Por Um Segundo escrita por Phallas


Capítulo 2
Bem-vinda de volta


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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"Não vamos tentar consertar a culpa do passado. Vamos aceitar nossa responsabilidade pelo futuro."

Jonh Kennedy




– Bellie, acorde.

– Não.

– Você já está acordada. Vamos, levante.

– Não. Estou dormindo, mãe.

– Não está nada. Saia da cama agora. Quer perder o primeiro dia de aula?

– É exatamente o que eu quero.

– Mas não vai. Levante. Estou na cozinha.

Eu me levanto relutantemente e acendo a luz após reunir muita coragem. Reunindo mais coragem ainda, me olho no espelho. Meu cabelo resolveu se revoltar contra mim enquanto eu dormia, pelo visto.

Estou preocupada com esse ano em geral. Apesar de ter Tensy e Griffin comigo, as coisas entre mim e Megan estão completamente estranhas. Mais até do que antes, o que provou ser possível. Também não estou bem com Helaina Meggeni, uma outra garota do time de vôlei que é completamente apaixonada por Griffin. Sinto também que Jason não está muito normal comigo. Jason é meu melhor amigo, e é apaixonado por mim desde que tínhamos treze anos.

Tento não pensar nisso e coloco uma roupa qualquer. Arrumo meu cabelo do melhor jeito que consigo e desço. Dispenso o café da manhã que minha mãe me oferece e quase pulo de susto quando vejo Tensy parada na minha porta, encostada em uma Mercedes pérola, um sorriso gigante no rosto.

– Bom dia, Bellinha. - Ela diz, enquanto se aproxima para me dar um beijo no rosto.

– Por que toda essa animação? - Pergunto, desconfiada. - E você não me disse que vinha aqui hoje.

O sorriso de Tensy se abre.

– É porque eu consegui isso. - Ela diz, enquanto tira de sua bolsa uma carteira de motorista.

Meus olhos se arregalam.

– É verdadeira? - Pergunto, tomando a carteira de motorista da mão dela.

A boca dela se abre ultrajada.

– Claro que é. Agora você nunca mais vai poder implicar comigo por pegar a Mercedes.

– Não faz diferença nenhuma, vou implicar mesmo assim. - Afirmo, e Tensy revira os olhos.

Depois que entramos no carro e ela começa a dirigir, vejo que sua habilidade (a falta dela, mais precisamente) para direção é a mesma da época em que ela pegava a Mercedes escondido para fazermos uma entrada triunfal nas festas. Me pergunto quanto ela pagou para o cara da auto-escola liberar para ela uma carteira de motorista sabendo que Tensy não conseguiria dirigir um carrinho de boneca.

– Se morrermos pelo menos morreremos dentro de uma Mercedes. - Assinalava ela, sempre que eu dizia que guiar um automóvel não era uma das capacidades dela.

Quando chegamos na escola, após Tensy me contar detalhes sobre seu ficante, ainda o lançador do time de baseball, para minha surpresa, ela para a Mercedes com o desleixo costumeiro e me pego procurando a BMW branca chamativa de Griffin, mas não a encontro. Não falo com ele desde sábado, no clube, e hoje é segunda. Talvez ele esteja só atrasado. Griffin não ia faltar o primeiro dia de aula sem me avisar, pelo menos.

Enquanto eu e Tensy andamos, alguns novatos apontam para nós e cochicham. A vitória da liga municipal do ano passado ainda é assunto para o povo do colégio. Esporte aqui é essencial, e por sermos o time com mais conquistas, nosso destaque é um pouco maior. Junto com o time de futebol e baseball, talvez.

– Bellie! - Chama uma voz. Tensy revira os olhos.

Jason Cronwell anda na nossa direção. Um pouco desajeito carregando seus livros com seu um metro e oitenta de altura, mas percebo que ele parece ter malhado nessas férias porque está definitivamente mais forte.

– Oi. - Diz Jason, quando chega perto.

– Oi. - Respondo, sorrindo, enquanto Tensy joga a ele um aceno desanimado.

Tens dá uma desculpa qualquer para sair de perto de nós. Ela nunca fica muito confortável próximo a Jason, talvez porque o ache inteligente demais ou lerdo demais. Ou as duas coisas. Bom, eu acho.

– O que fez nas férias? - Pergunta ele, indiferente ao desprezo de minha amiga.

Não acho que dormir e comer seja uma boa resposta, mas foi exatamente o que eu fiz. Ah, e roubei uma bolsa de estudos da irmã do meu namorado na frente da família dela e de publicitários riquíssimos. Nada demais.

– Só algumas coisas. E você?

Ele começa a me contar de uma viagem que fez para estudar energia nuclear em Washington, me fazendo imediatamente me arrepender de ter perguntado.

Sei que Griffin não gosta que eu fique conversando com Jason, porque eles não se dão muito bem, por minha causa, na verdade. Para evitar mais conflitos entre os dois, tento me esquivar da conversa com Jason para que Griffin não nos veja juntos, caso já tenha chegado.

Encerro o assunto quando a oportunidade aparece dizendo que preciso procurar Tensy. Encontro-a conversando com Hannah Proffer, uma outra garota do time de vôlei e - quase faço uma careta quando vejo - Helaina. Não tinha nenhuma esperança de que não precisaria enfrentá-la, então tento me encaminhar para a rodinha sem tremer.

– Oi, Bellie! - Diz Hannah, me abraçando com sua simpatia habitual.

Helaina e eu nos cumprimentamos com um levantar de sobrancelhas, o que é um progresso, na verdade.

Tensy e Hannah voltam a conversar, falando sobre nossos novos professores e salas, enquanto eu e Helaina nos encaramos sem o entusiasmo necessário para entrar na discussão.

Quando o sino bate, todos se encaminham para as salas. Olho rapidamente meu horário no quadro de avisos e vejo que minha primeira aula é de história, e minha professora ainda é a sra. Nichols. Não é possível que alguém me odeie tanto a ponto de me colocar pelo terceiro ano seguido tendo aulas com sra. Nichols. Quero me matar. Não, quero matá-la, seria mais inteligente.

Sra. Nichols tem algo sério contra mim. Não sei exatamente o que é, talvez o fato de ela ser louca possa explicar o por quê de tanta implicância comigo. Em contrapartida, ela se ajoelha aos pés de Griffin e Jason, por exemplo. Pelo menos, pelo que estou vendo na minha sala, Tensy ainda estuda história comigo. E Helaina também.

– Vamos. - Diz Tensy, me puxando para a sala.

Helaina faz uma cara de nojo quando vê que estamos na mesma sala e entra com o nariz empinado. Tensy e eu escolhemos lugares no fundo, como sempre fazemos, para trocar bilhetinhos e conversar com mais privacidade, sem a professora nos pegar no meio de uma conversa importante e ameaçar chamar nossos pais na escola se não pararmos de usar a aula dela para fofocar sobre os cabelos alheios. Claro que muitas vezes a tática não deu certo, porque sra. Nichols insiste em manter seus olhos ferozes em mim.

Sra. Nichols entra na sala marchando, carregando livros, os óculos finos no nariz comprido. Dessa vez, pelo menos, seus cabelos estão alinhados em um coque perfeito, sem um fio fora do lugar, e não completamente desorganizado, como de costume, já que normalmente ela passa boa parte do tempo livre entre as aulas se pegando com o sr. Priddy, professor de álgebra, na sala dos professores, no banheiro, ou no armário do faxineiro.

– Bom dia. - Ela diz.

Poucos alunos a respondem, e os que o fazem, mostram desânimo.

– Eu disse bom dia. - Repete ela, cravando os olhos em mim sem cerimônica nenhuma.

Os alunos retribuem a saudação com mais vontade dessa vez.

– Como podem ver, serei a professora de vocês. - Ela suspira. - De novo.

Os estudantes reviram os olhos, bufam e batem os lápis nas mesas. Parece que todos aqui estão tão felizes quanto eu por ter que aturar sra. Nichols novamente.

– Abram o livro na página 7.- Ela ordena.

Todos fazem um som de cansaço e jogam com força os livros nas mesas. Sra. Nichols começa a discursar sobre a matéria como se estivéssemos no meio do ano, tratando os bocejos da maioria com indiferença.

No meio da explicação, ouve-se uma batida na porta. Janet Phorbe, a assistente da diretora, sra. Mckingdom, é quem está batendo. Sra. Nichols dá um soriso cruel, abre a porta e antes mesmo que Janet possa pronunciar uma palavra, a professora olha para a sala e fala, com um ar debochado.

– Isabelle Harper, a diretora quer te ver.

Eu suspiro.


Parece que o ano já começou bem.



○ ○ ○




– Não vai me dizer o que eu fiz, Janet? - Pergunto, enquanto eu e a secretária da diretoria andamos apressadamente pelos corredores vazios.

– Não posso. Ordens da diretora.

Não insisto mais. Seja o que for, eu vou descobrir agora. Tiro o celular do bolso disfarçadamente para que Janet não perceba, e ainda não há nenhuma mensagem de Griffin. Eu junto as sobrancelhas.

Apesar de não ter notícias de meu namorado, tenho coisas mais urgentes para me preocupar. Quer dizer, você não é chamado à sala da diretora no primeiro dia de aula se não tiver feito nada. Alguma coisa bem séria você fez. Será que tem alguma coisa a ver com o fim do ano passado, toda aquela confusão com Megan? Espero que não, porque se minha visitinha mais cedo aqui estiver relacionado a isso, estarei expulsa.

Janet abre a porta para mim e eu encontro sra. Mckingdom sentada e concentrada. Não parece a mesma diretora que já flagrei dançando salsa com uma vassoura no ano passado. Estou ferrada.

– Olá, Bellie. - Diz ela, parecendo meio cansada.

Assinto para ela. Sra. Mckingdom me oferece uma cadeira na frente da mesa dela e eu me sento com as mãos tremendo um pouco. Ela pede licença a Janet, que sai imediatamente, batendo a porta.

– Bellie, precisamos conversar. - Fala a diretora, depois de um suspiro curto e pesado.

Não. Você precisa conversar. Eu preciso sair daqui antes que eu tenha um ataque cardíaco.

– Suas notas não estão boas. - Ela começa.

Quase reviro os olhos. Ela mandou me chamar para me dizer uma coisa que eu já sei? Seria a mesma coisa que eu vir aqui e falar: "Ei, sra. Mckingdom. Aquela estátua de cavalo na mesinha da esquerda é horrorosa."

– Sei que ainda estamos no começo do ano, mas seu boletim ano passado me deixou um pouco preocupada. Você sempre estudou aqui e era uma de nossas melhores alunas desde entrou, mas suas notas, pelo que vejo no seu histórico, começaram a cair quando você tinha treze anos, mesma época em que passou a integrar o time de vôlei.

Mordo o lábio.

– Com os jogos e os campeonatos, não tenho tempo para estudar. - Justifico.

Ela concorda com a cabeça.

– Sei. E foi por isso que eu a chamei aqui.

Meus olhos se arregalam.

– Você vai me tirar do time de vôlei? - Pergunto, a voz muitas notas mais alta.

Sra. Mckingdom tira do bolso da blusa de alfaiataria um lecinho e seca a testa. Ela sempre faz isso quando está nervosa.

– Não, claro que não. Não vou tirar a melhor jogadora de Peter. Ele me mataria.

– Me chamou por quê, então?

– Bom - A diretora começa, e meu coração dispara. Tenho medo da resposta, não quero ouví-la. -, vou permitir sua permanência no time de vôlei, com duas condições.

– Quais? - Estreito meus olhos.

– A primeira é que você tire boas notas. - Ela fala, secando mais a testa.

Assinto lentamente.

– E a segunda, bem, você vai ter que fazer um trabalhinho para mim.

Meus olhos se estreitam ainda mais.

– Que trabalhinho?

Sra. Mckingdom sorri.



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Notas finais do capítulo

Beeijos ♥