Um Pesadelo Real escrita por Southparkfan42


Capítulo 6
Dentro De Um Sonho Compartilhado


Notas iniciais do capítulo

Transformers NÃO pertence a mim. Eu só citei aqui para o funcionamento da história. E Bully e A Origem, como eu já disse na Sinopse da história, também não pertencem a mim.



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Jimmy, Earnest, Ted, Derby e Petey estavam deitados em espreguiçadeiras. Johnny e Edgar estavam sentados em cadeiras, com o Dispositivo PASIV entre eles, ambos o configurando. Russell estava de pé, com os braços caídos ao lado do corpo, como de costume, e Jake andava de um lado para o outro, explicando calmamente sobre modos de saber se você está ou não sonhando.

–O modo mais fácil, e mais usado para saber se você está no sonho de outra pessoa é um Totem - Dizia Jake, calmo como sempre. - Um Totem precisa ser algo especial, algo que só você conheça bem. Como o peso, por exemplo. Quando se está no seu sonho, o seu Totem, dentro deste seu sonho, será exatamente igual, em peso, forma e aparência, ao seu Totem da vida real. Já no sonho de outra pessoa, ele pode até parecer o mesmo, mas não terá o mesmo peso e forma quando você o pegar na mão. Por isso, você não pode deixar outra pessoa tocar seu Totem a não ser você. Você deve fabricá-lo, ou adicionar nele alguma coisa que altere o seu peso, não deixando ninguém mais tocá-lo depois que você o alterar. O meu, por exemplo - Ele colocou a mão no bolso da camisa e tirou de dentro dele um bonequinho de LEGO prateado, sem feições nem cores além do prata. O bonequinho reluzia à fraca luz das lâmpadas do galpão- é este bonequinho de LEGO feito de metal. Eu mesmo o fabriquei, e fui a única pessoa a tocá-lo na vida. Vejam bem, se eu deixasse qualquer um de vocês pegá-lo na mão, ele perderia o seu propósito.

Edgar bateu na mesa duas vezes para chamar a atenção de Jake, que se virou para ele e para Johnny. O PASIV já estava calibrado, bastava apertar o botão central para injetar a Somnacin nos garotos e em Jake. Jake fez que sim com a cabeça e se deitou numa espreguiçadeira vazia ao lado da de Petey, colocando em seu braço um dos tubos do PASIV. Os outros já tinham os tubos em seus pulsos.

–Quando acordarmos - Disse Jake, se ajeitando na espreguiçadeira, o tubo do PASIV já no pulso. - e vocês voltarem para a escola, quero que cada um de vocês aproveite o domingo para fabricar um Totem. Vocês podem construir um especial para vocês, ou pegar algum objeto que considerem especial e alterar seu peso. lembrem-se, só vocês podem tocar seu Totem, mais ninguém.

Jake fez um sinal com a cabeça e Edgar confirmou com a cabeça dele. Johnny apertou o botão central - que Jake chamava de "interruptor" - do PASIV e Jimmy sentiu seus olhos ficando cada vez mais pesados, até se fecharem, e o garoto apagar.


Jimmy olhou em volta. Estava cercado por edifícios altos, alguns antigos - mas bem cuidados - , outros com arquitetura mais nova, porém feios e mal-cuidados. Carros passavam nas ruas congestionadas, pessoas passavam ao seu redor com roupas casuais, algumas falando no telefone, outras conversando, outras brigando, alguns carros buzinavam. O dia estava ensolarado e o céu, azul.

–Olá, James - Uma voz grave e conhecida gritou para sobrepor o barulho dos carros. A voz vinha da esquerda. Jimmy se virou e viu Jake parado ali, a alguns metros dele.

–Jake - Jimmy gritou em resposta. O homem andou em sua direção, sua voz agora bem mais audível. - Onde estamos?

–Suponho que seu amigo Peter deve conhecer este lugar - Respondeu Jake, as mãos no bolso. O home olhou em volta e observou o ambiente ao redor dele. - É o sonho dele - Jake olhou em volta mais uma vez. Jimmy fez o mesmo. - São Paulo, Brasil - Disse Jake. Agora Jimmy se lembrara: Petey lhe dissera que estivera ali com sua mãe numa viagem ao Brasil na qual conheceram São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia. - Mas este lugar aqui, em especial, não existe. A mente de Peter cria o lugar involuntariamente com aspectos que ele conheceu quando visitou esta cidade na vida real. Ele é o Sonhador, neste caso, e pode alterar a física do sonho do modo que quiser.

Jimmy olhou em volta. O lugar salpicava de pessoas desconhecidas.

–E eles? - Jimmy apontou para as pessoas em volta. - São pessoas que Petey viu na vida real também?

–Não, essas são projeções - Explicou Jake. - Suas projeções, para ser mais exato. Você é o Sujeito; portanto enche o sonho - o espaço de sonho que Peter criou - com seu subconsciente; as pessoas que você está vendo.

Jimmy se sentia estranho. Era tudo tão real, que Jimmy sentia que se alguém dissesse que ele não estava sonhando, ele acreditaria na hora. O garoto se virou para Jake:

–Você disse que Petey pode alterar o físico de um sonho? - Perguntou Jimmy, curioso. - Como assim?

–Ele pode fazer mudanças físicas no sonho, como por exemplo, transformar aquele prédio no Empire State, ou criar uma ponte entre este lado da rua e o outro. Ele é o Arquiteto, portanto ele altera o sonho. Mas dependendo do quão bruscas as mudanças são, o seu subconsciente vai encarar Peter como uma ameaça, e vai se tornar hostil. Vão atacá-lo até que o matem, para expulsá-lo da sua mente e te "proteger", por assim dizer. Podemos dizer que são como os glóbulos brancos do corpo humano; atacam o que consideram uma ameaça a você.

Jimmy ouvia tudo fascinado. A idéia de entrar nos sonhos de outra pessoa era muito mais complexa do que ele imaginara ser inicialmente.

–Jimmy! - Ele ouviu uma voz vinda do lado oposto de Jake. Jimmy olhou para o local de onde a voz vinha e avistou Earnest, Petey, Ted e Derby andando apressadamente em sua direção. Assim que chegaram perto o suficiente, Petey falou: - Estamos em São Paulo! Eu me lembro daqui! Mas não me lembro deste lugar em especial, por quê...?

Jake explicou tudo o que explicara a Jimmy novamente. Os garotos pareciam impressionados ao final da explicação.

–Quer dizer que se Petey alterar muito o físico deste sonho, o subconsciente do Jimmy vai atacar ele? - Perguntou Ted, fascinado.

–Não só Peter, eu e vocês também, menos o James - Respondeu Jake. - Lembrem-se, o subconsciente pretende eliminar quaisquer coisas que considere uma ameaça ao Sujeito - neste caso, James - o que significa que não pararia até se livrar de todos nós, e deixar somente James no sonho. Mas se Peter morresse primeiro, todos nós acordaríamos, porque isso significaria que o Sonhador foi morto, portanto não existe mais sonho.

Petey olhou para um edifício alto à sua frente.

–Arquiteto... Quer dizer que eu posso fazer isso aqui, hã? - Disse ele, apertando os olhos ao fitar o edifício.

O prédio lentamente começou a se desmontar, não a cair, mas literalmente, se desmontar, como se estivesse se desdobrando, então foi se dobrando novamente, como se tomasse uma nova forma, o que lembrou a Jimmy um Transformer virando carro. O prédio foi diminuindo de tamanho até ter se dobrado o suficiente para se transformar num pequeno cubo de não mais de cinco centímetros, que Petey pegou na mão e olhou com uma risadinha satisfeita; depois, enfiou o cubinho, que antes fora um grande edifício, no bolso das calças. O local onde o prédio antes estivera agora estava vazio, formando uma lacuna na fileira de prédios antes perfeitamente alinhada, sem espaços muito grandes.

Os garotos olhavam para Petey abismados, depois olhavam para a lacuna na calçada. O olhar de Jake era impressionado, como se dissesse "nada mal" a Petey com o olhar.

O grupinho continuou andando e Petey, se esquecendo dos avisos de Jake sobre as projeções, foi fazendo mudanças cada vez mais bruscas no físico do sonho; as projeções agora todas passavam olhando para o garoto franzino e fazendo questão de esbarrar em seu ombro quando passavam.

–Qual é, Jimmy! - Reclamou Petey, esfregando o ombro. - Isso não é legal!

–Ele não tem culpa - Jake respondeu por Jimmy. - É o subconsciente dele; você não controla o subconsciente. Você já se esqueceu do que eu disse sobre alterar demais o físico de um sonho? As projeções estão ficando hostis.

–Mas eu não me importo com Petey mudando o meu sonho - Disse Jimmy calmamente, andando com as mãos no bolso. - na verdade, acho até legal essas coisas maneiras que ele está fazendo.

–É, é bem irado - Comentou Ted. Os outros concordaram com a cabeça.

–Pode até ser, mas ainda sim o seu subconsciente não gosta que mexam na sua cabeça desse jeito, James - Respondeu Jake. - Acho que nenhum subconsciente gosta. Imagine que uma pessoa entra em seu quarto e começa a decorá-lo do modo dela, tirando suas fotos e pôsters do lugar, pintando a parede da cor que ela quer, trocando os cobertores e os travesseiros. Imagine também que essa pessoa fuça nas suas gavetas e lê suas coisas pessoais, e ainda ameaça você com uma faca. Deve ser assim que o subconsciente se sente quando o Sonhador começa a bagunçar o sonho. Como se o Sonhador fosse um xereta, mexendo onde não deve, enfiando o nariz onde não é chamado.

–Mas o sonho é do Petey - Argumentou Derby. - Por que o subconsciente de Jimmy reclama de Petey modificar seu próprio sonho?

–Porque o subconsciente encara essas mudanças como uma ameaça a James - Respondeu Jake. - E mesmo que o sonho seja de Peter, a mente e o subconsciente ainda são de James.

Mesmo assim, Petey continuava abusando da sorte, fazendo mais e mais mudanças bruscas no físico. Algumas projeções agora passavam e o empurravam.

–Se você não parar, vai ser atacado - Jake tentou avisar, mas Petey mexeu um único poste de luz, e as projeções cercaram o grupo, olhando para eles com expressões assustadoramente ameaçadoras. Duas projeções, a de um homem acima do peso e careca, e outra de uma mulher de óculos loira e alta, seguraram Petey pelos braços e o arrastaram para trás. Quando os amigos tentaram ajudar Petey, mais projeções os agarraram e os arrastaram para longe de Jimmy, na direção de Petey, os amigos com expressões de raiva e terror nos rostos. Surpreendentemente, Jake manteve a expressão calma como sempre, mesmo quando tentara ajudar Petey. Aterrorizado, Jimmy tentou correr na direção dos amigos, mas três ou quatro projeções o puxaram para longe dos outros e o seguraram no lugar, mantendo-o no que pensavam ser a "segurança". Então, algumas projeções abriram caminho para um rapaz passar, vindo de longe, a uns cinco metros de distância, e à medida que ia chegando mais perto, Jimmy pôde ir reconhecendo suas feições; moicano achatado castanho, sobrancelhas grossas, feições bonitas, olhos pequenos, pretos e frios, expressão traiçoeira, camisa pólo branca, com mangas arregaçadas quase até o cotovelo, embaixo de um suéter verde escuro. Usava calças pretas sociais e sapatos do mesmo estilo e cor, uma munhequeira de couro na cor vinho no pulso direito, e um largo relógio de ponteiros prateado no pulso esquerdo. Mas sua característica mais marcante era, sem dúvida, a fina e longa cicatriz que atravessava o olho direito. Jimmy arregalou os olhos em choque, boquiaberto. O garoto andando em sua direção, carregando na mão direita uma Desert Eagle, era ninguém menos do que seu antigo inimigo, Gary Smith.


Gary chegou perto do grupinho que estava sendo segurado pelas projeções, e, sem dizer uma palavra, o que não era habitual, levantou a Desert Eagle e a apontou, primeiro para a testa de Ted. Ouviu-se um BANG! alto, e as projeções largaram Ted, que caiu imóvel no chão. Jimmy não acreditava que estava assistindo a tudo aquilo sem poder fazer nada a respeito. Ele nunca tivera tanta vontade de quebrar a boca de Gary com um murro quanto estava tendo agora.

Gary então carregou a Desert Eagle e a apontou, desta vez, para a testa de Earnest, que estava mais aterrorizado que nunca. Outro BANG!, Earnest caiu no chão, imóvel, quando as projeções o largaram. A cena se repetiu com Derby, agora também caído no chão com um buraco de bala no meio da testa. Mas quando só faltavam Petey, que tinha no rosto uma expressão de puro terror, e Jake, mais calmo e sereno do que nunca, para ser eliminados, Jimmy ouviu uma música ao longe, como se viesse do fundo de sua mente, um som grave, lento e instrumental. Antes de se dar conta do que estava acontecendo, ele abriu os olhos e se encontrou no estádio de bicicleta dos Greasers, deitado na espreguiçadeira, o tubo do PASIV espetado em seu pulso. Jimmy olhou em volta, com o coração em disparada; seus amigos estavam todos ofegantes, como se tivessem levado um susto enorme - o que em parte, era verdade - e Derby já tirava o tubo do PASIV do pulso. Ted massageava a testa, suando - como todos os outros - Petey estava imóvel e pálido, sem ousar mexer um músculo, como se Gary ainda estivesse bem na sua frente, apontando a arma para sua testa. Earnest pressionava a mão contra o peito. Jimmy se encontrou apertando as bordas da espreguiçadeira com tanta força que seus dedos doíam. Já Jake encontrava-se extremamente calmo, sua expressão indiferente inalterada enquanto retirava o tubo do PASIV do pulso. Agora que a mente de Jimmy estava mais clara, ele podia distinguir a música tocando no rádio que se encontrava ao lado de Edgar: "Non Je Ne Regrette Rien", de Edith Piaf. mas Jimmy não se importou muito, pois continuava em estado de choque.

–Interessante - Comentou Jake calmamente, se levantando da espreguiçadeira e arrumando a camisa pólo branca, desamassando-a. - É raro acontecer isso, mas não deixa de ser interessante.

–Que é interessante? - Perguntou Jimmy, engolindo em seco. Sua voz saiu rouca.

–Aquela projeção - Respondeu Jake. Jimmy já se acalmava, assim como seus amigos, exceto Petey, que continuava pálido como um fantasma e parado como um poste. - Aquela com a Desert Eagle. Não é uma projeção comum, sabem.

–Como assim? - Perguntou Ted, que já tinha retirado o tubo do PASIV do pulso e estava sentado na espreguiçadeira.

–Eu explico amanhã - Respondeu Jake. - Vocês devem estar cansados. Além disso, precisam fazer seus Totens. Supondo, claro, que aceitam o trabalho.

Os amigos se entreolharam, nervosos.

–Vou pensar a respeito - Disse Jimmy.

Jake deu de ombros:

–Se aceitarem, estejam aqui amanhã, neste mesmo horário - Disse, e foi aí que Jimmy se tocou:

–Espera aí - Disse o garoto, também tirando o tubo do próprio pulso e se levantando da espreguiçadeira. - Você disse que são duas e meia da manhã?

Jake olhou para ele com as sobrancelhas erguidas.

–Sim disse - Respondeu o homem parrudo. - Por quê?

–Passamos pelo menos horas naquele sonho! - Disse Jimmy. Todos os amigos já tinham retirado os tubos do PASIV e estavam de pé.

Jake riu, divertido.

–Vocês vão entender tudo isso amanhã - Disse ele, guardando os tubos do PASIV e fechando a maleta. - Prometo.

O homem andou até um canto, colocou o sobretudo, o chapéu e os óculos escuros, depois apanhou a maleta prateada do PASIV do chão.

–Enquanto isso, trabalhem em seus Totens, e procurem me impressionar - Disse o homem, abaixando levemente a frente do chapéu no estilo detetive. Ele abriu a porta do galpão e olhou uma última vez para trás. - Espero ver vocês aqui amanhã neste mesmo horário. Boa noite, rapazes. - E saiu, fechando a porta atrás de si.


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