"Eu ateei fogo à chuva e fiquei vendo ela cair

enquanto eu tocava seu rosto."

Set Fire to the Rain - Adele

Não há sangue, não há mais dor. Nada.

Katniss se aproxima de mim, sorrindo. Eu olho para ela, sem entender.

- Não vai funcionar, Peeta. Eu vi essa mesma adaga escapar de uma das mãos de Beette para acertar a outra, enquanto ele descamava um peixe. O erro teria decepado sua mão. Mas então ele parou por um momento, pensando e depois explicou para mim que as armas daqui são algo como à prova de suicidio. Elas tem uma espécie de tecnologia que detecta o DNA e as impressões digitais da pessoa que a esta portando e então quando ela mesma se fere por acidente ou, principalmente, intencionalmente, não há danos. Nada de sangue. Nada de suicidio.

Eu dou uma risada debochada e pergunto:

- Por que eles fariam isso?

- Para garantir que haja um vencendor. Eles devem ter previsto e até mesmo planejado que nós dois chegassemos a final. E para impedir que fizessemos algo como Romeu e Julieta, colocaram essa tecnologia nas armas.

Eu olho ao meu redor. O fogo cercou-nos completamente, num circulo perfeito.

- Há outras formas de morrer.

Katniss segue meu olhar.

- É claro, mas nenhuma rápida o suficiente. 

Katniss inclina seu corpo em direção ao meu. Seu rosto volta a ser tudo o que eu vejo e sempre o que eu mais desejo. Ela encosta seus lábios nos meus. Suas mãos envolvem as minhas, que ainda seguram a adaga. Ela se afasta um pouco, apenas para sussurrar o que eu mais queria ouvir.

- Eu te amo, Peeta. No começo eu achei que era um jogo, mas depois eu confundi tudo e te amei. - mas havia um tom de despedida em sua voz. E ela chorava. - Eu te amo. E por isso não vou deixar você morrer.

Suas mãos, num movimento inacreditavelmente rápido, tomaram o controle das minhas, que ainda seguravam a adaga. Que agora perfurava o seu coração.

- Katniss!

Seus olhos vidrados, cada vez mais distantes, ainda me encaravam. Havia um sorriso nos seus lábios, que era ao mesmo tempo insano, pela situação que estavamos, e o mais lindo. Eu queria transpo-lo para os meus lábios, mas o fogo compartilhava o mesmo desejo. Ele veio rápido, reinvidicando-a, tomando-a, engolindo-a, tirando-a de mim. Katniss, a garota em chamas. 

Ela estava queimando em meus braços. Eu sentia a ardencia neles, mas eu não podia soltá-la. Se ela se tornasse o fogo agora, eu seria a lenha para sua combustão. Eu não a deixaria.Então o som do canhão ecoa novamente. Eu caio sobre seu corpo ainda consumido pelas chamas. Quero queimar também. Quero ser o fogo da garota em chamas.

Duas garras fortes se prendem em minha cintura. Tentam me separar dela, mas eu  não vou largá-la. Estarei com ela até o fim. Um grande jato de uma substancia liquida mais densa que a agua nos atinge, enquanto já estamos no ar, sendo puxados para o aerobarco. O fogo apaga. Eu fecho os olhos, esperando que esse é o momento em que o meu coração vai parar de bater. 

Mas ele não para. O canhão não dispara pela terceira vez no dia. E quando eu abro os olhos, eu a vejo querendo se separar de mim. O corpo de Katniss começa a se desintegrar. Pedaços dele caem livremente, retornando ao fogo. Eu começo a me balançar, mas as garras são fortes demais e não há como me soltar. Quero cair também. Quero estar com Katniss. 

Meus movimentos apenas aceleram a subida. Apenas me afastam mais e mais de Katniss, até não sobrar mais nada em meus braços. 

Fecho os olhos quando meu corpo encontra o chão do aerobarco e imploro pela morte mais uma vez.