Londres, meados do século XVII.

Era uma noite escura. O céu límpido, com apenas algumas teimosas estrelas na imensidão negra. A minha cabeça girava, porém, o meu corpo estava imensamente mais leve. E eu não sentia necessidade alguma de ar em meus pulmões.

Tonta, girei a cabeça para olhar onde estava. A surpresa que tomara o meu corpo desconhecido, fora tanta, que ofeguei desnecessariamente. Estava deitada numa estrada de ferro. Uma luz fluorescente branca, cegava-me. Seria o meu fim. Fechei meus olhos e esperei.

Nada acontecera.

Desorientada, fitei o trem se afastando. As pessoas continuavam em suas posições anteriores, como se fosse completamente normal, um trem passar por cima duma mulher. Não. Era como se eu fosse invisivel.

Fora nesse momento que descobri, que nunca, ninguém me veria.

Olhei para minhas mãos. Elas tinham a mesma aparencia das demais mãos humanas. Exceto é claro, pelo fato de poder enxergar além delas - eu podia ver os trilhos por onde o trem passara.

Eu não era igual aos demais seres a minha volta. Sequer sabia o que acontecera comigo, para ficar daquele jeito.

E jamais descobrirei o que realmente sou.