Você ainda se lembra do que é escola, Annabeth Chase?

- Ugh, vai se ferrar Di Ângelo - respondi-lhe, embora tenha permanecido sentada.

- Parece que a roupa nova te deixou mal humorada. Será que eu tenho te provar o quanto você está bonita assim?

- Você não entenderia... Eu me sinto nervosa...

Por um monte de coisas, poderia ter completado, mas preferi permanecer em silêncio. Tudo que eu precisava era de um Nico com ciúmes por eu ter beijado outro garoto. Se bem que seria até ele se sentir um pouquinho assim, só pelo que acabara de me contar...

- Por que você se sentiria nervosa?

- Você sabe. Vai todo mundo ficar me olhando e comentando da festa de sábado. Aí vão surgir mais fofocas e boatos. Não quero ser o centro das atenções. A última vez foi ruim demais - disse, recordando-me do episódio da sala de espanhol.

- Você merece ser o centro das atenções, Annabeth. Esse é o nosso plano, não é? A gente se vingar de tudo que Thalia fez em relação a nós dois e de quebra você faz aquele tal de Percy Jackson comer na sua mão...

- Eu já disse que não gosto dele, mas que merda! - gritei, fazendo-o apenas rir da minha cara - E não era eu que estava, há cinco minutos, dando suspiros apaixonados pela Grace...

- Cala boca, Annabeth Chase - ele disse, logo em seguida me beijando. Estar com Nico era bom e ele me fazia sentir especial e única. Sem falar que ele beijava muito bem e tinha um senhora pegada, embora, mesmo assim, eu ainda tivesse o beijo de domingo rodando a minha cabeça. Sentir-se confusa entre dois caras era a pior sensação do mundo e definitivamente hoje não era o melhor dia para falar sobre o que acontecera ontem.

POV Percy

- Sério, eu não acredito que você mora em frente a casa dela e não me conta nada disso! - reclamou Rachel, pela milésima vez, enquanto eu a acompanhava até a sala de sua primeira aula - Eu deveria ser a primeira pessoa a ficar sabendo dessas coisas, Percy, a primeira...

- Eu até que gostei - interrompeu Thalia que seguia atrás, juntamente com Luke de mãos dadas com ela - do visual dela, sabe...

- Sério, Thalia, sério mesmo? - perguntou a ruiva, virando para trás abruptamente para observar a amiga - Pensei que você tivesse saído dessa sua fase punk idiota...

- Ela ficou gostosa com aquele short - interrompeu Luke - Não é Percy?

Eu apenas assenti, rindo, fazendo com que Rachel olhasse espantada, dessa vez para mim e continuasse com seu chilique ou o que quer que fosse, até finalmente entrar na sala de aula, dando-me pouquissímo tempo para entrar na minha. Thalia, que teria a próxima aula junto comigo, corria ao meu lado pelo corredor.

- Você conversou com ela? - perguntei, interrompendo o silêncio qiue fazíamos tentando controlar nossas respirações.

- Com ela quem? - perguntou- parecendo verdadeiramente confusa.

- Com Annabeth. Sabe, você disse que gostou do novo visual dela...

- Isso não significa que sejamos melhores amigas, Percy - disse, revirando os olhos e abrindo a porta da sala de aula, comigo entrando no seu encalço.

A velha senhora Dodds apenas olhou-nos com reprovação por um milésimo de segundo, logo em seguida voltando a prestar atenção na matéria que colocava no quadro. Eu não tive nem ao menos a ousadia de abrir o caderno para copiar, de tão imerso nos meus pensamentos que fiquei. Annabeth Chase é definitivamentre mais interessante que números e icógnitas.

Na verdade, ela sim é uma icógnita. 

Eu definitivamente, assim como Luke, achava que ela estava extremamente "gostosa" daquele jeito. Mas, lá no fundo, definiria-lhe com outras palavras. Perdida, desencaixada e parecendo meio confusa seriam algumas delas. Ou simplesmente deslocada, com toda aquela gente olhando ela e o maldito namorado passearem pelos corredores da Goode High School.

Era impossível não me lembrar do dia anterior ao olhá-la, mesmo que esta não parecesse nem ao menos notar minha existência. Eu não faço ideia do que se passara na sua cabeça no momento que minha mãe rompera pela porta, mas coisa boa não fora. De um jeito esquisito, queria que aquele momento tivesse durado mais, mesmo que tivesse sido tão simples. Estar com ela era maravilhoso e terrivelmente confuso ao mesmo tempo.