Oh merda, eu estava com ressaca. Não uma simples ressaca de fim de semana, e sim uma senhora ressaca de uma quinta-feira á noite. Eu sabia que não deveria ter tentado me enturmar com aqueles dois bêbados do andar de baixo, simplesmente não deveria. Mas eu merecia um desconto, afinal, havia recém me mudado para Las Vegas e não me sentia muito bem sozinho. Como eu devia sobreviver sozinho? Eu não agüentava isso, desde que me entendo por gente. Quando era menor, vivia fingindo que os super-heróis dos desenhos animados me faziam companhia 24 horas por dia. Quando era adolescente, fazia amizade com qualquer coisa que tivesse o poder de articular palavras. Ou seja, vivia fazendo amizade com crianças de no máximo oito anos. Eu vivia brincando de qualquer maneira, e era tão fácil conversar com elas. E acima de tudo, elas não tinham tanto preconceito por causa ma minha aparência. Vou explicar; imagine um garoto de quinze anos com 1, 85, meros sessenta quilos, que usava óculos e aparelho fixo. Sem falar nas espinhas, elas me torturaram por longos anos até eu me livrar por completo de todas aquelas desgraçadas. Agora eu tinha dezenove anos, tinha 1, 89 e oitenta quilos. Aquilo sim havia sido uma transformação completa. Eu havia tirado o aparelho fixo, feito uma cirurgia de correção dos olhos á laser, feito um tratamento de pele que incluía esfoliar a pele todos os dias, entre outras peripécias, havia entrado na academia e malhado três horas por dia, quatro dias por semana, durante três anos inteiros, até atingir meu objetivo. Agora eu malhava uma hora por dia, duas vezes por semana, apenas para manutenção de peso. Enfim eu podia sair de casa sem ser atingido por ovos podres.

Mas mesmo assim, eu continuava solteiro, virgem e sem amigos. Cursando química e sendo o novato da turma, já que todos os outros tinham mais de vinte e um anos. Aquele era o preço de ser aceito por antecedência em uma das mais concorridas faculdades da região oeste dos EUA. Eu morava em San Gabriel, na Flórida, mas havia prestado tantos vestibulares, procurando a universidade que considerasse perfeita para aquilo que precisava, que era um ótima infraestrutura de química, curso que eu sonhava cursar desde que havia ganhado meu primeiro kit aos sete anos. Como eu era filho único de pais que queriam ter ao menos três filhos, eu era super protegido. Não podia praticar nenhum jogo, a não ser que fosse de xadrez, clube do qual eu era capitão. Então ficou fácil de entender o porquê de eu nunca ter namorado, nem nada do tipo.

Então eu vira uma ótima oportunidade de fazer amigos na noite anterior, saindo para beber com aqueles dois caras que viviam sendo a principal notícia da faculdade. O que eu não sabia é em qual espécie de notícia eles estavam envolvidos, e quando finalmente descobri, acabei notando que aquilo não era nada bom. Eles saiam para beber até se esquecerem de onde moravam, passavam por praticamente todos os bairros da região á procura de garotas, o negócio era assustador. Um flash que lembro da noite passada foi quando estávamos nos décimo terceiro bar, há uns cinco quarteirões de onde morávamos, quando uma garota apareceu na minha frente e começou a me beijar. Do nada, simples assim. Simplesmente me analisou dos pés á cabeça e decidiu que eu valeria a pena por aquela noite. Senti a mão dela passeando pelas minhas costas, parando apenas quando chegou na minha bunda, que ela apalpou por cima do meu jeans. Uau. Quando fora a última vez que algo assim acontecera? Aliás, quando fora a primeira vez que algo assim acontecia?

Mesmo assim eu me desviara dela, céus, eu mal a conhecia. Nicholas e Warrick haviam me olhando como se eu fosse o irmão mais novo retardado deles. Tentei explicar que não queria que minha primeira vez fosse enquanto eu estivesse bêbado, e com uma garota que parecia disposta a arrancar a minha roupa e me jogar em cima de uma daquelas mesas fedendo a bebidas alcoólicas, urina e suor. Mas segundo eles, eu estava fazendo aquilo porque era gay e estava na verdade esperando o homem certo.

Voltando ao momento presente, eu estava prestes a chorar. A minha sorte é que quinta feira era o único dia em que eu não ia para a faculdade, pois se tivesse que ir naquele estado eu seria capaz de pegar no sono enquanto caminhava até a minha sala. O pior de tudo era que no dia seguinte eu precisaria entregar um trabalho que valia metade da nota final do semestre. Como eu era uma pessoa relativamente responsável, a única coisa que faltava era fazer a conclusão e imprimir tudo. Por enquanto a única coisa que eu queria fazer era dormir até que eu não agüentasse mais ficar deitado.