Em plenas seis da manhã da quinta feira, Las Vegas já era movimentada. Pessoas caminhavam aproximadamente em todas as direções, eventualmente batendo suas sacolas contra outros transeuntes. Mendigos já estavam á postos, com chapéus imundos para pedir moedas. Ciganas andavam em grupo, puxando a mão de algum desavisado e alegando que poderiam adivinhar tudo o que aconteceria na vida da pessoa, até a hora de sua morte. Empresários caminhavam rapidamente, evitando á todo custo encostarem em qualquer outra pessoa. Carros já buzinavam incessantemente, motoristas já se xingavam e eventualmente algumas brigas tinham inicio nas ruas do sul da cidade.

Era naquela rua que a jovem Taylor se encontrava. Olhou nervosamente para o relógio de pulso, confirmando o horário. Puxou uma folha amassada do bolso onde um endereço havia sido rabiscado ás pressas, com a letra quase ilegível, mas que ela conhecia muito bem. Bem até demais para o seu gosto.

Fazendo uma careta por causa do sol que já a fazia suar, caminhou hesitantemente mais alguns passos, até chegar em frente á um prédio que parecia ter no máximo dez andares, com a fachada pintada completamente em cinza e um portão com a pintura descascando na frente. Residencial Townsed, diziam as letras douradas sobre a porta principal de entrada, que espelhava sua imagem. Tudo o que ela conseguia ver era uma garota alta, magra, com cabelos loiros caindo sobre o rosto, que escondia uma cicatriz na testa, escondida por uma franja longa. Seus olhos mal conseguiam ficar abertos, e ela fazia força para não cair na calçada. Taylor se encostou contra o portão, respirando profundamente algumas vezes e deixando seus olhos se acostumarem com a visão. No fim da rua havia um cassino, que, mesmo durante a manhã, ainda tinha suas luzes ligadas e piscando incessantemente. Ao lado parecia haver um bar, seguido de um supermercado e então começavam os prédios, alguns com a estrutura bastante decadente, com as paredes rachando e com lixo espalhado pelo jardim da frente. Outros, em comparação com os mais decadentes, poderiam até serem considerados luxuosos.

Ela virou o rosto para aquela visão, e se prostou em frente ao interfone. Ela o tocou uma vez e esperou por alguns instantes. Como ninguém respondera, ele tocou outra vez. Por fim, alguém atendeu a porta. Um homem de meia idade, com as roupas amarrotadas apareceu á sua frente; no crachá estava escrito que ele era o porteiro do prédio.

- Com licença, eu tinha ligado ontem para confirmar que hoje de manhã me mudaria para cá. Você é o senhor Jones com quem conversei ontem? – Taylor tentou não tossir com o cheiro nauseante de cigarro e colônia barata que desprendia do homem parado á sua frente. Ele não respondera de imediato, parecia estar processando o que tinha acabado de ouvir.

- Oh, sim. Já deixaram os documentos prontos para você assiná-los, e depois disso pode se mudar para o apartamento 304. – O porteiro fez um sinal para que a garota entrasse e o acompanhasse. Seguiram por um caminho demarcado por pedras e logo estavam dentro da construção. Taylor se surpreendeu com o interior do prédio. Por fora era uma construção simples, como tantas outras naquela rua, mas por dentro, poderia se dizer que era um prédio fino.

- Assine aqui. – O porteiro apontou o dedo indicador para o final da folha. Nisso Taylor viu que ele não tinha a unha daquele dedo. Sinistro. Rapidamente desviando o olhar ela pegou a caneta e assinou o contrato. Taylor Alison Maddison. Haviam mais algumas páginas a serem assinadas, e naquele meio tempo o táxi que deveria trazer suas malas apareceu e deu uma longa buzinada. Taylor se irritou com o motorista, será que ele não poderia trazer suas malas e caixas para dentro pelo preço exorbitante que ele havia cobrado?

- Com licença senhor, eu preciso ir buscar minhas malas. – Taylor fez um movimento de que iria voltar para fora, mas o porteiro impediu.

- Apenas assine os papéis, eu vou buscar suas coisas.

Taylor achou aquele homem estranho. Não conseguia explicar realmente o porquê de achar isso, mas era uma sensação incômoda no fundo de sua mente, lutando para ganhar espaço. O porteiro logo reapareceu, carregando duas malas grandes. Taylor não era muito de ter um armário transbordando de roupas, pois o que ela mais usava era jeans. Sendo calor ou frio, chuva ou sol, ela sempre estava com uma calça jeans. As duas malas foram postas no elevador, junto com as várias caixas que ele logo trouxe. Mais algumas caixas foram adicionadas ao lugar, e por fim todas as suas coisas estavam dentro do elevador. Ambos teriam que subir as escadas, Taylor notou.

- Me acompanhe, vou lhe levar até o seu apartamento. Deixei uma cópia do contrato de locação em cima da mesa da cozinha, se precisar de alguma coisa é só chamar no interfone. – O porteiro começou a subir as escadas, e assim fez Taylor, galgando os degraus de dois em dois. Subiram os três andares em total silêncio, quebrada apenas pelo barulho de seus passos ecoando no chão. Quando chegaram ao terceiro andar, o homem pareceu ficar momentaneamente desorientado. Segui para o lado direito, passaram por duas portas até chegarem á uma que mostrava ser a de Taylor. ‘Apartamento 304, lar doce lar.’ Pensou ela, assim que entrou.