Yakusoku escrita por teffy-chan, Shiroyuki


Capítulo 41
Capítulo 41 - Heaven is a Place on Earth


Notas iniciais do capítulo

Heaven is a Place on Earth - Frip Side
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No dia seguinte, Nagihiko estava decidido a esclarecer aquela nova situação com Amu. Chegou a combinar anteriormente com Tadase de irem mais cedo para o Royal Garden, para poderem conversar com a Coringa e desfazer aquela primeira péssima impressão da garota. Ficaram aliviados em notar que ninguém estava fazendo comentários estranhos sobre eles pela escola além dos comentários diários, é claro, mas não sabiam por quanto tempo a Coringa manteria sua boca fechada. E para a surpresa dos garotos, a própria Amu foi procurá-los antes que qualquer um dos dois se manifestasse. Como se tivesse lido a mente de Nagi, ela mesma foi procurá-los. Com poucas palavras, e tomando o cuidado de não se demorar muito, pediu para que eles a encontrassem logo depois que a aula acabasse. Ambos assentiram, Tadase visivelmente temeroso e preocupado, enquanto Nagihiko tentava manter o semblante sério e firme, ainda que estivesse tão preocupado quanto o loiro por dentro.


A aula passou surpreendentemente rápido, e assim que o sinal tocou, Nagihiko e Tadase foram os primeiros a se retirarem da sala de aula. Quando chegaram no Royal Garden, Amu ainda não estava lá, então os dois resolveram se acomodar enquanto esperavam pela amiga. Nagihiko ocupou-se de fazer chá para distrair um pouco a cabeça, enquanto Tadase tinha resolvido gastar a sola dos sapatos enquanto andava de um lado para o outro enquanto roía as unhas, visivelmente nervoso.


– Hotori-kun, será que dá pra se acalmar? - Nagihiko pediu, começando a ficar nervoso também só em observar o garoto
– Eu estou tentando, mas não consigo! - o menor choramingou - A Hinamori-san estava com uma cara tão séria quando falou com a gente... o que será que ela quer nos dizer? E se... s-se ela nos denunciar pro jornal da escola, ou pros professores... ou pior ainda, para os nossos pais! O que nós vamos fazer Fujisaki-kun?!
– Hotori-kun, acalme-se! - o Valete deixou o chá de lado e andou até onde Tadase estava, segurando-o firmemente pelos ombros e interrompendo a caminhada sem rumo do Rei - Vai ficar tudo bem, não se preocupe! Mesmo se ela nos dedurar pra alguém, não poderá fazer nada sem provas, na pior das hipóteses nós só teremos que negar e pronto! E mesmo se ela nos denunciar para os nossos pais, o que eu duvido muito que aconteça... não precisa ficar assim tão nervoso, porque... mesmo se eles tentarem nos separar ou até nos castigar por isso, eu... eu vou proteger você. Não vou deixar que nada nem ninguém te faça mal ou te cause algum sofrimento, ainda mais por minha causa. Eu protegerei você com a minha vida, então não precisa ficar assim tão receoso... está bem? - ele soltou um os ombros de Tadase e acariciou a bochecha macia do loiro com os dedos finos e compridos. Tadase sentiu seu rosto esquentar violentamente ao ouvir aquelas palavras, misturando-se ao calor da mão de Nagihiko em sua bochecha. Fechou os olhos, apreciando aquele carinho e ansiando por mais. Porém, antes que Nagihiko pudesse fazer mais alguma coisa, ouviu-se um pigarrear sonoro, e Nagihiko imediatamente recolheu a mão que antes tocava o rosto de Tadase, fazendo com que o loiro abrisse os olhos para ver o que tinha acontecido.


Os dois se viraram para a entrada do Royal Garden, e viram Amu parada à porta de frente para eles, visivelmente incomodada com a cena. Tadase corou furiosamente ao se dar conta do tipo de cena que a amiga estava prestes a presenciar, e Nagihiko se remexeu no mesmo lugar, incomodado. Pensou em tomar a iniciativa de se explicar, mas antes que o fizesse, Amu falou:


– Então... é isso mesmo? Vocês... q-quero dizer... h-há quanto tempo vocês estão... a-assim...? - ela apontou incerta de Nagihiko para Tadase e de volta para o Valete, sem nem sequer saber como definir o tal "assim" ao qual ela se referia
– Amu-chan... se quer saber há quanto tempo estamos namorando... desde aquela viagem que fizemos juntos para a praia - Nagihiko contou, e Amu voltou a torcer as mãos incomodada - Mas, se quer saber há quanto tempo nos gostamos, é.... bem... - ele fez uma pausa, tentando puxar pela memória quando foi exatamente que se apaixonou por Tadase - Bem, há muito mais tempo... mais de um ano, creio eu. Amu-chan, eu sinto muito que você tenha descoberto dessa forma tão... chocante... ainda mais depois de tudo o que você passou, quero dizer... b-bem, eu quero que saiba que eu nunca quis te magoar nem nada assim, você é minha amiga afinal... mas o fato é que eu amo o Hotori-kun. E não vou desistir dos sentimentos que tenho por ele por nada nesse mundo
– Por que você não me disse isso antes? - Amu indagou sem encará-lo - Naquele dia do Festival Escolar... depois que a peça acabou e você imitou a Nadeshiko pra mim, você me incentivou a insistir nos sentimentos que eu tinha pelo Tadase-kun e tentar me declarar mais uma vez... por que fez aquilo se você se sentia assim em relação à ele?
– Porque... naquela época, eu não pretendia lutar pelos meus sentimentos. Tinha desistido do amor que sinto pelo Hotori-kun, tudo o que eu queria era ficar ao lado dele, apoiando e protegendo ele, e nada mais do que isso - Nagihiko respondeu, lembrando-se claramente dos sentimentos de desistência e tristeza que tinha antes de começar a namorar Tadase - E eu... sabia sobre como você se sentia em relação à ele. Você é uma ótima pessoa, Amu-chan, e na época eu pensei que o Hotori-kun também gostava de você, então... vocês seriam felizes juntos... ainda que isso custasse a minha felicidade. Mas como eu achava que não teria nenhuma chance, queria que pelo menos vocês dois fossem felizes... você é minha preciosa amiga, e o Hotori-kun é a pessoa mais importante da minha vida... se eu não podia ser feliz, então quis que pelo menos as pessoas importantes pra mim fossem felizes no meu lugar... por isso falei aquelas coisas pra você.


Amu o encarou incrédula por alguns segundos. Estava pronta para dar um longo sermão no Valete, dizendo como ele a traiu, lhe dando conselhos incentivadores, para depois lhe apunhalar pelas costas, mas não esperava que o garoto falasse aquilo. Ela conhecia muito bem o sentimento de amar e não ser correspondido, ela também já tinha passado por isso afinal, então entendia o que Nagihiko devia ter sofrido durante todo o tempo em que amou Tadase e sofreu calado com isso. Tentou pensar em alguma coisa para dizer e acabar com aquele momento contrangedor, mas antes que o fizesse, o Rei falou:


– E-Eu também... t-também a-amo... o Fujisaki-kun - Tadase tirou coragem de algum lugar para poder falar, a voz um tanto entrecortada por causa da respiração ofegante e o rosto tão vermelho quanto um pimentão. A Coringa virou os olhos na direção dele, prestando atenção no que o Rei dizia. Ele segurava as costas do uniforme de Nagihiko com a mão trêmula, dividido entre se explicar com Amu ou se esconder atrás do Valete - T-Talvez você não acredite, ou não entenda, mas... eu estou a-ap-apaixonado pelo Fujisaki-kun... eu o amo de verdade, então... seria muito importante pra mim... pra nós dois... que tivéssemos o apoio dos nossos amigos, Hinamori-san
– Eu acredito em você - a Coringa respondeu depois de soltar um suspiro - Eu... bem, na verdade chamei vocês aqui porque... porque queria me desculpar pela minha reação de ontem. Eu meio que explodi na hora, e sei que a minha reação não foi das melhores... m-mas vocês me pegaram de surpresa, eu não esperava entrar no Royal Garden e pegar vocês se b-b-beij... err... b-bom, o caso é que eu fiquei chocada na hora, não consegui pensar direito, e... enfim, me desculpem por dizer aquelas coisas grosseiras pra vocês. Os dois são meus amigos, eu quero que vocês sejam felizes, e se esse é o caminho que vocês escolheram.... bem... a-além do mais, os dois são livres pra se apaixonar por quem quiserem afinal... não é da minha conta quem vocês amam ou deixam de amar - ela falou, encarando os próprios pés constrangida. Ainda estava digerindo toda aquela informação, e era óbvio que estava longe de gostar tanto dessa novidade quanto Yaya ou Utau, mas pelo menos parecia que ia aceitar o relacionamento deles, e isso já era um ótimo começo
– Hinamori-san... obrigado, de verdade! Não sabe o quanto eu fico feliz em ouvir isso! - num gesto impulsivo, Tadase segurou as mãos da amiga entre as suas, os olhos brilhando de felicidade. Amu ofegou, surpresa com o ato repentino do garoto, e disfarçadamente soltou suas mãos das dele, escondendo-as ás costas, um tanto embaraçada
– Obrigado mesmo, Amu-chan... sei que não tenho o direito de pedir que você nos apóie nem nada do gênero, mas já um grande alívio saber que você ao menos é capaz de nos aceitar - Nagihiko acrescentou, também sorrindo, apoiando uma das mãos no ombro de Tadase
– Você não respondeu a minha pergunta de ontem - ela o cortou, desviando os olhos do Valete - A Nadeshiko sabe disso? Ela sabe... sobre vocês?


Nagihiko piscou atônito, surpreso com a pergunta dela. Então lembrou-se de que Amu era a melhor amiga apenas de sua outra metade, e não dele. Recordou como Amu admirava e se esforçava para ser graciosa e refinada como Nadeshiko. Provavelmente a reação e aceitação da Coringa poderia acabar se espelhando na reação da Ex-Rainha no fim das contas.


– Ela sabe sim, eu já contei pra minha irmã sobre isso. E ela nos deu o maior apoio. Disse que formamos um bonito casal, está super empolgada com a idéia - Nagihiko mentiu descaradamente, realizando mais uma atuação perfeita, como de costume. Ele interpretou tão bem que Tadase o encarou confuso por alguns segundos, perguntando-se quando ele teria contado sobre isso para a Ex-Rainha, e só lembrando depois que "Nadeshiko" sempre soube disso, e que de certa forma, ele a estava namorando também. Amu encarou o mais alto nos olhos por alguns segundos, observando-o profundamente como se quisesse encontrar algum resquício de mentira nas palavras ou ações dele, até que soltou outro suspiro, e falou
– Bem, acho que isso é a cara da Nadeshiko afinal... ela sempre foi tão compreensiva com todo o tipo de coisa... se ela tinha paciência pra aturar as crises de bebê da Yaya todo santo dia, suponho que aceitar algo assim deve ser fácil pra ela - ela deixou escapar um pequeno sorriso ao se lembrar da "amiga" - Bem... se a Nadeshiko pode aceitar isso, então eu também posso! Não estou dizendo que vou ficar toda empolgada e escandalosa que nem aquelas duas fizeram ontem, mas... eu não vou... implicar com vocês, nem nada assim - ela alargou um pouco mais seu sorriso, encarando os dois
– Ahhh!! Eles já estão aqui!!!


Um grito escandaloso ecoou por todo o Royal Garden antes que algum dos dois pudesse dizer alguma coisa. Os três se viraram na direção da entrada à tempo de ver Yaya correndo até eles, com Rima em seu encalço.


– Yaya procurou vocês por toda parte! Que idéia é essa de virem pra cá primeiro sem a Yaya hein? - a ruiva indagou, andando a passos firmes na direção dos dois garotos
– Você não disse nada estranho pra eles de novo... ou disse, Amu? - completou a Rainha, erguendo uma sombrancelha
– Defina "estranho" - a Coringa rebateu, cruzando os braços e encarando Rima de volta
– Está tudo bem, Rima-chan - Nagi intrometeu-se antes que as duas começassem a discutir - Nós conversamos com a Amu-chan, e... conseguimos nos entender de alguma forma... eu acho
– Hontou? Sugooooi! - Yaya exclamou antes que alguém pudesse ter alguma outra reação - Sabia que a Amu-chi ia acabar percebendo o quanto eles são fofos juntos, sabia! Ahhh que bom que você finalmente entendeu a beleza do yaoi, Amu-chi!!
– Não é bem assim, Yaya - Amu cortou a amiga - Eu apenas... entendi que eles se... b-bem... e-enfim, não vou ficar implicando com eles por causa... disso. Mas não significa que vou ficar me esganiçando feito vocês, suas escandalosas!
– Bem, já é um começo - Rima comentou, servindo-se do chá que Nagihiko tinha feito, mas que não tinha oferecido aos outros ainda, enquanto as outras duas se juntavam à ela
– Sim... já é um grande começo - Tadase concordou em voz baixa, sorrindo timidamente e segurando de leve a ponta dos dedos de Nagihiko. O maior sorriu de volta para ele, entrelaçando seus dedos nos de Tadase, e se juntaram às amigas para enfim dar início à reunião daquele dia.


O resto da tarde passou bem rápido, e não se falou mais sobre o namoro dos dois, exceto pelas piadinhas ocasionais de Yaya, é claro. No fim da tarde, a Às deu um jeito de escapar da reunião mais cedo, como de costume, e arrastou as duas amigas com ela, dizendo que queria fazer compras, embora fosse óbvio que ela queria deixar os dois sozinhos. Depois de guardar os documentos assinados daquele dia de volta na sala de arquivos, os dois fizeram juntos o caminho de volta para casa, caminhando lentamente e sem pressa, apenas apreciando a paisagem e a companhia um do outro em silêncio, ambos sentindo que tinham tirado um enorme peso das costas depois de esclarecer esse assunto com Amu. Não pensaram que seria assim, mas, agora que a maioria de seus amigos sabiam a verdade sobre eles, tanto Tadase quanto Nagihiko sentiam-se incrivelmente mais leves. Não apenas o fato de terem seus sentimentos aceitos um pelo outro, mas também seus amigos aceitarem o relacionamento deles tornava tudo ainda mais perfeito. Tudo era tão maravilhoso que era como se eles estivessem no próprio paraíso. Como se uma pontinha do céu tivesse descido até a Terra e acolhido os dois em seu reino de pura felicidade e perfeição. Nagihiko lembrou-se dos vários meses, talvez até anos que passou sofrendo e se martirizando por amar Tadase, e acreditar que era um amor impossível. Aquilo parecia tão distante agora que era como se tudo aquilo não passasse de um longo pesadelo. Nunca se sentiu tão feliz e completo em toda sua vida. Uma felicidade tão grande... que dava até medo que um dia ela acabasse.


Sacudindo a cabeça com força para afastar esses pensamentos inseguros e fazendo com que seus cabelos esvoaçassem para trás, o Valete notou que, quando se afastaram o suficiente da escola, não tinha mais ninguém por perto para observá-los. Assim que percebeu isso, Nagihiko agarrou a mão do loiro, segurando-a firmemente entre a sua. Sentiu o ofegar de Tadase, e viu-o corar furiosamente com o canto dos olhos, achando graça de como ele ficava tão envergonhado com um gesto tão simples. Muito timidamente, o Rei entrelaçou seus dedos com os do maior, evitando a todo custo encará-lo. Sem conseguir mais se conter, Nagihiko deixou escapar uma risada, o que fez o menor olhar interrogativamente para ele.


– É tão fácil te deixar sem graça, Hotori-kun... como você pode corar tanto em apenas darmos as mãos?!
– M-Mas é que... v-você fez isso tão de repente que eu... err... quero dizer... e-eu não estava esperando, você me pegou de surpresa! - o loiro gaguejou nervoso, terminando por virar o rosto para o lado, tentando inutilmente esconder o rubor que se apossava de sua face
– Mesmo assim... nós já fizemos coisas piores do que isso, você sabe - Nagihiko lembrou, provocando o garoto
– N-Não diga essas coisas assim de repente! - o loiro pediu numa falha tentativa de repreendê-lo, voltando a encará-lo
– E por que não? Você sabe que é verdade... - Nagihiko insistiu, sorrindo maliciosamente, adorando aquela brincadeira de provocá-lo
– M-Mas... i-isso é... é embaraçoso...
– Ah, é mesmo? - Nagihiko virou-se de frente para ele abrupdamente, e segurou a ponta do queixo do Rei com a mão livre, encarando-o nos olhos - Se é tão embaraçoso assim... então acho que você também não vai querer me beijar, não é, Hotori-kun? Se você sente assim tanta vergonha... você também não vai querer que eu toque em você, nem beije você, nem nada disso, não é...? - ele falou com a voz incrivelmente sedutora, aproximando lentamente seus lábios dos de Tadase, e parando propositalmente a milímetros dos dele, antes de tocá-los
– E-Eu... tenho... t-tenho vergonha sim, mas... - o menor gaguejou, todos os seus sentidos sendo afetados por aquela respiração cálida de Nagi batendo em seu rosto, fazendo-o ansiar por mais - Mas... a-ainda que eu sinta vergonha... e m-mesmo que seja... e-extremamente embaraçoso, eu... ainda assim quero ficar perto do Fujisaki-kun... quero... poder t-tocá-lo e... s-ser t-tocado por você, então... s-se for só um pouco, eu... posso suportar a vergonha.


Incapaz de resistir àquele olhar suplicante de Tadase, o Valete acabou com a pouca distância que os separava, selando seus lábios nos do menor e os tomando para si com paixão. Agarrou Tadase pela cintura e o puxou mais para perto de si, enquanto sentia o Rei atirar os braços finos ao redor de seu pescoço, entrelçaçando os dedos em seus cabelos. Nagihiko aprofundou o toque, invadindo e explorando o interior da boca do Rei com a língua, ansiando por mais daquele gosto delicioso que só Tadase tinha. Arrancou um gemido involuntário do loiro, que apertou com força as costas de sua camisa numa tentativa de controlar seus impulsos. Ficaram assim por vários segundos, e mesmo quando começaram a sentir falta de ar, ainda relutavam em se se separar um do outro. Até que algumas risadas próximas os obrigou a fazer isso, trazendo-os de volta à realidade.


– Eu não acredito no que estou vendo! Cara, meus olhos estão me pregando uma peça ou é isso mesmo?!
– Não pode ser... talvez um deles seja uma menina. O de cabelos compridos, talvez
– Não seja burro, eles estão usando uniformes masculinos! Eu estou dizendo, os dois são garotos!


Três rapazes, aparentemente da mesma idade que Ikuto, porém com um físico mais avantajado e um ar de delinquente, observavam os dois Guardiões de perto, aparentemente já tinha algum tempo. Os dois ficaram tão inebriados pela presença um do outro que nem perceberam quando foi que aqueles garotos apareceram ali. Tadase deixou escapar uma exclamação de medo e escondeu-se atrás do Valete, afundando o rosto escarlate nas costas dele e segurando seu uniforme com força entre as mãos trêmulas. Nagihiko engoliu em seco, tentando pensar em um jeito de escapar dessa situação, mas não via como isso seria possível. Enquanto ele considerava seriamente a opção de agarrar Tadase e sair correndo pra longe com ele no colo, os garotos delinquentes se aproximaram, vindo cada um por um lado diferente, estrategicamente encurralando-os e sem dar chance dos meninos fugirem deles.


– Ora, ora, ora... vejam só o que temos aqui! - o mais alto dos três, com cabelos ruivos e espetados falou, sorrindo maliciosamente para os Guardiões
– Mal saíram das fraldas e já estão fazendo senvergonhices por aí, pirralhos?! - o rapaz moreno e particularmente forte provocou, se abaixando um pouco para encará-los mais de perto
– Que vergonha, se agarrando no meio da rua como animais no cio... suas mamãezinhas chorariam de desgosto se vissem uma baixaria dessas, sabiam? - o rapaz mais baixo, com o olho direito verde e o esquerdo azul completou, dando um cutucão em Tadase, que se encolheu ainda mais, apertando as roupas de Nagihiko com mais força entre as mãos vacilantes
– Isso não é da conta de vocês. Por favor nos dêem licença, precisamos ir embora - Nagihiko falou o mais calmamente possível, tentando aparentar confiança, embora estivesse realmente receoso por dentro. Se fosse só com ele, não se importaria, mas não podia permitir que aqueles três fizessem mal à Tadase
– Muita calma nessa hora, pirralho! - o ruivo exclamou, segurando o queixo de Nagihiko entre os dedos grossos e obrigando-o a encará-lo diretamente nos olhos - Há... olha só pra você. Tem mesmo uma carinha de menina
– Uma menina bem safada por sinal, já que estava agarrando o loirinho daquele jeito! - o moreno comentou, soltando uma gargalhada pervertida. Ele puxou Tadase pelo braço, obrigando-o a se afastar do Valete e deixando à mostra seu rosto rubro - Então isso significa que você é a menina da relação, loirinho?
– "Menina".. o q-que...? - Tadase murmurou confuso, num fio de voz - E-Eu não s-sei do que vocês estão f-falan...
– Não se faça de burro que você sabe sim! - o ruivo interrompeu e Tadase voltou a se encolher de medo - Quer dizer então que você gosta de ser agarrado e abusado por outros homens, né seu masoquista pervertido? Gosta de ter um corpo de macho pra se esfregar, e ficar fazendo indecências por aí, seu imoral... quem sabe a gente possa satisfazer um pouco esse seu fetiche estranho... não é, Aoi-kun? Que acha de se divertir um pouco com o loirinho, ele parece fazer o seu tipo!
– Eu hein, ficou louco, Aniki?! Sai fora, eu não curto isso não! - o rapaz de olhos bicolores exclamou enojado, recuando um passo - Mas quem sabe o Hiro goste da idéia...
– Oh, é isso mesmo, Hiro-chan? Ele é todo seu então, divirta-se! - o ruivo alargou seu sorriso pervertido, e empurrou Tadase na direção do rapaz moreno, fazendo com que a cabeça do loiro se chocasse com o peito do maior
– Ei, isso doeu, pirralho! - Hiro exclamou, segurando Tadase pela gola da camisa e o afastando de si, como se a culpa fosse dele e não do rapaz que o empurrou - Sua mamãezinha não te deu educação não?! Como você vai me recompensar por isso, hein fedelho??
– Eu... e-eu não...
– Quem sabe - o moreno interrompeu o gaguejar de Tadase - Possamos deixar que você me recompense com esse seu lindo corpinho... já que você parece adorar ser abusado, seu moleque pervertido - ele estendeu a mão na direção do fecho da calça do Rei enquanto os outros dois davam risada, encorajando-o a continuar. Mas antes que o fizesse, o moreno sentiu uma forte pancada no estômago, obrigando-o a soltar o Rei. Piscou atordoado por alguns segundos, até que percebeu que tinha sido Nagihiko que lhe acertara aquele soco
– Não se atreva... não se atreva a encostar essa mão imunda no Hotori-kun!! Você não tem o direito de tocar num só fio de cabelo dele, entendeu?! - o Valete gritou, perdendo completamente a noção do perigo de tanta raiva que sentia naquele momento
– Qual é a tua, pivete?! Tá querendo briga, é?? - o moreno gritou, visivelmente irritado - Pois pode vir que eu te arrebendo, seu fracote!!
– Ahh, espera aí, Hiro-chan! - o mais alto exclamou - Se é pra ferrar com ele, vamos acertar onde mais dói... violando o namoradinho dele bem na frente do pirralho, que tal?
– Opa, isso parece interessante, Aniki! - o garoto de olhos bicolores se empolgou, segurando um dos braços de Nagi em seguida - E ele não vai poder fazer nada pra salvar o brinquedinho dele, coitado... - ele falou sarcasticamente
– Muito bem, faremos isso então! - o ruivo exclamou, segurando o outro braço do Valete, imobilizando-o - Manda ver, é com você, Hiro-chan!
– Huhuhu... então vamos começar com a "brincadeira", seu masoquista tarado - o moreno começou a andar ameaçadoramente na direção de Tadase, amedrontando ainda mais o garoto.


Tadase recuou assustado, mas o maior segurou-o pelos ombros com força, impedindo o loiro de fugir. Agarrou-o pela gola da blusa com uma das mãos, e estava prestes a despí-lo quando ouviu-se um grito que há muito tempo não se escutava:


– TIRA... ESSAS MÃOS SUJAS... DO MEU NAMORADO, SEU TARADO MALDITOOOOOOOO!!!!!!!!!!!!!!! - antes que alguém soubesse quando e daonde os Shugo Charas tinham surgido, Nagihiko fez o Chara Change com Temari repentinamente, assustando os dois garotos que o seguravam, e que recuaram mais que depressa, completamente atônitos.


O Valete avançou com a Naginata contra Hiro, que saltou para trás, afastando-se de Tadase tão rápido quanto seu estado de atordoamento lhe permitia. Nagi tentou golpeá-lo, mas como o maior recuou a tempo, ele partiu uma árvore próxima ao meio ao invés da cabeça do delinquente. Avançou contra ele pela segunda, terceira, quarta vez, e tudo o que o moreno podia fazer era desviar dos ataques, perguntando-se daonde Nagihiko teria tirado aquela Naginata.


– É SÓ ISSO?! NÃO ERA VOCÊ QUEM QUERIA LUTAR COMIGO?? POIS ENTÃO LUTE!! LUTE VAMOS, ME ENFRENTE SE FOR CAPAZ, SEU MARICAS COVARDE!!! NÃO VAI PODER DESVIAR PRA SEMPRE, SEU MANÍACO TARADO!!! - Nagihiko berrou, enquanto atacava o moreno - SEU... DELINQUENTE CRETINO... VIOLENTADOR... DE NAMORADOS ALHEIOS!!!! VOU TE ENSINAR A NUNCA MAIS MEXER COM O NAMORADO DOS OUTROS, SEU DESGRAÇADO!!!! - ele pontuava cada golpe com seus gritos e xingamentos, até que Hiro contornou os dois amigos, que também tremiam assustados com a transformação do Valete, e se escondeu atrás deles
– Ei, loirinho! - o moreno chamou - Vê se controla esse monstro, antes que ele acabe nos matando!
– MONSTRO?! - Nagihiko repetiu - VOCÊS QUERIAM ABUSAR SEXUALMENTE DE UM MENOR E EU É QUE SOU O MONSTRO?! EU VOU MOSTRAR QUEM É O MONSTRO AQUI, SEUS INDECENTES COVARDES!!!!
– Já chega, Fujisaki-kun! - Tadase agarrou-se ao braço do Valete, tremendo dos pés à cabeça, encarando-o com os olhos úmidos e suplicantes. Nagihiko paralizou por um instante, dividido entre continuar sua tentativa de assassinato ou agarrar Tadase ali mesmo - Deixe eles irem... q-quero dizer... é m-melhor não perdermos tempo com gente assim, então... esquece isso, vamos deixar pra lá - ele pediu, encarando o maior nos olhos, e Nagihiko abaixou um pouco a Naginata sem dizer nada. Os três já iam fugir de fininho quando Tadase se lembrou de uma coisa que o havia incomodado e os chamou - Esperem! Antes eu quero que saibam... que o que o Fujisaki-kun e eu estávamos fazendo é... err... e-eu não sou o tipo de pessoa que faria isso com qualquer um... isto é... e-eu só deixei o Fujisaki-kun fazer aquilo comigo porque eu o amo... e aquilo é o tipo de coisa que só se deve fazer com quem a gente ama, independente da idade, aparência ou gênero. Então... bem... e-eu não seria capaz de fazer aquelas c-coisas com nenhum de vocês... nem com qualquer outra pessoa... porque o Fujisaki-kun é o meu único amor.


Os três se entreolharam, entre confusos e incrédulos, sem saber o que dizer depois de ouvir aquilo.


– Então tá... se você diz - o ruivo murmurou, coçando a cabeça e evitando encará-lo
– Mas você tem um gosto bem estranho mesmo, hein loirinho... esse pivete não é só um maníaco sexual, é um maníaco assassino mesmo! - o moreno exclamou
– Depois não reclama se os outros te chamarem de masoquista! - o rapaz de olhos bicolores completou, dando uma risada. Os três foram embora antes que Nagihiko voltasse a atacar, ainda rindo deles. Quando os garotos já tinham sumido de vista, o Chara Change de Nagihiko enfim se desfez. Só então Tadase notou os três Charas que os observavam escondidos no topo de uma árvore.


– Ufa, foi por pouco - Temari suspirou com sua voz melodiosa
– Foi um arraso, isso sim! Você arrebentou, Temari! Yay! - Rhythm gritou, mais animado do que a situação pedia, erguendo os pequenos polegares
– Ainda bem que aqueles plebeus atrevidos foram embora antes que o pior acontecesse... e francamente, que papelão, hein Tadase?! Não consegue nem se livrar de uns reles camponeses sozinho... e você ainda se diz um Rei! - Kiseki exclamou, como se estivesse dando uma bronca no dono, ainda que no fundo estivesse aliviado por nada de mal ter acontecido ao garoto
– Hotori-kun - Nagi chamou, virando-se de frente para ele, e os Charas se calaram para prestar atenção no que ele ia dizer - Você está bem? Eles te machucaram?
– N-Não, eu estou bem... não se preocupe Fujisaki-kun
– Entendo... menos mal - Nagihiko suspirou aliviado, baixando um pouco a cabeça em seguida - Desculpe por ter demorado tanto pra te ajudar... mas eles me seguraram de repente, eu não pude...
– Está tudo bem, Fujisaki-kun - o loiro interrompeu - Me desculpe também... por te deixar cuidar de tudo sozinho - ele também abaixou a cabeça triste - Eu não consegui fazer nada além de me esconder, e deixei toda a responsabilidade com você de novo... eu sinto muito... por ser um Rei tão inútil
– Está enganado Hotori-kun - o maior falou, e Tadase voltou a erguer a cabeça, mirando-o confuso - Aquilo que você disse antes deles irem embora... me deixou muito feliz, de verdade. Não sabe o bem que me fez ouvir aquelas palavras... eu sei que sempre encontraremos pessoas desse tipo, ignorantes e preconceituosas... e realmente me dói pensar nisso, não só por mim, mas por você também... mas aquilo que você falou pra eles me fez sentir muito melhor. Obrigado Hotori-kun, por me aceitar e me amar como eu sou
– E-E-E-EU n-não... q-q-quero dizer... e-e-eu não fiz n-nada de mais... i-i-isto é.... - Tadase gaguejou incoerente, sua face voltando a se tingir de vermelho. Nagihiko deixou escapar uma risadinha, voltando a admirar o rosto envergonhado de Tadase que ele tanto amava ver
– Aliás, desculpe também por esse meu ataque - ele falou, tentando focar os pensamentos do Rei em alguma coisa menos embaraçosa, enquanto coçava a cabeça, ficando sem graça também - Fazia tanto tempo que eu não fazia o Chara Change com a Temari.... acho que me empolguei um pouco. Isso deve ter te assustado, desculpe
– Fazia muito tempo que eu não te via daquele jeito mesmo - dessa vez foi Tadase quem riu - Na verdade, faz muito tempo que não vejo a Fujisaki-san assim... essa é a primeira vez que vejo o Fujisaki-kun se descontrolar daquele jeito
– Ele tem razão, Nagihiko! - Temari intrometeu-se, se empolgando - Essa é a primeira vez que fazemos o Chara Change enquanto você está na sua forma real!
– Agora que você falou, é verdade - o Valete concordou, só percebendo isso agora - Bem... estava com saudades disso, Temari?
– Hai! - ela exclamou, mais animada do que o normal - Fazia tanto tempo que não me transformava com você, eu senti falta disso!
– É, acho que eu também - Nagi admitiu - Mas não podemos repetir isso muitas vezes, você sabe! Se os outros descobrirem...
– Mas não tem problema você se transformar enquanto só tiver o Tadase por perto, não é, Nagi? - Rhythm o interrompeu, aparentemente adorando ver aquele novo Chara Change do dono
– Bem, isso é, mas...
– "Mas" nada! - Kiseki interrompeu - Se for pra salvar o seu Rei do perigo, então você deve fazer o possível e o impossível, mesmo que isso custe o seu segredo, Valete!
– Kiseki! Não fale essas coisas egoístas! - Tadase repreendeu, com medo de que Nagihiko pudesse se aborrecer com aquilo. Para sua surpresa, o Valete apenas riu da "ordem" do Reizinho
– É, acho que tem razão... se for pra proteger o Hotori-kun, acho que eu seria capaz até de revelar o meu segredo - ele falou, e Tadase o encarou incrédulo, perguntando-se se tinha ouvido direito. Nagihiko se aproximou alguns passos, tocando a face dele com uma das mãos e acariciando sua bochecha macia - Eu já te disse uma vez, não foi? Prometi te proteger de tudo e de todos... eu juro a você, Hotori-kun, não vou deixar ninguém lhe fazer mal. Mesmo que isso custe meu segredo, mesmo que custe a minha vida, eu vou te proteger de tudo e de todos... prometo
– E-Então... não diga coisas como "mesmo que custe sua vida" - ele pediu, afastando a mão de Nagi do seu rosto e a segurando entre suas pequenas mãos - Afinal, se você sacrificasse a sua v-vida... quem iria me proteger depois? Fique ao meu lado, Fujisaki-kun.... fique comigo pra sempre... e c-cuide de mim, onegai - ele pediu, encarando o maior com aqueles olhos suplicantes que pareciam brilhar como duas pedras preciosas
– Sim... meu Rei - Nagihiko levou a mão de Tadase até os lábios, beijando-a delicadamente, e arrancando um sorriso tímido do Rei, embora ele estivesse mais corado do que nunca. Eles entrelaçaram suas mãos, e continuaram seu caminho de volta pra casa, apreciando ao máximo a companhia um do outro enquanto ainda eram livres para serem felizes.



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Notas finais do capítulo

Yoo minna! Teffy-chan falando /o/
Antes que vcs reclamem, eu sei que foi maldade fazer isso com eles, tbm me partiu o coração escrever esse capítulo... mas pode deixar que o próximo deve ser mais animadinho! Aliás o próximo é com a Shiroyuki-chan /o/
Sejam bonzinhos e deixem reviews onegai, vcs não sabem o quanto isso é importante para os autores, ainda mais quando são duas autoras!!!
Kissus^^